sábado, 27 de dezembro de 2014

Cenários

A piada do bolivarianismo patronal

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

A demissão de João Paulo Cunha, editor de cultura do jornal Estado de Minas, publicação de maior circulação naquele estado, ajuda a colocar um traço de realismo ao debate sobre liberdade de imprensa no Brasil.

É uma piada pronta, que ajuda a lembrar que vivemos um regime que deveria ser definido como bolivarianismo patronal.

Todos lembram de uma noite recente em São Paulo, quando jornalistas subiram ao palco de uma cerimônia de premiação para dizer em tom dramático: “não ao controle social da mídia.” É disso que estamos falando.

Embora estejamos falando de um direito constitucional, na vida real da imensa maioria de jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV do país o exercício da liberdade de expressão vive limitado por uma prerrogativa de classe.

Pode ser exercida pelos donos da empresa, seus familiares e uma pequena elite de profissionais autorizados. E só.

Aos demais jornalistas está reservada a função de apurar o que pedem e escrever o que mandam, num regime de cima para baixo que não é exagero comparar com hierarquia militar.

A linguagem panfletária, editorializada, reflete a falta de debate interno. A edição seletiva, dirigida para ressaltar um ponto de vista pré-definido, expressa a mesma situação.

Profissional diferenciado, há 18 anos no Estado de Minas, João Paulo pediu demissão ao ser informado pela direção da publicação que não estava mais autorizado a escrever sobre assuntos políticos.

A decisão foi tomada depois da publicação de um artigo no qual o autor ousava fazer uma observação em tom crítico ao senador e ex-candidato presidencial Aécio Neves. Convém atentar para dois detalhes. O artigo foi publicado em 12 de dezembro de 2014, ou seja, um mês e meio depois que Aécio já tinha sido derrotado por Dilma Rousseff, quando os votos já haviam sido contados e o resultado da eleição já fora anunciado. Seria impossível, portanto, imaginar que João Paulo tivesses a intenção de usar as páginas do Estado de Minas para pedir votos para a adversária de Aécio nas páginas de um jornal que defende a candidatura presidencial do senador mineiro desde 2010, quando ele sequer concorria ao Planalto.

Outro aspecto é que não se trata de um artigo que julgasse Aécio Neves como um político bom ou ruim. Fazia uma crítica a sua postura depois da derrota, quando Aécio e o PSDB partiram para a ignorância: tentaram impugnar as urnas e estimularam protestos que pediam golpe de Estado. Num texto denso, refletido, verdadeira glória da imprensa brasileira de nossos dias, onde é raro ler-se um material de qualidade equivalente, João Paulo comparou Aécio a Bentinho, o personagem de Machado de Assis que não consegue compreender o que acontece no mundo – nem com a mulher Capitu, suspeita de adultério.

Vamos ler um trecho do artigo, chamado Sindrome de Capitu:

“Bentinho não sofre só pela traição mas porque não entende que o mundo mudou. Não pode aceitar que a sociedade republicana deixou para trás as amarras elitistas do Segundo Reinado e da escravidão. (…) Tudo o que ele não compreende o ameaça.”

Outro parágrafo:

“O Brasil tem uma recorrente síndrome de Capitu: tudo que a elite não tolera se torna, por meio de um discurso marcado pela força jurídica e da tradição, algo que deve ser rejeitado. Eternos maridos traídos. A tendência de empurrar a política para os tribunais é uma consequência desse descaminho. Assim, tudo que de alguma forma aponta para a mudança e ampliação de direitos é considerado ilegítimo e, em alguns momentos, quase uma afronta que precisa ser questionada e combatida. Foi assim com a visibilidade dada aos novos consumidores populares (que foram criminalizados em rolezinhos ou objeto de ironia em aeroportos), com as cotas raciais para a universidade, com a chegada de médicos estrangeiros para ocupar postos que os brasileiros, psicanaliticamente, denegaram.”

A leitura desses parágrafos – o texto integral pode ser encontrado na internet – mostra uma produção intelectual sofisticada, a altura das complexidades de um país como o Brasil em 2014. Não estamos falando de um panfleto. O tom é profissional, de quem sabe seus limites e conhece as fronteiras de quem faz a dissidência num ambiente geral hostil.

O vigor intelectual contrasta com uma certa timidez política, até.

E aí chegamos ao verdadeiro bolivarianismo de nossas terras. Qual a liberdade que ameaça nossos Bentinhos? Qual seu temor?

Ao falar de uma elite de “eternos maridos traídos”, João Paulo toca no ponto central de nossa democracia, regime que pode ser aceito, preservado e até celebrado – enquanto o povo não ousa ultrapassar determinados limites e fronteiras. Quando isso acontece, considera-se traição – e isso é imperdoável.

Esse é o drama da liberdade de expressão e da democratização dos meios de comunicação. A luta contra a censura foi benvinda enquanto auxiliou os donos de jornal a livrar-se das botas e tanques de um regime que haviam ajudado a colocar de pé.

Foi uma causa justa correta, vamos ter clareza.

Quando se procura ampliar o espaço para que o conjunto da sociedade possa se manifestar, num movimento que apenas fortalece a democracia, e é coerente com as mudanças sociais que ocorreram-no país na última década, a reação é falar em bolivarianismo, sem receio de produzir uma fraude. Quem censura? Quem cala o outro lado? Quem oprime?

Até dá para entender. Só não dá para aceitar.

“Síndrome de Capitu” é um trabalho de gabarito, que não se lê todos os dias, que coloca a política em outro plano, da discussão cultural. Ajuda a pensar o país – e é isso que se proibiu.
Fonte: Blog do Miro
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Leio a matéria de capa da revista época - grupo globo - e , como sempre acontece nesta época do ano, a notícia principal ou é sobre uma retrospectiva ou uma prospectiva .

No caso de época, o tema é principal versa sobre possíveis cenários para o ano de 2015.
 
Um dos cenários escolhido foi:

" Dilma resistirá ? "

Pensei um pouco e me perguntei:

Resistirá a quem, ou a que , especificamente ?

Estaria época envolvida em algum plano para derrubar a presidenta, já que foi eleita legitimamente e ainda vê suas popularidade e aprovação subindo junto a população ?

Será que época espera que a gritaria que a velha mídia produz sobre a Petrobras - e por gritar muito ninguém ouve - pode enfraquecer o governo Dilma a ponto de a presidenta sofrer um impeachment ou mesmo renunciar ?

Será que época e as oposições tem um plano para atacar diariamente o governo a ponto de paralisar o país e inviabilizando o governo Dilma ?

Seja lá o que for, cenários não são palpites e exigem um conhecimento profundo sobre inúmeras varáveis que compõem aquilo que se deseja avaliar, prever.

Em se tratando da velha mídia, o desejo sobre uma realidade imaginada , é bem maior que a própria realidade, seja ela passada, presente, ou um exercício de prospectiva.

E é aí que encontro as interfaces com o artigo acima.

Época, e obviamente o grupo globo e toda e velha mídia, não toleram qualquer tipo de avanço e de mudanças positivas para o país, a ponto de até mesmo não aceitarem que o governo eleito pela maioria implemente a agenda de governo escolhida por essa maioria.

Essa censura até mesmo violenta que a velha mídia impõe , que atualmente faz o papel que a censura do período da ditadura militar exercia no país, parece que já vem atingindo uma massa crítica, ou seja, movimentos sociais se mobilizando para defender a democracia e garantir os avanços que se fazem necessários, inclusive a democratização dos meios de comunicação.

Para isso , grupos articulam a criação de uma grande frente de esquerda, com partidos políticos e movimentos sociais, que pretende dar a sustentação ao governo e também pautar as reformas que se fazem necessárias no país.

Este é um cenário para o ano que se aproxima, que época e a velha mídia certamente ignoram.
 
Será que globo resistirá ?

Movimentos sociais e centrais articulam frente de esquerda

publicado em 26 de dezembro de 2014 às 15:24
lula na entrega das chaves do conjunto João Cândido
A convite de Guilherme Boulos, do MTST, Lula foi à inauguração de um conjunto habitacional gerido pelo movimento, na Grande São Paulo. Foto: Danilo Ramos/RBA

Atos pós-eleição estimulam movimentos sociais a articularem ‘frente de esquerda’
Ricardo Galhardo, no Estadão, via A Tarde

Cerca de 40 líderes de movimentos sociais, centrais sindicais e partidos como PT, PSOL, PC do B e PSTU começaram a articular a criação de uma frente nacional de esquerda e já preparam uma série de atos e manifestações para 2015. O objetivo dessa mobilização é o de se contrapor ao avanço de grupos conservadores e de direita não só nas ruas, mas no Congresso e no governo federal.
A primeira reunião do grupo ocorreu na semana passada, em um salão no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Participaram lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Central de Movimentos Populares (CMP), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Via Campesina, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Consulta Popular, Intersindical e Conlutas, além de representantes dos quatro partidos e integrantes de pastorais sociais católicas.
A iniciativa partiu de Guilherme Boulos, do MTST, que no sábado havia feito elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de um conjunto habitacional gerido pelo movimento, na Grande São Paulo. Dias depois, Lula, que é cotado para disputar o Palácio do Planalto em 2018, divulgou vídeo no qual diz que é preciso “reorganizar” a relação com os movimentos e partidos de esquerda se o PT quiser “continuar governando o Brasil”. Boulos não quis comentar a criação da nova frente. “Isso ainda não foi publicizado”, disse.
Participantes da reunião negam que a frente tenha caráter eleitoral. Segundo eles, a frente popular de esquerda (ainda sem nome definido) vai agir em duas linhas. A primeira é atuar como contraponto ao avanço da direita nas ruas e no Congresso. Após os protestos contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff, esses grupos também preparam maior articulação.
A segunda é buscar espaço dentro do governo Dilma para projetos que estejam em sintonia com a agenda da esquerda, como reforma agrária e regulação da mídia. “Vamos fazer a disputa dentro do governo”, disse Raimundo Bonfim, da CMP. Os movimentos que participaram da reunião preparam um cronograma de manifestações que começa com atos pela convocação de uma constituinte exclusiva para a reforma política na posse de Dilma, no dia 1.º.
Em 1º de fevereiro, quando tem início a nova legislatura, um ato no Congresso vai pedir a cassação do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por quebra de decoro. “Em torno destas atividades deve se buscar uma unidade. O primeiro semestre deve ser de muita instabilidade política”, disse o deputado Renato Simões (PT-SP). Segundo ele, outra missão da frente de esquerda será enfrentar na rua o “golpismo” representado, segundo ele, por grupos que pedem o impeachment de Dilma.
A previsão de instabilidade tem base nos desdobramentos da Operação Lava Jato. No ano que vem a Procuradoria-Geral da República deve se pronunciar sobre políticos citados no caso.
Segundo o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que também participou da reunião, os grupos e partidos sem ligação com o governo vão cobrar apuração e punição dos desvios, mas sem estímulo à venda do patrimônio estatal. “Não vamos permitir que os escândalos sejam usados para privatizar a Petrobras.
Fonte: VIOMUNDO


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