sábado, 6 de dezembro de 2014

A Trilogia do Horror

Bhopal, a 30 anos de um crime corporativo impune

4 de dezembro de 2014

Por Lucía Villa
Do Público


Na madrugada de 02 para 03 de dezembro de 1984, um vazamento de gás na fábrica de pesticidas da Union Carbide na região de Bhopal, na Índia, provocou um dos mais graves desastres humanitários e ambientais da história. Vinte e quatro toneladas de isocianato de metilo (MIC), um composto altamente tóxico e mortal, arrasaram qualquer resquício de vida e recursos em vários quilômetros do entorno. Calcula-se que entre 22.000 e 25.000 pessoas morreram em consequência do vazamento químico e que mais de 57.000 se viram expostas a níveis nocivos deste composto, que causou malformação e sequelas que, em alguns casos, passaram de geração para geração.

Trinta anos depois, a empresa estadunidense proprietária daquela fábrica, a Union Carbide Corporation, esquivou-se de responder na Justiça indiana enquanto milhares de pessoas continuam bebendo a água contaminada ou sofrendo “doenças ginecológicas” e “infertilidade”, segundo denunciam os grupos de atingidos e ativistas.

“Minha filha não conseguia engravidar depois de quatro anos de casamento. Os médicos lhe disseram claramente que se bebeu dessa água tóxica já não terá chances de engravidar”, disse Shahzadi Bi, uma mulher de 60 anos, sobrevivente da catástrofe. Seu testemunho foi recolhido, junto com o de outros atingidos, pela organização Anistia Internacional em um relatório organizado por ocasião destas três décadas de impunidade.

“A paciência das pessoas esgotou-se. Continuam recordando aqueles acontecimentos. Continuam chorando e lamentando-se pelos familiares que morreram naquele dia. Sentem que, ao menos agora, o nosso governo e a companhia deveriam ouvir-nos e tomar medidas cabíveis, porque 30 anos é muito tempo”, acrescenta Safreen Khan, de 20 anos e filho de sobreviventes.

Impunidade

A situação das vítimas de Bhopal é o resultado de um labirinto de 30 anos de resoluções judiciais, operações comerciais, o não comparecimento à Justiça e conivência política que até agora beneficiou somente a companhia norte-americana, hoje nas mãos da segunda maior empresa química do mundo, a Dow Chemical Company, que comprou a Union Carbide em 2001 e que nega qualquer responsabilidade. Além disso, nega-se a pagar os custos da limpeza na zona.

Em um acordo extrajudicial em 1989, o Governo indiano aceitou receber da Union Carbide uma compensação no valor de 470 milhões de dólares, tão somente 14% do que pediam as autoridades do país asiático no início das negociações. Em todo o caso, com essa soma só foi possível distribuir cerca de 1.000 dólares para cada pessoa atingida.

Posteriormente, em uma sentença de 2010, sete empregados da companhia foram condenados a dois anos de prisão que evitaram graças ao pagamento de fiança. Warren Anderson, na época diretor da Union Carbide, viajou para a Índia dias depois da catástrofe e foi preso, mas ao ser posto em liberdade até a realização do julgamento fugiu da Índia para onde nunca mais retornou para responder diante dos tribunais pelo homicídio. Embora fosse considerado fugitivo da Justiça naquele país, morreu em setembro passado aos 92 anos em uma tranquila residência de idosos na Flórida.

“Os Estados Unidos jamais tolerariam que uma empresa de propriedade estrangeira fugisse da prestação de contas pelos estragos causados em seu território; no entanto, não parecem preocupar-se tanto quando corresponde a outros países”, disse Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional, em visita a Bhopal.

Agora, o Governo indiano aceitou fazer uma revisão das condições do acordo de 1989 para solicitar indenizações maiores e reavaliar o número e a gravidade dos atingidos, mas parece difícil que a empresa química responda. Nas duas vistas judiciais realizadas em Bhopal nos últimos seis meses a Dow Chemical não compareceu.

Não obstante, a pressão da opinião pública sobre ela e sobre a falta de ação do Governo dos Estados Unidos neste aspecto, é forte. De acordo com uma pesquisa realizada pelo YouGov para a Anistia Internacional, 82% dos cidadãos indianos entrevistados e 62% dos estadunidenses mostraram-se a favor de que a Union Carbide comparecesse aos tribunais indianos para responder pelo crime por homicídio culposo atribuídos à empresa. Além disso, 70% dos pesquisados na Índia e 45% dos entrevistados nos Estados Unidos, acreditam que o Governo estadunidense deve colaborar para que a Dow Chemical preste contas.

Fonte: MST
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A tragédia, conhecida como os 'cincos anos do horror' teve início com a explosão da fábrica da extinta Union Carbide, na Índia, em 1984, com a morte de 25.000 pessoas devido ao vazamento de uma substância química -pesticida - usada na agricultura, principalmente a intensiva.



  Fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation – Bhopal, Índia.






Arredores da fábrica da Union Carbide Corporation – Bophal, Índia.








Pessoas mortas, espalhadas pelas ruas de Bophal, intoxicadas pela nuvem de poluentes.



 Criança vítima do desastre.




















Vítimas de Bhopal enfileiradas para contagem.



Na sequência, em 1986, a explosão da usina nuclear de Chernobyl, território ucraniano mas na época parte da extinta União Soviética, confirmou as profecias sobre cidades fantasmas, já que além da morte de milhares de pessoas , a cidade mais próxima foi totalmente evacuada. 

Até hoje, os efeitos da radioatividade continuam matando pessoas na região ucraniana.
























A terceira grande tragédia aconteceu no ano de 1989, no Alasca, como o vazamento de milhares de barris de petróleo do petroleiro Exxon Valdez, da multinacional Exxon, que vitimou milhares de espécies da fauna local.





Passados praticamente 30 anos, os produtos químicos usados na agricultura - principalmente o agronegócio - atualmente não só matam os agricultores - devido ao tempo em que ficam expostos à estas substâncias - como também os consumidores, já que grande parte dos alimentos chega às mesas contaminados com substâncias químicas usadas na agricultura.

A energia nuclear continua produzindo acidentes, como o de Fukushima , no Japão, quando uma explosão térmica em uma das unidades do complexo japonês contaminou o mar, o lençol freático e espalhou radioatividade pelos ares, e, desde o acidente de Chernobyl,  o lixo radioativo das usinas nucleares no mundo aumenta em proporções gigantescas já que não se tem uma tecnologia segura para disposição da imensa quantidade de lixo radioativo produzido por essas usinas.

O petróleo, continua sendo a base de sustentação de toda a economia e grandes acidentes continuam acontecendo, como o que ocorreu já neste seculo , no golfo do México, quando uma plataforma de exploração  de petróleo no mar vazou e produziu um desastre ambiental de grandes proporções. 

Além disso, o que não é pouco, a quantidade de CO2 lançada na atmosfera em decorrência da queima desenfreada de petróleo e outros combustíveis de origem fóssil, tem elevado consideravelmente a temperatura média do planeta, fazendo com que eventos climáticos sejam cada vez mas rigorosos e intensos, além de aumentar o número de doenças decorrentes da poluição do ar atmosférico.
O ano de 2014, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças climáticas , da ONU, deve ser o mais quente desde o início das medições no ´seculo XIX. 

O Produtos químicos usados na agricultura, a energia nuclear e a  economia baseada no petróleo, constituem a trilogia do horror , no que diz respeito a vida no planeta.
Matam milhares e milhares de pessoas por ano.



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