quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Dinheiro em trânsito. Imprensa em transe



O direito de saber a verdade

juliogomes


Um ano atrás, eu estava no Canindé. Camiseta vestida. A que eu mais gosto, listrada e sem patrocínio. Paguei meu ingresso, 40 reais, e o estacionamento, que era 10. Comi meus bolinhos de bacalhau. Geralmente comprava uns quatro ou cinco, dependendo da fome. Eu podia entrar com a carteirinha de jornalista no jogo? Sim, podia. Infelizmente, muitos colegas o fazem. Eu, não. Ia para torcer, não para trabalhar.
A Lusa havia acabado de empatar por 0 a 0 com o Botafogo, no New-Maracanã. O Botafogo, é bom lembrar, acabou aquele campeonato com a vaga na Libertadores. E empatamos porque tivemos um gol anulado absurdamente por impedimento. A arbitragem havia tirado pontos da Lusa em vários jogos anteriores: contra o Fluminense, no Rio, contra o Coritiba, contra o Atlético, em BH, contra o Grêmio, no Sul.
Erros de arbitragem acontecem. No Brasileirão de 2013, nenhum deles fez com que a Portuguesa ganhasse um ponto sequer (desafio qualquer um a me mostrar que a Portuguesa ganhou qualquer ponto por erro de juiz. Qualquer ponto).
Enfim, no melhor estilo contra tudo e contra todos, lá estava a Lusa pronta para jogar contra o Atlético Mineiro, o campeão da Libertadores, se preparando para o Mundial. Ganhamos por 2 a 0, um gol do Bruno Henrique (hoje no Corinthians), outro do Henrique (hoje no Palmeiras, artilheiro que expõe o nível do que se joga aqui). Chegamos aos 44 pontos.
Era o jogo crucial. Com 45, diziam os matemáticos, não tinha rebaixamento. E ainda faltavam três jogos, um deles com a já rebaixada Ponte Preta. Com aquela vitória sobre o Galo, no Canindé, a Portuguesa estava livre da segundona. Estava salva, pronta para o terceiro ano seguido na elite.
É um saco entrar em um campeonato para não cair. Infelizmente, esse futebol brasileiro dos pontos corridos, da maratona de jogos, do dinheiro só nas mãos de alguns, faz com que a maioria dos times entre só para isso: não cair (ainda que o discurso propositadamente mentiroso de dirigentes leve torcedores a acharem que seus times têm condições de brigar por título, Libertadores, etc).
A Portuguesa, falida, quebrada, precisava apenas disso. Ficar na elite. Seguir recebendo a cota da TV para tentar melhorar a situação financeira. E o objetivo estava conquistado.
Mal sabíamos que aqueles 44 pontos seriam os mesmos que teríamos após a canetada do STJD em dezembro. E que eles, logicamente, não seriam suficientes. Os 4 pontos ganhos no campo, semanas depois, foram tirados no tribunal.
Não entrarei aqui em debate sobre o STJD, a formação dele, os constantes dois pesos, duas medidas que o procurador Paulo Schmitt costuma dar aos casos.
Quem acompanha minimamente o futebol, quem tem conhecimento sobre atores e costumes, sabe que o que aconteceu no ano passado não foi um simples erro. Isso está na cara. É impossível estar mais claro.
Mas quem comprou? Quem vendeu? Quem são os responsáveis pela escalação irregular de Héverton naquela última rodada (quando não haveria mais tempo de “corrigir'' o erro no campo)? O promotor Roberto Senise Lisboa entrevistou muitas pessoas e estaria chegando relativamente perto de desvendar o mistério.
Ao longo do ano, foram várias as histórias que vieram até mim. Que Senise estaria sendo ameaçado até de morte e deveria deixar o caso quieto. Que o presidente de um clube do Sul, ameaçado de rebaixamento, teria relatado ao promotor que um “emissário do Rio de Janeiro'' tinha entrado em contato para que seu próprio clube “desse um jeito de cair''. Que o então presidente da Portuguesa, Manuel da Lupa, que está sumido, já teria se mandado para Portugal. Que no telefone de Da Lupa havia uma série de telefonemas na semana anterior de uma pessoa ligada a um certo grupo médico.
Até mesmo que a “batida'' policial no Canindé, levando para a delegacia e constrangendo alguns velhinhos que estavam jogando lá o seu poker (jogo legalizado e disputado em diversos clubes e casas de São Paulo) teria sido uma mensagem para o clube parar de se auto investigar, senão a Portuguesa e frequentadores não seriam deixados em paz.
Aí podemos lembrar que antes de tudo isso, com umas cinco rodadas para acabar o campeonato passado, houve um movimento em que teriam “sido encontradas'' escalações irregulares na Portuguesa e no Criciúma ao longo da disputa. Recuaram logo depois.
Paulo André, em entrevista nesta semana, ao falar do Bom Senso e a possibilidade de greve no ano passado, disse: “a gente começou a ter a leitura de que era interesse de alguém que a gente fizesse a greve para poder melar o campeonato. Foi isso. A gente teve a leitura de que alguém estava forçando aquilo para virar a mesa. Aí a gente recuou''.
Que havia um movimento escuso, no escuro, sendo orquestrado… só não vê quem não quer.
O fato é que o status quo venceu. A quem interessaria investigar tudo isso a fundo, eventualmente atrapalhando o início do Campeonato Brasileiro que agora está por acabar? Parar tudo por causa da Portuguesinha?? Por causa de seus 5 mil torcedores?? Já tivemos coisas piores no futebol! É assim mesmo. Paciência. The show must go on.
Agora, vem a notícia de que o Ministério Público tem fortes indícios de suborno. Mas ainda não tem provas. O STJD, lógico, não parece muito interessado desta vez. São pessoas seletivas, digamos.
Sinceramente, me parece até um pouco tarde. Mas me enche de esperanças que o caso volte à tona.
Um ano atrás, em setembro, a Portuguesa ganhava dois jogos seguidos pela última vez. 1 a 0 contra o Internacional, fora de casa. E 4 a 0 no Corinthians. Quem neste ano ganhou do Inter fora e meteu 4 no Corinthians, e uma semana depois faria 3 no Santos? Quem?
O clube, por demérito próprio, já está na terceira divisão. Acabou, na prática. Morreu. Está definhando. Ficar na Série A com o dinheiro de TV, por mais injusta que seja a divisão, era essencial para sobreviver.
Eu, este ano, boicotei o futebol. Para mim, este é um campeonato sem legitimidade alguma (além de ser sem vergonha e sem qualidade). Não vi praticamente nada do Brasileirão. E me espanta como tanta gente que se dizia “decepcionada'' segue lá, indo a estádios, pagando seu pay-per-view, fazendo parte deste ridículo espetáculo de cartas marcadas.
No ano passado, eu fui a 12 jogos da Portuguesa no Brasileiro. Gastei mais de mil reais com essa brincadeira. E aí? Quem eu devo processar?
A sociedade brasileira, que se diz tão preocupada com o futebol, deveria pressionar as autoridades para que paremos de bancar os bobos.
Se a Portuguesa se corrompeu, como parece, deve receber a punição mais dura de todas. Especialmente se estamos falando da alta diretoria, talvez presidência, ou seja, legítimos representantes do clube. Ir para a última das divisões. Suspensa de torneios nacionais. O que seja. Como disse o amigo Menon, a Portuguesa não merece uma lágrima derramada por ela – seus torcedores, sim.
Mas é justo que o corrompido pague duramente e o corruptor não?
Será que ninguém mesmo está preocupado em saber quem pagou, quem comprou, quem se beneficiou? É justo que esse também criminoso esteja na primeira divisão, livre, leve e solto? Seja por culpa própria, seja porque terceiros agiram em seu interesse?
Eu tenho o direito de saber. Todos temos o direito de saber. E, enquanto isso não ficar claro, o futebol brasileiro continuará nas trevas. Por mais que os mlihares de dependentes dele, econômicos ou emocionais, insistam em fingir que não.
Fonte: UOL
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E o assunto do rebaixamento da Portuguesa voltou.
Voltou no final do campeonato brasileiro, quando vários clubes disputam  vagas na libertadores e mesmo a permanência na série A.
A "novidade" foi uma reportagem em que o Ministério Público de São Paulo diz ter provas que a Portuguesa teria recebido dinheiro  para "vender" sua vaga na série A.
No entanto o MP não diz quem recebeu o dinheiro  e nem quem pagou.
Logo, podemos concluir que o MP descobriu o dinheiro em trânsito, no trajeto corruptor -corrupto, sem que seja possível , ainda, saber os nomes dos envolvidos.
Fantástico !
Essa é a notícia, o restante são especulações.
Ao se publicar tal "notícia"que nada informa e nada esclarece, se abre um campo enorme para especulações por parte da opinião pública, já que , como todos sabem, os clubes Fluminense e Flamengo se beneficiaram com a perda de quatro pontos da Portuguesa, que acabou por culminar em seu rebaixamento para a série B do Campeonato brasileiro.
A Portuguesa, que conquistou 48 pontos no campeonato do ano passado, ao ser punida com a perda de 4 pontos passou a ter 44 pontos, o que favoreceu o Fluminense que terminou o campeonato com 46 pontos e o Flamengo, que também perdeu  quatro pontos e terminou o campeonato com 45 pontos.
Flamengo e Portuguesa foram punidos pelo  Supremo Tribunal de Justiça Desportiva - STJD - por escalar jogadores irregulares, conforme determina o regulamento geral das competições.
Até aí, o STJD aplicou as penas previstas no regulamento, já que as infrações cometidas pelos clubes foram inquestionáveis. Não foi necessária nenhuma teoria de domínio do fato - onde as provas não apareceram como no caso do chamado Mensalão  - para aplicar a lei e punir os infratores.
A "notícia" de agora sugere que houve prática de suborno e, mesmo sem qualquer tipo de acusação ou provas concretas sobre os envolvidos, tal notícia permite que o senso comum especule e até mesmo acredite que os clubes beneficiados com o rebaixamento da Portuguesa  são os corruptores.
A quem interessa que tal notícia em final de campeonato quando o Fluminense disputa uma vaga na libertadores de América, fato que pode tumultuar o ambiente no clube ?
Já que a " notícia" se propõe  apenas a especular, pois nada de concreto informa, todo tipo de especulação é possível e, assim sendo, O PAPIRO, se permite a emitir suas opiniões, infelizmente, pois esse não é tipo de jornalismo que a sociedade deseja, com também não é o procedimento desejado para um Ministério Público que deveria informar o resultado final de suas investigações e não fornecer , em função de outros interesses, "informações" em conta gotas sobre um processo investigativo. Isto posto, listo abaixo algumas especulações, deixando claro, que não se tratam de acusações ou denúncias sobre as organizações e instituições citadas: 
- Flamengo, Fluminense e Portuguesa estariam envolvidos em um esquema de suborno, para que os dois primeiros permanecessem na série A do campeonato Brasileiro;
- a escalação de um jogador irregular pelo Flamengo teria sido para dar  credibilidade e coerência ao julgamento que puniu a Portuguesa e o Flamengo;
- Flamengo e Fluminense  teriam se envolvido no esquema não por parte de suas diretorias ,mas por parte de torcedores ilustres dos times,  com ou sem conhecimento das diretorias, já que conforme a "notícia" os valores envolvidos seriam na casa dos 20 milhões de reais, algo improvável para dois clubes, principalmente o Fluminense, que ao final do ano passado estava com quase três meses de salários atrasados e com receitas bloqueadas;
- O esquema pode ter ocorrido somente no âmbito interno da Portuguesa, em função de disputas políticas, sem nenhum envolvimento de outro clubes, mas com a participação de um corruptor, que pode muito bem ser a emissora de TV detentora dos direitos de transmissão dos jogos;
- o esquema pode ter partido da emissora de TV que detêm os direitos de transmissão dos jogos dos campeonatos brasileiros das séries A e B, TV Globo, que , como já foi dito por um de seus executivos, clubes de grande torcida na série B trazem prejuízos na audiência da série A,  já que a emissora não transmite os jogos da série B, repassando-os ora para a TV bandeirantes, ora para a Rede TV. A TV globo transmite futebol, apenas , nas quartas-feiras às 22 horas  e aos domingos às 16 horas e os jogos da série B acontecem nas terças, sextas e sábados, sendo que aos sábados no mesmo horário do "excelente e imperdível" programa de Luciano Huck. Como é de conhecimento de todos a TV globo não altera o horário dos programas de sua grade em função de partidas de futebol , ao contrário, estabelece os horários das partidas em função de seus interesses comerciais. Por outro lado, os patrocinadores da série B tem sempre interesse que um clube de grande torcida dispute a competição, pois é garantia de melhores audiências. Isso aconteceu quando Corinthians disputou a série B, o que incomodou a audiência de TV globo, tanto que neste ano, com a presença do Vasco da Gama na série B, a TV globo não permite que a Rede TV transmita os jogos do Vasco que terão grande audiência, fazendo ela  mesma [ tv globo] a transmissão, ,mesmo que para isso sacrifique o "excelente e imperdível" programa Caldeirão do Huck;
- TV globo e CBF dominam e ditam regras no futebol brasileiro, em função do poder econômico.
Como o caro leitor pode perceber, são inúmeras  as possibilidades  para o caso de suborno, considerando que MP afirma que tal suborno existiu.
Ainda ontem, no jornal da TV Bandeirantes, o âncora Ricardo Boechat  ao comentar a "notícia" afirmou em alto e bom som em rede nacional que tal esquema de corrupção não poderia ter acontecido sem a participação dos membros e juízes do STJD , pois segundo o âncora, o Tribunal julgou o caso com mão pesada, afirmando de forma clara para todos que o STJD também estaria envolvido. Uma denúncia irresponsável e gravíssima que pode levar a emissora e o âncora ao banco dos réus. Na mesma linha de suspeita sobre atuação do STJD está o artigo acima do blogueiro do UOL, que afirma não existir coerência nas decisões do Tribunal. Mão pesada diante de provas irrefutáveis, já a teoria do domínio do fato, que condenou sem provas os réus do Mensalão, em nenhum momento mereceu a indignação dos briosos  e coerentes jornalistas da velha mídia.
Dito isto, a "notícia" em nada contribui para esclarecer , tumultua ou tenta tumultuar o ambiente dos clubes, proporciona todo tipo de especulação, incita um pré-julgamento, porém demonstra que muita coisa precisa ser mudada na estrutura e organização do futebol brasileiro, principalmente no poder absurdo exercido por CBF e a rede globo. 
Revela , também, a mediocridade, a leviandade e o baixo nível do jornalismo da velha mídia, sempre atrelado a interesses.
E por fim, sem esgotar o assunto, revela um Ministério Público que no exercício de suas funções se rende a mediocridade informativa que reina no país.
Que as apurações continuem e os punidos sejam penalizados, doa a quem doer. 


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