quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O imortal tresloucado e o junho de 2013

"Parece que junho de 2013 não aconteceu", diz especialista

Mídia Ninja
Após virada conservadora nas eleições, diretor do Inesc, José Antonio Moroni, teme estagnação da luta por direitos com ascensão conservadora no Congresso e vê mobilização como essencial para avançar nas pautas sociais
07/10/2014
Integrante do colegiado de gestão do Instituto de Estudo Econômicos e Sociais (Inesc), José Antonio Moroni avalia que as manifestações de junho de 2013 tiveram pouquíssimo impacto no processo eleitoral, já que as candidaturas que pautavam reformas sociais e democráticas não foram eleitas. O especialista vê com pessimismo a ascensão conservadora no Congresso Nacional e teme estagnação na luta pela conquista de direitos.
“Em relação às eleições, parece que junho de 2013 não aconteceu. As manifestações tiveram pouco impacto no processo eleitoral. Isso porque, ou nosso sistema político é tão rígido que é impermeável a qualquer tipo de manifestação popular, ou por que foi um momento conjuntural que não tinha uma agenda política clara e não foi capaz de tensionar o sistema político”, diz.
A maior prova disso, para Moroni, é que as candidaturas mais progressistas, que pautavam reformas sociais, políticas e democráticas, e que tentaram dar voz as insatisfações da população saíram enfraquecidas do processo eleitoral. “As forças políticas que teriam mais condições de dialogar com o processo de junho de 2013 não saíram fortalecidas. As pautas extremamente conservadoras foram reforçadas. O Congresso do ano que vem será mais conservador que o de hoje e assim conseguirá dar menos respostas às demandas de junho. Cristalizou o velho, no pior sentido da palavra.”
Um dos questionamentos dos protestos, por exemplo, era a fragmentação do sistema político, com um número alto de partidos: 33 ao todo. No entanto, em 2015, o Congresso Nacional saltará dos atuais 22 partidos com representação para 28, em geral os mais ligados às oligarquias políticas, como observa Moroni.
“A governabilidade fica muito mais difícil com mais fragmentação, sem força hegemônica. A tendência vai ser de não enfrentar questões mais progressistas a não ser que tenhamos mobilização para enfrentar o Congresso”, diz. “Isso é reflexo da estratégia do PT de não ter enfrentado as reformas estruturais necessárias, como a reforma política, a democratização da mídia e a formação política da sociedade.”
No pleito eleitoral decidido ontem (5), parlamentares conservadores avançaram de maneira representativa no Legislativo federal. A bancada do PSDB na Câmara ganhou 11 cadeiras, passando de 44 para 55, um crescimento de 25%. Já a bancada do PT perdeu 20% dos deputados, passando de 88 para 70. Apesar disso, a ala petista ainda continua a maior.
No Senado, que renovou um terço da Casa, cinco dos novos 27 parlamentares são do PMDB. O PSDB e o PDT têm quatro cada, o PSB elegeu três, mesmo número do DEM, enquanto PT, PTB e PSD conseguiram eleger dois cada. PR e PP fizeram um. A maior bancada a partir de 2015 será a do PMDB, com 19. Em seguida, ficam o PT, com 13, e o PSDB, com 10.
Para o especialista, o segundo turno das eleições presidenciais tende a ser mais conservador do que o primeiro, porque tanto Aécio como Dilma vão disputar o eleitorado mais reacionário. “Independente disso, todos os direitos que avançamos na Constituinte de 1988 estarão ameaçados, seja a reforma da previdência ou a saúde e a educação pública, por exemplo. Acho que se apresenta uma conjuntura de restrições de direitos por causa do avanço conservador.”
“O conservadorismo se caracteriza por querer manter as estruturas da sociedade como estão, baseadas na desigualdade de gênero, de raça, de orientação sexual e, sobretudo, de renda. É não mexer nos mecanismos de concentração da riqueza. Os conservadores aceitaram, até certo ponto, alguma distribuição, como o Bolsa Família, contanto que não mexesse na estrutura dessa sociedade desigual”, analisa. “Com o fortalecimento desse ponto de vista nas eleições, a tendência não é só barrar qualquer avanço, mas retroceder, atacando a pauta de direitos sociais e trabalhistas, e fortalecendo o setor privado, que financia as campanhas.”
Fonte: BRASIL DE FATO
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Mais uma vez junho de 2013 está na berlinda.
Até hoje não se conseguiu um consenso sobre o que teria motivado as manifestações do ano passado.
Não foram organizadas por partidos políticos, por sindicatos, ou por qualquer organização representativa de setores da sociedade.
A multidão rejeitou os políticos - sem exceção -, os governos, a mídia, os partidos e , em sua maioria, exigiu serviços públicos de qualidade.
Sem governos, sem partidos  políticos e sem mídia  fica difícil.
O que se conclui dai, que a multidão está insatisfeita com os governos (todos os governos ), com os partidos políticos  ( todos os partidos ) , com a mídia ( toda a mídia tradicional )  e atribui a essas instituições  a baixa qualidade do serviços prestados.
O foco dos manifestantes estava nos serviços essenciais, transporte, saúde e educação públicas e, em menor escala , segurança pública. Alguns também protestaram contra a ...corrupção e também pediram mais democracia  
Nenhum manifestante protestou contra a falta de emprego, contra recessão econômica, contra a falta de oportunidades- como acesso a universidades e  ensino técnico, trabalho, emprego- contra investimentos do governo em infraestrutura  -portos, aeroportos, energia, rodovias, hidrovias - contra o déficit de moradias, contra a falta de crédito para aquisição de bens de consumo, contra políticas públicas para redução da pobreza e da miséria e outros temas não menos importantes.
Veja, caro leitor, que ao redor do mundo que segue os preceitos macroeconomicos do neoliberalismo, as multidões que foram às ruas , o fizeram para protestar contra tudo aquilo que por aqui no Brasil não se protestou. Foi assim na Espanha, nos EUA, em Portugal, na França, na Itália, na Irlanda , na Islândia, na Inglaterra e outros.
E porque aconteceu dessa forma aqui no Brasil, deve o caro e atento leitor estar se perguntando.
Por que aquilo pelo qual  se protestou na maioria dos países, no Brasil  a população é plenamente atendida pelas políticas do governo federal .
E então porque a multidão foi às ruas por aqui com toda aquela força ?
Difícil explicitar um só motivo, foram vários.
Primeiro o movimento de protestos  é mundial, e chegou a nossa vez.
Segundo deve-se a pauta da mídia dominante. Tudo aquilo pelo qual  que se reivindicou nas manifestações, faz parte da agenda diária dos meios de comunicação dominantes como uma estratégia de atacar e fazer sangrar o governo federal. A pauta de assuntos para protestos na maioria dos outros países, não aparece com frequência na mídia dominante aqui do Brasil, pelo motivo que são ações bem sucedidas do governo federal para a população.
De uma forma ou de outra, as reivindicações de junho de 2013, tem um viés progressista, que historicamente não são atendidos ou priorizados pelos partidos políticos  de centro  ou de direita.
No campo da direita, onde se situa a velha mídia e a candidatura de Aécio Neves, a educação , a saúde e  os transportes devem ser da esfera da inciativa privada, já que na ideologia de direita esses serviços são considerados como mercadorias e logo devem priorizar , em primeiro lugar, o lucro dos empresários, e não a necessidades básicas da população.
Nos governos do PSDB, e o caro leitor  tem vários exemplos na esfera estadual ou federal, esses serviços públicos  são de péssima qualidade, comparados com serviços prestados por governos a esquerda. Um bom exemplo é a expansão do metrô de São Paulo nos governos do PSDB  que  anda a passos de cágado, justo em uma cidade que agoniza nas questões de mobilidade e que o investimento na expansão do metrô deveria ser de prioridade máxima. E o que dizer do esfacelamento da USP, orgulho de todo brasileiro como um centro de excelência no ensino, que  nos governos do PSDB vem caindo cada vez mais  no ranking das melhores universidades publicas do mundo.
Por aí, reside toda a incongruência da multidão de junho de 2013 e o resultado das eleições do primeiro turno.
Um congresso nacional com um viés mais conservador, a direita, o que significa dizer menores possibilidades de atendimento as pautas do povo no tocante aos serviços públicos de qualidade, já que o conservadorismo, a direita, prioriza a privatização de todos os serviços públicos e a privatização de  empresas estatais.
Em meio a tudo isso , o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e imortal da academia brasileira de letras, vem a público atacar e xingar uma grande parcela da população brasileira, principalmente do Norte e Nordeste do país - mas não  apenas nessas regiões brasileiras - acusando cidadãos de ignorantes , desinformados e que não sabem votar, isso porque , segundo FHC , esses "ignorantes" votaram na candidata Dilma.
Ora, o caro e  inteligente leitor sabe, que 1/3 da população brasileira é de esquerda, 1/3 é de direita e 1/3 flutua entre a esquerda e a direita dependendo das eleições.
Com base na realidade dos fatos descritos neste artigo, FHC não está de todo errado em sua afirmação tresloucada, já que o  1/3 que oscila nas eleições esteve nas ruas em junho de 2013,  surpreendentemente votou no candidato Aécio e reelegeu um governador do PSDB de São Paulo -  que está há vinte anos no poder - que vem contribuindo para o empobrecimento do maior estado do país e ainda pode levar a população à um caos total com a escassez de água, fruto de incompetência no planejamento hídrico para o estado.
A declaração de FHC, que  tem amplo apoio da velha mídia no tocante a divulgação e a repercussão,  foi um tiro no próprio pé e certamente trará prejuízos gigantescos para a candidatura de Aécio Neves, já que em um primeiro momento e por alguns dias o preconceito  transborda e se espalha, porém, como é da característica  da sociedade brasileira - algo que como sociólogo FHC deveria saber - esse sentimento reflui, gerando um outro forte sentimento de repulsa e rejeição contra todo tipo de práticas discriminatórias.
De um sociólogo e imortal da ABL, espera-se mais que manifestações  e declarações contaminadas por um profundo emocionalismo.

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