segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Mídia sem educação e sem conhecimento

NÚMEROS DO PNAD

O Brasil sem educação

Por Luciano Martins Costa em 22/09/2014 na edição 816
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, 22/9/2014
 O erro constatado em um conjunto de planilhas da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), com os números de 2013, divulgados na quinta-feira (18/9) pelo IBGE, foi pouco explorado pela imprensa no fim de semana. Na verdade, os dados produziram um curioso editorial no jornal O Estado de S. Paulo, que reconheceu na segunda-feira (22/9) uma melhora gradual nas condições de vida do brasileiro nos últimos anos e contradiz as manchetes negativas publicadas na sexta-feira sobre o mesmo assunto.
A correção de informações sobre o índice de Gini, que mede a desigualdade de renda domiciliar, elimina o argumento usado pela mídia tradicional para desqualificar a política econômica e os projetos sociais do governo. Com os números corretos, a imprensa se vê obrigada a voltar atrás e afirmar, ainda que de forma dissimulada, que “vive-se melhor no Brasil”, como diz o editorial do Estado. Evidentemente, como não podia deixar de ser, a mídia observa que ainda há muito a fazer, principalmente no que se refere ao resgate das populações que ainda vivem em condições degradantes.
O erro cometido por técnicos do IBGE será apurado em cerca de trinta dias, segundo anunciam os jornais. Mais interessante do que isso, porém, é constatar como a imprensa, em peso, recebeu e digeriu gostosamente os indicadores errados, aproveitando-os para criticar a política econômica e social, sem perceber que havia ali uma contradição importante. A incongruência dos dados sobre desigualdade era evidente, como destacou este observador na sexta-feira (ver aqui).
Nas estatísticas complexas, que medem fatores diversificados, é preciso ler as relações cruzadas e analisar as tendências, ou seja, leva-se em conta a direção que os fatos tomam em determinado período, no seu conjunto e em questões específicas. Por exemplo, no caso da renda média do trabalho é importante considerar não apenas o valor dos salários formais, mas também a receita do trabalho informal e a redução da mão de obra infantil.
O que a imprensa fez, diante da pesquisa do IBGE, foi garimpar os dados negativos e publicá-los com destaque, sem considerar o emaranhado de relações entre os fatores retratados e o contexto geral de evolução do quadro social.
Ignorância e preconceito
Há um aspecto importante no qual os jornais acertaram, mesmo levando em conta a correção do erro nas planilhas do índice de Gini: o principal desafio do Brasil é melhorar a qualidade da educação. No entanto, o debate proposto pela mídia tradicional vai na direção errada: nossa tragédia não é apenas a baixa qualidade do ensino oferecido pelo sistema escolar oficial – o problema é o analfabetismo funcional de grande parte da sociedade, incluída a própria imprensa e seus leitores típicos, que compõem a elite social e econômica do país.
Assim como um aluno da escola pública da periferia tem grande dificuldade para elaborar um texto compreensível ou para compreender um texto de relativa complexidade, boa parte dos brasileiros com muitos anos de escolaridade sofre de um grave bloqueio na hora de ler a realidade nacional. Entre esses analfabetos funcionais pode-se alinhar um enorme contingente de jornalistas, muitos deles assentados em cargos de responsabilidade nas redações ou agraciados com espaços generosos nos principais meios de comunicação.
O típico estudante da periferia tem dificuldade para compreender um texto de geografia, tanto quanto um assinante de jornal tem dificuldade para fazer a leitura crítica do texto jornalístico. As duas deficiências têm origens diferentes, mas produzem um fenômeno comum de má educação: o analfabeto funcional que não sabe interpretar um texto e uma elite que se nega a conhecer a realidade. Num caso, falta vocabulário; no outro, sobram preconceitos. A mídia tradicional deseduca um e outro com sua pauta de futilidades, seu conservadorismo e seu viés reacionário.
A educação precisa ser vista como uma das funções da comunicação. Trata-se de capacitar os indivíduos para que construam um pensamento da realidade o mais próximo possível da natureza da realidade. Nesse sentido, deve-se fazer com que a tarefa de educar seja ampliada do ambiente escolar para toda a sociedade, e a imprensa deveria ter um papel fundamental nessa missão.
Mas imprensa não pode educar se ela não tem educação.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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Ao se referir ao twitter como fonte de informação e divulgação de conhecimentos e conceitos,o escritor nobelista de literatura, Saramago, assim se manifestou: 
- "o twitter é um gemido"
Na cultura do gemido, de vocabulário limitado, os adjetivos proliferam abrindo portas e janelas para o crescimento e expansão de todo tipo de preconceitos.
Sim, meu caro leitor, com o limite  cento e pouco caracteres, formular um conceito profundo somente para pessoas com muita criatividade poética.
Com um número limitado de caracteres, a criatividade deveria nortear as mensagens na produção de conteúdos, entretanto, não é o que acontece. 
Em grande parte o perfil dos usuários do twitter pode ser assim definido, utilizando-se a limitação dos caracteres:
- " li a notícia e pensei  no que escreveria. Infelizmente, saiu apenas grosseria"
Do twitter para as mensagens nas redes sociais, que propiciam uma falsa armadura para manifestação de opiniões, observa-se uma profusão de gemidos.
Impaciência ou papo reto, seja lá o que for, a comunicação ganha uma nova aparência com o advento das tecnologias de comunicação e informação. 
Sem fazer julgamento, essa é uma realidade que ao propiciar a todo cidadão a possibilidade de se expressar para o conjunto da sociedade, revela, também de forma clara, as fragilidades no conhecimento  da língua portuguesa, como o caro e atento leitor pode inclusive perceber neste artigo.
Diante dessa realidade, também emerge a dificuldade de um grande número de cidadãos de interpretar corretamente textos e, assim sendo, a realidade percebida também fica contaminada.
Entramos, então, no mérito da comunicação, da educação e do ensino.
A questão da comunicação talvez seja a mais grave de todas, já que a maioria de problemas decorrem  de uma comunicação ineficaz. 
Isso vale para as relações interpessoais, relações profissionais e outras formas de se relacionar.
De uma maneira geral, a maioria das pessoas se comunica com base em sua realidade, sem se importar em conhecer a realidade do outro, fazendo da comunicação entre duas pessoas , por exemplo, algo inócuo, onde cada um fala de si mesmo, sem avançar nos assuntos desejados e acordados. 
Na maioria das vezes em que analiso uma conversa entre duas ou mais pessoas, percebo  com clareza, que aquilo que se atribui ao outro é a realidade de quem atribui. 
São raras as vezes que alguém procura compreender a realidade do outro e comunicar-se de acordo com a realidade percebida.
Em um exemplo extremo, o caro leitor certamente já ouviu alguém dizer que cachorros são ingênuos. 
Ora, eles vivem até hoje, sobrevivem, caçam, procuram abrigo e sabem se defender. Logo , não são ingênuos, são cachorros.
Ao rotulá-los de ingênuos,  se faz com base na realidade de quem rotulou.
Na maioria das vezes em que analiso pessoas conversando, percebo que se passa a maior parte do tempo falando daquilo que não se gosta. 
Poucos falam daquilo que se sentem bem. 
Talvez não saibam. 
Talvez o processo civilizatório atual seja  tão nocivo, que se passa o tempo falando do que não se gosta, sem que se saiba as razões para isso.
Faz sentido, já que o Homem dos grandes centros urbanos vive confuso e repleto de dúvidas quanto ao bem estar e a qualidade de vida, não podendo antever um futuro tranquilo e seguro.
Tudo isso se manifesta na comunicação, que passa  ao largo da clareza e da assertividade.
Veja o exemplo abaixo:
- " uma mulher,de ótima aparência, que jamais tinha visto ou mantido contato, me abordou na rua e fez a seguinte pergunta:
- o Sr mora aqui perto ?
- respondi: Porque a Sra. deseja saber onde moro ?
-  não, é , quer dizer, é que eu quero saber onde fica a farmácia popular da praça onze.
Informei o local da farmácia e o assunto se encerrou.
O exemplo acima revela a dificuldade das pessoas em manter uma comunicação eficaz e assertiva e, ainda revela aspectos da personalidade das pessoas , que no caso da mulher do exemplo, prefere caminhos laterais, periféricos , para alcançar seus objetivos, o que em se tratando de profissão pode estar inserido na categoria de vendedores.
Ocorre que um vendedor não e´vendedor em todas a situações que se apresentam em sua vida. 
A abordagem da mulher do exemplo acima, indica uma estratégia de sedução, cooptação , para atingir seu objetivo, mesmo considerando que sua pergunta inicial em nada, ou muito pouco, poderia contribuir para a informação que necessitava. 
Entretanto, toda comunicação é uma sedução, da mais fria onde duas pessoas conversam falando assuntos completamente diferentes, até um ato sexual, que é a comunicação mais harmônica.
Imagine agora, caro leitor, se ao ser abordado fornecesse informações onde moro, minha profissão, idade, estado civil e outras coisa mais. 
Pode parecer exagero, porém isso é muito comum em situações semelhantes, e as pessoas ficam falando por um bom tempo coisas inúteis e ainda não se comunicam.
Um olhar atento em programas de TV e o caro leitor verá que a maioria das pessoas ao se comunicar não estão se comunicando uma com as outras , mas apenas falando de si mesmas. 

Se o caro leitor chegou até aqui, deve estar se perguntando sobre o  papel da mídia privada no tocante a educação.
É uma tragédia. 
Uma gigantesca estrutura a serviço de interesses econômicos, doutrinários e políticos, que em nada propicia ao cidadão uma visão crítica e, ainda mais, fornece uma compreensão da realidade equivocada e repleta de futilidades.
No caso, falamos de imprensa e outras mídias , como a televisão e o rádio.
A televisão privada é a meca do exibicionismo, seja em se tratando de jornalismo ou de entretenimento, onde as tais celebridades reinam nos palácios da mediocridade.
Como agravante, a educação na velha mídia  é sempre negligenciada, seja nos aspectos pessoais ao se expressar ou nas relação interpessoais onde a grosseria reina, seja na falta de conhecimento sobre  os mais diferentes assuntos.

A estrutura midiática brasileira é um gigantesco entrave para o desenvolvimento das pessoas, uma vez que atua como um poder organizado em interesse próprio, contribuindo para o que existe de pior na sociedade.

Destravar esses grupos de poder em benefício da população se faz necessário e urgente.

Com o advento das tecnologias de informação e comunicação . essa velha mídia se transformou em vidraça, e, como isso vem revelando sua incapacidade em conviver com críticas por vezes profundas e devastadoras. 
Em respostas as críticas, sempre com  repostas que não se configuram como réplicas civilizadas e educadas, , a velha mídia se utiliza de seu poder econômico para tentar mitigar os estragos , saudáveis  e necessários, causados pelas críticas de uma parcela da sociedade que cada vez mais vem se destacando nas mídias digitais, através de sites, portais e blogues de opinião e informação.
Esse é um caminho sem volta que revela um poder emergente, que em grande parte vem emparedando e inibindo a barbárie diária  da velha mídia  e, também,  trazendo a tona assuntos importantes para a compreensão da realidade, local, regional e mundial.

Toda a questão da educação e do ensino nas sociedades atuais, deve necessariamente contemplar a realidade atual, de maneira a incorporar não apenas as tecnologias de informação e comunicação no ensino, mas , também, e prioritariamente, perceber que o conhecimento só se traduz com a interdisciplinaridade de todas as formas de saber, o que requer uma profunda transformação na grade curricular em todos os níveis de aprendizado.

Um neurocientista que não tenha formação em Física, Química e Biologia, é o mesmo que um padeiro que só sabe fazer um tipo de pão.

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