sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Trapalhadas sem fim

 


O desembarque da delegação do Fluminense, ontem, no aeroporto Santos Dumont no Rio de janeiro, foi um festival de trapalhadas.

Os torcedores que lá estavam aguardando a delegação agiram de forma equivocada e violenta.
É inaceitável qualquer tentativa de agressão física aos jogadores , assim como ao patrimônio dos atletas e do clube.
Os torcedores poderiam aguardar a delegação com faixas , cartazes de protestos, palavras de ordem, porém jamais tem o direito de arremessar qualquer tipo de objeto nos jogadores e ainda ameaça-los com violência.

A diretoria do clube, sabedora da insatisfação da maioria da torcida tricolor com o momento do time, deveria providenciar com antecedência  a presença da polícia e um reforço de seguranças do clube no desembarque da delegação. Foi omissa.

Os jogadores, depois que conseguiram sair do teatro de hostilidades que se formou nas cercanias do aeroporto, emitiram uma nota repudiando o ato dos torcedores e ainda aumentaram o festival de trapalhadas do dia, ao ameaçarem não entrar em campo para o próximo jogo do Fluminense, domingo, no Maracanã.

O confronto no Santos Dumont repercutiu na nossa alegre e divertida imprensa esportiva que procurou analisar o motivo pelo qual o time do Fluminense caiu tanto de produção nos últimos quatro jogos.
Foi dito que os jogadores estariam insatisfeitos  com a direção do clube pelo atraso no pagamento do direito de imagem de alguns atletas ,  bichos por vitórias em jogos e  prêmios pelos  últimos títulos conquistados, em 2012.
Quanto aos salários, segundo a imprensa, estariam em dia.
Se de fato a diretoria do clube está em atraso com o pagamento de alguns atletas, é normal e justo que os atletas, funcionários do clube, pressionem a diretoria para que compromissos assumidos sejam cumpridos.
É assim que funciona com todas as categorias, onde a greve pode ser utilizada em último caso, quando se esgotam as possibilidades de negociação.

Em se tratando de futebol, outras variáveis estão envolvidas e a razão nem sempre prevalece, e ainda, o que vale para a maioria das categorias profissionais  não se aplica totalmente no futebol.

A título de exemplo, sugiro que o caro e atento leitor imagine, ou até mesmo venha a recordar, de greves nas concessionárias de distribuição de energia elétrica.
Neste segmento os funcionários entram em greve, quando necessário, mas a população não fica sem o fornecimento de energia.
Não apenas a população, como também hospitais e outras atividades que sem o fornecimento de energia elétrica podem provocar sérios danos as pessoas , inclusive com o risco de morte como no caso de hospitais.
Em outras palavras, o risco de morte, é uma interrupção no sentimento da vida de muitas pessoas.

No futebol, a greve, ou corpo mole dos jogadores durante uma partida, também representa uma interrupção no sentimento, já que o futebol mexe com paixões desenfreadas.
Assim sendo , creio , e acredito que o caro leitor concorde, que os jogadores do Fluminense poderiam pressionar a diretoria do clube de outra forma que não fosse o corpo mole durante os jogos das competições que a equipe está envolvida.

Por exemplo, poderiam, os atletas, não mais concentrar antes dos jogos, já que a concentração implica em gastos para o clube com a hospedagem de hotéis.
Outros casos, ligados a vida interna no clube que resultassem em redução de gastos , poderiam ser propostos pelos atletas, visando com isso a obtenção de recursos para que seus pagamentos fossem efetuados.

Caso agissem dessa forma, os atletas colocariam de forma transparente para a torcida e para a imprensa suas demandas com o clube e não necessitariam fazer corpo mole durante os jogos nas competições e, ainda mais, teriam o apoio de toda a torcida.

Os atletas  funcionários do Fluminense optaram por   tirar o pé, nos últimos jogos, como forma de pressionar a Diretoria do clube, e fizeram isso justo no momento em que o time se comportava bem nas competições , ocupando os primeiros lugares na tabela de classificação.
O resultado tem sido desastroso, já que  ao agir dessa forma os atletas interromperam um sentimento , não a morte na greve da energia elétrica, mas o sentimento  com a torcida, uma característica do mundo do futebol.

Fizeram a pior política, com p minúsculo, e ainda ameaçam aumentar a trapalhada e os equívocos ameaçando não entrar em campo.
Romperam laços, o que no futebol não pode acontecer.

Cabe lembrar que o Vasco da Gama, na década passada quando caiu para a série B do campeonato brasileiro, lançou uma campanha para  a disputa da série B que tinha o seguinte slogan:
" O Sentimento não pode parar"
Brilhante!
Pois o sentimento que não pode parar implica na dedicação total do time em campo, no apoio da torcida e no comprometimento da Diretoria.
Caso uma das partes não se comprometa, o sentimento é interrompido, falta luz, o que no futebol é a morte.
Acredito que ainda hoje, passados alguns anos, a  maioria  da nossa alegre e divertida imprensa esportiva ainda não tenha entendido o signifcado profundo da campanha lançada pelo time da colina histórica.

Falando de nossa imprensa, cabe ressaltar que nossos briosos e alegres comentaristas e jornalistas esportivos, também tem suas parcelas de responsabilidade nesse teatro de trapalhadas e hostilidades que assistimos, já que uma grande parte da imprensa estimula  o buliyng a jogadores, como no caso do jogador Fred, o que  acirra ainda mais os ânimos e contribuiu para a irracionalidade e a violência por parte de alguns torcedores.

Quanto aos jogadores do Fluminense, se de fato os péssimos resultados dos últimos quatro jogos decorreram de problemas relativos ao atraso no pagamento de vencimentos, a opção utilizada  para pressionar a Diretoria do clube foi a pior possível, pois conseguiram eliminar o clube de uma competição - a Copa do Brasil - e praticamente alijaram o clube da disputa pelo título de outra competição, o campeonato brasileiro. Um grande prejuízo para o clube.

Cabe lembrar que para este ano o clube fez investimentos na  aquisição de vários jogadores de ponta e formou um elenco de alto nível técnico em condições de lutar pelo título de todas as competições que estivesse envolvido.
Desta forma , não podem ter o apoio da torcida e, assim sendo, setores mais radicais  agiram de forma violenta e equivocada.

A essência do  teatro de hostilidades ontem no aeroporto Santos Dumont revela que torcedores, jogadores, diretoria do clube e  imprensa tem muitas semelhanças, o que não deixa de  guardar uma relação direta com o momento por que passa o futebol brasileiro.

Quando a razão é ignorada o resultado é desastroso.


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