terça-feira, 26 de agosto de 2014

A Violência como espetáculo




E o Fluminense venceu.
É verdade, depois de quatro jogos sem vitória, o tricolor venceu com autoridade o Sport.
Venceu e jogou um bom futebol, mesmo longe de ser brilhante.
Que continue assim, já que os próximos quatro jogos do tricolor serão decisivos para a permanência do time na Copa Sulamericana e para a  disputa pelas primeiras colocações do campeonato brasileiro.

Depois do jogo, entretanto, o que prevaleceu na mídia foi a entrevista do jogador Fred, que falou sobre os conflitos que envolveram torcedores e alguns jogadores do elenco tricolor.
Fred, fortalecido com  a vitória do time e com sua boa atuação no jogo, soube aproveitar o momento e criticar a violência de alguns torcedores.
O jogador está coberto de razão quando critica a atitude violenta de alguns torcedores, entretanto erra ao pedir o apoio da mídia para combater a violência.
Cabe lembrar que essa mídia que Fred pede apoio , é a mesma que de forma violenta e covarde vem tentando colar no jogador a responsabilidade única pela derrota da seleção brasileira na copa do mundo, incentivando, desta forma, sobre o jogador todo tipo de perseguição, até mesmo com violência.
Curiosamente, após a entrevista do jogador do Fluminense, proliferaram comentários de jornalistas esportivos nas emissoras de rádio dando apoio jogador, como se a imprensa não fosse parte da violência .
Nenhuma autocrítica sobre o papel violento da imprensa.
Nossa imprensa se assemelha a uma prostituta que gosta de se apresentar como sendo uma donzela virgem.

No tocante a violência que o jogador vem sofrendo, cabe lembrar que desde 1991, quando se iniciou a guerra do golfo, a violência passou a ser tratada e abordada pela mídia como um espetáculo.
Na ocasião, pela primeira vez, uma guerra, expressão maior e mais brutal da violência, era transmitida ao vivo pelas emissoras de TV.
Imagens similares aos video games da época, onde instalações eram abatidas por mísseis e bombas, causaram uma excitação positiva até mesmo nos setores mais esclarecidos da sociedade.
Em 2001, por ocasião do atentado"terrorista" em Nova York, o espetáculo da violência ganhou contornos ainda mais espetaculares, já que  o intervalo entre o ataque a primeira torre e o ataque a segunda torre, foi suficiente para que emissoras  de TV se posicionassem estrategicamente e revelassem , ao vivo , e em tempo real , o segundo ataque.
Anos depois, na invasão ao Afeganistão e ao Iraque, em 2002 e 2003, respectivamente, o mundo assistiu cenas de extrema violência onde cidades foram pelos ares  com explosões de bombas e mísseis que na ocasião, foram enaltecidos como armamentos de última geração, com direito a uma farta propaganda bélica nos meios de comunicação. 
A violência como espetáculo também revelou o enforcamento do ditador iraquiano, Saddan Hussein, ao melhor estilo idade média.

A  cultura que se tornou praticamente hegemônica a partir do inicio da década de 1990, tem a violência, em todas as suas formas e manifestações, como um  valor e um espetáculo altamente lucrativo, e ainda tende a crescer mais pelo mundo.

As cenas  de violência contra os jogadores do Fluminense foram debatidas e exibidas a exaustão nos meios de comunicação, que por outro lado, disponibilizaram um tempo insignificante para debater e propor medidas para acabar com esse tipo de violência.
O que vale é o espetáculo.

Recentemente um juiz de Direito proferiu uma sentença sobre um caso similar de violência ao que ocorreu com jogadores do Fluminense.
Na ocasião, o magistrado afirmou que não se poderia aplicar penas duras -conforme determina a lei para casos de violência em geral - para agressões de torcedores , já que o futebol agrega um componente passional.
Em outras palavras, deu carta branca para que jogadores sejam assassinados.

Se é assim, o jogador Fred  deveria pedir o apoio do sindicato dos atletas e mesmo do Bom Senso F.C. para que, junto a ex-jogadores de futebol e hoje parlamentares  sensíveis a causa,  seja criada uma legislação específica para esses casos de violência no futebol, com penas severas para os agressores.

A mídia e a imprensa não tem interesse em acabar com o  lucrativo espetáculo da violência.

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