Educacaotecnologiacaminhos 300x137 Da Era das Coisas, cansei!!!
Foto: freshidea / Fotolia.com/Porvir
No interior, sonham com o Rio de Janeiro, imitam como se faz e se veste e se fala nas novelas, com a diferença que não tem os espaços e ambientes reais da situação metropolitana. Vivem como simulacros metropolitanos, em que ilustro: compram carros, orgulham-se de muitas vagas de garagem no imóvel residencial, cobrindo a terra de pedra ou cimento para as rodas de seus veículos. Uma vantagem no interior: pelo menos é fácil encontrar leite sem aditivo de sódio, só embalado em sacos de leite pasteurizado nas padarias e supermercados.
No metropolitano real do Rio de Janeiro, o noticiário local Bom Dia Rio é mais ou menos metade de seu tempo dedicado ao trânsito, engarramentos, minutos para a travessia da Ponte Rio Niteroi, velocidade em cores dos eixos de trânsito, com uso de recursos de multimídia, helicópteros, weblink, câmeras, centro de controle, tudo para o noticiário do trânsito, fora os acidentes que interrompem seus fluxos e as obras para um Rio que possa ter mobilidade urbana até 2016.
Passamos nos pontos de fluxo de pessoas e todos, sem exceção, correm ou passam rápido, sem se olharem, só olhando no máximo as telas de seus smartphones e tablets, falando sozinho ao parar, ao passar nas calçadas ou atravessar ruas, mas sem tempo para falar ou disposição de sorrir ou olhar ou cumprimentar pelo menos com a cabeça ou uma expressão de rosto aos que estão no seu entorno aguardando o ônibus, a barca, o metrô, o trem.
A tensão no ar e os receios de perder o tempo, de perder a mochila, de perder o relógio, os aparelhos de comunicação, mas aliviados de não perder a vida sua e de seus, retornam para casa gratos por poderem estar em casa, mais aliviados ainda quando todos os familiares chegam bem ou na mesma situação.
O entretenimento social seguro situa-se nos shoppings e lá podemos nos perder e esquecer do tempo de lá de fora, percorrendo corredores, escadas rolantes, olhando as vitrines, observando os lançamentos de coisas sem fim e muitas sem fins algum, sentindo o cheiro perfumado no ar, tomando um café, almoçando e jantando e até encontrando pessoas ‘pessoalmente’ que poderemos, enfim, ter tempo para tocar, cumprimentar e dialogar com calor humano.
Contas chegam mensalmente, fiéis às famílias. Nos vangloriamos (incrível, não?) ao nos libertamos das contas de ‘Combos’ que vem junto mesmo quando apenas queremos acessar a internet e, ao, enfim, conseguirmos devolver o decodificador da tv a cabo e o roteador de internet, dizemos calados ‘Combo nunca mais’ e partimos para a mobilidade de 4G e roteador sem fio aos que conseguem necessitar de somente 5MB/seg e até 12 GB de tráfego ao mês (já escuto os risos por isso…).
cotidiano Da Era das Coisas, cansei!!!
Foto: Reprodução
E as novas gerações e juventude, como estão nessa tragédia de mudanças climáticas e de guerra por água, mas entretidas em suas redes sociais que exigem mais e mais de seu tempo, de sua atenção, intenção e expressão (limitada a 150 ou 255 caracteres, é claro)? Na hora e nos lugares para a sociedade participar presencialmente das decisões sobre questões públicas, do interesse comum e coletivo, faz-se o quê? Somente votar de quatro em quatro anos? Se nem isso anima a esperança da juventude por um Brasil mais justo, ecológico e soberano. Pergunto-me o futuro das novas gerações e os jovens que agora buscam formação ambiental, mas cercados ao redor das pressões culturais, econômicas, tecnológicas e políticas para que nunca terminem sua participação efetiva no enredo de rodamoinho da Era das Coisas.
Então, numa tentativa de reinvenção de percursos vindouros nessa vida, experimento descoisificar (como é difícil), retirando e doando e me desfazendo do que não uso, não usarei e outros poderão precisar. O que fica a partir da mudança de lugar, de ambiente e de postura sobre as coisas que se vão, é uma sensação de apatia, necessária para imersão e emersão romântica da alma, ouvindo, vendo, sentindo os cheiros e os sons de um tempo que anuncia o colapso da Era das Coisas. O silêncio torna-se o amante da alma que, letárgica, aguarda e percebe o tempo da catarse que virá em sons e letras da criação.
Fica o meu desejo e a minha oração: Que as pessoas experienciem o descoisificar no cotidiano, com prazer e alegria da descoberta de um novo tempo. No tempo de fim da Era das Coisas, a simplicidade torna-se o maior tesouro a carregarmos na comunhão da fraternidade.
Patricia Almeida Ashley é colunista da Plurale, professora Associada, vinculada ao Departamento de Análise Geoambiental do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense. Contatos: redeeconsciencia@gmail.com. Rede EConsCiencia e Ecopolíticas – www.ecopoliticas.uff.br.
Fonte: ENVOLVERDE
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Já descoisifiquei há algumas décadas.

Lumiar

Beto Guedes

Anda, vem jantar
Vem comer, vem beber, farrear
Até chegar Lumiar
E depois deitar no sereno
Só pra poder dormir e sonhar
Pra passar a noite
Caçando sapo, contando caso
De como deve ser Lumiar

Acordar, Lumiar, sem chorar
Sem falar, sem querer
Acordar em lumiar
Levantar e fazer café
Só pra sair caçar e pescar
E passar o dia
Moendo cana, caçando lua
Clarear de vez Lumiar

Amor, Lumiar
Pra viver, pra gostar
Pra chover, pra tratar de vadiar
Descansar os olhos, olhar e ver e respirar
Só pra não ver o tempo passar
Pra passar o tempo
Até chover, até lembrar
De como deve ser Lumiar

Anda, vem jantar
Vem dormir, vem sonhar, pra viver
Até chegar em Lumiar

Estender o sol na varanda até queimar
Só pra não ter mais nada a perder

Pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar
Clarear de vez Lumiar


O SAL DA TERRA
BETO GUEDES

Anda, quero te dizer nehum segredo
Falo nesse chão da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da Terra
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com teus frutos
Tu que és do homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor
Deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor
Deixa viver o amor
(O sal da terra).