quinta-feira, 10 de julho de 2014

Eu vou lá e resolvo




Ainda repercute nas mídia e nas redes sociais a derrota da seleção brasileira.

O brasileiro, que faz piada de tudo, também brinca com a derrota do nosso time.
Isso é bom, pois em se tratando de copa do mundo e  de seleção brasileira o brasileiro não é apenas torcedor ,ele se considera parte do time que entra em campo.

Lembro de uma crônica do João, o Saldanha,  sobre esse nosso  comportamento:.
Mais ou menos assim:

- "  a seleção brasileira jogava e , em um bar, sentado a mesa perto de uma porta um negão assistia ao jogo bebendo uma cervejas e torcendo pelo nosso time. Um jogo pegado, difícil, sofrido, até que Pelé, então o maior jogador de futebol do mundo, faz uma jogada sensacional e marca um golaço nos últimos minutos de jogo, garantindo a vitória para a seleção. O negão viu o gol, ficou quieto por alguns segundos e depois comentou,  orgulhoso e seguro:
- comigo é assim, quando a coisa tá feia eu vou lá e resolvo".

Em seu comentário ele  incorporava o próprio Pelé em campo, ele sentado a mesa em um bar fez o gol da seleção. ele  era o Pelé e todos os demais jogadores da seleção. 
Ele era a seleção brasileira, a pátria  e tudo mais. 
No futebol, em se tratando de seleção brasileira, principalmente mas não especificamente, o brasileiro se auto transfere, se auto transporta sua personalidade para o time.

Se é assim na vitória , também é assim na derrota, pois o futebol é feito de grandes vitórias e grandes tragédias. 
O excesso de alegria na vitória é o mesmo excesso de tristeza na derrota.

De uma maneira geral leva-se um tempo para perceber tudo isso e  vale até até mesmo para jogadores de futebol .
O goleiro de nossa seleção ao final do jogo contra a seleção alemã, em entrevista, aos prantos como de regra nesta copa,  disse o seguinte:
- " o futebol ao mesmo tempo em que te dá ele tira de você"
O nosso goleiro estava falando de alegria na vitória e de tristeza na derrota e, como o brasileiro tem por regra extravasar suas emoções, uma derrota  mesmo que de um time de futebol, é algo comparável a uma tragédia gigantesca e sem precedentes
.
Por outro lado, ele não deixa de brincar consigo mesmo, já que quando faz piadas sobre a derrota da seleção está rindo de si próprio. 
Isso é ótimo e além de ajudar a suportar uma frustração, revela elementos de sabedoria.

Entretanto, todo cuidado e atenção nessa hora, pois existem aqueles que desejam  se apropriar desse sentimento para tirar vantagens, principalmente por conta das eleições que se aproximam.

E é aí que entra a velha mídia, que reproduz as brincadeiras sobre a derrota, mas prioriza aquelas que ridicularizam e diminuem a auto estima do brasileiro, a ponto de um colunista do jornal o globo, de hoje, escrever que a derrota reacende o complexo de inferioridade do brasileiro. 
Isso não é verdade e ainda é falso. 
Quem deseja que o brasileiro mergulhe em pessimismo e se sinta inferior é a própria mídia, o próprio colunista, que não medem esforços, pressões nas digitais dos dedos das mãos  e frascos de tinta para associar um sentimento de frustração legítimo e específico no futebol com a situação política, econômica e social do país.

Até mesmo as manchetes dos jornais, a falação alucinada nas emissoras de rádio, e os sempre higiênicos telejornais apresentados por higiênicos  e bem vestidos jornalistas, entraram em campo nesta pós-derrota da seleção com palavras chaves em suas  manchetes e análises que não são condizentes com a realidade. 
Vejamos:
- Humilhação: em nenhum momento a seleção brasileira foi humilhada em campo. Os jogadores alemães  jogaram futebol , buscaram e fizeram gols com a assertividade e objetividade que se espera nas partidas. Não houve  por parte dos alemães passes de letra, lençóis, canetas e outros dribles com o intuito de humilhar o adversário. Pelo contrário, os alemães venceram respeitando o time brasileiro. Algo que não aconteceu quando a seleção brasileira venceu os alemães na final da copa de 2002, quando o jogador brasileiro Denilson, hoje comentarista da Band, faltando poucos minutos para o final do jogo ficou com a bola ensaiando dribles ou mesmo embaixadas, no que quase resultou em agressão de um jogador alemão. Perder um jogo, eventualmente,por qualquer placar não é  humilhante, faz parte do esporte.
- Vergonha : não há motivos para se envergonhar com uma derrota no esporte, mesmo que seja por um placar elevado, ainda mais se o perdedor  é um vencedor no mesmo esporte, no caso o Brasil é o maior vencedor de copas do mundo.
 - Vexame : não há nenhum vexame quando se perde no esporte, no caso o futebol, jogando e competindo mas não podendo, naquele momento , superar o adversário. Os jogadores brasileiros não abdicaram de jogar  e reagir.
 - Raiva : Não existe motivo para sentir raiva de um time que lutou nos jogos em que jogou, mas que não ganhou o título da competição, mas mesmo assim ficou entre os quatro primeiros colocados.

Assim sendo, caro leitor, o sentimento real do brasileiro é de tristeza pela derrota, algo normal e passageiro, já que a seleção sempre esteve longe de ser unanimidade no tocante as chances de conquistar o título.
A movimentação da velha mídia é justamente se apropriar desse sentimento de tristeza momentânea do brasileiro, confundindo-o, e aprofundando todo tipo de rebaixamento, de diminuição, da auto estima do povo.

Por isso , reforço o toque para tomar cuidado com as brincadeiras e piadas que a velha mídia reproduz,  de maneira que seu sentimento legítimo, meu caro leitor,  não seja capturado e transformado em algo que você não sente, e , a partir daí você passe a sentí-lo, mesmo não sendo seu.

Infelizmente, meu caro leitor, não deu pra gente resolver a coisa quando ela estava feia e , com isso a gente ficou meio triste.
Porém, isso é passageiro, e logo a gente tá lá de novo e se marcar bobeira, eu resolvo, porque comigo é assim.



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