quarta-feira, 21 de maio de 2014

Alienação e anti-jornalismo

Anti-Copa e o anti-jornalismo

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Só é possível entender a importância atribuída pelos meios de comunicação aos protestos anti-Copa, ontem, como parte do esforço para colocar o governo Dilma na defensiva quando faltam cinco meses para a eleição presidencial. É isso e só isso.

Na maioria dos protestos realizados do país, havia menos gente do que no Palácio do Planalto, às 15 horas da tarde de ontem, quando o governo, entidades patronais e as centrais sindicais – inclusive a Força Sindical – assinaram um acordo pelo trabalho decente durante da Copa do Mundo. A luta pelo "trabalho decente" é uma campanha da Organização Internacional do Trabalho e o evento ocorreu nessa perspectiva.

Você pode achar burocrático. Mas veja as consequências práticas.

No final do dia, em Brasília, grandes redes de alimentação e hotéis – estamos falando de Mac Donalds e Habibs, Accor, por exemplo – haviam firmado um acordo que, soube depois, era inédito no mundo.

Um total de 1600 empresas (o plano é chegar a 6000 nas próximas semanas), que empregam alguns dezenas de milhares de trabalhadores, firmou um compromisso para a Copa. Reforçar direitos trabalhistas, criar formas legais de evitar que trabalho temporário seja sinônimo de trabalho precário e impedir o avanço da exploração sexual de crianças e adolescentes, tão comum em situação desse tipo.

Sabe a preocupação social? Sabe aquele esforço para impedir que a Copa transforme o país num grande bordel? Pois é.

Você pode até achar que tudo isso é café pequeno diante das imensas causas e carências do país. É mesmo. Também pode se perguntar para que falar de iniciativas modestas, limitadas, quando a rua arde em chamas de pneus revolucionários.

São, definitivamente, iniciativas menos que reformistas, para falar em linguagem conhecida. Populistas, para usar um termo típico de quem não tem voto nem consegue comunicar-se com o povo. Eleitoreiras, é claro. Mas eu acho que os fatos de ontem ensinam muita coisa sobre o Brasil de hoje.

A menos que se acredite que em 2014 o Brasil se encontra às portas de uma revolução, numa situação que coloca questões econômicas como a expropriação dos meios privados de produção e criação de uma república de conselhos operários e populares, convém admitir que nossos meios de comunicação resolveram construir um embuste político em torno dos protestos e apresentar manifestações de rua fracassadas como se fosse um dado politicamente relevante, digno de muita atenção.

Não seja Ney Matogrosso: conheça os dados. Entre no debate real.

Veja quem defende, a portas fechadas, as “medidas impopulares”. Quem já se rendeu ao capital financeiro e quer entregar o Banco Central – isto é, a moeda dos brasileiros – aos mercados, para que possam jogar com ela, especular, comprar e vender. Não acredite na lorota de austeridade, de defesa da moeda acima da política e dos interesses sociais em eterno conflito. O que se quer é mais cassino em vez de mais salário mínimo. (Quase rimou...)

No cassino está o filé – que é sempre para poucos. E quando alguém falar no exemplo dos países desenvolvidos, recorde: no mármore da entrada do FED, o BC americano, está escrito que a instituição tem dois compromissos – defender a moeda do país e o emprego dos cidadãos. Lá, no coração do capitalismo, o BC tem essa função – ou missão, como dizem os RHs de hoje em dia. Toda luta pela independência do Fed consiste em lutar para revogar o compromisso com a defesa do emprego.

Numa conjuntura pré-eleitoral todo cuidado é pouco. Cada rua interrompida, cada pedrada, cada confronto desnecessário com a polícia e cada pequena labareda representa um desgaste das instituições políticas construídas democraticamente no fim da ditadura militar. O que se pretende é atingir um governo que toma medidas parciais mas concretas em defesa da maioria e favorecer uma restauração conservadora. O capítulo final do embuste -- por isso é embuste -- é este. Criar uma imagem, um borrão, um ruído, que embaralhe o debate da eleição.

No país real de 2014, as alternativas são duas. E todos sabem quais são. E é por causa delas que a revolta policial do Recife, ontem, recebeu o tratamento de um episódio menor e passageiros, não é mesmo?

Ocorrem protestos relevantes que, curiosamente, não foram divulgados nem explicados. Na região Sudeste de São Paulo, ontem, os trabalhadores cruzaram os braços em seis empresas. Mais tarde, avançaram por uma das pistas da Via Anchieta e fizeram uma passeata por  meia hora. Olha a falta de charme radical-televisivo dessa turma. Olha o tédio concreto de suas reinvindicações. A monotonia. Não vai ter vidro quebrado?

Certíssimo.

Ligados a indústria de auto-peças, os trabalhadores querem a manutenção do IPI que ajuda a vender automóveis, até hoje o setor da indústria que possui a cauda mais longa na produção de empregos diretos e indiretos. No país real, onde vive a maioria dos brasileiros, uma das prioridades é e sempre foi esta: emprego, que permite pagar a conta do fim do mês.

A reivindicação dos metalúrgicos não era improvisada. E nada tem a ver com anti-Copa, movimento que ignoram porque gostam de futebol, não querem perder a oportunidade de torcer pela seleção brasileira em seu próprio país. Também admitem que os empregos que a Copa criou ajudaram no orçamento de amigos, parentes e vizinhos.

Os sindicatos querem sentar com os empresários e o governo para discutir medidas que a CUT e a Força Sindical trouxeram da Alemanha, onde estiveram recentemente. Naquele país, onde trabalhadores, empresas e governo repartem custos que ajudam a manter o emprego mesmo nas situações em que a economia esfria – esse tipo de pacto é um dos motivos que explica a vitória eleitoral de Angela Merkel, que não aplica contra seu povo a política de austeridade que exige dos países mais fracos da União Europeia.

No mundo real, vivemos a época do capitalismo rastejante, como definiu um dos dirigentes políticos de minha juventude. Cada emprego é uma epopeia, todo benefício social é um suadouro, garantir um horizonte de segurança para a família é uma utopia.

O que nossos conservadores mais reacionários pretendem é um confronto com todas as armas - inclusive o embuste - com um governo que, com todos os limites, falhas e alguns erros clamorosos, tem conseguido aliviar o sofrimento dos mais pobres.

Numa fase da história em que a desigualdade se amplia na maioria dos países, gerando uma situação social e econômica que bons estudiosos indicam como caminho seguro para novas catástrofes, o Brasil conseguiu avançar na direção contrária. O plano era fazer o país virar uma Grécia. Virou... o Brasil.

Vamos lembrar de 1964. Num país polarizado, com um governo que havia chegado no limite possível, a revolta dos sargentos, e dos cabos, a radicalização dos camponeses, a campanha sistemática de denuncia dos políticos e do Congresso envolvia causas justas e corretas – mas seu efeito real foi abrir caminho para o golpe de Estado e uma derrota de 20 anos.

Lembrem de 1933, na Alemanha. Convencido de que havia chegado a hora do assalto ao poder, o Partido Comunista Alemão, orientado por Josef Stalin, estimulou uma política sectária de denúncia da social-democracia. Rompeu a unidade dos trabalhadores e passou a acusar os social-democratas de social-fascistas. O saldo foi Hitler – uma derrota que só seria revertida pela II Guerra Mundial.

A historia mudou bastante, de lá para cá. Mas convém entender que algumas lições permanecem.
Fonte: Blog do Miro
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A agenda alienante da imprensa

Por Carlos Castilho em 20/05/2014
Se alguém parar um minuto para pensar, se dará conta que a agenda de temas que a imprensa nos impõe é paranoica e desvinculada da realidade em que vivemos. Somos levados a discutir sobre temas que não têm impacto direto sobre o nosso quotidiano enquanto aqueles que realmente importam são mencionados superficialmente ou simplesmente esquecidos.
Pior do que isso, nós jornalistas induzimos o público a depender de decisões superiores quando boa parte dos problemas diários podem ser resolvidos, coletiva e colaborativamente, pelos próprios interessados. Alimentar a dependência é uma forma de subordinar as pessoas e ao mesmo tempo nutrir a onipotência de governantes.
Quem se preocupa em ir um pouco além das manchetes de jornais e revistas verá que os grandes problemas da população não são a CPI da Petrobras, se o José Dirceu vai ou não poder trabalhar fora da cadeia, se a presidente Dilma Rousseff sobe ou desce nas pesquisas etc., etc. O que nos tira o sono é o espectro da falta d’água, de uma previsível crise no abastecimento de energia elétrica, o quebra-cabeças da mobilidade urbana e o que fazer para termos direito aos serviços pelos quais pagamos impostos.
Esses são apenas alguns dos assuntos sobre os quais já deveríamos estar pensando, mas movidos por uma agenda noticiosa que leva em conta apenas o que é importante para os governantes de turno e os grandes empresários, acabamos deixando para depois, na expectativa de que os políticos e empreendedores operem o milagre impossível de resolver todos os nossos problemas. Trocamos a nossa omissão por votos na esperança de que eles tragam a solução que nunca vem.
Se a nossa imprensa quisesse, já teria como colocar o debate sobre a questão da energia tomando, por exemplo, o caso da Alemanha, onde 87% da produção de energia renovável estão nas mãos de indivíduos ou movimentos comunitários. Os especialistas em energia estão cansados de saber que o modelo concentrado em poucas megausinas não tem mais como crescer e que a descentralização é a única forma de criar sistemas sustentáveis que, operando em rede, podem resolver rapidamente eventuais falhas de unidades isoladas.
Megacidades como São Paulo já são inadministráveis porque a gestão municipal está toda concentrada na prefeitura, cujo orçamento e efetivo humano estão muito aquém das necessidades da população. Mas ninguém discute a descentralização porque isso não interessa ao prefeito de plantão e nem aos seus adversários, que esperam apenas a chance de tomar o poder, para que tudo continue igual.
Decisões como essas dificilmente serão tomadas pelos administradores atuais porque elas implicam quebrar modelos e rotinas, coisa que os políticos têm horror dado o risco de perder votos em futuras eleições. Nenhuma dessas decisões será tomada sem que a população tome consciência de sua necessidade e urgência. E esta consciência só pode ser alimentada por informações.
A imprensa seria a única instância à qual o cidadão poderia recorrer para obter dados sobre a situação de sua cidade, porque as demais instituições, inclusive a universidade, têm seus interesses próprios e tratam de defendê-los na mídia. O papel da imprensa seria propor temas que afetam a comunidade e identificar os interesses, abertos e ocultos, dos diferentes setores envolvidos em cada problema em debate. É o que o cidadão espera, mas não é o que ele obtém. O que assistimos hoje é a população levantar os problemas nas ruas e só depois disso é que a imprensa, políticos e governantes correm atrás – não para resolver, mas para livrar a própria responsabilidade, jogando preferencialmente a culpa nos desafetos.
Se a imprensa cumprisse apenas o papel de identificar interesses e contextos de forma honesta já estaria prestando um serviço inestimável ao cidadão, que poderia ter elementos minimamente confiáveis para tomar decisões. Os jornais, revistas, telejornais e sites noticiosos na Web não precisam se proclamar paradigmas da independência, isenção e imparcialidade. Todos sabemos que isso é materialmente impossível. Mas se procurassem, pelo menos, chegar perto da isenção, isto já seria um antídoto poderoso contra a desinformação e deformação informativa.
O cidadão é forçado a engolir maciças doses diárias de violência, tragédias e crimes cuja divulgação ocupa espaços que poderiam ser usados para a busca de soluções de problemas que estão na porta da casa de cada um de nós. Nada contra a divulgação do incêndio do ônibus que matou 34 crianças no interior da Colômbia, das enchentes na Sérvia ou da cabeça de bebê encontrada decapitada em Caxias do Sul (RS).
Mas os editores de jornais e telejornais precisam ter uma noção mais precisa daquilo que afeta ou vai afetar o quotidiano das comunidades onde está a sua clientela de usuários. Claro que é mais fácil reproduzir a notícia de uma tragédia distante que já vem formatada para o vídeo ou basta copiar e colar na página impressa. Investigar temas locais dá trabalho, toma tempo e mexe com interesses de pessoas que em geral estão muito próximas do jornal ou emissora.
A valorização da periferia é um fenômeno global que veio para ficar porque dele depende a sustentabilidade econômica e social do planeta. A imprensa ignora olimpicamente o que ocorre na periferia de nossas cidades e só acorda quando acontece alguma tragédia. Os empresários e economistas já fizeram as contas, muito antes dos políticos e administradores, e começaram a migração para a periferia e para o interior, onde os custos são menores e a qualidade de vida, muito melhor.
Mas a imprensa continua aferrada a um patriarcalismo político baseado em promessas eleitorais impossíveis de cumprir, atitude que mantém os cidadãos domesticados na esperança de que algo vá acontecer. Só que este modelo de jornalismo está se desgastando rapidamente e, se não for revisto no curtíssimo prazo, a própria sobrevivência de muitos veículos de comunicação estará ameaçada.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA 
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Trombone alvorada weril

Uma porção de arroz, temperado com alho , cebola, óleo de girassol e sal .
Seis colheres cheias de sobremesa é o suficiente para uma pessoa.
O arroz foi colocado em um pote, no centro do prato.
Ao seu redor, em todo o prato, foi colocado uma porção de atum.
Por cima do atum, um molho de tomate feito em casa a partir  de tomates frescos, com sal, pimenta calabresa e azeitonas pretas.
Em outro prato, batatas e cenouras cozidas, temperadas com molho de tomate, sal e manjericão.
Um copo de 300 ml de refresco de caju, e goiabada cascão.
O almoço, como de costume , estava delicioso.
Depois de bem alimentado, bem nutrido com alimentos saudáveis, resolvi ligar a televisão, já na parte avançada da tarde, para observar o movimento do jornalismo alienante que assola o país.
Com a batuta do controle remoto, naveguei pelas emissoras de TV.
Uma realidade diferente daquela que acabara de vivenciar.
Propagandas de alimentos sugerindo biscoitos vulgares, sanduíches fast food, refrigerantes,  e também pessoas de grande visibilidade vendendo os embutidos de origem animal da moda.
Uma avalanche de propaganda de cosméticos , de repente, tomou as emissoras de TV, talvez pelo horário de audiência predominantemente feminina.
Em tempos de mercadoria turbinada, as pessoas sequer tem o direito de envelhecer naturalmente, já que são , diariamente, bombardeadas para comprar e consumir produtos que lhes deem uma aparência mais jovem.
No mundo do consumo turbinado, a aparência jovem , a superficialidade, a desinformação ditam as regras.

Em uma mudança de emissora, me deparo com um tiroteio em uma favela do Rio de Janeiro, com o apresentador, aos berros histéricos, narrando a perseguição policial. 
Em mais uma passagem, por outra emissora, a apresentadora higiênica e com os cabelos muito bem penteados,  informa , rapidamente e de forma sucinta, que pessoas teriam morrido com o desabamento de um teto de um shopping center em construção na cidade de Campinas.
Fiquei imaginando se fosse um acidente em obra da Copa do Mundo , teríamos , até  mesmo, edições extraordinárias com direito ao deslocamento de repórteres e links de transmissão para o local do acidente. Mas foi "apenas" mais um acidente de construção civil no país, onde três pessoas morreram, em um local  que quando pronto a população irá passear e comprar, cosméticos, anti-rugas, roupas, sanduíches fast food, fazer belos penteados, depilar o matogrosso superficial e  desnecessário,  comprar biscoitos, passear aos domingos, etc...
A escolha criteriosa dos ingredientes, a preparação da refeição e a maneira tranquila de se alimentar, contrastavam radicalmente com a realidade apresentada e sugerida pelas emissoras de TV.
Um mundo completamente diferente, pautado por crimes, violência e, onde o pior da natureza humana é diariamente retratado ao absurdo, contribuindo, desta forma, com um efeito contrário, ou seja, uma apologia a barbárie.
Em mais uma zapeada pelas emissoras, agora nos programas vespertinos, as imagens são de protestos em ruas de grandes cidades brasileiras. Não foram poucas as vezes em que os apresentadores deixavam claro suas preferências pela intensificação de protestos, até mesmo com atos de vandalismo.
Claro, tudo em nome de uma narrativa jornalística supostamente neutra e  isenta.
Com a proximidade da copa do mundo, o jornalismo da velha mídia se transformou em uma besta descontrolada, com belos  penteados, sorrisos, ausência de rugas e de cabelos brancos, e sempre uma aparência de simpatia e civilidade.
Conforme citado nos artigos acima, ambos excelentes, exatos e precisos, o jornalismo da velha mídia por conta das eleições de outubro, vem colocando o país em uma realidade paralela, tudo em nome de interesses políticos eleitorais onde o candidato da oposição é sempre preservado e enaltecido e o governo é fuzilado e demonizado.
A trapalhada que vem culminado com a racionamento de água na grande São Paulo, não só vem sendo omitida pela velha mídia como a instalação de uma gambiarra para bombear água com lodo, lama e metais pesados, é apresentada, por essa mesma mídia, como sendo a inauguração de novas instalações para retirar da reserva técnica a água necessária para todos os paulistanos. A "inauguração", foi fartamente noticiada, com direito a imagens que apresentavam o  governador de São Paulo acionando um botão, tal qual uma cena de lançamento de foguetes espaciais, que deu início ao bombeamento desesperado de lama, lodo e água contaminada.
O local da cena, agora de terra seca, cercada por uma mato fino , é o retrato da incompetência e do pouco caso do governo paulista com os interesses reais dos cidadãos. 
Assim como a velha mídia, empenhados em suas realidades paralelas, que garantem quase 30% de desempregados na Espanha, suicídio em alta na Grécia, pobreza crescente em Portugal, e lucros, muitos e generosos lucros, para uns poucos endinheirados.
Isso é anti-jornalismo e também a agenda alienante da imprensa.
" bailam corujas e pirilampos, 
   entre os sacis e as fadas,
   e lá no fundo azul, 
   na  noite da floresta, 
   a lua iluminou  a ...
Talvez esse seja o diálogo entre Paulo Coelho, Nei Matogrosso e os Titãs.  
Talvez seja o diálogo entre toda e qualquer pessoa que se informe pela velha mídia.
Um prato nada saudável, ao contrário do delicioso almoço.

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