segunda-feira, 7 de abril de 2014

Eu já sabia

Telegrama relaciona Roberto Marinho aos bastidores da ditadura


No dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão golpista. 


Segundo relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.

No início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.

No encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de jornais.

No dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.

Lincoln Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho. 




Fonte: VERMELHO
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Em cartazes, Federação das Indústrias e Itaú acusados de dar apoio à ditadura militar

publicado em 9 de abril de 2014 às 12:03

Foto Beatriz Macruz
Região da avenida Paulista amanhece com cartazes acusando Fiesp e Itaú de suporte à ditadura
 Por Tatiana Merlino
 “Fiesp financiou a ditadura civil militar”, anuncia, em letras vermelhas, um cartaz colado num poste na Alameda Santos, zona oeste de São Paulo. “O Itaú apoiou a ditadura civil militar”, diz outro cartaz, colado na frente de uma agência do banco, na mesma rua. Postes, muros, lixeiras, pontos de ônibus  e até um posto da Polícia Militar dos bairros Cerqueira César, Jardins e Bela Vista foram forrados na noite desta terça-feira, 8, por centenas de cartazes acusando a  Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de ter articulado durante a ditadura civil militar (1964-1985) reuniões de empresários que apoiaram financeiramente a repressão a opositores do regime.
“De 1971 a 1978, Geraldo Resende de Mattos, funcionário da Fiesp, visitou até quatro vezes por semana o Dops, um violento centro de tortura e repressão da ditadura”, denuncia o panfleto, assinado pela Frente do Esculacho Popular (FEP), organização formada por militantes de direitos humanos que denunciam a violência do Estado cometida durante a ditadura militar e também no período democrático. A sede da Fiesp está localizada no número 1313 da Avenida Paulista.
Sobre o Itaú, os cartazes dizem: “Os vínculos do Itaú com a ditadura foram tão grandes que um de seus controladores, Olavo Setúbal, foi prefeito nomeado (sem voto popular) de São Paulo, de 1975 a 1979”. No documento, os manifestantes lembram, ainda, que no começo deste ano o Itaú distribuiu uma agenda a seus clientes em que o dia 31 de março, data do golpe militar de 1964 que instaurou uma ditadura no Brasil, é chamado de “aniversário da revolução de 1964”, como os apoiadores da ditadura se referem a esse dia.
A participação de civis, em especial os empresários brasileiros, no golpe militar de 1964 e o apoio financeiro dado durante a ditadura tem sido tratada pelas Comissões da Verdade. A Comissão da Verdade de SP realizou audiências apresentando as relações da Fiesp com a ditadura e mostrando como o empresariado nacional se beneficiou do regime. Em fevereiro deste ano, o coronel reformado do Exército Erimá Pinheiro Mota relatou que a Fiesp subornou o general Amaury Kruel para que ele apoiasse o golpe de Estado de 1964, que derrubou o presidente João Goulart. Ele afirmou à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de SP ter presenciado o ex-presidente da Fiesp Raphael de Souza Noschese, na companhia de três homens, chegar a uma reunião com o general com uma mala contendo 1,2 milhão de dólares.
PS do Viomundo: Recentemente, depois de mandar recolher agendas do banco impressas com o 31 de março assinalado como “aniversário da Revolução” de 1964, o banco afirmou em nota: “Em nada reflete o DNA e as crenças do Itaú Unibanco. Lamentamos o desconforto causado. Somos uma instituição financeira que respeita a diversidade de pensamentos e ideias e a democracia”.
Foto Caio Castor
Fonte: VIOMUNDO
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O telegrama é de julho de 1965, quando Marinho articulava a permanência de Castelo na presidência.
Na foto abaixo, Marinho, de braços dados com Figueiredo, provavelmente no ínício dos anos da década de 1980.
Sempre ao lado ditadura .
Globo apoiou o golpe de 1964, articulou a permanência dos militares no poder impedindo eleições livres- como consta no telegrama -  se beneficiou com a ditadura, é bem provável que tenha ajudado a formar os centros de tortura, tentou manipular e impedir a vitória de Brizola nas eleições de 1982 para o governo do estado do Rio de Janeiro, tentou esconder da população o movimento popular que pedia eleições diretas em 1984, sequestrou o governo de transição de Sarney e na primeira eleição após o processo de redemocratização do país manipulou informações na tentativa - bem sucedida - de evitar a vitória de Lula em 1989.
Na década de 1990 apoiou os governos de privataria de FHC.
Morreu em 2003, mas seu legado anti-democrático e golpista continua vivo e atuante nas organizações globo, apesar da declaração recente de globo de que o apoio ao golpe de 1964 foi um erro.


 

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