terça-feira, 29 de abril de 2014

Somos humanos

Daniel Alves, a banana e as críticas ao oportunismo na internet

publicado em 28 de abril de 2014 às 23:14
Camisetas colocadas à venda por Luciano Huck na internet (foto UOL)
Charge de Vitor Teixeira, via Facebook
Fotomontagens compartilhadas por Gerson Carneiro no Facebook
Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor!
À esquerda, foto de Neymar em apoio a Daniel Alves; À direita foto de Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906.
A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol.
Já a foto à direita, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do que os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A história de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.
A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.
Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.”
Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.
Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio a Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.
No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre esses, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série” são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas vivem um mundo à parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.
E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:
“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.”
É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!
Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade!
O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos!
Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.
O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.
Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.
Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e a imprensa que, de maneira geral, exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.
Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.
O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.
Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, por que não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que nos tratamos assim?
Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.
Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!
Fonte: VIOMUNDO
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Confesso que não gostei  quando vi as fotos de Luciano Huck "em apoio"a  reação do jogador Daniel Alves.
Concordo, nada de macacos, mas muito de bananas.
Quando alguém chama outro de macaco a intenção, clara, é de reduzir a condição humana da pessoa atingida. Isso em segundo lugar, pois o primeiro é a questão da cor.
Se reduz a condição humana quando se chama alguém de burro, jumento, lesma, tartaruga, dinossauro, égua, bode, jararaca, dragão, pato, sapo, perereca, pavão, papagaio, porco, gambá, toupeira , cavalo, anta, rato, piranha, vaca, crocodilo, asno, inseto, verme, camarão, veado, mico, morcego, galinha, carrapato, baleia, jamanta, mosca,cordeiro, cachorra, cascavel , animal, e outros mais.
Para enaltecer tem-se, tubarão, águia, gavião, lobo, ninja, cabra, carcará, gata, elefante, leão, tigrão, tigresa, coruja e outros.
Além de expressões como, galinhagem, viadagem, caminhão cegonha, cobra criada, amigo urso, crocodilagem, asneira, burrice, piranhagem , patada, coice, bicharada, morcegar, dia de cão, vida de cachorro, olhos de lince,  pássaro de aço,  abraço de tamanduá, burro amarrado também pasta, em rio que tem piranha jacaré nada de costas, de grão em grão a galinha enche o papo, garras firmes, bom cabrito não berra e etc...
Não que esses animais não sejam inteligentes, eles são muito inteligentes.
Porém uma acusação do tipo macaco vem carregada de um conceito de que os animais são inferiores aos humanos  e, sempre a referência aos macacos se faz com macacos pretos.
Agora mesmo, na repercussão do caso do Daniel Alves, não apareceu nenhuma foto ou arte de um macaco branco. 
Até mesmo a foto do zoológico de Nova York apresenta uma negra com um macaco nas mãos. 
Olhando a foto a seguir de dois macacos da origem fuscaca, o caro leitor deve estar se perguntando por que não se vê fotos de um humano nórdico, por exemplo, segurando no colo um filhote da raça fuscaca.
A resposta é simples, pois os nórdicos são em maioria brancos, loiros, como a mulher de Luciano Huck, na foto, e a relação de homens com macacos só é feita para atacar os negros, com a clara intenção de diminuí-los enquanto humanos com uma forte ignorância na rejeição da cor.                                                                                                                                                       
O casal de apresentadores Luciano Huck e Angélica, em apoio a Daniel Alves no Instagram
    casal Huck : somos macacos 
                                                                                                                                                     casal  fuscaca, em banho termal , de forma                                                                                            civilizada  e parecendo não gostar da comparação                                                                                       

Esse comportamento, que nem os  primatas adotam, tem uma das origens na ignorância sobre a origem da espécie humana e ainda carrega conceitos religiosos anacrônicos que negam a ciência.
Negros ou brancos loiros ,  temos muito em comum com os macacos no que se refere a cadeia evolutiva do homem, porém, não somos macacos, como sugere a campanha de Luciano Huck mas somos iguais, negros, brancos, amarelos e vermelhos, enquanto humanos.
Claro que assim entre os diferentes tipos de macacos, existem espécies de macacos mais evoluídos que outros.
O mesmo acontece entre os humanos ( todos com origem nos macacos e na África).
Certamente os humanos que não segregam os demais por causa da cor, da condição social, etnia, gênero,  são  os mais evoluídos.
Luciano Huck se aproveitou da polêmica para faturar alguns trocados a mais, seguindo a lógica selvagem, oportunista e pouco evoluída do mundo atual.
Quanto as bananas, no imaginário das pessoas a fruta está associada aos macacos, assim como as cenouras aos coelhos, o queijo ao rato e etc...
Abaixo, parentes próximos em momento de tristeza. 










































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