segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Sofá

J.P.Cuenca: Num sofá imaginário, o debate sobre o papel da mídia

publicado em 15 de fevereiro de 2014 às 16:00

por Luiz Carlos Azenha
J.P.Cuenca, na Folha, escreveu um dos melhores artigos que li até agora sobre a morte do repórter cinematográfico Santiago Andrade, no Rio.
Fala da histeria e do sensacionalismo que podem resultar em leis desnecessárias — é, acrescento eu, gente oportunista pegando carona numa tragédia para acertar contas com adversários políticos, de olho nas eleições de 2014; gente que não se envergonha de usar a comoção da família para fazer avançar seus interesses.
O leitor Bonifa, num comentário que se tornou post, pergunta sobre o que teria levado as Organizações Globo e a revista Veja a enveredar por onde enveredaram na cobertura do caso.
A Globo falou em “atentado à liberdade de imprensa”.
A Veja foi atrás de uma lista de um ato não relacionado à morte do profissional da Band com doações feitas por políticos.
O “jornalismo declaratório”, denunciado por Caco Barcellos, venceu mais uma: hoje os desavisados estão certos de que as manifestações são frequentadas por quem recebe 150 reais, quando ninguém apresentou nenhuma prova de que de fato isso aconteceu.
Se Caio Souza recebeu 150 reais, deve saber de quem recebeu. Ou não? Pode ter depositado o dinheiro. Feito algum pagamento. Entregue a alguém. Para a polícia que conseguiu encontrá-lo na Bahia, facílimo de elucidar. Mas as acusações são todas genéricas, pelo menos por enquanto.
Prova? E precisa?
A Globo usou “jornalismo declaratório” contra o deputado Marcelo Freixo, do Psol, com a seguinte manchete bizarra, no G1:

Uma amiga anotou que o Jornal Nacional dedicou 15 minutos e 15 segundos à cobertura, no dia da prisão do acusado na Bahia — o que se justifica, já que a repórter da emissora acompanhou a polícia.
Essa simbiose entre o jornalismo e as autoridades não é, nem de longe, novidade.
Basta relembrar a presença do repórter Cesar Tralli com equipes da Polícia Federal em mais de uma oportunidade.
Eu mesmo, quando era repórter da Globo no Rio de Janeiro, fui escalado para viajar num jatinho do governo do Estado do Rio para cobrir a prisão do traficante Fernandinho Beira-Mar, na Colômbia, ao lado do então secretário de Segurança Josias Quintal.
Quando a cobertura interessa às autoridades, a Globo tem portas abertas.
Neste caso, é óbvio que a cobertura interessava ao governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral: primeiro, porque muitas das manifestações são contra ele; segundo, porque é eleitoralmente positivo ser ou apoiar o “candidato da ordem”; terceiro, porque ficou demonstrada a eficiência da polícia carioca, especialmente na resposta a um caso que causou comoção nacional.
Já a Globo, pela primeira vez na sua história sofre o questionamento em massa nas redes sociais. Esse questionamento muitas vezes transborda para as ruas.
Estamos no ano em que o golpe de 1964 completa 50 anos. Falta muito a dizer sobre a simbiose entre as Organizações Globo e a ditadura militar.
Questionamentos sobre o papel da Globo na ditadura remetem diretamente ao presente e ao fato inescapável de que a emissora — como, aliás, todas as emissoras e empresas jornalísticas — tem lado, faz escolhas e não paira sobre a sociedade como ente “imparcial”.
As emissoras de rádio e TV são concessões públicas e as concessões públicas devem responder àqueles que são donos do espectro eletromagnético, ou seja, a todos os brasileiros.
Essa é uma “descoberta” que um número crescente de brasileiros vem fazendo, através das redes sociais.
A Globo, especificamente,  é a campeã no recebimento de dinheiro público, via governo federal, outra descoberta recente para muitos:

Insisto: quando Rodrigo Vianna deixou a emissora, em 2006, as redes sociais ainda eram coisa de poucos no Brasil.
As críticas à Globo estavam concentradas entre jornalistas e acadêmicos.
Hoje, ganharam massa crítica.
No episódio do Rio, a emissora encontrou a oportunidade de se colocar “do lado certo” da opinião pública.
Falar em “atentado à liberdade de imprensa” confere a ela o status de defensora de algo com o qual 99,99% dos brasileiros concordam!
Porém, é bom lembrar que a Globo defende tal liberdade de forma seletiva.
Que eu saiba, a emissora não fez registro da prisão ou da busca e apreensão contra jornalistas em Minas Gerais, promovida por agentes estatais ligados a governo “amigo”, de Antonio Anastasia-Aécio Neves.
O ponto-chave da coluna de J.P.Cuenca na Folha é justamente este:

Nem a Globo, nem qualquer empresa da mídia corporativa, quer sentar no sofá do J.P. Cuenca para discutir o papel que exerce na sociedade, uma exigência de um número cada vez maior de brasileiros.
Queremos discutir a regulamentação dos capítulos da Constituição de 1988 que tratam da comunicação.
Queremos discutir a legislação antiquada que rege o setor — um emaranhado que favorece duas dúzias de famílias que ditam a agenda nacional.
Queremos discutir o Ofcom britânico, o escritório independente que regulamenta o setor das comunicações no Reino Unido e ao qual os ouvintes e telespectadores podem recorrer contra os crimes midiáticos (sim, disseminar notícia sobre uma epidemia inexistente, por exemplo, configura crime).
Porém, qualquer tentativa de debate é, em si, tratada como ameaça à liberdade de imprensa e/ou de expressão.
A mídia corporativa em geral — a Globo, em particular — não se envergonha de usar qualquer subterfúgio para fugir do sofá retórico de J.P.Cuenca.
Fonte: VI O MUNDO
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                EDITORIAL   PAPIRO

A grande imprensa é seletiva naquilo que informa. Isso é fato.
A presidente da ANJ - associação nacional de jornais - Judith Brito, funcionária da Folha de SP, declarou recentemente de forma explícita e frontal, que a imprensa brasileira faz o trabalho de partido de oposição ao  governo federal, uma vez que, ainda em sua declaração indecente, os partidos de oposição no país são muito fracos.
O globo de hoje, 17,02,14, revelando o fundo do poço em que se encontra a imprensa, chama a atenção de seus leitores para editorial em que "explica" a função de um jornal. 
Certamente nada disse sobre o papel da imprensa atribuído pela presidente da ANJ e que globo exerce  diariamente de forma visceral.
O editorial de globo, em meio aos acontecimentos e desdobramentos sobre a morte de um cinegrafista da TV bandeirantes, aparece como uma peça defensiva, uma vez que um disse me disse envolvendo ativistas serviu de matéria prima para o diário carioca concluir sobre os acusados diretos e indiretos e ainda enviar o processo para o Ministério Público. 
Sim, caro leitor, globo pensa como tal.
Acusações sem provas concretas proliferam e mesmo assim o globo adotou a versão apontada pelos principais suspeitos e envolvidos, isso até o momento.
A versão apresentada por globo e por  toda a velha imprensa criminaliza  ativistas ,políticos de partidos de esquerda e partidos de esquerda.
Guardadas as devidas proporções com outros acontecimentos, não posso deixar de lembrar a explosão da bomba do Riocentro, em 1981 no Rio de janeiro, que logo após o ato terrorista a grande imprensa atribuiu  o ato aos comunistas, para em seguida, em função da pressão da realidade, apresentar outra versão.
Há no momento um interesse claro e reacionário dos grupos de direita, onde históricamente se situa globo , em criminalizar os movimentos sociais e as manifestações populares. 
Um clima de comoção, propositalmente exacerbado pela própria mídia,  em total desrespeito aos familiares da vítima, tem por objetivo propor e aprovar a toque de caixa leis específicas para penalizar  atos de protestos, com a obscura e perigosa rubrica do terror.  Um retrocesso.
Em meio a esse verão quente, em todos os aspectos, globo de hoje também publica chamada em primeira página onde afirma que o calor no Brasil pode reduzir o PIB de 2014 para 1%. 
E o frio ? Também afeta o PIB ? De que maneira ? 
E as chuvas ou  ausência  delas, também afetam o PIB ? 
E os ventos e os raios também podem afetar o PIB ? 
E o maneco , também afeta ? 
Faça-me o favor, isso não é jornalismo , é exercício de urubologia com fins eleitorais.
É o calor de oposição, aliado de momento. 
Na falta de partidos de oposição fortes, como declarou a indecente Judith, o calor também serve.
Globo, por outra mídia, também declarou que a presidenta Dilma é a responsável pela comercialização de rojões no país. Dilma black bloc, seria ?
Em sintonia com o dever de um jornal,  globo pouco ou nada esclarece a campanha contra o  vitorioso programa 'mais médicos' que, pelo que aflora no verão escaldante, tem até a participação da embaixada dos EUA para desestabilizar o programa.
E o que dizer do amplo destaque que globo, mas não a única mídia, tem dado as suspeitas alopradas e irresponsáveis proferidas por um ministro da suprema corte do país, que, em tese, julgaria aquilo que apresenta de forma intrépida e midiática como sendo um suposto crime. 
Não é um comportamento adequado e esperado para um magistrado da suprema corte do país.
Ainda em globo, através das suaves vozes de suas apresentadoras em emissoras de rádio, há uma exploração diária de declaração do ministro de minas e energia de que a probabilidade de acontecer um desabastecimento de energia - entenda-se racionamento - é praticamente zero. 
A exploração da declaração do ministro deve-se ao fato de  que no início de janeiro, o mesmo ministro teria dito que o risco de desabastecimento não existia.. 
Logo como houve uma mudança do zero para o quase zero , foi o suficiente para globo explorar o 100 e o quase 100. 
Isso não me parece o dever de um jornal.
Ainda em toda a imprensa que deve se comportar como um partido de oposição, com disse a saliente Judith, foi possível observar ao longo do final de semana mais próximo que se foi, que o noticiário reforça e dá grande destaque para toda e qualquer falta de energia, mesmo que provocada por chuvas e ventos que derrubam árvores e afetam a rede elétrica, como tem ocorrido em São Paulo e nas cidades satélites da capital. 
O enfoque, porém, é a falta de luz que sempre aparece em destaque. 
O mesmo se verificou nas cidades  de Vitória  e Vila Velha, no Espírito Santo, ou melhor, no estado do Espírito Santo que também ficou sem luz por conta da operadora local.;
Fique atento, caro leitor, a falta de luz será notícia com direito a estardalhaço, mesmo se a causa for  a fim da vida útil da lâmpada , de canto, de sua sala.
A tentativa de manipular a questão energética do país, a tentativa de desestabilizar o programa 'mais médicos' do governo federal, a tentativa de manipular a opinião para criar leis que criminalizem os movimentos sociais,  a rapidez em apontar o dedo para os culpados pela morte de um cinegrafista, a manipulação de apresentar um suposto PIB torrado de 1% para  o ano que apenas se inicia deve-se ao fato do PIB brasileiro de 2013 ficar próximo de 2,6% enquanto a Alemanha e França patinaram no frio europeu em 0, 4 % e 0, 3 % de PIB, respectivamente.
Essas tentativa não são deveres de um jornal, como afirma o editorial de hoje de  globo.
Voltando, sem sair do lugar, para a questão das manifestações, não se tem, ainda, provas concretas de pagamento de mesadas ou ajuda de custo aos manifestantes. 
A opinião do PAPIRO, entretanto, se inclina para o fato de que ajudas financeiras tem grande probabilidade de ocorrer  para manifestantes, porém, isso não significa que os beneficiários dessa ajuda sejam pessoas ligadas a políticos e partidos políticos de esquerda..
Entende e percebe este blogue, que um processo para incitar a violência urbana está em curso na velha mídia, seja por convicções ideológicas próprias de veículos de mídia, ou mesmo por um processo organizado que tenha por objetivo criar um clima nacional que favoreça os partidos de oposição ao governo federal nas eleições próximas. 
Para tanto, até mesmo a segurança pública, em alguns estados da federação, ou é conivente com a violência ou é parte ativa dela.  
Entende ainda que esse processo não é novo, mas ganha uma dimensão maior com a proximidade das eleições de outubro.
O PAPIRO também apóia a campanha pela democratização dos meios de comunicação do país , com respectiva legislação que amplie a liberdade, a pluralidade e a diversidade  de expressões.

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