terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Um show de hipocrisia

Em toda a grande imprensa e até mesmo na mídia alternativa muitos gritam pela morte do cinegrafista da tv bandeirantes.
Apenas a família do cinegrafista e amigos próximos choram sua morte.
Alguns jornalistas acusam os black blocs, outros acusam o Psol, a tv globo tratou de acusar um político do PSol candidato a algum cargo nas próximas eleições, há os que acusam a extrema direita, também outros que acusam a extrema esquerda, o popularesco rasteiro do Extra estampou um CHEGA gigantesco na primeira página, jornalistas dizem que a democracia foi atingida, e até a CIA pode estar envolvida.
Tudo isso porque morreu um cinegrafista, mais um cinegrafista da mesma emissora que morreu.
No mesmo dia em que o cinegrafista foi atingido com o rojão, um vendedor ambulante ao se distanciar dos protestos que aconteciam no centro do Rio morreu atropelado.
Ninguém sabe o nome dele. 
Também não se sabe se tinha família que chora a sua morte.
Não apareceu nenhum membro da família para dizer que ele se foi.
Ele era um vendedor ambulante e no lugar do rojão ele foi atingido talvez por um ônibus.
O mesmo ônibus de tarifa cara para o povo, de serviços de péssima qualidade.
A morte do cinegrafista, que talvez tenha filmado o vendedor ambulante, serve de motivo para todo tipo de manipulação, afinal o ano é de eleições e pendurar mortos nos pescoços de candidatos pode ser útil para alguns grupos.
Oportunistas da imprensa chegaram a afirmar que teria sido um ato que fere a liberdade de expressão e de imprensa, mesmo sabendo-se que o rojão, naquele protesto,  não tinha a imprensa e o cinegrafista como alvos.
Era apenas mais um  rojão, mais uma bomba, mais uma pedra, mais um sinalizador.
Como afirma diariamente a imprensa em seu processo de banalização da violência, foi mais uma morte.
Afinal já foram tantas ao longo dos últimos meses, mais de uma dezena,  disparados por "manifestantes", manifestantes, Manifestantes, policiais, policiais manifestantes, manifestantes infiltrados, policiais infiltrados, milicianos manifestantes, policiais milicianos, atropelamentos , curiosos e até mesmo por ingênuos que foram orientados por emissora de tv a como montar um kit para protestos.
Nenhum filósofo pós -moderno da tv globo veio a público para dizer que as coisas são assim mesmo e que depois tudo se acomoda naturalmente.
Toda a imprensa pede punição exemplar para os culpados pela morte do...cinegrafista.
A mesma punição exemplar que a jornalista do SBT defendeu apoiando os justiceiros que amarraram um menino de 15 anos em um  poste e o espancaram.
A sociedade não quer justiceiros e nem punições midiáticas oportunísticas, imagino.
A sociedade quer que a justiça se faça para todos, vendedores ambulantes, cinegrafistas, banqueiros,...
Na lógica de pensamento que predomina na grande imprensa, se o cinegrafista tivesse outra profissão não teria morrido.
Sim, caro leitor, para o jornal Folha de SP, os atos de violência crescentes contra minorias - principalmente LGBT -  são culpa única  e exclusiva das minorias pelo fato de serem minorias.
Segundo a imprensa os agressores não são os culpados.
Da mesma forma o grande número de mortes com ciclistas nos grandes centros urbanos que optam pela bicicleta como transporte, deve-se aos próprios ciclistas que escolheram esse meio de transporte.
A violência do trânsito não é  culpada.
Porém o trânsito, com ônibus,  carros e bicicletas não é uma entidade extra corpórea  e se manifesta através de ...pessoas, gentes, vendedores ambulantes, cinegrafistas, banqueiros, manifestantes, policiais, milicianos, jornalistas...
Pessoas cada vez mais violentas.
Violência cada vez mais banalizada pela imprensa.
Violência como um excelente produto para a mídia auferir lucros.
O ano é de calor, de estiagem de chuvas, de água controlada, de copa do mundo ,de eleição, de rojão
Alguém tem que levar a culpa por tudo o que acontece.
E os culpados, segundo a imprensa, devem ser punidos exemplarmente, de preferência nas urnas, com rojões digitais , de maneira que os verdadeiros responsáveis pelos rojões, que usam todas as modalidades de máscaras,  possam voltar a  assumir os poderes plenamente. 
A hipocrisia da velha mídia não tem limites.

publicado em 11/02/2014

Venício e o cinismo na tevê

De quem é a culpa por esse justiciamento de um espaço público ? – PHA
O Conversa Afiada tem o imenso prazer de republicar antológico artigo do professor Venício Lima, do Observatório da Imprensa (não deixe de ler também sobre “hipocrisia” e “a resposta dos black blocs ao editorial do jn”):

A alteridade cínica da grande mídia



Por Venício A. de Lima

A Rede Globo de Televisão recomendou a seus jornalistas, inclusive os que trabalham em suas 122 (cento e vinte e duas) emissoras afiliadas, “que a Copa e a seleção brasileira são uma paixão nacional, mas que irregularidades deverão ser denunciadas e ‘pautas positivas’ deverão ser evitadas, a não ser que ‘surjam naturalmente’. Reportagens que mostram como a Copa está beneficiando grupos de pessoas, como os comerciantes vizinhos a estádios, já não estão sendo produzidas para o Jornal Nacional” (ver aqui, e aqui a resposta da Globo).

No telejornal SBT Brasil, a âncora fez aberta apologia de “justiceiros” vingadores que espancaram, despiram e acorrentaram pelo pescoço um suspeito adolescente, de 15 anos, a um poste no Flamengo, no Rio de Janeiro.

A recomendação da Globo e a posição defendida no SBT – concessionárias do serviço público de radiodifusão – teriam alguma relação com o aumento da violência urbana?

Mídia e violência

Em artigo recente, neste Observatório, comentei a “pauta negativa” do jornalismo regional em Brasília que chamei de “jornalimso do vale de lágrimas” (ver “O ‘vale de lágrimas’ é aqui“).

O que me traz de volta ao tema é, especificamente, a alteridade cínica do jornalismo do vale de lágrimas na cobertura da violência urbana. Esse tipo de jornalismo “faz de conta” de que a mídia não tem qualquer responsabilidade em relação ao que ocorre na sociedade brasileira. Ela seria apenas uma observadora privilegiada cumprindo o seu papel de tornar pública a violência e cobrar mais policiamento dos governos local e federal – como se a solução da violência fosse um problema apenas de mais ou menos policiamento.

Por várias vezes tratei dessa alteridade cínica neste Observatório, sobretudo em função das evidências acumuladas ao longo de anos de pesquisa em vários países que relacionam a violência ao conteúdo da programação da mídia, sobretudo da televisão (ver “A violência urbana e os donos da mídia“, “A responsabilidade dos donos da grande mídia“, “As lições do caso Santo André“, “A liberdade de comunicação não é absoluta“, “A mídia e a banalização da violência“ e “A lógica implacável da mercadoria“).

Ainda na década de 1990, em palestra que fez na Universidade de Brasília, Jo Groebel – professor da Universidade de Utrecht, na Holanda, e representante da Sociedade Internacional de Pesquisa sobre Agressão nas Nações Unidas – não deixou dúvidas sobre a existência de uma relação entre a predominância da violência na programação da televisão e a tendência para a agressividade de jovens e adultos. Baseado em mais de 20 anos de pesquisa ele afirmou que a televisão “faz com que as pessoas pensem que a violência é normal” e que “quanto mais desigual a estrutura da sociedade maior o impacto da violência mostrada na TV”.

Nos Estados Unidos, os “National Television Violence Studies”, financiados pela National Cable Television Association (NCTA), também realizados nos anos 1990 por um pool de grandes universidades – Califórnia, Carolina do Norte, Texas e Wisconsin –, confirmaram as conclusões de Groebel e geraram uma série de recomendações sobre o conteúdo da programação para a indústria de entretenimento.

Em 2008, foram divulgados os primeiros resultados de uma longa pesquisa realizada por professores da Rutgers University, nos EUA, que vincula violência na mídia e agressividade em jovens. No estudo, foram entrevistados 820 adolescentes do estado de Michigan. Destes, 430 eram alunos do ensino médio de comunidades rurais, suburbanas e urbanas. Outros 390 eram delinquentes juvenis detidos em instituições municipais e estaduais, distribuídos equilibradamente entre os sexos masculino e feminino. Pais ou guardiões de 720 deles também foram entrevistados, assim como os professores ou funcionários que lidavam com 717 dos jovens.

A pesquisa revelou que mesmo considerando outros fatores como talento acadêmico, exposição à violência na comunidade ou problemas emocionais, a “preferência por mídia violenta na infância e adolescência contribuiu significativamente para a previsão de violência e agressão em geral”. E conclui: “você é o que assiste”, quando se trata da população jovem (ver aqui).

Certamente outras pesquisas atualizam e confirmam esses resultados, além de incluir também o cinema e os videogames, estes últimos um fenômeno mais recente.

Será que a presença maciça da violência na programação de entretenimento da mídia eletrônica e da televisão brasileira (aberta e paga), em especial, não é um dos fatores que contribui para o aumento da violência urbana?

A mídia e a Constituição

Um dos artigos não regulamentados da Constituição de 1988, o 221, reza:

A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;

III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;

IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Será que praticando o jornalismo do vale de lágrimas, excluindo a pauta positiva e defendendo os “justiceiros” vingadores, a grande mídia brasileira está cumprindo a Constituição de 1988?

A quem cabe a fiscalização dos contratos de concessão desse serviço público?

Com a palavra o Ministério Público e o Ministério das Comunicações.
Fonte: CONVERSA AFIADA 
_______________________________________________________________________
publicado em 11/02/2014

Bem que o Wanderley sentiu o “odor fétido” !

Eles provocam o descrédito de legítimas instituições democráticas a pretexto de alargar a esfera de liberdade do espaço público.
O ansioso blogueiro, em lágrimas incontidas, depois de assistir aos telejornais (?) da Globo em que os apresentadores se apresentam de luto fechado, considerou apropriado republicar do Cafezinho este impecável artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos, que sentiu de longe o odor do Golpe:

Wanderley sente um odor fétido



Suaves apresentadoras perguntam se eles não vão fechar a ponte Rio-Niterói …

Publicado em 20/06/2013


O Conversa Afiada reproduz irretocável artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos para o Cafezinho

Contrabandos autoritários em boa fé alheia



por Wanderley Guilherme dos Santos

É frenética a competição pela atribuição de sentido a manifestações deste junho que já não possuem sentido unívoco algum. Da tentativa de apropriação pela mídia conservadora, que obteve sucesso em pautar as demandas e insinuar o roteiro das caminhadas, às solenes reflexões sobre o aprofundamento da participação popular e o esgotamento da democracia representativa, nada faltou para obscurecer o já espinhoso desafio de compreender o sucesso e eventuais explosões de coletividades. Até mesmo a subserviente beatificação da juventude pelos velhotes assustados com o estigma de superados, caso não adotem o corte de cabelo à moicano, compareceu. Mas em seu tempo, a bem da verdade, nenhum deles foi preservado de cometer sandices pela juventude de que desfrutavam.

É razoável atribuir ao aumento nas tarifas dos transportes coletivos a força causal que pôs em movimento as primeiras manifestações. A repressão bruta, na cidade de São Paulo, à passeata de quinta-feira, 13 de junho, forneceu uma razão suficiente para a velocidade inédita com que manifestações semelhantes se disseminassem horizontalmente em várias capitais. Ao saírem às ruas, na segunda-feira, dia 17, o que as marchas conquistaram em adesão extensa perderam em unidade reivindicatória. Do mesmo modo, a causalidade que mobilizava o povaréu tornou-se múltipla e não automaticamente coerente. A lista de reivindicações avolumou-se, fragmentando os grupos de interesse e anunciando o óbvio: é impossível atender completa e instantaneamente a todas as deficiências do país. Insistir nisso é torcer por um impasse sem negociação crível. O clima ficou grávido de sinais disparatados, com a ausência de coordenação de legitimidade reconhecida. Paraíso para todos os oportunismos, charlatanices, além dos equívocos de boa fé.

Nada a ver com os “cara pintadas” do “Fora Collor”. À época, todos foram às ruas com o mesmo e único propósito: o impedimento do presidente . Princípio causal único do movimento, indicava o que era apropriado e o que não era apropriado fazer. Não havia sentido, para o objetivo comum, promover depredações, alienar aliados ou desrespeitar adversários. Muito menos aproveitar a audiência para fazer propaganda de algum interesse faccioso. Agora, a que vem a PEC 37, por exemplo, nas manifestações sobre aumento de passagens de coletivos? – Trata-se de um aprofundamento do processo decisório, dirão alguns de meus colegas. Sim, e por conta disso lá virá a mídia conservadora sugerir que as manifestações não parem, apenas substituam as bandeiras, quem sabe sabotar as próximas licitações ferroviárias, rodoviárias e aeroviárias fundamentais para o país? Ou, ainda melhor, alterar o sistema de partilha do pré-sal e revogar a exigência de participação da Petrobrás?  As suaves apresentadoras do sistema golpista de comunicação passaram a perguntar ao repórter que cobria manifestação na cidade de Niterói se os protestos não iriam se dirigir à ponte Rio-Niterói, justo depois dos prefeitos do Rio e de Niterói revogarem o aumento nos transportes. Em qualquer democracia que se preze essa incitação à desordem não ficaria sem conseqüência.

Ao contrário de ser uma beleza de movimento sem líderes, o espontaneísmo infantil se revela um desastre na confissão de alguns de que não conseguem impedir a violência de sub-grupos. Nem por isso deixam de ser responsáveis por ela na medida em que continuarem recusando a adesão cooperativa das instituições com alvará de estabelecimento reconhecido, instituições capazes de assegurar a virtude pacífica das manifestações. É politicamente primitivo, nada vanguardista, impedir a associação de movimentos organizados e, inclusive, de partidos políticos, desde que submetidos ao objetivo central da manifestação. Em movimentos de boa fé democrática há a hora de desconfiar e a hora de convergir. Ou estão sub-repticiamente provocando o descrédito de legítimas instituições democráticas a pretexto de alargar a esfera de liberdade do espaço público?

Não são só os de boa fé e bem intencionados que se manifestam e pautam o “espontâneo” alheio. Reconheço o odor fétido dessa teoria de longe.
Fonte: CONVERSA AFIADA

Nenhum comentário:

Postar um comentário