quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Canarinho no Espaço

Telê não ouviu o conselho do João

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Selo do compacto que tocou horrores em 1982
Tempos atrás, relembrei aqui no Futepoca a época em que o samba ainda dominava as ondas do rádio, pouco antes da explosão do chamado "Rock Brasil" e de centenas de bandas pop, em 1982, detonada pelo lançamento de "Você não soube me amar", da trupe carioca Blitz. Naquele mesmo ano, um dos sucessos mais tocados tinha sido "Meu canarinho", de Luiz Ayrão, composta especialmente para a Copa da Espanha. Curioso é que, recentemente, li "Meus ídolos e eu", livro que compila causos bem humorados escritos por Ayrão, sobre colegas de música - e, entre eles, um ocorrido no período de disputa daquele mundial de futebol. Vamos ao causo:
João Gilberto: bronca
Fagner: ligação fatídica
"Apaixonado por futebol, meu amigo Fagner resolveu ir à Espanha torcer in loco pela Seleção Brasileira de 82. Exatamente, no dia de viajar, mais precisamente na hora de sair para o aeroporto, recebeu um telefonema. Mal disse alô, a voz do outro lado apresentou-se em tom grave e solene: 'Fagner, é João Gilberto!' João, àquela hora e daquele jeito? Logo a seguir veio aquele pedido inusitado e quase que premonitório: 'Diga ao Telê pra não colocar no time nem Valdir Peres nem Serginho Chulapa, tá bom? Boa viagem!' E, simplesmente, desligou.
Como todos sabemos de cor e salteado, passados os três jogos [sic] cheios de euforia, veio o desastre diante da Itália. Fagner permaneceu uns dias na Espanha, e depois foi dar um giro pela Europa na esperança de curar a ressaca. Ao retornar, quase um mês depois, chegou em casa, arriou as malas, abriu as cortinas e o telefone tocou. Mal disse alô, e de novo aquela voz grave, solene, triste, mas peremptória: 'Fagner, você não falou com o Telê!!!' E, simplesmente, desligou."

Fagner, Sócrates e Telê, na Espanha: o cantor teve oportunidade de dar o recado
Figurinha da Copa de 1982
Realmente, se não podem ser apontados como responsáveis pela derrota, o goleiro Waldir Peres (a grafia correta de seu nome é com W) e o centroavante Serginho Chulapa, que compunham o trio de sãopaulinos titulares da seleção com o zagueiro Oscar, não fizeram nada que justificasse suas convocações e escalações. Como comentou comigo o camarada Frédi, se Waldir não chegou a falhar ou "frangar", também não fez uma partida ou uma defesa digna de lembrança. E, quando o time vai mal, sempre se espera que o goleiro salve a situação - Barbosa que o diga! Waldir não conseguiu parar Paolo Rossi. E hoje, três décadas depois, pode parecer absurda a opção de Telê por ele, numa época em que jogavam Raul (Flamengo), João Leite (Atlético-MG), Marola (Santos), Leão (Grêmio) e mesmo os reservas naquela Copa, Carlos (Ponte Preta) e Paulo Sérgio (Botafogo). Acontece que o treinador tirou suas últimas dúvidas e "fechou" o grupo em 1981, quando Waldir estava, provavelmente, na melhor fase de sua carreira. E teve uma oportunidade na qual, literalmente, agarrou com as mãos.
João Leite durante o Mundialito
Telê testou outros goleiros. Em janeiro de 1981, o titular no Mundialito do Uruguai foi João Leite - mas o Brasil perdeu a decisão justamente para os donos da casa. Logo depois, em fevereiro, o goleiro do Atlético-MG atuou pela última vez em um amistoso contra a Colômbia, em Bogotá (empate em 1 x 1), e Telê Santana decidiu apostar em Waldir Peres para a disputa das Eliminatórias da Copa da Espanha. Ele tinha se destacado na conquista do Paulistão de 1980 e seria bi naquele ano, além de vice do Brasileirão. Deu sorte: foram cinco vitórias seguidas do Brasil nas Eliminatórias e mais uma num amistoso contra o Chile, em março. Mas a confirmação de Waldir como titular viria em maio, quando a seleção viajou para fazer três importantes e difíceis amistosos na Europa. Ali, o "futebol arte" do time de Telê começou a encantar o mundo, com vitórias sobre a Inglaterra, em Wembley (1 x 0), a França, em Paris (3 x 1), e a Alemanha, em Stuttgart (2 x 1). Nesta última partida, em 19 de maio, o goleiro do São Paulo viveu talvez o seu momento máximo no futebol.
O cabeludo Breitner, da Alemanha
Os brasileiros já venciam por 2 x 1 quando o zagueiro Luizinho, do Atlético-MG, cortou um cruzamento de Rummenigge com mão e o juiz inglês Clive Withe marcou pênalti (esse mesmo defensor cometeria duas penalidades não marcadas pela arbitragem na partida de estreia na Copa da Espanha, contra a União Soviética). O lateral-esquerdo alemão Paul Breitner, campeão mundial em 1974, foi para cobrança. E Waldir Peres defendeu! Porém, o árbitro mandou voltar, alegando que o goleiro tinha se adiantado. Na segunda tentativa, o alemão trocou de lado. E Waldir pegou mais uma vez, garantindo a vitória brasileira! (clieque aqui para ver reportagem sobre esse jogo - e repare no manguaça alemão que dá entrevista em português, segurando uma garrafa de cerveja). O consagrado Breitner ficou atônito. A torcida alemã também. E Telê Santana "bateu o martelo" sobre o goleiro titular na Copa de 1982.
Waldir voa para agarrar o pênalti batido por Breitner e assegurar a vitória do Brasil
Chulapa, que 'entrou numa fria'
Já Serginho Chulapa era apenas um "Plano B", que virou "A" por acaso. Prova disso é que foi reserva durante todo o Mundialito, em janeiro de 1981, e nem entrou na decisão contra o Uruguai. Chegou a ser testado como titular na estreia das Eliminatórias, mas logo em seguida perdeu a vaga para Reinaldo, do Atlético-MG. Serginho não esteve nos três amistosos disputados em maio na Europa e nem nos quatro outros disputados até o fim daquele ano. Mesmo assim, sob a promessa de que se comportaria em campo, evitando confusões e expulsões (o que realmente cumpriu), terminou sendo incluído no grupo que disputou a Copa de 1982. “Na verdade, o Serginho entrou numa fria. A seleção brasileira formada pelo Telê era muito técnica. O time foi montado para jogar com o Careca ou com o Reinaldo como centroavante. O Careca sofreu uma contusão e o Telê não quis levar o Reinaldo. Aí, o time teve de se moldar ao estilo do Serginho. E o estilo dele não tinha nada a ver com o resto da Seleção. Serginho era um atacante finalizador, de choque. Por isso que digo que, para ele, a seleção de 82 foi uma fria”, resumiu o Doutor Sócrates, em depoimento para o livro "O artilheiro indomável - As incríveis histórias de Serginho Chulapa", escrito por Wladimir Miranda.
Jorge Mendonça: desafeto de Telê
Buenas, seja como for, a bronca do baiano João Gilberto, que já morava no Rio de Janeiro naquela época (assim como o cearense Fagner), tem muito a ver com a rixa bairrista entre cariocas e paulistas. No time do Flamengo que seria bicampeão brasileiro em 1982 e que tinha conquistado a Libertadores e o Mundial no ano anterior jogavam o já citado goleiro Raul Plassman e o centroavante Nunes, ambos em grande fase - e nenhum foi convocado sequer para a reserva na Copa de 1982 (apesar de a seleção ter como titulares os laterais Leandro e Júnior e o meia Zico). Fora isso, Leão, titular nas Copas da Alemanha e da Argentina, foi um dos destaques do Grêmio, campeão brasileiro de 1981 e vice no ano seguinte. Mas era desafeto declarado de Telê após a passagem do treinador pelo Palmeiras, entre 1978 e 1980, assim como o centroavante Jorge Mendonça, que "comeu a bola" jogando pelo Guarani em 81 (foi o artilheiro do Paulistão, com 38 gols), fazendo dupla justamente com Careca. Ou seja, mais um bom goleiro e um ótimo centroavante que haviam sido preteridos. Por isso, mesmo antes da Copa, Waldir Peres e Serginho Chulapa já eram questionados por grande parte da torcida brasileira. Incluindo João Gilberto.
Waldir e Paolo Rossi, 1982: mesmo sem culpa, goleiro ficou marcado pela eliminação



Fonte: FUTEPOCA

A  rivalidade entre cariocas e paulistas só existe de um lado.
Os paulistas, diariamente, fazem comparações com o Rio de Janeiro.
Seja no futebol, na economia, nas belezas naturais, na criminalidade, na riqueza, etc...
Já os cariocas não dão a mínima para comparações, de quem quer que seja.
Também é comum aqui na cidade maravilha mutante  não se comparar com ninguém.
Assim como também é de praxe receber e conviver com pessoas de todos os cantos do planeta, até mesmo de São de Paulo.
Isso não significa que tudo por aqui seja maravilha.
Ao contrário, também temos alguns problemas, mas nada que impeça o carioca de ser o que ele mais gosta de ser, ou seja, carioca, independente da nacionalidade  ou origem de estados brasileiros.
Ser carioca não é apenas uma questão de nascer no Rio de Janeiro.
É poder vivenciar diariamente o centro do universo.
Infelizmente temos marcas na nossa cidade que sujam nosso estilo de vida.
A pior delas talvez sejam as organizações globo, que por um acidente do destino foram configuradas no Rio de Janeiro.
Aliás , a famosa frase " o povo não é bobo, abaixo a rede globo" surgiu por aqui.
Quanto a copa de 1982, concordo com  o texto, porém faltou uma análise sobre o clima de ôba - ôba que se formou após a vitória de nossa seleção contra a Argentina, tida por toda a alegre e complacente imprensa esportiva como o adversário a ser batido. 
O adversário seguinte foi a Itália, e a história todo mundo sabe.

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