terça-feira, 26 de novembro de 2013

PIG Deplorável

Como se manipula a informação

William Bonner, ao vetar esta ou aquela reportagem, diz: "essa o Homer não vai entender". Ele refere-se ao "telespectador médio" do Jornal Nacional.


Mário Augusto Jakobskind, do Direto da Redação Latuff
Não é de hoje que vários pensadores sérios estudam o mecanismo da manipulação da informação na mídia de mercado. Um deles, o linguista Noam Chomsky, relacionou dez estratégias sobre o tema.

Na verdade, Chomsky elaborou um verdadeiro tratado que deve ser analisado por todos (jornalistas ou não) os interessados no tema tão em voga nos dias de hoje em função da importância adquirida pelos meios de comunicação na batalha diária de “fazer cabeças”.
Vale a pena transcrever o quinto tópico elaborado e que remete tranquilamente a um telejornal brasileiro de grande audiência e em especial ao apresentador.
O tópico assinala que o apresentador deve “dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade ou deficientes mentais. A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantil, muitas vezes próxima da debilidade, como se o espectador fosse uma pessoa de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil”.
E prossegue Chomsky indagando o motivo da estratégia. Ele mesmo responde: “se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, então, por razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos”.
Alguém pode estar imaginando que Chomsky se inspirou em William Bonner, o apresentador do Jornal Nacional que utiliza exatamente a mesma estratégia assinalada pelo linguista.
Mas não necessariamente, até porque em outros países existem figuras como Bonner, que são colocados na função para fazerem exatamente o que fazem, ajudando a aprofundar o esquema do pensamento único e da infantilização do telespectador.
De qualquer forma, o que diz Chomsky remete a artigo escrito há tempos pelo professor Laurindo Leal Filho depois de ter participado de uma visita, juntamente com outros professores universitários, a uma reunião de pauta do Jornal Nacional comandada por Bonner.
Laurindo informava então que na ocasião Bonner dissera que em pesquisa realizada pela TV Globo foi identificado o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se, segundo Bonner, que “ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como o BNDES, por exemplo. Na redação, o personagem foi apelidado de Homer Simpson, um simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão do mundo”
E prossegue o artigo observando que Homer Simpson “é pai de família, adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja, é preguiçoso e tem o raciocínio lento”.
Para perplexidade dos professores que visitavam a redação de jornalismo da TV Globo, Bonner passou então a se referir da seguinte forma ao vetar esta ou aquela reportagem: “essa o Homer não vai entender” e assim sucessivamente.
A tal reunião de pauta do Jornal Nacional aconteceu no final do ano de 2005. O comentário de Noam Chomsky é talvez mais recente. É possível que o linguista estadunidense não conheça o informe elaborado por Laurindo Leal Filho, até porque depois de sete anos caiu no esquecimento. Mas como se trata de um artigo histórico, que marcou época, é pertinente relembrá-lo.
De lá para cá, o Jornal Nacional praticamente não mudou de estratégia e nem de editor-chefe. Continua manipulando a informação, como aconteceu recentemente em matéria sobre o desmatamento na Amazônia, elaborada exatamente para indispor a opinião pública contra os assentados.
Dizia a matéria que os assentamentos são responsáveis pelo desmatamento na região Amazônica, mas simplesmente omitiu o fato segundo o qual o desmatamento não é produzido pelos assentados e sim por grupos de madeireiros com atuação ilegal.
Bonner certamente orientou a matéria com o visível objetivo de levar o telespectador a se colocar contra a reforma agrária, já que, na concepção manipulada da TV Globo, os assentados violentam o meio ambiente.
Em suma: assim caminha o jornalismo da TV Globo. Quando questionado, a resposta dos editores é acusar os críticos de defenderem a censura. Um argumento que não se sustenta.
A propósito, o jornal O Globo está de marcação cerrada contra o governo de Rafael Correa, do Equador, acusando-o de restringir a liberdade de imprensa. A matéria mais recente, em tom crítico, citava como exemplo a não renovação da concessão de algumas emissoras de rádio que não teriam cumprido determinações do contrato.
As Organizações Globo e demais mídias filiadas à Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) raciocinam como se os canais de rádio e de televisão fossem propriedade particular e não concessões públicas com normas e procedimentos a serem respeitados.
Em outros termos: para o patronato associado à SIP quem manda são os proprietários, que podem fazer o que quiserem e bem entenderem sem obrigações contratuais.
No momento em que o Estado fiscaliza e cobra procedimentos, os proprietários de veículos eletrônicos de comunicação entram em campo para denunciar o que consideram restrição à liberdade de imprensa.
Os governos do Equador, Venezuela, Bolívia e Argentina estão no índex do baronato midiático exatamente porque cobram obrigações contratuais. Quando emissoras irregulares não têm as concessões renovadas, a chiadeira do patronato é ampla, geral e irrestrita.
Da mesma forma que O Globo no Rio de Janeiro, Clarin na Argentina, El Mercurio no Chile e outros editam matérias com o mesmo teor, como se fossem extraídas de uma mesma matriz midiática.
Fonte: CARTA MAIOR
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COBERTURA DA CORRUPÇÃO

A notícia embaixo do entulho

Por Luciano Martins Costa em 27/11/2013 na edição 774
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, 27/11/2013
Os jornais de quarta-feira (27/11) tentam se equilibrar entre duas linhas paralelas que vão se encontrar num ponto futuro: numa delas, compram a tese de que o caso do pagamento de propinas para aumentar preços de obras no metrô paulistano é apenas uma manobra política; na outra, dão credibilidade às suspeitas de que a máfia dos fiscais era na verdade um esquema sofisticado, envolvendo grandes empresas e operando desde pelo menos 2005.
As manchetes do Estado de S.Paulo e do Globo, ou seja, aquilo que os dois jornais consideram mais importante neste dia, são feitas com declarações de políticos do PSDB: eles afirmam que um documento apresentado no processo por formação de cartel em obras do metrô e do trem metropolitano de São Paulo foi forjado, com a inclusão de referência ao seu partido. O assunto também é destaque na primeira página da Folha de S.Paulo.
Trata-se, como se diz por aí, de muito fermento para pouca massa – sob o critério da suposta objetividade que justifica moralmente a imprensa, uma declaração desse tipo mereceria pouco mais que uma nota de rodapé, diante dos outros acontecimentos do dia.
Trata-se de amontoar entulho declaratório sobre os fatos que insistem em emergir das investigações do Ministério Público – a despeito da ação de alguns procuradores interessados em engavetar parte dos autos.
Concretamente, se os jornais aplicassem aos casos do metrô paulistano e da máfia dos fiscais o mesmo critério adotado durante todo o escândalo que ficou conhecido como “mensalão”, teriam que registrar que os dois esquemas ocorreram durante mandatos do tucano José Serra no governo do estado e na prefeitura da capital.
Se, como parecem acreditar os jornais, as denúncias contra representantes do PSDB têm como motivação diminuir o impacto das prisões de líderes do PT na Ação Penal 470, o mesmo se pode dizer da apreensão de quase meia tonelada de cocaína num helicóptero pilotado por um assessor parlamentar da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, cujas relações a imprensa está pouco interessada em devassar.
Como se vê, se o jornalismo se limita a repetir declarações, a barulheira das manobras políticas vai encobrir os fatos, e a suposta objetividade da imprensa vai virar ficção.

Condicionando a história
Portanto, deve-se considerar que o noticiário não é objetivo porque não é do interesse dos jornais esclarecer os fatos, mas dar a eles uma versão mais condizente com os interesses da própria imprensa e de seus aliados.
Por exemplo, o que vale mais como notícia: uma declaração de suspeita sobre um dos milhares de documentos comprovando fraudes milionárias em obras públicas, ou as evidências de que o esquema vinha funcionando há uma década, portanto, com grandes possibilidades de envolver autoridades mais elevadas do que ex-diretores de estatais?
Até a semana passada, a Folha de S.Paulo se esforçava para direcionar o caso dos fiscais ao atual prefeito paulistano, Fernando Haddad, por conta da suspeita de ligações de um ex-secretário com os principais acusados. Na quarta-feira, todos os jornais são obrigados a noticiar que o esquema existe há muito mais tempo.
Segundo o Globo, o esquema de corrupção não começou em 2010, como suspeitavam os promotores do Ministério Público, “mas em 2005, no início da gestão do ex-prefeito José Serra (PSDB)”. O Estado de S.Paulo afirma que os promotores investigavam operações da quadrilha desde 2007, quando Gilberto Kassab (PSD) sucedeu José Serra na prefeitura paulistana, mas acabam de ampliar o período de apuração “para até o ano de 2005, na gestão José Serra”. A Folha de S. Paulo informa que o esquema de cobrança de propina existe “pelo menos desde 2005”.
O que se analisa aqui não é uma malversação das investigações, porque nas entrelinhas, e em textos esparsos, qualquer pessoa mais atenta vai perceber que os dois escândalos têm procedimentos comuns e se cruzam em personagens bastante conhecidos da política nacional.
Daqui a dez anos, quando e se o caso chegar a julgamento, alguns desses personagens estarão mortos, aposentados, esquecidos ou alienados, e ninguém deve apostar um centavo na conclusão das investigações.
Interessante é observar como a imprensa tenta todos os dias condicionar o rumo da história entulhando sobre os fatos declarações criteriosamente selecionadas.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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1- Mídia A

Hoje, 26.11.13, terça-feira.
Chove no Rio de Janeiro.
As ruas estão escorregadias.
O risco de acidentes no trânsito aumenta.
Os automóveis podem sofrer prejuízos.
Os veículos de transporte coletivo são pesados.
Pessoas correm por causa da chuva, aumentando o risco de prejuízos para os automóveis.
O vento, comum nesses dias de chuva, pode derrubar árvores.
Mais um risco em potencial para os automóveis.
Cabos da rede elétrica despecam, e prejudicam o fluxo de veículos.
Atrasos aumentam.
Pequenos bolsões d'água podem afetar a parte elétrica dos veículos.


2 - Mídia - B

Hoje, 26.11.13, terça-feira.
Chove no Rio de Janeiro.
As ruas estão escorregadias.
O risco de acidentes no trânsito aumenta.
Os pedestres devem ficar mais atentos.
Os veículos derrapam nas pistas encharcadas.
Pessoas devem evitar correr nas travessias.
Atenção para o vento , para não ser atingido por ávores e galhos. 
Mais um risco para o pedestre que sofre com calçadas esburacadas.
Os cabos da rede elétrica, expostos  potencializam ainda mais o risco para os pedestres em dias de chuva.
O contato com água acumulada nas ruas pode causar doenças nos transeuntes.

O dia é o mesmo, a cidade é a mesma, as condições climáticas são as mesmas , mas o enfoque da notícia é completamente diferente.
Não se pode dizer que sejam falsas as informações dadas pelas mídias acima pelo contrário, ambas são verdadeiras.
A mídia A prioriza o automóvel particular, enquanto a B prioriza o pedestre.
Ambas noticiam, mas não informam corretamente.
As notícias são apresentadas através de filtros , específicos para cada mídia.
Filtros ideológicos, econômicos, sociais.
Assim se comportam as mídias privadas, ou como o caro leitor já se acostumou a ler e ouvir, a velha mídia comercial.
Em lugar do dia chuvoso poderiam ser notícias sobre o julgamento da ação penal 470, o protesto dos jogadores do Bom Senso F. C,  cuidados com a saúde e a nutrição, o desempenho do governo do PT , as oscilações de humor do mercado, os esquemas escandalosos de corrupção nos governos tucanos de São Paulo, o perfil do novo Papa, as lei que regulamentam as mídias em países da América do Sul, as novas decisões do FED, a interpretação sobre as pesquisas de intenção de votos da corrida presidencial e até mesmo bolinhas de papel que voam.
Em outras palavras, o que o caro leitor consome como notícia e informação, nada mais é do que aquilo que a velha mídia deseja que seja notícia e informação e, em muitas vezes, o que a velha mídia deseja que o leitor consuma como notícia e informação não tem o menor compromisso com a completeza dos fatos, com a verdade e mesmo com a realidade.
Assim sendo não é de se estranhar, que asteróides cruzando céu não existem, como já noticiou uma certa mídia carioca. 
Ficar atento a essa turma é um bom remédio para não viajar na maionese.
Já que remédio foi citado, cabe lembrar que o tom de voz em off,  ao final dos comerciais de medicamentos , apresenta a recomendação sobre o uso indevido de medicamentos como exigido pela Ministério da Saúde em uma velocidade de fala impressionante e  de sugestão altamente imbecilizante à recomendação dos órgãos do governo.
Com a intenete, o caro e bem informado leitor não necessita mais da leitura de jornalões ( globo, folha , estadão, etc ) revistonas ( veja, época, isto é, etc ) , telejornais higiênicos com apresentadores vestidos como banqueiros,  e jornalistas de emissoras de rádio, claro, todos pertencentes ao deplorável PIG.
Em tempos de mídias digitais deve-se seguir a seguinte máxima: 
Monte, você mesmo, seu jornal diário.

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