segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Rei de Bateria

Boni virá à frente da bateria da Beija-Flor de Nilópolis


A Beija-Flor promete surpreender a todos no Carnaval 2014. O grande homenageado da Azul e Branca de Nilópolis, o ex-todo-poderoso da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, virá à frente dos ritmistas da escola, ao lado da rainha de bateria Raíssa de Oliveira. Esta será uma das raras vezes na história do Carnaval carioca que um homenageado não vem em um carro alegórico ou em um estandarte de destaque. Em São Paulo, o maestro João Carlos Martins, que foi homenageado pela campeã Vai-Vai de 2011, também esteve à frente da bateria, no recuo, e regeu os ritmistas.



Pirulito FestasFoto: Ag.NewsA ideia de vir no chão e não distante do público presente no Sambódromo carioca partiu do próprio Boni e foi prontamente aceita por Laíla, o diretor de Carnaval da escola que é sempre uma das grandes favoritas ao título. O enredo da Beija-Flor para o próximo Carnaval é ‘De Azul e Branco Nos Braços do Povo’.

Olha a Beija-Flor aí, gente. 
É o grito de guerra da escola de Nilópolis, que marcou época no carnaval carioca com momentos bem distintos.
Lá pelo início da década de 1970, quando o homenageado acima trabalhava na rede globo e a empresa dos marinhos engordava cada vez mais com o apoio explícito a ditadura militar, a escola de Nilópolis era praticamente insignificante no carnaval carioca. 
Assim como outras escolas  à epoca, mas não a maioria, a Beija-Flor insistia em enredos que exaltavam as conquistas do Brasil , justo em um período mais violento e  obscuro da ditadura militar. 
O resultado nos desfiles era sempre pífio.
No ano de 1976 a escola deu uma guinada, mandou embora o professor dos enredos exaltação ao regime, e desfilou com um enredo sobre o jogo do bicho.
Desfilou e agradou, tanto que pela primeira vez conquistou o título do carnaval carioca. 
Ganhava mais visibilidade a era de um dos maiores carnavalescos da história, Joãozinho Trinta.
Com apenas três anos da tv a cores no Brasil, iniciado em 1973, Joãosinho percebeu que o impacto dos desfiles nas transmissões  de TV seria um caminho natural das escolas. 
E não fez por menos. 
A partir de 1977 apostou no luxo e nos efeitos visuais, em perfeita harmonia com o enquadramento das imagens pela TV. 
Venceu mais dois carnavais consecutivos com a escola de Nilópolis e foi alvo de críticas pelo luxo  apresentado, o que motivou uma de suas melhores sacadas:
" quem gosta de pobreza é intelectual. o povo gosta de luxo " 
A Beija- Flor passou a ser referência, porém com o passar do tempo e o desgaste natural pela repetição, a escola foi ficando em uma posição burocrática, sem a irreverência de Joãosinho. 
A irreverência nos enredos e a crítica político-social, tão comum na história do samba, se deslocava para outras escolas, que também criticavam a opção da Beija-Flor.
Com a redemocratização do Brasil, os enredos ficaram mais livres, porém a escola de Nilópolis seguia seu caminho de desfiles técnicos, burocráticos  e resultados sempre questionados pela crítica.
No ano de 2014, a escola, ao que parece, retorna ao período do início da década de 1970, e indiretamente exalta a rede globo, sabidamente uma emissora que cada vez mais interfere nos desfiles das escolas de samba a ponto de "sugerir" enredos ou mesmo temas para um ano onde todas as escolas devem seguir e explorar , por diversos subtemas, o  tema proposto pela emissora. 
Cabe ainda lembrar que do perído obscuro da ditadura militar no país, as organizações globo são ainda hoje a principal trincheira reacionária na contenção do avanço democrático.
Quanto ao enredo da escola, e seu principal homenageado, não resta dúvida que foi de grande importância para uma empresa privada de comunicação conquistar grande parte da audiência em todo o território nacional, o que, por outro lado, configurou uma tragédia para o país no tocante a difusão pela emissora de valores, percepções e práticas totalmente descoladas da cultura nacional. 
As organizações globo são , sabidamente, um braço de apoio dos interesses dos EUA no Brasil e sempre estiveram do lado oposto do povo, apesar das aparências. 
No mundo atual de cartas marcadas e comandado por interesses comerciais, as aparências irão invadir a passarela do Samba Darcy Ribeiro no carnaval de 2014, e mais, a frente da bateria da escola ao melhor estilo rainha de bateria ou ainda ao estilo de um folião bem sintonizado com a cultura popular, estará uma alegoria viva da rede globo.
Nas arquibancadas da Passarela uma parcela do público alienada baterá palmas para o grande folião e amante de nossa cultura, enquanto nos camarotes as "elites" embasbacadas sacudirão suas jóias em reverência ao filhote da ditadura homenageado.
Palhaçada maior somente se o grande homenageado desfilar, tal qual as rainhas de bateria, com fantasia bem decotada.
O carnaval carioca merece coisa melhor.

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