quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Democracia em Risco

PM usa arma de fogo contra manifestante durante protesto dos professores, no Rio


Jornal do BrasilCláudia Freitas

Em meio ao confronto entre Batalhão de Choque e membros do grupo Black Bloc, na noite desta segunda-feira (7/10), durante protesto dos profissionais de Ensino do Rio de Janeiro, um policial militar apontou uma arma de fogo para um dos manifestantes e, em seguida, imobilizou-o com um golpe conhecido como "voadora". O Jornal do Brasil flagrou o momento de violência em que o PM aponta a arma para o rapaz, que não foi identificado no local.
Ao avaliar a foto publicada pelo Jornal do Brasil, o professor e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ignácio Cano, considerou a postura do policial militar inapropriada, já que o manifestante não apresentava um risco aparente para o PM e não estava armado. Ignácio explica que a avaliação técnica da foto demonstra que a polícia usou de muita truculência, enquanto deveria seguir os princípios de proporcionalidade. "Entendemos até que o policial que está numa operação desta natureza corre riscos e deve ficar alerta, mas não justifica ele usar uma arma de fogo em direção a um manifestante que está desarmado. Esse policial aumenta os riscos de acidente, pois ele pode atirar de repente", destacou Ignácio.
A cena provocou revolta e muitos jovens tentaram impedir que o PM levasse o rapaz para a delegacia. A Polícia Militar enviou para as ruas um efetivo menor de policiais, mas não conseguiu evitar as depredações do patrimônio da cidade e nem as cenas de truculência e extrema violência. Na semana passada, a manifestação dos professores que aconteceu durante a votação do plano de cargos e salários, na Câmara Municipal, terminou com vários educadores feridos, presos e um rastro de destruição pelas ruas do Centro da cidade.
>>Mais um dia de caos e violência nas ruas do Centro do Rio
>>Black blocs incendeiam ônibus e jogam bomba no consulado americano
O manifestante estava saindo de uma agência bancária localizada na Avenida Rio Branco, próximo ao Consulado de Angola, que tinha acabado de ser destruída pelos "mascarados", quando foi abordado violentamente pelo policial. O PM fez a abordagem já usando a arma de fogo e, com a ajuda de outros policiais do Choque, imobilizaram o rapaz. A confusão chamou a atenção de jovens que participavam do protesto e eles pediram a liberação do manifestante. Advogados da Ordem dos Advogados do Brasil OAB/RJ) foram chamados para prestar atendimento ao rapaz detido e encaminhado em uma viatura da PM para a delegacia.
O Jornal do Brasil encaminhou as imagens para a Polícia Militar do Rio, que enviou uma nota justificando que o policial fotografado estava responsável por uma cabine e ele foi cercado por um grupo de manifestantes, que ameaçaram depredar a cabine. "Sua ação foi profissional, inclusive, como mostra a imagem, mantendo o dedo indicador fora do gatilho", diz a nota.
Fonte : JORNAL DO BRASIL
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MÍDIA & MANIFESTAÇÕES DE RUA

Virou rotina

Por Mauro Malin em 09/10/2013 na edição 767
Virou rotina a colaboração da mídia jornalística com as polícias militares (leia-se governos estaduais), black blocs e provocadores infiltrados pelas autoridades. Finalidade: esvaziar e/ou manipular passeatas no Rio e em São Paulo.
A demonstração está nas imagens abaixo. Os jornais valorizam a violência de centenas, não a manifestação pacífica de milhares. E, sobretudo, não perguntam por que as polícias militares ou agem violentamente contra manifestantes pacíficos, ou, alternativamente, observam passivamente os agentes da violência até que eles cheguem a extremos.
Começou em São Paulo
Esse padrão foi observado pela PM de São Paulo nas manifestações de junho. No dia 13 de junho houve uma tentativa de esvaziar mediante o uso de violência extrema todo o processo iniciado pelo Movimento Passe Livre. Foi o dia em que uma repórter da TV Folha e um fotógrafo autônomo foram atingidos nos olhos por balas de borracha. Como se disse aqui, tratou-se de ato destinado a sufocar os protestos (“Gás de provocação”).
Depois, as autoridades mudaram de tática. Aparentemente, os comandantes teriam ficado preocupados com a má repercussão da pancadaria e passado a determinar que os policiais assistissem passivamente até mesmo às ações de manifestantes que empregam a violência como arma. Na verdade, deixaram sistematicamente que a situação chegasse a um ponto em que se justificasse o emprego da força (não a ponto de deixar mortos e feridos graves, até aqui).
Contra os professores
Nas recentes manifestações de professores no Rio de Janeiro, a sequência foi idêntica. Na terça-feira (1/10), a PM fluminense partiu para a ignorância, como se dizia antigamente. A constatação é do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame: “Houve, sim, preliminarmente, excesso dos policiais, mas esse excesso veio também, por vezes, dos dois lados” (noticiário da Agência Brasil, 5/10).
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Wadih Damous, declarou: “O que vemos no Rio é uma política de extermínio de manifestantes, pondo em risco a vida das pessoas com o uso indiscriminado de balas de borracha e sprays de pimenta” (Agência Estado, 7/10).  Essa retórica fora de propósito não ajuda a entender as coisas. Damous deve ter se expressado mal, ou não sabe o significado da palavra “extermínio”. Em todo caso, constata-se que a violência policial causou comoção.
Na segunda-feira seguinte (7/10), a PM-RJ passou à segunda modalidade. Deixar acontecer e depois dar combate. Nem o Globo, cujo noticiário segue um padrão de calhordice cada vez mais esmerado, deixou de notar que “a PM reduziu o número de policiais mandados ao local e, desta vez, demorou para reprimir a ação dos mascarados”.
A quem interessa?
Quem chegou mais perto de fazer a pergunta correta (mas não de tentar respondê-la) foi o Dia. Em box no alto da página 5 (“Sepe condena vandalismo no protesto”), reproduz declaração do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro segundo a qual “agentes infiltrados na manifestação iniciaram o vandalismo com a intenção de esvaziar as próximas passeatas”. Um diretor do Sepe, Jalmir Ribeiro, foi mais explícito. Segundo ele, pode ter havido “PMs infiltrados entre os professores e sindicalistas”.
Nenhum dos jornais faz a pergunta óbvia: por que a PM usa esse duplo padrão, do qual no final das contas resulta a mesma coisa, a pressão para esvaziar os protestos? A resposta, que acabará aparecendo em declaração de alguma personalidade política mais independente, é: a PM funciona a serviço da tentativa de evitar prejuízo político e tirar o maior proveito possível para o grupo do governador Sérgio Cabral Filho no xadrez eleitoral de 2014.
E por que a pergunta não é feita? Porque esses veículos são, em grau maior ou menor, aliados políticos de Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Aventar as razões dessa aliança ultrapassa os limites deste tópico.
Show de pirotecnia
Eis as imagens das primeiras páginas de terça-feira (8/10). Da manchete do Extra foi copiado o título deste tópico. A imagem da esquerda é do jornal O Estado de S. Paulo. Só o título das fotos está acima da dobra. Foi o único jornal que deu a foto do mascarado em cima de um carro tombado da Polícia Militar.
A mídia Ninja também deu, comprazendo-se. Mas seus ativistas não pretendem ter compromisso com a defesa da democracia, tal como entendida pelos constituintes de 1988, que representavam os cidadãos votantes de 1986. Se o carro da democracia capotar, a tarefa do ninja de plantão será fotografar a derrocada. Antes de ser preso e...

O Dia destinou a capa inteira às fotos assustadoras.

É uma disputa de sensacionalismo, dentro de uma diretiva de solidariedade política aos governos. Essa mídia jornalística está brincando com fogo. A evolução possível deste cenário, com a imprensa curvada diante da estratégia das polícias militares (de seus chefes políticos), aponta na direção de potenciais prejuízos para as liberdades democráticas. Não falta quem esteja à espera de um momento propício à aceitação popular de restrições ao direito de manifestação. Para dizer o mínimo.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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Os professores da rede pública de ensino do Rio de Janeiro estão em greve.
Já são dois meses de greve.
A greve é um direito de todo trabalhador, assim como as manifestações de rua.
Se a categoria dos professores decidiu pela greve, deve-se ao fato que negociações com os governos estadual e municipal não foram bem sucedidas, caso contrário não teríamos greve.
Uma vez consolidada a greve, a população pode ter mais esclarecimentos sobre a cruel realidade em que vivem os profissionais de ensino público, uma das mais importantes profissões e que deveriam ser bem tratados e reverenciados por todos nós.
Não é o que acontece.

Na agenda de reivindicações dos professores da rede pública de ensino, está a criação  de um plano de cargos e salários para a categoria.
E então a pergunta é inevitavel:
Em 2013, século XXI, terceiro milênio, os professores da rede pública de ensino do Rio de Janeiro ainda não tem um plano de cargos e salários ? 
Para um leitor atento percebe-se que o ensino público não esteve , e provavelmente não está, na pauta de prioridades dos governos estadual e municipal, atual e anteriores.
Há exatos trinta anos, o governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e seu secretário de educação, Darcy Ribeiro, lançaram um ambicioso programa de educação pública com a criação dos CIEPS - centros integrados de educação pública - onde professores, alunos e funcionários da área de educação ingressavam em um novo patamar na educação pública do estado, com escolas em tempo integral e valorização da categoria.
Na ocasião a mesma imprensa que hoje distorce o noticiário, colocando-se ao lado da polícia e dos governos, demonizou sem tréguas e de todas as formas o programa do governo estadual, de forma que no governo seguinte o programa caísse no esquecimento com sucateamento das escolas construídas e desprezo total pelos profissionais da educação pública.
Isso não significa que o programa fosse perfeito, mas com certeza era um avanço na valorização dos profissioanis da educação e  no ensino. 
Trilhava os caminhos libertários e democráticos, investindo prioritariamente na educação pública de alta qualidade, condição para um país forte e soberano.
Na realidade atual, os governos estadual e municipal transformaram-se em balcões de negócios, onde somente os interesses privados são valorizados.
Não há espaço para a educação pública, para a saúde pública, para o transporte público.
As planilhas de custo substituíram a política.
Os investimentos dos governos estadual e municipal, em primeira ordem, devem causar impacto na sociedade para alterar o insconsciente coletivo da população, no tocante ao moderno e civilizatório, mesmo que na maioria das inserções dos governos nos espaços públicos, tais premissas não se revelem verdadeiras. 

A título de exemplo, a comunidade da Rocinha adiou o projeto de construção de um teleférico, entendendo a comunidade que obras de saneamento básico, ainda sem previsão de início,  são prioritárias.
Tubulações não são visíveis pela população, não rendem votos.
Qualquer semelhança com os governos militares do período da ditadura não é mera coincidência, em todos os aspectos. 
A começar pela polícia militar, herdeira natural da barbárie cometida contra os opositores do regime nos anos de chumbo. As práticas não mudaram, e ainda foram incorporadas novas munições contra os que lutam por democracia, direitos humanos e serviços públicos de qualidade. 
Enquanto a ditadura não for passada a limpo, o tão alardeado processo civilizatório e modernizante, ficará apenas no impacto visual, na aparência, nos discursos de engomadinhos governantes.
Os textos acima, do JORNAL DO BRASIL e do OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, são reveladores.
Este blogue tentou copiar as fotos citadas pelo JB, mas como é do conhecimento do caro leitor, O PAPIRO sofre, diariamente, tentativas de censura e invasão de hackers por parte de veículos da velha imprensa, algo de amplo conhecimento de todos. 
Entramos assim em outro aspecto da semelhança entre a ditadura militar e os governos  estadual e municipal do Rio de Janeiro. Para a velha e decadente imprensa, em destaque no artigo do OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, a proliferação de mídias que acontece com a utilização de plataformas digitais é entendido como algo que deve ser em princípio ignorado, se não for possível deve ser desmoralizado, ainda se não for possível deve ser contido e criminalizado.
Assim sendo, é nessa conjuntura que acontece a greve dos professores do Rio de Janeiro, assim como as interpretações apresentadas pela maioria esmagadora dos veículos da velha imprensa.
Uma vez em greve, as próximas etapas de negociação entre as partes devem ocorrer em um outro patamar, diferente das negociações antes da greve. 
É o que se espera de governos responsáveis. 
O noticiário da velha imprensa, a partir de ontem, terça -feira, vem priorizando a opinião dos governantes, estadual e municipal, no tocante as negociações, passando para a opinião pública a idéia de intransigência  dos grevistas. 
Seriam , de fato, os grevistas os intransigentes ? 
Com uma imprensa aliada do que existe de mais reacionário e retrógrado na sociedade a população fica orfã de esclarecimentos.
É grave a informação de que policias militares estejam infiltrados entre os manifestantes para incitar o caos.  
É provável que sim, mas não são os únicos na escalada do caos. 
Criminosos , bem organizados, se aproveitam das manifestações para saquear locais, previamente mapeados, durante as manifestações. 
Grupos de extrema direita, neonazistas, se infiltram nos protestos  para na escalada do caos criar condições favoráveis para um retrocesso democrático. 
A lei de segurança nacional, do período da ditadura militar, foi utilizada em São Paulo para criminalizar manifestantes. 
Na lógica discursiva e calhorda da velha imprensa, rostos cobertos e roupas pretas são sinais inequívocos da presença de  simpatizantes da tática black bloc, o que não necessáriamente é verdade.
Novos protestos estão agendados e o apoio da população aos professores deve ser total. 
Seria interessante também que a população do Rio de Janeiro, incorporasse outros temas nas manifestações, como a extinção da polícia  militar e a urgente democratização dos meios de comunicação, de maneira que a história não se repita, já que velhos atores de um passado sombrio estão em cena.
 
 


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