domingo, 13 de outubro de 2013

Os Cantos do Retrocesso

Lula e a mídia alternativa

por Emir Sader em 11/10/2013 às 09:24
Lula se entusiasma com a mídia alternativa. Quem viu seu discurso no Forum de São Paulo – comandado por sua metamorfose ambulante – se deu conta que, entre tantos temas polêmicos e críticos dentro da esquerda, ele fez a exaltação da mídia alternativa. Como se somente agora, depois das manifestações de junho, ele tivesse se dado conta do poder de convocação que essas mídias tem.

Ele é muito bem vindo. Se dizia antes que o acoplamento entre a força popular – naquela época, o movimento operário – e a intelectualidade crítica, geraria um potencial revolucionário insuperável. Hoje, a liderança popular do Lula e o potencial democratizador da mídia.

Já era hora, dado que seu governo e sua própria imagem como liderança política são as principais vítimas do monopólio privado da mídia, em outras palavras, da falta de democratização dos meios de comunicação no Brasil. A transição democrática trouxe de volta a democracia nos seus cânones liberais, sem chegar às estruturas de poder no Brasil.

Não foram democratizados o sistema bancário, a propriedade da terra, as grandes corporações econômicas, os sistemas educacionais e de saúde. O Brasil tornou-se um país democrático, no sentido liberal da palavra, mas não uma democracia nos planos econômico e social.

Os meios de comunicação não apenas não foram democratizados, como se tornaram ainda menos democráticos, mais concentrados. O primeiro ministro de Comunicações depois da ditadura foi Antonio Carlos Magalhães, que representava diretamente a Globo, com órgão oficial da ditadura militar. Ele se encarregou de concluir o processo de distribuição oligárquica das redes de radio e televisão pelo Brasil afora – processo que serviu também para comprar os 5 anos para o governo Sarney.

Os mesmos grupos oligárquicos da época da ditadura seguem dominando os meios de comunicação, as mesmas famílias. Apoiaram a instauração da ditadura e a feroz repressão que se abateu sobre os movimentos populares e a tudo o que havia de democrático no Brasil. Promoveram a transição conservadora para a democracia e se adaptaram perfeitamente bem ao país pós-ditadura, porque seus interesses eram atendidos.

Apoiaram a Collor e a FHC e se opusera ferozmente ao Lula. Mas aí veio a primeira grande surpresa: o candidato da mídia era o Serra, que foi derrotado. Se lançaram ferozmente contra o governo Lula, tornado o inimigo do bloco dominante, de que os grupos da mídia eram parte integrante.

Se sentiram fortes, ao afetarem duramente o governo na crise de 2005 e foram, eles mesmos, vítimas desse sucesso inicial, acreditando que tinham capacidade para derrotar o governo Lula.

O governo subestimou a força da mídia nos seus primeiros anos, mas mesmo quando se deu conta, não teve iniciativas que pudessem mudar a situação. Foi somente nos anos finais do segundo mandato – em particular na campanha presidencial -, que o Lula colocou com força o tema e o governo promoveu um seminário que elaborou uma proposta de democratização da mídia.

Mas essa tendência não teve continuidade no governo Dilma, que retomou uma postura de não avançar na democratização nos meios de comunicação.

O Lula agora passa a uma posição extrema: julga que a internet pode democratizar a formação da opinião publica, sem que necessariamente se toque na propriedade monopolista vigente na mídia tradicional. Como se a internet fosse alternativa à quebra desses monopólios.

Na internet nós tratamos de fazer guerrilha: com dinamismo, inovação, criatividade, mas sobretudo com pontos de vista alternativos, coerentes com os avanços que o Brasil está vivendo. Disputamos agenda, mas com enormes dificuldades, pelo papel de Exército regular que a mídia tradicional continua a ter.

Os jornais vendem cada vez menos e são cada vez menos lidos, mas pautam os rádios e as TVs, que desfrutam de uma presença avassaladora pelo seu caráter monopolista.

Basta ver como essa máquina conseguiu pautar o processo do STF como o tema principal a nível nacional durante meses, em detrimento, por exemplo, do esforço do governo para frear as pressões recessivas sobre a economia, conseguir retomar o crescimento e expandir ainda mais as políticas sociais.

A campanha eleitoral de 2014 será mais um momento de enfrentamento aberto. Diante do fracasso da reforma política por meio do Congresso atual – ele mesmo beneficiário do financiamento privado das campanhas -, Lula recoloca a convocação de uma Assembleia Constituinte para a reforma democrática da política. Nesse marco deve ser inserido o processo de democratização dos meios de comunicação, que tampouco será aprovado por um Congresso que, alem dos lobbies, como diz o próprio Lula, “tem medo da imprensa”.

A convocação da Assembleia Constituinte autônoma tem que ser um passo decisivo no avanço do processo de democratização do Brasil. O governo prioriza seus esforços no maior processo de democratização social que o país já viveu. Agora se trata da democratização política e da dos meios de comunicação.
Fonte: CARTA MAIOR

Parece que a guerrilha, citada por Lula, vem apresentando resultados.
Nós, os guerrilheiros, já fomos chamados de sujos pela velha imprensa. 
Muitos "sujos" tem sido processados por veículos da velha mídia, que pensa que pode impedir a produção de conteúdos que não sigam seu estreito repertório de crenças. Interessante que as pessoas da velha mídia que processam os "sujos" , são, em maioria, defensores de biografias não autorizadas.  Biografias que eles criam para os outros, mas quando são citados em algum lugar... Bem isso é um outro assunto. Vamos  para terroristas e guerrilheiros.

No processo de abertura política do país para a democracia,  ainda na ditadura e no governo do general Figueiredo, isso lá pelo final dos anos da década de 1970 e início dos anos de 1980, setores ultra conservadores e radicais de direita  tentaram impedir o avanço do processo democrático.
Bombas, preparadas nos cantos do retrocesso, explodiam por todos os cantos, causando cantos dolorosos em pessoas inocentes. Foi o caso de uma bomba enviada para a Ordem dos Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, que acabou matando uma secretária daquela Ordem ao abrir um envelope de uma suposta correspondência. Outras bombas explodiam nos cantos das bancas de jornais da cidade. Porém, a bomba mais bombástica explodiu no colo de um sargento do exército brasileiro, dentro de um carro no canto do carona, no pavilhão do Rio Centro zona oeste do Rio de Janeiro, em um show comemorativo ao dia do trabalhador. O artefato rebelde, que matou o sargento e feriu gravemente um capitão do exército (reformado em uma patente superior e desfrutando a vida), se fosse colocado devidamente nos cantos pré determinados certamente causaria uma tragédia sem precedentes, já que no local milhares de pessoas, a maioria jovens, se divertiam pacificamente em show com artistas da música brasileira. A bomba que explodiu no colo do sargento, fazendo com que suas vísceras voassem pelos ares em todos os cantos, era mais uma investida para impedir o avanço do processo democrático e, assim como em outras, a culpa pelo ato terrorista seria atribuída a grupos de esquerda , comunistas, que estariam mostrando suas práticas com o processo de abertura política. O caro leitor que chegou até aqui, neste parágrafo longo, deve estar se perguntando  porque essa história do período da ditadura militar no contexto do artigo das mídias alternativas de CARTA MAIOR. 

A questão é que hoje, em 2013, vivemos no país um momento que guarda algumas semelhanças com o processo de redemocraização do país no último governo da ditadura militar. As manifestações de junho último, ainda motivo de análises em todas as mídias , sujas ou nas que se acham limpas, colocou em cena alguns movimentos sociais que com suas pautas de manifestação convergiam para exigências de mais democracia, com o cumprimento dos direitos de todos os cidadãos como prevê a constituição cidadã de 1988. Assim sendo, o movimento do passe livre que luta pelo passe livre nos transportes coletivos públicos ou por tarifas justas e serviços de qualidade, os grupos que exigem saúde pública de qualidade, outros que pedem por educação pública de qualidade, outros mais que exigem uma reforma política com uma assembléia constituinte visando com isso minimizar significativamente as práticas de corrupção com punição para corruptores e corruptos, mais outros que pedem a democratização dos meios de comunicação, outros ainda que pedem uma reformulação dos órgãos de segurança pública em favor do cidadão, muitos que querem uma democracia participativa com participação direta do cidadão no processo decisório  e outros mais não menos relevantes, tem algo em comum, mesmo que não atuem como um movimento único, como alguns setores da velha mídia se referem aos  protestos .
Todos querem cumprimento dos direitos, direitos iguais para todos e mais democracia.Isso é fato, independente do que se pense sobre o assunto.
É natural que em meio aos protestos outros grupos  apresentem suas pautas, como o movimento altermundista, o movimento pacifista, o movimento ecológico e outros. Alguns grupos , também se apresentam com táticas de  defesa por conta da ação extremamente violenta por parte dos órgãos  de segurança que deveriam garantir a segurança do cidadão. Assim sendo, em meio aos protestos, o conjunto da sociedade, com suas virtudes e mazelas, se faz presente nas ruas; moradores de rua, vendedores ambulantes, ladrões,  crime organizado, prostitutas, descamisados, canibais, et's, loucos de fato e toda sorte de pessoas  que vive em situação de alto risco  e  vê nos protestos oportunidade para auferir vantagens próximas. Impossível que eventuais conflitos não aconteçam.

E os conflitos aconteceram, e mais, passaram a ser a pauta principal dos meios de comunicação  que se acham limpos, deixando de lado o verdadeiro significado das manifestações. Certamente uma escalada de violência em manifestações de rua,ainda mais com um apelo de mais democracia,  apenas interessa aqueles grupos que no passado como no presente não toleram o processo democrático, não querem o avanço da democracia e de tudo fazem, em todos os cantos do presente como fizeram nos cantos do passado, para impedir o caminho natural de transferência do poder ao povo, algo que se completa em uma democracia real e plena.

A insistência da velha mídia em criminalizar grupos com táticas de defesa , mais precisamente os black blocs, assim como nos cantos do passado explosivo pode estar escondendo os verdadeiros interessados em impedir o avanço da democracia. Cabe lembrar que essa velha imprensa, que acusa de sujos todos aqueles que produzem conteúdos informativos e opinativos que não estjejam dentro dos estreitos limites de suas crenças, no passado como no presente pŕoximo sempre esteve ao lado dos grupos que impediam o avanço da democracia. Isto posto, a insistência do noticiário em afirmar que a violência que acontece durante as manifestações está deixando com medo a população e com isso os protestos podem se esvaziar, parece mais uma opinião  publicada e desejada , que tem como objetivo tirar as pessoas das ruas e impedir a consolidação das exigências da população. E mais, tal violência pode estar sendo patrocinada, também , por órgãos de segurança pública com o intuito de preservar determinados governantes. Foram em grande número, os flagrantes da ação policial como detonadores de atos de violência , assim como na tentativa de forjar falsas provas contra manifestantes, previamente escolhidos pela velha imprensa como os únicos responsáveis pelos conflitos.

O que está em jogo é uma tentativa de velhos grupos de ultra direita e anti democráticos, que historicamente não tem capacidade e força para colocar o povo nas ruas,e que tentam impedir o avanço da democracia, assim como fizeram em cantos do passado e tentam repetir agora na frente do presente.

A população não pode deixar de sair às ruas e manifestar suas posições por mais democracia, mas deve tomar medidas para se proteger daqueles que deveriam protegê-la, e mais, deve registar com câmeras , já que todos somos mídias, todo e qualquer movimento de pessoas que tenha por objetivo incitar o caos, a violência e o retrocesso.

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