segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Shortinho que Cura Depressão

Cartão vermelho para a racionalidade

Por Luciano Martins Costa em 21/10/2013 na edição 768
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imrensa, 21/10/2013
A imprensa informa que São Paulo terá uma semana de manifestações, até a próxima sexta-feira (25/10), em defesa da gratuidade dos transportes públicos, reivindicação que inaugurou as ondas de protestos que paralisaram as grandes cidades brasileiras a partir de junho.
O dia 25 de outubro marca, desde 2005, a demanda criada durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, segundo a qual a mobilidade urbana é um direito fundamental para a consolidação de outras liberdades asseguradas pela redemocratização do país.
Os coordenadores do Movimento Passe Livre consideram que, sem transporte público assegurado, os cidadãos sofrem limitações em seu acesso à saúde, educação, lazer e cultura. Esse é o eixo central das manifestações pacíficas que se avolumaram em junho e refluíram depois em protestos isolados e pontuais marcados pela violência policial, pelas depredações e, finalmente, pelo protagonismo vandalizante dos Black Blocs.
No cenário atual, com a racionalidade expulsa de campo, a semana promete material interessante para os observadores da cena pública.
Em primeiro lugar, os líderes do MPL avisam que não têm como controlar a ação dos predadores, que nos últimos dias estiveram em cena e no meio de nova controvérsia, por conta da invasão do Instituto Royal. Também os defensores dos direitos dos animais alegaram que não tinham como controlar os Black Blocs, que lhes deram cobertura e abriram os portões do instituto, para que eles pudessem demonstrar como o movimento ambientalista, casado com filosofias orientais e resquícios do fenômeno beatnik, gerou filhos híbridos que desafiam as teorias políticas tradicionais.
Essa convergência de vontades fracas que se potencializam com a força física e o destemor dos mascarados marca o ambiente político que a imprensa vai analisar nos próximos dias. Mas, pelo que se leu nos últimos meses, desde que as ruas foram ocupadas por manifestantes de variadas crenças, o leitor não deve esperar muita racionalidade: o Brasil foi tomado de assalto pela lógica do espetáculo.
A sociedade do banal
Curiosamente, no último fim de semana um grupo de pesquisadores de comunicação se reuniu na Faculdade Casper Líbero, em São Paulo, para apresentar aspectos de seus estudos sobre a sociedade do espetáculo. A linha central das análises era baseada na teoria militante do pensador francês Guy-Ernest Debord, criador do Movimento Situacionista, para quem o capitalismo se consolida na espetacularização do cotidiano, que reduz a espetáculo toda ação humana e transforma a vida comum numa sucessão de eventos sem sentido.
Com todas as controvérsias que se pode alimentar a partir dos conceitos elaborados por Debord nos anos 1960, e que sustentam algumas interpretações interessantes sobre movimentos populares, não há como escapar à observação segundo a qual até mesmo as manifestações de rua inauguradas em junho, que foram motivadas por demandas essenciais ao bom funcionamento da democracia, acabam contaminadas pela banalidade do espetáculo.
Senhoras bem vestidas correndo pelas ruas com os cãezinhos resgatados de uma instituição de pesquisa científica podem representar uma declaração explícita de humanismo e amor aos animais. Mas também significam o protagonismo exibicionista que faz parte das expressões externas da vida contemporânea, que funciona como uma tela de televisão.
Sejam quais forem as razões, por mais nobres que sejam os argumentos, o resultado será sempre o espetáculo, e seu produto será a emoção, não a informação reflexiva que transforma as consciências e a sociedade.
Como aqui falamos de imprensa, convém instalar a mídia no meio dessa conversa. Veremos, então, que, ao abordar os eventos sociais como uma espécie de minissérie, um verdadeiro “show da vida”, a imprensa contribui para consolidar esse aspecto do sistema, cujo objetivo é pasteurizar as consciências.
Na segunda-feira (21/10), por exemplo, noticia-se que uma comissão da Câmara dos Deputados vai investigar as denúncias de maus-tratos contra animais. Não importa que representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência tenham vindo a público defender o Instituto Royal, declarando que suas pesquisas são feitas em estrita obediência às normas internacionais de estudos com animais.
Vivemos numa sociedade emocional, sob a lógica do espetáculo. A racionalidade só se manifesta quando chegam os garis para juntar os cacos de vidro.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA


A racionalidade não existe na sociedade, logo não pode ser expulsa.
Na sociedade do consumo turbinado, onde o consumo se transforma em valor , talvez o valor mais importante, a razão é algo para poucos.
Se o consumo fosse consciente e sustentável a razão poderia prevalecer. Entretanto, não é o que acontece.
O consumo, enquanto valor principal, também é a solução para todos os males.
Duas semanas atrás presenciei o seguinte diálogo entre duas operadoras de caixa de um supermercado aqui no Rio de Janeiro:
- caixa 1 - ontem fui no shopping e torrei todo o dinheiro do cartão da minha mãe. Não deu prá segurar.
- caixa 2 - e agora ?
- caixa 1 - não sei. vamos ver. Quer saber? Eu não estava aguentando. Fui lá e comprei aquele shortinho da Anitta.
- caixa 2 - foi prá aliviar o estresse, não é ?
- caixa 1 - agora estou melhor.
O consumo que atua como um terapeuta, para aliviar angústias e sofrimentos. 
E de fato avalia, por algum tempo, quando a pessoa vai comprar mais para aliviar as mesmas angústias e sofrimentos que certamente irão aflorar com mais força.
Que o caro e atento leitor, consumidor racional, espero, entenda que o consumo aqui definido se refere a todas as formas materias e imateriais, produtos e serviços. 
Em tempos de muita informação  na internete, produzir seu pŕoprio jornal, uma cesta de conteúdos para leitura diária, em respeito ao tempo, é fundamental. Tanto que é fundamental que o jornal o globo de hoje, sabidamente um veículo de uma organização empresarial avessa a difusão do conhecimento e da racionalidade,  apresenta chamada em primeira página em que prega uma espécie de alienação por conta do excesso de informação. 
Hummmmmm !
Importante saber que todo ato de consumo, seja a compra de um produto, seja assistir um filme ou novela na tv, seja assistir um show, e outros, está baseado em uma escolha pessoal que leva em consideração vários aspectos financeiros, de tempo, de necessiade, de disponibilidade, visual, olfativo, tátil , paladar , de modismo de um determinado momento, etc.. 
Quando a escolha é avaliada segundo um razoável número de variáveis, o consumo pode ser definido como algo racional, equilibrado e sustentável. 
Na prática nada disso acontece.
O conjunto de variáveis associado a aquisição de algo, quando equilibrado, atribui aquilo que se deseja uma qualidade através da adequação do produto ou serviço ao uso que o consumidor deseja. 
Neste contexto mercadológico toda a qualidade pode ser definida como algo adequado ao uso do comprador/consumidor. 
Entretanto, o equilíbrio necessario para as escolhas não aparece, fazendo do consumo  algo irracional, como definido no diálogo acima das duas operadoras de caixa de supermercado. 
Na maioria as vezes, o consumidor atribui a necessidade de consumo um aspecto emocional ou sentimental, fazendo com que a qualidade desejada assuma um papel de sentimento, emoção.
O consumo acontece por conta de um sentimento, de uma emoção, para poder gerar uma outra emoção e um outro sentimento. 
Neste contexto a qualidade pode ser definida como um sentimento , uma emoção.
Se a sociedade é baseada no consumo, como valor principal, e esse consumo é majoritáriamente e avassaladoramente balizado por emoções e sentimentos, podemos afirmar que vivemos em uma sociedade que toma suas decisões ancorada em emoções e sentimentos.
Neste contexto, shortinho de anitta cura depressão, sanduiche de mc donald's serve para ansiedade, um carro novo aumenta a auto estima, um aparelho de tv ligado produz a sensação de alegria e afasta o silêncio da solidão.
Vive-se em  meio a  um oceano de irracionalidade, apesar dos discursos e das aparências.
O surgimento da internete e as redes socias, na última década do século passado, coloca em cena novos atores e uma diversidade de conteúdos, contribuindo para minar, desta forma, através de  informações e análises, o cerco mercadológico imposto a sociedade pelas mídias tradicionais, todas aliadas incondicionais dos mercados, do consumo irracional e insustentável e das grandes corporações. 
Isto posto, não causa estranheza que o jornal o globo, de hoje, traga uma matéria em que defende a alienação da sociedade no tocante as informações produzidas por meios alternativos.

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