segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Globo e a Internete a Vapor

O linchamento da Midia Ninja

Por Luciano Martins Costa em 19/08/2013 na edição 759
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, 19/8/2013
 
Algumas das mais prestigiadas cabeças da imprensa têm se empenhado, nos últimos dias, a uma articulada operação com o objetivo de desmoralizar o coletivo de produções culturais chamado Fora do Eixo e, como resultado indireto, demonizar o fenômeno de midiativismo conhecido como Mídia Ninja.
Não se pode dizer que esse movimento seja organizado, da mesma forma como se planeja uma pauta de jornal, mas são fortes as evidências de uma estratégia comum em suas iniciativas. Há uma urgência na ação de desconstrução da mídia alternativa que nasce em projetos culturais à margem da indústria de comunicação e entretenimento – e os agentes dessa estratégia têm motivos fortes para isso.
Interessante observar que essa operação-desmanche reúne desde os mais ferozes e ruidosos porta-vozes do reacionarismo político até pensadores identificados com correntes vanguardistas, o que compõe um mosaico de discursos que vão dos costumeiros rosnados de blogueiros raivosos até lucubrações mais ou menos sofisticadas de intelectuais sobre o ambiente comunicacional contemporâneo.
Entre as mais ferozes dessas manifestações, certamente ganha destaque a “reportagem” publicada pela Folha de S. Paulo no domingo (18/8), sob o título “Fora do Eixo deixou rastro de calotes na origem em Cuiabá” (ver aqui). O texto se refere a despesas, no total de R$ 60 mil, feitas pelos organizadores de um festival de música alternativa realizado em 2006 na capital de Mato Grosso, onde ocorreram os primeiros eventos do Fora do Eixo.
A reportagem é montada com depoimentos de comerciantes, que dizem estar tentando cobrar a dívida há três anos, e termina com o chamado “outro lado”: uma curta explicação da responsável pelas finanças do Fora do Eixo, reconhecendo o débito e afirmando que todos os credores serão pagos.
Ora, se a dívida é reconhecida e tem sido negociada, qual a justificativa para tamanho barulho?
Se usasse o mesmo critério para todos os casos semelhantes, o jornal deveria dar manchetes com a controvérsia sobre uma suposta dívida do grupo Globo junto à Receita Federal, e que é acompanhada de um escândalo sobre o sumiço do processo.
Com a mesma disposição, seria de se esperar que a imprensa acompanhasse o drama de centenas de jornalistas e outros profissionais que lutam há mais de década por seus direitos trabalhistas, apropriados por empresários do ramo das comunicações. Verdadeiros estelionatos foram cometidos contra esses trabalhadores, há evidências de chicanas na Justiça do Trabalho e denúncias até mesmo de desvio do patrimônio de fundos de pensão, sem que a imprensa se interesse por essa pauta.
Uma parceria impensável
O alvo central dos ataques é o principal articulador do Fora do Eixo, Pablo Capilé, que já foi chamado de “imperador de um submundo”, como se os coletivos de ação cultural fossem um universo clandestino e fora da lei. O bombardeio inclui denúncias de “trabalho escravo”, “exploração sexual”, “formação de seita” e outras alegações que não sobrevivem a uma análise superficial, como as referências deletérias aos editais onde algumas dessas iniciativas buscam recursos.
Ora, não consta que os ativistas que agora vão a público acusar Capilé tenham ficado algemados ao pé da mesa nas Casas Fora do Eixo, ou que alguém tenha sido abduzido para se integrar aos coletivos.
Os editais são resultado de uma inovação produzida pelo ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, que permitiu democratizar parte dos recursos oficiais de incentivo à produção de música, dança e artes visuais, com menos burocracia do que a exigida pela Lei Rouanet.
Aliás, há outra pauta mais interessante, que a imprensa ignora, sobre as fraudes no uso de recursos por grandes produtoras, como a prática de fazer seguidas captações financeiras com empresas de fachada. A cantora Claudia Leitte, por exemplo, é acusada de haver obtido perto de R$ 6 milhões em apoio oficial usando esse artifício.
Pode-se alinhar muitos exemplos da falta de proporcionalidade que a imprensa tem aplicado a erros ou desvios eventualmente cometidos por algumas das milhares de iniciativas do Fora do Eixo. Mas o mais interessante é a personalização das acusações, centradas na figura de Capilé – e que, por essa razão, apontam como alvo final a Mídia Ninja.
O processo de demonização desse fenômeno de comunicação produz até mesmo uma impensável convergência entre as revistas Veja e Carta Capital.
Carta Capital (ver aqui) contribui para deformar a imagem do Fora do Eixo e da Mídia Ninja ao afirmar que ex-integrantes do coletivo cultural têm medo de se manifestar contra o grupo, como se se tratasse de uma perigosa organização criminosa. A deixa é aproveitada pelo colunista mais virulento de Veja para uma de suas diatribes.
Quando os dois extremos do espectro ideológico se tocam, forma-se o círculo perfeito do conservadorismo que rejeita toda mudança.

Se setores da direita e da velha imprensa estão perseguindo as novas mídias, trata-se de um gigantesco recibo que o atraso está passando.
Mais do que um recibo para tentar inviabilizar novos conteúdos informativos, um processo está em curso, com data marcada, com todos os ingredientes de violência, golpe  e tudo mais que a velha imprensa, a grande mãe cafetina da anti-democracia, vem tentanto ao longo desses anos de avanços e sucessos dos governos democráticos e populares do PT. 
Vamos aos fatos:
A demonização da mídia NINJA ocorre logo após essa mídia produzir durantes os protestos de junho último conteúdos informativos que não apenas desmoralizaram  como ridicularizaram o jornalismo falso da velha imprensa. NINJA não agiu com esses objetivos e, apenas fez jornalismo, em tempo real, sem edições, sem cortes, sem restrições de crenças ou dogmas limitantes. Para isso soube maximizar as ferramentas tecnológicas disponíveis  e , com isso, abriu novas perspectivas para que a tradição  se mantivesse moderna, algo que a velha imprensa esqueceu propositalmente ao assumir seu papel de partido polítco. A velha imprensa, partidarizada até na vagina, acusa as novas mídias de orientação política em suas produções. Alguns jornalistas e políticos, destaque, claro que negativo, para o verde tucano Gabeira e o  trem tucano Aloysio Nunes, já emitiram declarações , respectivamente, de que NINJA pode ser algo similar aos grupos que apoiaram Mao Tse Tung e que o governo não pode financiar essas mídias. De fato, a pior direita é aquela que antes era esquerda e se converteu, como ocorreu como os dois citados e outros mais, como o palhaço da globo que atende pelo nome de madureira, uma ofensa ao charmoso bairro do subúrbio carioca, que em outras ocasiões já destilou sua ira sobre a esquerda do país,isso em reuniões no patético Instituto Milleniun. 
Esquerdas e direitas a parte, o que fica, mas que não é centro, é um escancarado processo para inviabilizar conteúdos que não estejam alinhados com a pauta da velha imprensa. Isto posto, assistimos a censura de volta sendo praticada por setores que em outras épocas foram vítimas da censura. A velha imprensa se auto censura internamente em seus veículos e , enquanto um oligopólio, ataca mídias digitais, principalmente,  com o propósito de inviabilizá-las. Tais práticas não deixam de guardar uma relação direta com o próprio exercío do poder mundial, dissimulado, oculto, nas sombras, sem jamais atuar nas linhas de frente, porém em pleno exercício do comando das ações. A informação não pode ser compartilhada, democratizada, ,mesmo que se manifeste em forma de opinião por parte de pessoas muito bem antenadas com a realidade que, de certa forma, contribuem para melhor compreensão dos fatos .
Muitos autores afirmam que estamos em um processo de mudança de ondas, pois viveu-se milênios na onda agrícola, séculos na onda industrial e agora estaríamos na onda informacional. Tais autores , ainda afirmam que o tempo de surgimento dessas ondas é cada vez menor, assim como tempo de duração, tanto que nas fronteiras da prospectiva já se afirma que a onda informacional já cede terreno a nova onda, que chamam da onda da  intuição, o que não deixa de guardar uma correlação com os avanços do conhecimento no campo da consciência e suas múltlipas aplicações. Independente do que se pense sobre o assunto, muito ainda deve acontecer no campo da informação e das trocas, tendo em vista  que o fenômeno das redes sociais e suas múltiplas aplicações ainda está muito longe do esgotamento. Nesse cenário de interseção de ondas, a velha imprensas, ao agir de forma organizada e violenta para criminalizar e mesmo inviabilizar com censura correntes do chamado midiativismo, situa-se, ainda, no arcabouço de idéias que caracterizou a segunda onda, ou seja, a revolução industrial. Mesmo que a violência em curso praticada pela velha imprensa tenha como objetivo a luta pelo  poder, suas práticas escancaram um setor deslocado da realidade, anacrônico e, sem esgotar o assunto, em acelerada rota de colisão com as tendências manifestadas pela população no tocante ao avanço do processo democrático no país.
Importante que se diga, em alto e bom som, que o desejo da velha imprensa é incompatível com o curso na História.
Impossível imaginar internete a vapor.
Impossível conter a democracia em tempos de trocas instantâneas pelo protagonismo das redes socias.
Impossível conter o avanço do conhecimento.
Impossível manter o confissionário depois de Freud.

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