sábado, 10 de agosto de 2013

Frankenstein na Mesa

Do Big Mac ao hambúrguer Frankenstein



Não se trata de aumentar a produção, nem de engendrar hambúrgueres nos laboratórios, nem de mais agricultura transgênica.
É preciso haver democracia na hora de produzir e distribuir os alimentos
Por Esther Vivas, no Canal Ibase. Traduzido por Camila Nobrega.
Quando pensávamos que já havíamos visto tudo no mundo dos hambúrgueres, no início desta semana a ciência anunciou o lançamento do hambúrguer de laboratório. Ou podemos também chamá-lo de hambúrguer Frankenstein, em referência ao “monstro” de Mary Shelley, em provetas. Um hambúrguer que contem tudo: sua produção não contamina, gasta pouca energia, quase não utiliza solo e, além de tudo, não contem gordura. Sua “carne” é resultado de extrair algumas células-mãe do tecido muscular do trazeiro de uma vaca. O que mais podemos pedir? Hambúrguer light. Perfeito para o verão!
Seu preço, no entanto, não é acessível para todos os bolsos. Custa apenas uns 248 mil euros. Incluí-la no Happy Meal, parece, levará algum tempo. Porém, nos dizem, com tal avanço científico, a fome no mundo se acabará. As pessoas querem comer, e querem carne, então lhes daremos, parece ser o raciocínio dos “pais” dessa engenhoca.

A questão da segurança alimentar é outra
Então, vejo duas questões: Primeira: para nos alimentarmos, é necessário comer tanta carne? Antes de produzir mais carne, independentemente de sua origem, não seria melhor fomentar outro tipo de alimentação mais saudável, respeitosa dos direitos dos animais e sustentável? Porém, quem ganha com esse tipo de comida oriunda de gado vacuno e porcino? Smithfield Foods, o maior produtor e processador mundial de carne de porco, é um dos grandes beneficiários. Em seu currículo destaca-se a violação de direitos trabalhistas, a contaminação ambiental etc. No Estado espanhol, a Smithfield Foods opera através de Campofrío.
Segunda questão: para acabar com a fome é necessário um hambúrguer de laboratório? Segundo a ONU, hoje se produz suficiente comida para alimentar 12 bilhões de pessoas, no planeta há 7 bilhões; e, apesar dessas cifras, quase uma em cada sete pessoas passa fome. Comida há, o que falta é justiça em sua distribuição. Não se trata de aumentar a produção, nem de engendrar hambúrgueres nos laboratórios, nem de mais agricultura transgênica. Trata-se, simplesmente, de que exista democracia na hora de produzir e distribuir os alimentos.
Não existem soluções “milagrosas” à crise alimentar. Os problemas políticos, como a fome, nunca serão solucionados com atalhos técnico-científicos. Não se trata de rechaçar a investigação científica. Ao contrário. Temos que fomentar uma ciência a serviço da maioria social, não subordinado aos interesses comerciais, nem econômicos; e comprometida com a melhoria das condições de vida das pessoas. Porém, da revolução verde aos Organismos Modificados geneticamente, nos prometeram acabar com a fome. A crua realidade, no entanto, assinala seu fracasso. Apesar de que, em geral, seu grande êxito se oculta: benefícios milionários para a indústria agroalimentar e biotecnológica. O hambúrguer Frankenstein não será uma exceção.

É o fim.
Imaginar a comercialização em massa de um produto artificial, em substituição ou em paralelo ao similar de origem animal de pouco valor nutritivo, como manutenção de um modelo, fetiche, hábito fabricado, e ainda afirmar que em tal produto pode estar a salvação para a fome no mundo é  o fim da picada.
A questão da fome do mundo, como descreve o artigo , não está na escassez de alimentos , mas sim na sua distribuição e nos hábitos de nutrição.
Hoje , sábado 10.08.2013, a revista semanal época, das organizações globo, apresenta matéria de capa sobre os novos alimentos, tal qual o hambúrguer de frankenstein , e ainda  aponta para tais "alimentos" como a alimentação do futuro.
A revista época, que defende a não época contemporânea de nutrição nada saudável com Coca-Cola e big mac, ainda se refere a outros alimentos  do futuro, como se tais alimentos não fossem consumidos em grande escala por diferentes povos do planeta ao logo de milênios. Refiro-me ao consumo de insetos, alguns de alto valor proteico,  muito comum em países asiáticos e em povos da América desde tempos pré-colombianos. Outros ainda, não necessariamente insetos, como os caracóis, podem ser encontrados em pinturas sobre  hábitos alimentares do Egito antigo.
Alucinados na defesa dos alimentos para astronautas em consumo futuro de larga escala, época ainda afirma, na capa nada apetitosa, que trata-se da vanguarda da pesquisa para consumo de novos alimentos que podem resolver a fome do mundo.
Vanguarda????
A verdadeira vanguarda na nutrição dos humanos não está no consumo de alimentos artificiais e transgênicos, mas sim na produção e comercialização de produtos orgânicos, alimentos vivos, ricos em energia química na ligação de seus átomos e moléculas. E mais, a vanguarda está em um consumo cada vez mais moderado de produtos de origem animal, valorizando-se cada vez mais os produtos de origem vegetal orgânicos.
Os jovens de hoje que cresceram em um ambiente de internete e redes sociais, certamente se referem a um vendedor  ambulante das ruas , como um spam humano, ou a uma biblioteca como um download  pesado, mas daí acreditar que irão se comportar como frankensteins em seus hábitos alimentares há uma distância enorme.

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