quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Não, é, quer dizer, sim, não, então, ahan.

Corrupção e democracia, por Merval Pereira



Merval Pereira, O Globo

Outro dia escrevi aqui na coluna, a propósito das investigações sobre a formação de um cartel de empresas estrangeiras na construção do metrô paulista, que “o pior dos mundos para a democracia seria se ficar provado o que os petistas chapa-branca já dão como certo nos blogs e noticiários oficiais: que o esquema seria uma espécie de irrigação permanente de dinheiro ilegal para as campanhas eleitorais dos tucanos desde o governo Covas”.

Foi o que bastou para que esses mesmos pseudojornalistas a serviço do governo petista distorcessem minhas palavras, atribuindo a mim a tese de que as acusações contra o PT são boas para a democracia, e as contra o PSDB seriam prejudiciais.

Para um leitor de boa-fé está claro que não tratava da corrupção em si, mas da maneira como ela fora praticada. Uma coisa são casos de corrupção de agentes políticos isolados, que acontecem em todos os países, outra bem diferente é a organização política se transformar em criminosa para garantir recursos ilegais para a manutenção do poder.


Merval, o imortal, acaba de flexibilizar a corrupção.
Define corrupção de agentes políticos isolados e a corrupção de uma organização política para manutenção do poder como diferentes modalidades de roubo.
Uma pérola ! 
Se a corrupção existe em todos os países, não é motivo para que seja flexibilizada quando acontece em nossas terras. 
A corrupção deve ser combatida em todas as formas e expressões, não como algo abstrato, fruto de retórica ,mas sim com políticas que proporcionem cada vez mais a participação da população na fiscalização e definição da aplicação dos recursos públicos.
O caso da corrupção escandalosa no estado de São Paulo não pode ser entendida como um caso isolado, praticado por agentes políticos e uma empresa estrangeira. Se entendida dessa maneira, como deseja o imortal, o estado de São Paulo é irrelevante na economia do país e a globalização não existe, conceitos estranhos para quem defende com unhas e canetas o modelo econômico mundial e ainda prega o voto distrital.
O imortal sabe, assim como o caro e atento leitor, que agentes políticos, organizações políticas e grandes empresas, inclusive a empresa jornalística onde o imortal proporciona espetáculos de contorcionismo, estão íntimamente ligadas em assuntos que estejam na órbita ou no centro do poder. 
A organizão política que o imortal se refere em seu texto acuado, certamente é o partido dos trabalhadores, o PT. A empresa estrangeira ( a globalização acabou ? )a Siemens e agentes polítcos pessoas ligadas ao PSDB. 
Ninguém em sã consciência e com sólidos valores éticos pode flexibilizar a corrupção , atribuindo peso para uma ou outra acusação de agentes envolvidos em malfeitos.
A acusação contra o partido dos Trabalhadores, o PT, em um processo explorado pela imprensa do imortal que se arrasta por longos oito anos, deveria ter apresentado de forma clara, transparente e inequívoca, o esquema de corrupção assim como os valores desviados dos cofres públicos, de maneira que os envolvidos não apenas fossem julgados e condenados e os valores devolvidos. O que se tem, no momento, são condenações, não pela totalidade dos membros da suprema corte, ancoradas em teses e narrativas opacas, onde a verdade factual jamais se fez presente de forma translúcida. Acrescente-se ao fato que os culpados, até o momento, são pessoas que comprovadamente tem um patrimõnio compatível com as funções que sempre desenvolveram na vida pública e mais, sem esgotar o assunto, o suposto esquema de que foram acusados foi comprovadamente elaborado e implementado no governo do PSDB, que dentre outras coisas é acusado de irrigar, (usando a expressão que tanto o imortal gosta ) parlamentares para se perpetuar no poder, com início na aprovação da emenda da reeleição. 
Já o escândalo que aflora nas poluídas águas que banham a capital paulista, revela a  irrigação suja de empresas de peso e uma organização política no poder do estado há 21 anos. É verossímel, em função das práticas de financiamento de campanha amplamente praticadas no país, que tal esquema tenha contribuído para a perpetuação do PSDB no poder do estado que apresenta o maior PIB do país e que, por oito anos, esteve no poder central. É também do conhecimento dos meus caros, atentos e bem informados leitores, que tais arranjos ilícitos, como o do estado de São Paulo, servem para projetos bem ambiciosos que transcendem questões de regionalidades, ainda mais se tratando da pujança do estado da federação envolvido. Com muito menos , Alagoas foi longe na conquista do poder.
Assim sendo, o texto do imortal me trás a lembrança  um prêmio que um editor do antigo Jornal do Brasil concedia à artigos que se destacavam nos aspectos do não dizer, não falar, não explicar, em um perfeito exercício de organização das palavras para o objetivo maior de uma desordem conceitual. O prêmio em questão tinha o nome, ou algo similar de :
AHSEMDJEMTOLHTPR.
Parabéns ao nobre imortal pela conquista de relevante honraria !  
 

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