segunda-feira, 29 de julho de 2013

As Pedras de Agripino

O cerco informativo ao governo Dilma

Por Carlos Castilho em 28/07/2013 - Observatório da Imprensa
 


O governo federal está encurralado no cenário político nacional em matéria de estratégias de comunicação e informação, numa situação que pode ter reflexos diretos na campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2014.
A imagem pública da presidente Dilma Rousseff foi desconstruída ao longo de um processo em que a imprensa teve um papel relevante, e que começou já há bastante tempo. Trata-se de um processo onde a construção ou desconstrução da forma como o público vê um político tem mais a ver com percepções do que com evidências. É como no famoso dito de que, em política, as versões são mais importantes do que os fatos.
Dilma hoje está sendo julgada mais pela imagem que a imprensa, a oposição partidária e os desafetos presidenciais no Poder Judiciário construíram em torno da presidente do que pelos feitos de seu governo. Entre a imagem e os feitos há uma considerável diferença – e os eventuais benefícios factuais capazes de ser capitalizados por Dilma estão sendo pulverizados pelos efeitos devastadores do encurralamento comunicacional e informativo.
O governo federal está claramente na defensiva porque a estratégia comunicacional dos adversários de Dilma logrou associar sua gestão à incerteza econômica ao supervalorizar processos como a inflação, queda do PIB, declínio da atividade econômica e redução do superávit na balança comercial. São todos fenômenos muito condicionados pela situação econômica internacional, mas foram apresentados como exclusivamente domésticos para associá-los a uma imagem de má gestão.
A onda de protestos de rua, em junho, confundiu o panorama político e ameaçou tirar Dilma do clinch político-partidário. [Clinch é o jargão usado no boxe para definir uma situação em que um lutador se abraça ao adversário para impedi-lo de continuar atacando.] Ela até que tentou retomar a iniciativa com a proposta de plebiscito, da reforma política, aumento das verbas para a educação e o envio de médicos para o interior. Mas faltou ousadia para romper com o fantasma da governabilidade. Para concretizar a sua estratégia destinada a encampar o clamor das ruas, a presidente tentou ganhar apoio parlamentar – e foi aí que ela se perdeu.
Negociar com políticos e candidatos em véspera de eleições é a forma mais segura de emascular uma proposta política que altere o status quo, especialmente quando se trata de acabar com privilégios e aberrações da atividade parlamentar. Surgiu uma aliança informal entre políticos e magistrados do Supremo Tribunal Federal com o apoio corporativista dos médicos que transformou em fumaça o projeto emergencial do governo.
Para romper o cerco, a presidente tem as redes sociais na internet como provavelmente a única alternativa para desenvolver uma nova estratégia de comunicação política. Mas essa opção exige uma considerável ousadia porque implica meter-se num ambiente informativo com regras e procedimentos bem diferentes dos usados habitualmente pelos altos escalões do governo.
Uma aposta nas redes sociais virtuais permitiria ao governo prescindir da imprensa como mediadora na relação com os cidadãos. Mas para tentar essa estratégia, a presidente teria que abrir mão da busca da tal governabilidade e da barganha de ministérios com partidos políticos. Poderia governar como pediam os participantes dos protestos de rua, em junho. Seria uma jogada de altíssimo risco.
Os desafetos da presidente não têm muita intimidade com o uso dos mecanismos digitais. Deputados federais, senadores, magistrados e até mesmo a imprensa preferem os métodos tradicionais de comunicação, embora eles se distanciem cada vez mais das ferramentas virtuais adotadas pelos jovens que saíram às ruas para exigir um país diferente.
Os riscos da opção estratégica pelas redes sociais são consideráveis. Primeiro, porque o governo teria que conviver com um forte criticismo de um segmento importante da blogosfera. A internet é muito mais transparente que a imprensa convencional e isso faz com que o debate político siga caminhos bem diferentes dos usuais. A convivência com xingamentos e acusações passa a ser uma necessidade porque o objetivo é o conjunto das opiniões e não a de um indivíduo isolado.
Nem pensar em controlar os comentários porque isso seria imediatamente associado à censura, o que anula qualquer eventual efeito positivo da presença online do governo federal. Além disso, uma estratégia online do Planalto exigiria uma profunda reciclagem comunicacional da cúpula do governo, que é tão conservadora em relação à internet quanto a oposição.
A aposta é arriscadíssima, mas a presidente está na posição de se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

A velha imprensa acusa, de forma inequívoca, que sente os efeitos da internete e das redes socias na formação de opinião.
Ao longo dos últimos dez anos a estratégia da imprensa em alterar conceitos e percepções não produziu os efeitos desejados no momento do voto.
Uma coisa é criar um clima altamente desfavorável para um candidato, outra coisa é esse candidato  sofrer nas urnas as consequências desse clima.
Existem muita mais coisas entre o  momento do voto e o dia a dia das pessoas que a velha imprensa possa imaginar.
Com o advento das redes sociais esse "mistério" se acentuou ainda mais , fazendo com que o trabalho político da imprensa tenha poucos resultados para o objetivo final.
No mês de agosto deve entrar em votação o marco civil da internete e todos sabem que a velha mídia, desacreditada, move suas peças para limitar a ação das redes sociais.
O governo Dilma, os governos estaduais, os governos municipais, o congresso, o judiciário , os partidos políticos e a velha imprensa disputam corações e mentes apenas na arena que sempre  ocuparam para esses embates, fazendo da disputa algo fragmentado  na opinião da maioria da população, já que não estão inseridos plenamente nas redes socias.
Se o trabalho político partidário da imprensa, ao longo de anos, tivesse sido bem sucedido, apenas a presidenta Dilma e o Partido dos Trabalhadores  teriam uma queda acentuada nas intenções de voto , popularidade e aprovação do governo após os protestos de junho. 
Não foi o que aconteceu.
Todos os partidos políticos e a maioria esmagadora dos políticos tiveram quedas na aprovação e popularidade, independente se de esquerda ou de direita. Não foi para isso que a velha imprensa trabalhou diariamente durante anos.
Tal evidência inclina o leitor atento à conclusão de que a velha imprensa pouco ou em nada contribuiu para a  queda da aprovação do governo federal.
E mais, independente das  quedas na aprovação dos governos e políticos, o atual governo do PT da Presidenta Dilama, vence todos os  demais candidatos na eleição de 14, independente dos cenários possíveis, isso segundo as pesquisas.
Diante das evidências, fica claro que a velha imprensa se debate com os fatos, coloca para o canto da sala o lixo da corrupção escandalosa que não deseja noticiar, produz realidades paralelas ao melhor estilo de ficção científica, produz barulho excessivo e de pouco conteúdo e por fim, mas sem encerrrar o repertório de mancadas, não consegue atingir seus objetivos de emplacar nas eleições candidatos com o seu DNA.
Trabalhando em bloco  para atingir seus objetivos, a velha imprensa, diante das evidências, carrega  uma deformação congênita que a impede de se inserir nos novos tempos, onde o novo emerge com vida , mas o velho ainda insiste em viver na casa grande.
A estratégia de acuar o governo do PT, produzindo um cerco informativo , se revela pouco producente, diante das variantes de produção de informação e conteúdos que o novo viabiliza. Entretanto, pode ser razoavelmente bem sucedida, se o governo federal apenas se situar na arena anacrônica da formação de opinião.
Independente de tudo isso, as pessoas continuam trocando suas informações, cada vez mais e mais, no ingênuo, anárquico, supercial e profundo espaço das redes sociais.
Todo esse debate  sobre o papel, ou papelão, da velha imprensa em produzir notícias falsas e sem evidências, me trouxe a lembrança de Agripino, um proteiro de edifício de um bairro da zona sul da cidade do Rio de janeiro.
Todos os dias, Agripino ocupava seu posto de trabalho na portaria de um pequeno edifício residencial.
Em frente ao seu local de trabalho, no lado oposto da rua, uma grande obra teve início  e levou décadas para ter fim.
Durantes as obras de construção, diariamente pedras, algumas grandes , iam parar por mais de uma vez no meio da rua, criando um risco de serem jogadas para qualquer lugar com a passagem de veículos, inclusive ônibus que circulavam por aquela rua.
Preocupado com a possibilidade de receber uma pedrada, Agripino diariamente retirava as pedras da rua jogando-as na calçada em frente a obra inacabada. As vezes fazia esse ritual três ou quatro vezes por dia. Ocorre que , por inveja de sua dedicação, acabou sendo acusado de estar atirando pedras no terreno em frente ao prédio onde trabalhava.
De fato  era visto diariamente por todos no bairrro, pegando pedras no meio da rua e colocando na calçada de origem das mesmas, mas daí a atirar pedras em alguém existe uma diferença enorme.
Agripino não se intimidou e muito menos ficou na defensiva, continuou retirando as pedras do meio da rua, até que todos da redondeza se conscientizaram de que ele estava com a razão.
A história de Agripino serve bem para o governo Dilma, que não deve ficar na defensiva em relação a velha imprensa que apenas vê agressão em boa ação, fracasso em sucesso.  Muito menos deve se justificar das notícias falsas e deve seguir fazendo aquilo que acredita ser de interesse e bem da maioria.
A redondeza, aqui definida como as redes sociais, saberá  separar o atirar pedras do retirar pedras.

 

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