terça-feira, 16 de julho de 2013

Dona Baratinha e o Samba de Boni

A festa da lumpemburguesia

Por Luciano Martins Costa em 16/07/2013 na edição 755
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, 16/7/2013
 
Os três principais jornais de circulação nacional requentam, nesta terça-feira (16/7), o caso dos incidentes ocorridos no final de semana durante a festa de casamento de uma herdeira do maior empresário do setor de transporte público do Rio de Janeiro, Jacob Barata.
Cada um dos diários se concentra em determinado aspecto dos fatos, que começaram com um pequeno número de manifestantes diante da Igreja do Carmo, no centro da cidade, e terminaram em agressões na calçada do hotel Copacabana Palace, onde se desenrolou a festa. Mas apenas O Globo avançou na investigação do papel da família da noiva na crise que tem origem no custo das tarifas de ônibus.
A Folha de S. Paulo se concentra em reproduzir o desastre em que se transformou o sonho de Beatriz Barata, com manifestantes gritando palavras de ordem e convidados atirando comida, objetos e dinheiro da sacada do Copa.
OEstado de S. Paulo reproduz uma fotografia retirada do Facebook, mostrando um primo da noiva lançando sobre os protestadores um aviãozinho feito com uma nota de R$ 20. O jovem Daniel Barata é acusado de ter atirado também o cinzeiro de vidro que feriu na cabeça o manifestante Ruan Nascimento, de 24 anos, morador do Complexo do Alemão.
Os dois jornais paulistas parecem ter descoberto a família Barata apenas por conta do casamento que virou caso de polícia, mas O Globo procura há mais tempo outras informações por trás do matrimônio que uniu Beatriz Barata a Francisco Feitosa Filho. As duas famílias são sócias em negócios que envolvem empresas de ônibus no Rio e em Fortaleza e os repórteres do jornal carioca vêm rastreando desde o dia 17 de maio as atividades pouco transparentes do setor.
Segundo relato do próprio Globo, já foram analisadas mais de 2 mil páginas de documentos obtidos na Prefeitura, na Câmara Municipal do Rio e no Tribunal de Contas do Município. O trabalho está longe de ser concluído, mas os dados preliminares permitem afirmar que o setor de transportes urbanos se desenvolve na obscuridade, com fraudes em licitações, falsificação de documentos, associações ilegais e acobertamento de lucros. O rumo da investigação jornalística permite acreditar que o Movimento Passe Livre tem razão ao afirmar que, sem essas chicanas, o custo das tarifas poderia chegar perto de zero.
Amigos no poder
O trabalho do Globo precisa ser estendido pelo o resto da imprensa, até se comprovar ou desmentir a possibilidade do transporte gratuito, pelos benefícios que pode trazer a ampliação da mobilidade nas grandes cidades brasileiras.
No entanto, há outro aspecto a ser observado no comportamento dos dois grupos sociais que se enfrentaram em torno do Copacabana Palace. Nem é preciso elaborar uma metáfora muito sofisticada para o incidente, uma vez que a colunista Hildegard Angel já relatou em seu blog a percepção mais óbvia dos convidados à festa – que, segundo os jornais, teria custado em torno de R$ 3 milhões: a metáfora evidente era a da queda da Bastilha.
O que se pode observar, paralelamente ao conflito entre os muito ricos que promoviam essa espécie de “baile da Ilha Fiscal” – o evento que marcou o fim da monarquia no Brasil – e a classe de renda média que protesta nas ruas contra o custo dos transportes, é a naturalidade com que os privilegiados que lucram com as carências sociais manifestam seu bem-estar.
Há uma profunda simbologia no gesto do jovem Barata que lançou aviõezinhos de dinheiro e, segundo a polícia, um cinzeiro de vidro, sobre as pessoas que protestavam contra aquela ostentação. Ele simboliza uma categoria de representação social que os estudiosos da sociedade contemporânea têm ignorado.
Trata-se do lúmpem-burguês, “esse produto passivo da putrefação das camadas mais altas da velha sociedade”, numa paráfrase da conhecida acepção marxista. Para ser ainda mais claro, basta citar outra frase, completa e no original, do mesmo autor: “No seu modo de fazer fortuna, como nos seus prazeres, a aristocracia financeira não é mais do que o renascimento do lumpemproletariado nos cumes da sociedade burguesa”.
O que vimos na sacada do Copacabana Palace foi uma expressão típica desse lumpezinado burguês que cresce à sombra da desigualdade social. Assim como os políticos que formam quadrilhas sob siglas partidárias, marqueteiros que compõem esquemas criminosos para financiar campanhas eleitorais, empresários que vivem o paraíso do capitalismo sem risco, avalizado pelo Tesouro, o indivíduo que atira aviõezinhos de dinheiro para achincalhar os cidadãos indignados não tem consciência social.
O lúmpem-burguês faz aviõezinhos com notas de R$ 20 e atira para a multidão, para demonstrar seu desapego ao dinheiro. Dinheiro que vem fácil, facilmente voa da sacada do hotel.
O lúmpem-burguês não é produtivo. Pelo contrário, ele é contraproducente. Como um avatar invertido do lumpezinato proletário, ele não desenvolveu a consciência cívica, mas não foi por falta de oportunidade. Ele escreve cartas de apoio aos editoriais da imprensa tradicional e entulha as redes sociais com seu preconceito de classe e seu reacionarismo, sonhando com a volta da ditadura. Sente-se coberto pela relação com magistrados, ministros, governantes, seus amigos no poder da República.
O lúmpem-burguês é o entulho do Estado corrompido.

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Com o transporte coletivo sendo questionado em todo o Brasil, tanto pelo alto preço das passagens quanto pela péssima qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias, eis que um grande casamento entre familiares dos barões dos transportes coletivos dos estados do Rio de Janeiro e do Ceará acontece na cidade do Rio de Janeiro no último domingo. E não foi um casamento qualquer, foi um evento de pompa com direito a presença até de um ministro do STF, que é bom lembrar que em outras ocasiões emitiu parecer em um processo envolvendo uma da famĺias envolvidas no evento.
A noiva chegou à igreja em um automóvel mercedes, luxuosíssimo, que se apurou depois pertencer a famíĺia da noiva e que ainda tinha vinte multas pendentes e não pagas. Um sucesso.
A recepção aos convidados aconteceu no Copacabana Palace, ao melhor estilo festa do oscar.
O assunto está bombando nas redes sociais e sendo comparado ao último baile da ilha fiscal, também exagerado em opulência e luxo mas que veio a revelar o início da queda do Império dias depois.
Burguesia e amigos influentes se moveram no último domingo sem um mínimo de sensibilidade, demonstrando a distância entre as partes de uma sociedade partida.
Guardando um paralelo com essas relações de poder, dinheiro e burguesia, a escola de samba Beija-Flor , da cidade de Nilópolis, escolheu como enredo para o carnaval de 2014 a figura de um  ex-funcionário da tv globo emissora que detém a exclusividade da transmissão dos desfiles. Enquanto outras escolas trarão como enredo a vida de pessoas de importância  não só nacional como mundial, como Ayrton Senna, Chico Mendes, Zico apenas para citar alguns enredos de escolas para 2014,  a escola de Nilópolis vai homenagear um diretor de operações da tv globo, também conhecido como Boni. Em desfiles passados , alguns funcionários da tv globo compraram o espaço das escolas para que fossem homengeados nos desfiles.
Esse conjunto de comportamentos por parte da burguesia revela não apenas o quão brega e desprevisível  esses grupos são para a sociedade. Entretanto, antes que saiam de cena,devem abrir a caixa preta dos transportes coletivos, pagar as multas de seus  automóveis e pagar os impostos da receita federal.

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