sexta-feira, 5 de abril de 2013

Semana Bizarra



A semana foi estranha, repleta de assuntos bizarros.
Ou teria sido o normal ?
Um ônibus de transporte coletivo da cidade do Rio de Janeiro despenca de um viaduto de uma altura de 15 metros, matando sete pessoas e ferindo gravemente outras quatro.
Acidentes acontecem, mas no caso desse ônibus o que provocou o acidente foi no mínimo, digamos assim, surreal.
Ou teria sido o normal ?
Um passageiro de 25 anos, um estudante universitário do curso de engenharia , se envolveu em uma briga com socos e pontapés com o motorista do veículo.  
O motivo da pancadaria foi o fato de o motorista não ter parado no ponto solicitado pelo passageiro que, tomado por uma necessidade de justiça ou ainda transbordando de revolta pela realidade crescentemente opressora, partiu prá cima do motorista com o ônibus em movimento no momento que o veículo passava por cima de um viaduto.
O viaduto em questão não apresenta mureta de proteção contra impacto de veículos, pois o que separa a vida da morte é uma pequena proteção de ferro  que foi pulverizada com o impacto do ônibus.
Se não bastasse o karma propício para a tragédia, motoristas de ônibus dos transportes coletivos da cidade são obrigados, pelas empresas em que trabalham, a cumprirem o trajeto das linhas em tempos pré determinados pelas empresas , o que só é possível, ainda segundo os motoristas, se ignorarem os pedidos de paradas nos pontos, independente se os passageiros estão dentro ou fora dos ônibus.
Conclui-se, ainda que inicialmente, que o transporte coletivo da cidade segue as necessidades e interesses dos proprietários das empresas de transporte, sendo os passageiros meros detalhes no negócio.
Tudo isso, caro leitor usuário de transporte coletivo, me parece surreal.
Ou teria sido o normal ?
E se os coletivos fossem obrigados a parar em todos os pontos, independente de solicitação de passageiros, como  ocorre com trens , metrôs e mesmo BRT's ?
Não seria razoável  e civilizado?
Ou seria uma loucura ?
Na semana em que o ônibus despencava a tarifa de barcas e trens urbanos decolava aos céus do lucro.
Passageiros fizeram um grande tumulto em uma estação das barcas que trafegam pela baía da guanabara, por conta do atraso e quebra de equipamentos, isso já com a tarifa pra cima do viaduto.
Ainda na semana, duas composições da empresa que opera os serviços de trens urbanos, descarrilaram, em dias diferentes, na mesma estação de São Cristóvão, que para os católicos é o santo protetor dos motoristas.
Os passageiros, ou meros detalhes da ganância corporativa que opera as concessões do transporte coletivo da cidade maravilhosa, tiveram que sair dos vagões, caminhar pelos caminhos de ferro, escalar plataformas e procurar alternativas de transporte , ou esperar outra composição. 
Enquanto isso, a gare da Central do Brasil, ponto de partida e chegada, ficava lotada de passageiros  no horário de voltar para suas casas que aguardavam uma explicação da concessionária sobre o problema, mais um problema , problemas que se repetem todas semanas, meses , anos, décadas.
Para colocar ordem na gare, sim, caro leitor, é necessário colocar ordem, foi convocado um efetivo , bem armado e equipado, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, já que os passageiros, esses "selvagens desordeiros", ou meros detalhes, poderiam colocar em risco o patrimônio público e os serviços prestados pela concessionária.
Tudo isso me parece surreal.
Ou teria sido o normal ?
Enquanto tudo isso acontecia com o transporte coletivo de passageiros na cidade maravihosa, parte da imprensa comemorava o fato de a indústria automobilística ter apresentado um resultado excelente na venda de automóveis.
Essa mesma imprensa, que diariamente através de seus telejornais higiênicos, informa com naturalidade que o congestionamento na cidade está em torno de 170 Km , número que se repete com frequência, assim como os acidentes de ônibus, problemas com barcas, descarilhamento de trens , mortes de detalhes lucrativos ...
Tudo isso me parece surreal.
Ou teria sido o normal ?
Em cidades civilizadas o automóvel individual é pouco utilizado, sendo os transportes coletivos serviços de qualidade e confiáveis e as faixas para ciclistas opções de transporte ecológico e saudável.
Não seria razoável ?
Ou seria uma loucura ?
O carioca que conseguiu sobreviver no transporte coletivo  resolveu assistir uma partida de futebol.
Acredite caro leitor e torcedor, que o estádio que recebia as principais partidas de futebol da cidade, o Engenhão, que fica ao lado da estação de trem do Engenho de Dentro e que foi construído em um área que antigamente abrigava as oficinas de reparo dos vagões e locomotivas da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil ( uma rua do entorno chama-se rua das oficinas), foi interditado por apresentar risco de desabamento da corbertura, sim, caro leitor, a parte da estrutura que abriga os torcedores da chuva, do sol...
A proteção corre o risco de desabar na cabeça das pessoas, torcedores, meros detalhes do transporte coletivo.
O estádio que tem o bonito nome de Estádio Olímpico João Havelange , mas que atende pela alcunha de Engenhão, tem apenas  6 anos de uso. Isso mesmo, caro leitor torcedor. Em seis anos o Engenhão dá sinais de colapso na estrutura, por erros de projeto.
Com o Maraca em obras, e que obras caro leitor, e o Engenhão interditado para obras, resta ao carioca o estádio de São Januário, que necessita de obras para o escoamento do público sem o que não pode receber partidas de futebol entre os grandes clubes da cidade.
Enquanto isso se discute a urgência de demolir um parque aquático , um estádio de atletismo e uma escola pública, no complexo do Maraca, para que sejam constuídas no local áreas de convivência do novo público de futebol, que no intervalo dos jogos poderá discutir, Kant, Nietzche, etc.. isso sem falar nos índios que tiveram que sair de um prédio, próximo ao Maraca, que vai se transfomar em estacionamento para veículos.
Todos esses equipamentos são públicos e deveriam estar ao serviço e utilização massiva, da população da cidade, porém, não é o que acontece.
Isso me parece surreal.
Ou teria sido o normal ? 
Questionado sobre os problemas apresentados no Engenhão e quanto  ao principal legado à população, o antigo prefeito, aquele que pedia sorvete em açougue, disse:
" o engenhão foi apenas mais um equipamento. o principal legado dos jogos panamericanos foi credenciar a cidade para receber as olímpíadas"
Ah ! Então tá. 
Isso explica o fato de o estádio ter entrado em ameaça de colapso com apenas  6 anos de uso e também outros equipamentos esportivos, que foram construídos para o PAN 07,terem sido demolidos ou estarem ociosos.
Agora estou tranquilo e imagino que o caro leitor eleitor também esteja.
Nada como uma boa explicação, não é caro leitor ?
Enquanto isso os telejornais higiênicos das emissoras de tv alardeiam o fato de a cobertura do Maraca, depois de três anos de obras, e que obras caro leitor, já está quase pronta.
Tudo isso aconteceu essa semana, mas não se assuste caro leitor, pois tem muito mais.
Um outro fenômeno que vem merecendo minha atenção tem sido a crescente ocupação, em emissoras de rádio e tv, de profissionais ligados a área da saúde.
Os médicos já atuam em diversos programas de tv com uma desenvoltura de dar inveja aos melhores apresentadores de programas de tv.
Sempre presentes para dar as mais diversas "explicações" sobre possíveis e potenciais problemas de saúde das pessoas, agora vem recebendo a companhia de psicanalistas.
Esses simpáticos profissionais, sempre bem articulados e falantes, tem ocupado , cada vez mais, espaços nas mídias. 
Orientando ouvintes e telespectadores que supostamente sofrem com conflitos internos geradores de neuroses, destilam os mais variados conselhos que podem desembocar em terapias longas e até mesmo tratamento com drogas farmacêuticas pesadas.
Cuidado, caro leitor saudável, uma simples dúvida tão necessária para dar um salto de conhecimento e crescimento pode ser diagnosticada como um conflito interno gravísssimo que poderá requerer um tratamento sério.
Infelizmente esses profissionais não tem a luminosidade discursiva do saudoso Hélio Pelegrino sempre em defesa da democracia, das liberdades individuais, dos oprimidos  e dos direitos humanos. Em tempos presentes ,nada se compara a clareza e assertividade de Zizek, que não tem espaço nos grandes meios de comunicação.
Em um sistema mundo, em que estamos inseridos, que oprime cada vez as pessoas gerando inúmeros e enormes confiltos pessoais e coletivos, a presença desses profissionais da saúde nas mídias, afinados com a ideologia opressora,  pouco contribui para as soluções de conflitos das pessoas alimentando em grande parte a indústria da doença. 
Tudo isso me parece surreal.
Ou teria sido o normal ?
Ainda na semana, e que semana ,caro leitor, tivemos as desastradas decisões do pastor deputado presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
O pastor, que está deputado e ocupa a presidência da CDHM, tem em seu currículo declarações racistas e homofóbicas.
Tudo isso me parece surreal.
Ou teria sido o normal ?
Se não bastasse seu currículo ainda declarou que seu antecessor na presidência da CDHM era o próprio Satanás e ainda agiu com violência, autoritarismo e truculência contra pessoas que se manifestavam democraticamente contrárias a sua presença na presidência de órgão tão sensível.
Nesse rolo compressor semanal os telejornais higiênicos das emissoras de tv apenas citam os acontecimentos envolvendo  o pastor deputado, sem nenhuma análise critica, que acaba por favorecer as posições do pastor.
Nesse cenário sinistro os cuidados devem ser redobrados.
Não se deve ignorar essa realidade doentia mas é sempre bom, pelas manhãs, ao acordar, sentir o cheiro do café.

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