segunda-feira, 22 de abril de 2013

No País dos Cartéis, Cartes foi Eleito Presidente

Análise: É reconhecer ou reconhecer Cartes


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Se foi uma das primeiras chefes de Estado a ligar para cumprimentar o presidente Nicolás Maduro, açodadamente, antes mesmo da decisão de recontar os votos na Venezuela, a brasileira Dilma Rousseff não foi tão rápida assim ao saudar a vitória do presidente eleito no Paraguai, Horacio Cartes.
Os parceiros originais de Mercosul, Argentina e Uruguai, já tinham telefonado e feito gestos de acolhimento, mas Dilma e a diplomacia brasileira mantinham um silêncio constrangedor na manhã desta segunda-feira. À Venezuela de Maduro, tudo. Ao Paraguai sem Fernando Lugo, nada.
O Brasil foi tão rápido na articulação para suspender o Paraguai do Mercosul e da Unasul, após a queda de Lugo, quanto foi para formalizar a entrada da Venezuela no Mercosul. Mas, agora, não tem jeito.
A demora de Dilma e do Itamaraty soa como pura implicância, porque, com Horacio Cartes legitimado pelas urnas e as urnas legitimadas por observadores internacionais, só resta reconhecer o seu governo ou reconhecer.
Dizem os pessimistas que "tudo o que é bom dura pouco". A derrocada do Partido Colorado no Paraguai, comemorada mundo afora, especialmente no Brasil, durou muito pouco, foi apenas um hiato.
O partido ficou 60 anos no poder, desde 1948, e teve tempo suficiente para controlar tudo e todos no país vizinho. A vitória do ex-bispo católico Fernando Lugo, um outsider da política cheio de ideias humanistas e renovadoras, foi um sonho de verão.
Eleito em 2008, Lugo não construiu condições de governabilidade e desabou em 2012, sob o peso de uma aliança do Partido Colorado com o Partido Liberal, até aí inimigos históricos, para manter tudo como sempre esteve.
A destituição, como os crimes, foi quase perfeita: respaldada pela Câmara, pelo Senado, pela Suprema Corte, pela Igreja, pelo setor produtivo. E, diferentemente do previsto, a reação popular foi tímida.
O Brasil fechou as portas para o governo de transição de Federico Franco, mas vai ter de engolir O governo e abrir as portas do Mercosul e da Unasul para o Paraguai de Cartes, um dos homens mais ricos do país e suspeito de contrabando, lavagem de dinheiro, evasão de divisas...
Do ponto de vista bilateral, pouco importa. Qualquer que seja o presidente do Paraguai, vai sempre estimular o discurso do "imperialismo" contra o Brasil e sempre pressionar por mais vantagens e preços mais altos para a energia excedente de Itaipu.
Aliás, o que mais arrancou vantagens foi justamente o companheiro Fernando Lugo, o breve.


Sonhos de verão são intensos e passageiros.

A eleição no Paraguay não apresentou novidades.

O presidente eleito é do partido que controla o país há 60 anos e, como de costume por lá, existem suspeitas de seu envolvimento com o crime organizado .

A transparência das eleições paraguaias sempre foi questionada, mas nenhum comentário na imprensa sobre a lisura do pleito.

Já na Venezuela, considerada como o processo eleitoral mais seguro do planeta, as dúvidas foram muitas, intensas, como um sonho de verão.

A irracionalidade é tanta, assim como a ignorância, que se pede  a recontagem dos votos na Venezuela, mesmo com uma auditoria realizada após as eleições em 50% das urnas eleitorais.

Como se sabe, uma amostragem homogênea de 10% das urnas já seria suficiente para uma auditoria com 99, 999% de confiabilidade. Isso mesmo, com três casas decimais.

Em um atentado contra a Estatística, ouvem-se os gritos de verão para uma recontagem completa.

Quanto a Presidenta Dilma ter reconhecido de imediato a vitória bolivariana de Nicolás Maduro, deve -se dizer que o fez corretamente, já que o pleito venezuelano é seguro e além disso, os resultados já tinham sido auditados pelas autoridades daquele país e, mais ainda, a Venezuela é um importante parceiro do Brasil.

Quanto a suposta demora para reconhecer o resultado do pleito paraguaio , isso é parte do jogo, do diálogo , do não diálogo, da importância dos parceiros, do respeito a democracia, da falta de respeito com a democacria, etc..
.
Pessoalmente gostaria que o governo Brasileiro demorasse ainda mais alguns dias para reconhecer o resultado das eleições paraguaias.

Não tenho dúvidas que o Brasil reconhecerá mas deveria mandar uma mensagem mais dura, direta, através do silêncio.

Fernando Lugo, o que teria sido o sonho de verão da autora,foi muito mais que um sonho passageiro.

Aliás, nem sonho foi.

Lugo, eleito presidente em um país dominado por um partido há décadas, foi eleito em um cenário de fragilidade de movimentos sociais internos, sem apoio parlamentar, do judiciário e das forças armadas.

Lugo foi resultado de uma realidade concreta, não de seu país, mas de toda a America Latina , há mais ou menos 14 anos, a ponto de influenciar o eleitor paraguaio garantindo a vitória de alguém que não se alinhava com o poder de décadas existente no país do chaco.

Lugo foi levado ao poder no Paraguay não pelo dinheiro, ou pela imprensa , ou pelo crime ( todos são parecidos) , mas sim pelos ventos de liberdade e democracia que já duram alguns verões ,outros tantos invernos,muitas luminosas primaveras,e outros mais inspiradores outonos na America do Sul.

Lugo venceu no Parguay devido a força das transformações que ocorrem na América Latina  e que certamente recolocará Michelle Bachelet de vota a presidência do Chile, ainda este ano.

Mesmo que  tais transformações que acontecem no continente fossem interrompidas abruptamente, o processo ainda continuaria por mais ou menos seis anos.

Tentativas para isso não faltaram como no golpe contra Chávez em 2002, o chamado mensalão no Brasil, a agitação separatista na Bolívia, os protestos na Argentina, o quase assassinato de Correa no Equador, além , claro dos bem sucedidos golpes em Honduras e no Paraguay.

O Paraguay, para nós bolivarianos da Pátria Grande, sempre foi e ainda será um país na contramão  das forças libertárias e democráticas de nuestra América.

Quanto ao processo em curso em grande parte da América Latina, que já dura 14 nos, não tem nada em comum com sonhos.

É real, significativo, e pelo tempo que ainda durará já tem seu lugar na História, talvez  como o que de mais relevante acontece neste início de século XXI em um mundo que agoniza em incertezas.

A análise da autora é puro delírio.



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