quinta-feira, 18 de abril de 2013

BOMBAS DE ÓRGÃOS

ATENTADO EM BOSTON

O valor de cada vítima

Por Luciano Martins Costa em 18/04/2013 na edição 742
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 18/4/2013
Os jornais brasileiros se socorrem de agências internacionais para concorrer pela primazia de oferecer o material mais interessante sobre o atentado ocorrido em Boston, nos Estados Unidos, na segunda-feira (15/4/). No entanto, a disputa já não é apenas entre os meios tradicionais: além de suas edições fixas em papel, os diários precisam assegurar a atenção do público em suas versões digitais, num ambiente em que qualquer indivíduo com um aparelho móvel de comunicação pode acrescentar elementos novos e interessantes à cobertura.
Esse evento revela como funciona o processo que deverá se chamar “jornalismo social”, mas também preserva certas características das escolhas das edições tradicionais.
Essa disputa pela atenção de uma grande audiência durante eventos inesperados e de grande repercussão é crucial para a sobrevivência das marcas tradicionais de mídia, porque quanto mais tempo e mais frequência as pessoas dedicarem a determinado site, maior será sua fidelidade e maior a possibilidade de que voltem a fazer a mesma escolha em outras ocasiões.
Mas eventos de grande impacto, como o ato terrorista que interrompeu a chegada dos maratonistas em Boston, deixando três mortos e mais de uma centena de feridos, revelam um novo aspecto do jornalismo de urgência, cuja característica principal é a irrelevância de uma marca na origem da notícia.
O designer digital Hong Qu, que trabalhou na equipe dos criadores do Youtube eatualmente é bolsista da Fundação Nieman para o Jornalismo, da Universidade Harvard, compilou as primeiras postagens de imagens e textos logo após a explosão da primeira bomba perto da linha de chegada da maratona e produziu uma observação esclarecedora sobre a evolução dos fatos. Sua análise (aqui, em inglês) mostra que, numa situação impactante, o contexto deixou de ser uma disputa entre jornalistas pela primazia de trazer a público a notícia em primeira mão.
Diz o pesquisador:
“No mundo atual da mídia social, telefones celulares e do ciclo em tempo real de notícias 24 horas por dia, os jornalistas enfrentam concorrentes por todo lado: testemunhas oculares, fontes oficiais e até mesmo amigos e familiares de pessoas envolvidas no acontecimento estão partilhando informações antes mesmo que as instituições tradicionais da imprensa tenham publicado a versão oficial da história.”
Boston é logo ali
O bolsista da Fundação Nieman alinha 26 postagens de informações feitas do local por cidadãos comuns, bombeiros e outras testemunhas, começando pela publicação da primeira imagem, exatamente um minuto após a explosão inicial.
Após analisar cuidadosamente a sequência de notícias, ele observa que os jornalistas seguem mantendo três capacidades no ecossistema de informações: publicização em larga escala, credibilidade e roteirização dos fatos em torno de uma história.
Embora qualquer indivíduo munido dos meios digitais possa romper o ineditismo de um fato relevante, poucos conseguem difundi-lo para uma grande audiência. Portanto, se a mídia tradicional perdeu a primazia de dar a notícia em primeira mão, resta investir no potencial de difusão, assegurar sua credibilidade e desenvolver a capacidade de compor histórias que venham a interessar o público.
A propósito, a maratona que não chegou ao fim teve como vencedor o etíope Lelisa Desisa Benti, que completou o percurso em 2h10m22s.
No caso de um evento esportivo que se transforma em tragédia, como no exemplo, o interesse do público e até mesmo o perfil da audiência mudam completamente, o que exige do profissional de imprensa também a capacidade de adaptação.
Finalmente, no que se refere à hierarquia das histórias entre os fatos de um dia, fica flutuando no ar a observação do experiente repórter e apresentador Rodolfo Gamberini, postada numa rede de jornalistas. Ele registra que é raro ver na imprensa brasileira dramas tão bem descritos como o do menino que esperava o pai e morreu na explosão da bomba em Boston, e comparou com os registros burocráticos sobre as mortes de dezenas de crianças no Afeganistão, provocadas pela ação dos drones, armas aéreas não tripuladas usadas pelas tropas americanas.
A partir da constatação de que “aquilo que está mais próximo nos toca mais”, e de que o preconceito pode definir o valor simbólico de cada vítima, ele deixa uma provocação: “No caso tupiniquim, é mais próxima a vítima de Boston do que os executados durante a madrugada em São Paulo”.
Evidentemente, a questão é complexa e envolve o impacto potencial de um fato isolado diante da História, mas não deixa de ser instigante observar como o jornalismo enxerga a humanidade conforme uma hierarquia particular, no mínimo questionável.


As bombas de Boston mataram, até hoje, três pessoas e deixaram centenas de feridos.

É provável que ontem, dia seguinte as explosões em Boston, um número maior de pessoas tenha morrido em cidades dos EUA devido a acidentes de trânsito.

Quem são eles ?

São pessoas, gentes, que enquanto pessoas não tem nome, endereço , rostos, importância.

São mortes "normais", por motivos "normais",assim como peças defeituosas que são descartadas de uma linha de produção industrial.

Peças defeituosas aparecem durante a produção assim como mortes de trânsito, intoxicações alimentar e medicamentosa também acontecem.

São mortes "normais", inevitáveis e dentro dos limites do desvio padrão daquilo que é normal, é civilizado.

Como "normais e civilizados" essas mortes não causam dramas familiares relevantes para a imprensa, para os programas de tv e os familiares dessas vítimas terão dramas "normais"na sociedade civilizada.

Já os mortos de Boston são pessoas diferentes, cadáveres para politização, defuntos da hora, vítimas  da falta de civilidade, da barbárie, deportados da vida por monstros insensíveis que insistem em dividir os espaços do mundo civilizado, moderno, higiênico, limpo e saudável.

O ato terrorista de Boston é um ato covarde, como covardes são todas as expressões do terrorismo, todas as vitimas inocentes, de bombas, drones, alimentos, medicamentos, poluição atmosférica e outros.

O mundo civilizado, higiênico e limpo não tolera o terrorismo do outro.

Aliás , no mundo civilizado e moderno, o problema é sempre o outro, revelando um pensamento exclusivista, narcísico, tribal, onde cada caverna deve ser protegida de um possível ataque do outro, o bárbaro, o irracional.

A imprensa mundial, sempre atenta aos dividendos políticos que possam advir dos fatos, depois com notícias,chora as mortes de Boston em meio as mortes e barbaridades que ela, a imprensa, noticia com banalidade diariamente e a exaustão, pois são pontos dentro do desvio padrão da sociedade civilizada, higiênca, limpa e evoluida.

Os famliares das vítimas mortas que a imprensa noticia diariamente não existem, assim como os mortos também não existem e, até mesmo as pessoas e as gentes não existem no mundo civilizado, limpo, higiênico, evoluído.

No mundo civilizado as pessoas são espectros em movimento, multidões fantasmagóricas em passagem , fatalidades necessárias do tempo civilizado que apenas cumprem seu papel aguardando o momento maior de suas vidas , quando por vontade do mundo civilizado poderão alcançar o sucesso enquanto corpos mutilados, cadáveres, apêndices de outras gentes que terão destaque com dramas e dor.

As bombas de Boston explodem diariamente nas telas de tv e nos jornais.

O caro leitor, sempre atento, deve se lembrar do caso de um menino, aqui na cidade maravilha de São Sebastião do Rio de Janeiro, que vítima de um assalto foi arrastado preso ao cinto de segurança do carro dos pais que foi roubado e com isso acabou morrendo.

O fato foi escolhido pela imprensa e seu aparato midático para ter repercussão e, assim aconteceu com direito a toda sorte de sentimentalismos por parte de repórteres, apresentadores de telejornais e os sempre "úteis e necessários" especialistas nos respectivos assuntos, que no caso foram os "especialistas" em segurança pública.

O jornal nacional da tv globo, não poupou esforços no drama e deslocou um de seus apresentadores, hoje a desencontrada Fátima Bernardes, para a residência do menino morto, com direito a entrevista em meio a um mar de lágrimas de apresentador e familiares.

O humanismo de ocasião emocionou toda a população.

O assunto foi explorado ao máximo com direito a requentadas.

Era útil para a imprensa explorar o assunto naquele momento.

Atualmente, sites de notícia na internete, trazem o caso de um menino de dez anos da cidade de BH, que foi assassinado por médicos para retirada e comércio de seus órgãos.

O pai do menino não se calou exigindo justiça e, por isso, teve que pedir asilo na Itália pois vinha sofrendo ameaças na terra do cruzeiro.

O caso , parece , que agora vai a julgamento e revela o envolvimento de políticos  do estado Minas Gerais, junto com os médicos que assassinaram o menino.

Nada disso aparece na imprensa e no seu aparato midiático, talvez porque seja mais uma morte dentro do desvio padrão daquilo que é aceitável, civilizado, higiênico, limpo.

O drama do pai do menino é apenas mais um, sem relevância, sem bombas, sem terrorismo, e , assim sendo, não merece registro.

Já a dor de Boston, nos EUA,  comove a imprensa e seu aparato midático aqui no Brasil, afinal , foi um ato bárbaro, inaceitável para os padrões de civilidade do mundo moderno e civilizado que vivemos.

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