quarta-feira, 6 de março de 2013

A Imprensa Brasileira em Campanha na Venezuela

HUGO CHÁVEZ (1954-2013)

Um pouco de justiça

Por Luciano Martins Costa em 06/03/2013 na edição 736
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 6/3/2013
A morte de Hugo Chávez Frías, presidente da Venezuela eleito seguidamente por quatro mandatos, obriga os jornais brasileiros a lhe fazer alguma justiça. Os cadernos especiais que engordam as edições dos diários na quarta-feira (6/3) trazem conteúdos tão diferentes da imagem que a imprensa nacional construiu para ele ao longo dos últimos anos, que o leitor distraído haverá de pensar que se trata de personagens diferentes. Vivo, Chávez era pintado como um ditador populista; morto, é quase um estadista revolucionário.
Articulistas dos grandes jornais lhe fazem epitáfios generosos nos mesmos espaços onde costumavam demonizar seu projeto de governo. Tabelas e infográficos revelam que, ao contrário do que se dizia, ele não afundou a Venezuela num abismo econômico; ao contrário: reduziu a pobreza, conteve o desemprego, controlou a inflação e deslocou seu país de uma posição subalterna em geopolítica e o colocou como protagonista de grandes questões mundiais. Não é pouco para quem, enquanto viveu, foi apresentado como irresponsável, autoritário, inimigo das liberdades e incompetente como chefe de Estado.
Uma comparação entre os jornais oferece alguma vantagem à Folha de S. Paulo, por duas razões muito simples: o jornal paulista trocou parte do opiniário por informações objetivas e a principal articulista convidada a fazer o perfil de Chávez, Julia Sweig, teve a humildade de reconhecer, em seu texto, que ainda é cedo para análises mais corretas do que ele representou para a Venezuela e a América Latina. “Os historiadores que se debruçarem sobre o período dentro de algumas décadas vão dispor de ferramentas mais amplas para avaliar mais profundamente o legado de Chávez”, diz a articulista.
E qual seria esse legado? Segundo o Estado de S.Paulo, antes de Chávez o Produto Interno Bruto da Venezuela era de menos de US$ 200 bilhões; em 2012, o PIB venezuelano chegou a US$ 400 bilhões. De acordo com a Folha, a inflação, que Chávez herdou num patamar acima de 35% ao ano, baixou para 23,2%, apesar da crise de 2008. E o desemprego, que era de 11,3% quando ele assumiu, caiu para 8%.
A dívida pública subiu e a violência, vista pelo número de homicídios por cem mil habitantes, aumentou muito, mas há controvérsias derivadas da melhoria nos registros policiais nesse período.
Conquistas sociais
De acordo com a visão oferecida pela Folha, Hugo Chávez foi um homem do seu tempo, radicalmente fiel ao conjunto de valores que dominaram a política latino-americana neste início de século: crescimento com inclusão social, consenso em defesa da democracia, e independência em relação à diplomacia condicionada aos interesses de segurança dos Estados Unidos.
Por conta dessa política que se opunha aos dogmas do chamado liberalismo econômico, a imprensa se vê obrigada a registrar que, em seus três mandatos integrais, a pobreza extrema caiu de 20,3% para apenas 7% da população venezuelana, um resultado superior ao fenômeno do resgate social obtido pelo Brasil no mesmo período.
Outro aspecto interessante nos indicadores apresentados pela Folha é o conjunto de gráficos sobre o crescimento do PIB nas principais economias sul-americanas, que mostram como a Venezuela, por depender exclusivamente do petróleo, sofreu o maior impacto da crise financeira de 2008, mas reagiu de maneira mais consistente do que a maioria dos países da região.
Os gráficos publicados pelo Estadão não deixam tão claras as conquistas do líder controverso e o Globo apenas cita alguns desses números em um texto de sua correspondente. O jornal carioca destaca a estatização da economia venezuelana, mas admite que “em termos de indicadores, de fato, a revolução bolivariana conseguiu reduzir de forma expressiva a pobreza”.
No mais, a imprensa brasileira discute se ele foi um caudilho, um líder populista ou um revolucionário; destaca seu temperamento histriônico, relata sua guerra com os grandes conglomerados de comunicação da Venezuela e investe em adivinhações sobre o futuro do chavismo.
Restam, então, algumas questões. Uma delas: se Chávez produziu mudanças tão radicais e positivas na economia e na sociedade venezuelanas, por que suas conquistas foram ocultadas pela imprensa brasileira enquanto ele viveu?
Se o objetivo do desenvolvimento econômico é promover crescimento com redução das desigualdades – e ele conseguiu isso sem ameaçar a democracia, como destacam os jornais –, por que razão foi demonizado desde que chegou ao poder?
A imprensa só faz justiça nos obituários?

O discurso orquestrado da grande imprensa

Durante os anos de Chavez a imprensa brasileira, em nehum momento, informou sobre as conquistas e as realizações de seu governo.
O que se via era uma demonização constante sendo uma das últimas a proferida pelo palhaço fanfarrão Arnaldo Jabor na tv globo, conforme comentário em uma postagem neste blogue, que , aliás, é censurado pela tv globo com o apoio de toda a imprensa e mídia  brasileiras.
Essa imprensa brasileira e mesmo a imprensa mundial, com raras exceções que não foram daqui do Brasil, em nenhum momento assumiu o protagonismo de ponta midiático na tentativa de golpe de estado na Venezuela no início da década passada.
Ainda hoje, sequer cita, que veículos de imprensa e emissoras de tv tiveram um papel de ponta na tentativa de derrubar um governo democraticamente eleito.
Hoje, confirmada a morte de Chavez, toda a imprensa antidemocrática do Brasil, apresenta cadernos impressos e extensas reportagens em emissoras de rádio enaltecendo e elogiando as realizações do governo Chavez.
O que está em jogo, com toda essa suposta justiça, são as eleições que ocorrerão naquele país em até trinta dias.
Nas últimas eleições presidenciais, vencidas por Chavez. o candidato da oposição e apoiado incondicionalmente pela imprensa brasileira, apresentou um discurso de campanha em que elogiava aspectos do chavismo  e ainda dizia que iria continuar grandes projetos iniciados por Chavez. 
Disse ainda se identificava com Lula e seus governos no Brasil.
Tudo mentira e retórica de campanha.
Todos sabem que Caprilles, o candidato de oposição, recém saído de uma linha de montagem neoliberal , não tem nenhum compromisso com o chavismo e nem mesmo com Lula e ainda foi um dos participantes da tentatriva de golpe para derrubar Chaves.

O que a imprensa brasileira faz hoje, elogiando Chavez, nada mais é que uma estratégia orquestrada que tem por objetivo definir o "fim do chavismo" e ao mesmo tempo estar em sintonia com o discurso oposicionista da Venezuela para as eleições dos proximos dias, que tem por objetivo conquistar chavistas moderados.
A imprensa brasileira e seu aparato midiático não produzem informações fidedignas, não são neutros, não são democráticos e muito menos tem alguma orientação de justiça.
O que fazem é política.
 

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