sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Semba de lá que eu sambo de cá

O carnaval “espetacular”

Meu coração socialista tem muitas saudades do futuro, mas os signos de metamorfose do carnaval ‘espetacular’ de Bruzundanga não podem ser ignorados

08/02/2013

Luiz Ricardo Leitão

Quem ainda se lembra do samba-enredo campeão do desfile de 2012 no Rio de Janeiro? Alguns foliões da Tijuca talvez o cantem na sua quadra – e mais ninguém logrará tal proeza. Contudo, a letra e a melodia de Bum bum paticumbum prugurundum seguem vivas em nossa memória musical, assim como outras joias do Império – basta lembrar a antológica Aquarela Brasileira, do genial Silas de Oliveira, que encantou a passarela em 1964.
Dos mais recentes, eu próprio só recordo a bela homenagem de Martinho da Vila a Noel Rosa, no centenário do Poeta, em 2010. Os leitores devem supor que este cronista padece de uma crise aguda de nostalgia, porém estão enganados. Meu coração socialista tem muitas saudades do futuro, mas os signos de metamorfose do carnaval ‘espetacular’ de Bruzundanga não podem ser ignorados.
Como já escrevi aqui nesta coluna, a conversão do desfile em um evento televisivo só fez realçar o peso dos elementos visuais na Sapucaí – e, de fato, a última escola a vencer impulsionada pelo samba foi o Salgueiro, em 1993 (!), com o seu Ita do Norte, cujo esfuziante refrão (Explode, coração, na maior felicidade...) até hoje agita as ruas do país.
A lógica irracional do mercado ditou, em grande parte, essa agonia do gênero. Por imposição das gravadoras, acelerou-se em muito a harmonia dos sambas, para que todos coubessem em um só disco. Com isso, a velha cadência de Mano Décio, Silas, Zé Katimba, Martinho & Cia. cedeu vez a uma batida frenética, de melodias padronizadas, em que raros refrões logram seduzir o público.
E quem se habituou a cantar os belos e alegres sambas da Ilha nos anos 70/80 (Domingo, O amanhã, O que será?, Bom, bonito e barato) só pode lamentar o que se ouve hoje, ‘colchas de retalho’ compostas por ‘firmas’ que concorrem em várias quadras – e de que logo se esquecerá em meio a tamanha pasteurização.E
A suposta “nostalgia”, pelo visto, não se restringe a este escriba. O sambista Zeca Pagodinho, de forma ainda mais clara e contundente, acaba de declarar, em entrevista, que não vai ao sambódromo em 2013: “Não tem Carnaval! Roubaram tudo. Acabaram com tudo o que é da cultura. Não sei que doideira deu nesse mundo aí.”
Mas a festa vai rolar em Xerém, no sítio de um amigo, com banda de música, decoração e as crianças todas enfeitadas, cantando Mamãe, eu quero, Índio quer apito e outros sucessos dos antigos carnavais. Assim como Zeca, o povo continua a fazer da festa sua forma de contestação. Cresce o número de foliões fantasiados, expressando seus sonhos, suas revoltas e, sobretudo, sua enorme criatividade.
Conforme escrevi em 2012, o carnaval volta a cumprir seu papel dentro de uma sociedade excludente e perversa, liberando as energias reprimidas pelo capital e desnudando a farsa do poder em Bruzundanga. É óbvio, também, que o “mercado” não subestima essa energia colossal e tenta cooptá-la por diversas vias – que o diga a Basf, empresa aliada do latifúndio, com os milhões investidos no desfile da Vila Isabel.
Certos tiros, porém, podem sair pela culatra – e a iniciativa da Campanha contra os Agrotóxicos de entregar uma carta à Vila foi mais que oportuna: “o agronegócio, que não “partilha, nem protege e muito menos abençoa a terra”, quer se apropriar da imagem dos camponeses e da agricultura familiar”.
Em realidade, o episódio só reitera o dilema das escolas em Bruzundanga: com as verbas do Estado e dos bicheiros, não logram mais fazer um carnaval espetacular. Por isso, a São Clemente exaltará as novelas da TV Globo, a Mocidade cantará o Rock in Rio (!) e a Beija-Flor, o Manga-larga Marchador... Quem dá mais, caro leitor? Só mesmo o sarcástico Noel para cantar a moral dessa história: “Quanto é que vai ganhar o leiloeiro / Que é também brasileiro / E em três lotes vendeu o Brasil inteiro?”

Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em Estudos Literários pela Universidade de La Habana, é autor de Noel Rosa – Poeta da Vila, Cronista do Brasil e de Lima Barreto – o rebelde imprescindível.

A gente vai se ver na globo. A gente quem, cara pálida ?


 E o carnaval chegou. 
Impossível não falar sobre os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Penso que o desfile ganhou uma dimensão  tão grande que deveria ser algo  que não estivesse ligado diretamente ao carnaval. Poderia , inclusive, acontecer em outra época do ano.
O carnaval e os desfiles das escolas de samba são eventos distintos. São poucos, bem poucos os foliões que brincam o carnaval com as escolas de samba. Nesse aspecto a maioria apenas assiste o espetáculo proporcionado pelas escolas. E assiste pela tv.
Conversando com um antigo folião, do tempo que se brincava o carnaval nas Sociedades, disse que iria assistir ao desfile na Passarela do Samba Darcy Ribeiro.
- assistir não tem graça, bom é brincar,  respondeu  de bate pronto e continuou. O carnaval não foi feito para se assistir. Ou se brinca ou se vai fazer outra coisa.
A visão de um carnaval onde a festa era garantida por qualquer um em qualquer lugar vem mudando com o tempo apesar do resgate dos carnavais de rua em cidades como o Rio de janeiro. Desde que os foliões se submetam as normas e regras estabelecidas pela prefeitura da cidade brinca-se o carnaval em blocos de rua. A brincadeira  precisa de ordem. Hummmm...
O ponto alto do carnaval, sem dúvida, é o desfile das escolas de samba e aí concordo com o autor do texto que uma mesmice repetitiva acontece.
No tocante aos sambas de enredo, ninguém conseguer se lembrar dos sambas do ano anterior, salvo alguma exceção na qualidade. Isso se deve, em grande parte, pelas regras estabelecidas para a competição, que engessam a elaboração dos sambas deixando pouca margem para a poesia e a criatividade. Escolas como a Unidos da Tijuca, usam grande parte da melodia de um samba vitorioso para os sambas dos anos seguintes. A Beija-Flor também caminha nesse sentido. Os sambas desse ano, por exemplo, ficam parecidos, melodicamente , com os sambas de anos anteriores, não só nessas escolas , mas em muitas. 
No carnaval deste ano destaque para os sambas da Vila Isabel e da Portela, sem dúvida de qualidade muito acima dos demais, sendo que o samba da Vila Isabel é poético na letra e na melodia, apesar do ritmo sempre aacelerado.
Um outro aspecto que não pode ser ignorado é a influência de tv globo na escolha dos enredos das escolas. Este ano teremos enredos, como disse o autor sobre Fama ( Salgueiro), Rock in Rio ( Mocidade), Novelas ( São Clemente ) onde certamente os produtos a  artistas da tv globo serão lembrados e apresentados por essas escolas.
Cabe ainda ressaltar que a escola Grande Rio  é porto seguro dos artistas para desfilar na Passarela. A maioria dos artistas é da tv globo. Isso já vem acontecendo há alguns anos e , "curiosamente" a escola Grande Rio sempre desfila, todos os anos, mesmo com sorteio para indicar a ordem dos desfiles,  em um horário por volta de meia noite. Alguns críticos  afirmam que esse horário , com garantia de celebridades para os telespectadores, é fundamental para manter a audiência da emissora, pelo menos até a entrada da madrugada.
Outro detalhe , também analisado pela crítica, é a distribuição de celebridades ligadas a  tv globo, por todas as escolas que desfilam.
A tv globo, com a invasão de seus artistas nas escolas e influência na esolha dos enredos, transformou o desfile das escolas de samba em mais um  programa de sua grade.

Desde a vitória da Vila Isabel, em 2006, quando cantou a latinidade e a integração dos povos da América, que somente enredos caretas e comportados vencem o carnaval do Rio. Ate mesmo a crítica política e social, que sempre foram comuns nos enredos das escolas está  sumindo, que o diga a Unidos de São Clemente, que se caracetrizou por enredos de forte crítica e humor, esse ano embarca nas novelas.


Já escrevi em outra ocasião que a exclusividade para uma emissora de tv transmitir os desfiles de escolas de samba é algo nocivo para as escolas e a cultura do samba, principalmente se esta exclusividade é  da tv globo.
Infelizmente o universo das escolas de samba é habitado por patronos , com grande poder de decisão nas escolas, mas  que não tem muita margem de manobra para peitar e fazer exigências que possam alterar não só a exclusividade mas também a qualidade das transmissões dos desfiles pela tv.
Exclusividade com a tv globo em um espetáculo da cultura popular do povo do Rio de janeiro significa um potencial perigo para a própria cultura em questão, sabedores que somos todos nós dos interesses e papéis assumidios pelas organizações globo na vida política e cultural do país ao longo de anos.

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