quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pensar e Construir

A Itália à beira da ingovernabilidade

Em porcentagens absolutas, o vencedor é a centro-esquerda do Partido Democrático, mas os números desenham um futuro nebuloso. A Itália é, no momento, um país ingovernável. A Câmara de Deputados é da coalizão de centro-esquerda, mas o Senado pertence a Berlusconi. Isso trava praticamente todas as decisões que um futuro governo possa tomar. Todos os caminhos que restam são instáveis: formar um governo estável parece um milagre. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Roma.




Roma - A Itália colocou um pé na fronteira da ingovernabilidade. Ao final das eleições legislativas realizadas domingo e segunda-feira, o Partido Democrático, movimento de centro-esquerda liderado por Luigi Bersani, ganhou as eleições, mas não o poder. A direita ressuscitada de Silvio Berlusconi e a poderosa emergência de uma força política contestadora que cresceu fora dos esquemas tradicionais da prática política deixaram a tímida esquerda italiana com uma escassa maioria para governar. Ninguém sabe hoje quem estará no poder amanhã. A centro-esquerda de Pier Luigi Bersani obteve 29,75% dos votos na Câmara de Deputados. Com isso, consegue o abono de 55% das cadeiras em jogo que o sistema outorga ao ganhador. No entanto, o caminho para o governo tropeça no Senado, onde o Povo da Liberdade, do patético Silvio Berlusconi, em coalizão com a racista Liga do Norte, faz sombra ao PD com 28,96% dos votos. Logo em seguida vem o Movimento Cinco Estrelas, do comediante genovês Beppe Grillo, que obteve 25,5% na Câmara de Deputados e 23,7% no Senado. O atual presidente do Conselho italiano, Mario Monti, ficou distante com cerca de 11% dos votos e perde assim muitas possibilidades de respaldar a centroesquerda em um futuro governo de coalizão.

As eleições não resolveram o dilema italiano e muitos prognosticaram segunda-feira à noite um retorno às urnas para dirimir a incerteza. As duas maiores surpresas desse pleito foram protagonizadas pelo movimento Cinco Estrelas e por Silvio Berlusconi. O primeiro porque conseguiu atrair centenas de milhares de eleitores enojados com o sistema político. O segundo é, indiscutivelmente, a potência eleitoral que Berlusconi ainda detém. Após vinte anos de escândalos de toda índole e há apenas alguns meses de ter deixado o país à beira do abismo moral e financeiro, Berlusconi, segue sendo o árbitro da política nacional. Pior ainda, não é improvável que seja ele quem consiga governar. Acossado pela justiça, com denúncias de conteúdo sexual e acusações de corrupção, Berlusconi sai das urnas com um êxito angustiante. As pessoas seguem acreditando em que as enganou e as manipulou como ninguém. Entre a oferta da centro-direta apresentada por Mario Monti e a direita escandalosa do “Cavaleiro”, a Itália preferiu o último.

Em porcentagens absolutas, o vencedor é a centro-esquerda do Partido Democrático, mas os números desenham um futuro nebuloso. A Itália é, no momento, um país ingovernável. A Câmara de Deputados é da coalizão de centro-esquerda, mas o Senado pertence a Berlusconi. Isso trava praticamente todas as decisões que um futuro governo possa tomar. Todos os caminhos que restam são instáveis: formar um governo estável parece um milagre. Pode-se também pensar em um acordo entre Bersani e o movimento Cinco Estrelas, mas não para governar e sim para mudar a lei dos partidos e, com uma legislação menos diabólica como método, voltar a votar.

O grande herói da noite eleitoral é indiscutivelmente Beppe Grillo. Nela recai um poder que abre um rombo na sólida frente dos partidos de governo italianos. O comediante zombou daqueles que governam e desprezam a sociedade. A Itália ingressou na noite de segunda-feira no seleto grupo de países europeus que, ao cabo de processos eleitorais celebrados em plena crise, terminam com partidos anti-sistema que obtém resultados parlamentares consequentes. O caminho foi aberto pela Grécia no ano passado, quando o movimento da esquerda radical Syriza, dirigido por Alexis Tsipras, esteve a ponto de formar o governo e depois, nas novas eleições realizadas em maio, obteve cerca de 20% dos votos. Syriza ficou como a segunda força política da Grécia, na frente do histórico e corrompido partido socialista grego, Pasok.

Quase simultaneamente, na França, a Frente de Esquerda, de Jean-Luc Mélenchon protagonizou uma penetração eleitoral espetacular par uma formação praticamente nova e em cujo interior há desde socialistas dissidentes, anarquistas libertários, ecologistas e comunistas. De uma maneira distinta, mas com um resultado mais espetacular, a Itália entrou na dissidência política. O movimento Cinco Estrelas, liderado pelo humorista Beppe Grillo, se içou a níveis desafiadores frente a uma casta política que funciona como esses sistemas de irrigação automática: só vive para si mesma, para preservar suas prerrogativas e benefícios. Cinco Estrelas rompeu o esquema. Beppe Grillo estragou a festa dos partidos de governo: o Partido Democrático, de Luigi Bersani, e o Povo da Liberdade, do sobrevivente de todas as batalhas e golpes baixos nos últimos 20 anos, o ex-presidente do Conselho Silvio Berlusconi. Esse movimento é uma mistura ousada, uma espécie de “bíblia junto al calefón”, como diz a letra do célebre tango. Se perguntarem a qualquer italiano que decidiu votar neste partido que se define como uma “comunidade”, sua resposta é inequívoca: porque quero que as coisas mudem.

A mudança é, nas sociedades ocidentais, como a irrenunciável aspiração human ao amor. Algo desejado com uma permanência física e metafísica e sempre postergado por essa tendência à incrustação e ao imobilismo que caracteriza os partidos uma vez que se instalam no poder. Contestadora, aberta e declaradamente anti-sistema, Cinco Estrelas é exatamente igual ao slogan com o qual lançou sua campanha: “o Tsunami tour”. Um tsunami cuja verdadeira capacidade de ação e de construção ainda está por se ver. Disparatado para alguns, populista para outros, Cinco Estrelas, seja como for, é a demonstração de um cansaço infinito que se volta contra a política neste século XXI, uma empresa insaciável de mentiras, manipulações, enganos, uma indústria ao serviço de uma corporação de engravatados e não ao povo que foi tentado com propostas que jamais se cumpriram. A socialdemocracia moderada do presidente francês François Hollande é uma prova amável disso: palavras, palavras, palavras.

Beppe Grillo ingresso por essa brecha de desencanto, de orfandade representativa de uma sociedade onde 8 milhões de pessoas vivem com menos de mil euros por mês – é um índice baixo na Europa – e onde um em cada três jovens não tem trabalho. Força destruidora do sistema que se propõe reparar os esquecimentos interessados da governabilidade acomodada e corrigir o sacrifício a que o neoliberalismo europeu submete a milhões e milhões de indivíduos para não perder as suas já grandiosas margens de lucro. Melhor um milhão de desempregados a mais do que 3% de lucros a menos. Com um blog, uma conta no twitter e sem jamais ter pisado num canal de televisão em um país onde os políticos dão a vida para aparecer na frente das câmeras, Beppe Grillo conquistou as massas. Há alguns anos, este humorista genovês organizou o “Vaffanculo Day”, um dia de protesto global contra os políticos. Agora o Vaffanculo passou dos protestos ás urnas e a Itália entrou em uma incerta dissidência contra o sistema.




Mais um Passo

Mais um partido que se  apresenta contrário aos partidos políticos, a política econômica e a forma de democracia existente.

Cinco estrelas, é o nome dele.

Deve se juntar ao Partido Pirata europeu, ao movimento 15 M da Espanha, ao Occupy WS dos EUA, aos movimentos gregos de rejeição aos partidos políticos.

O que todos esses partidos e movimentos tem em comum ?

Todos, sem exceção, são contrários a democracia atual  e  exigem uma democracia participativa.

Também rejeitam os partidos e políticos que se apresentam como de esquerda e direita.

O caro leitor já deve ter percebido que se trata de um movimento mundial.

Há uma grande rejeição ao sistema mundo que ainda não foi corretamente canalizada pelos novos atores políticos e , esses novos partidos e movimentos são um passo, um grande passo, porém ainda não são a solução.

No momento  eles representam a negação do sistema atual.

Para explicar ao caro leitor, a situação atual pode ser comparada a de uma pessoa quando assume, admite, que é necessário efetuar uma mudança em sua vida.

O primeiro passo é  reconhecer que é necessária uma mudança.

O segundo passo é definir o caminho a seguir.

O terceiro é implementar e consolidar as mudanças.

A partir da década de 1990 muitos partidos de esquerda foram cooptados pelo neoliberalismo .

A medida que os povos de diversos países pelo mundo começaram a ficar desencantados com os governos neoliberias de direita ou de centro direita, os partidos de esquerda, já reciclados, chegavam ao poder. 

Essa regra não foi geral, mas durante esses vinte anos sempre se viu a alternância entre centro direita e centro esquerda no poder.

Depois  do estouro da crise de 2008 , os povos começam a dizer um Não ao sistema atual, seja por protestos nas ruas, seja através das urnas.

É o primeiro passo, reconhecer que é necessário uma mudança.

Os partidos e movimentos que conseguiram canalizar esse desejo, não apresentaram alternativas programáticas anti-sistema.

Todos , de uma forma ou de outra, estão dentro do sistema e, assim sendo, são úteis ao sistema enquanto vozes sob controle.

Em suas propostas quanto ao segundo passo,todos rejeitam ideologias, o que empobrece a discussão e a criação de alternativas sólidas de mudanças estruturais.

Não há vida dentro do sistema mundo atual e o segundo passo, necessariamente, deve passar por um rompimento com o neoliberalismo.

A construção de um modelo onde a cooperação com a natureza, a economia solidária, o rendimento real e a democracia participativa sejam os principais pilares não pode ser descartado.

Como já atingimos uma massa crítica suficiente para o primeiro passo ( a maioria rejeita o sistema mundo) o momento agora é de pensar e discutir as alternativas, definir o caminho a seguir.

A América Latina tem sido o lugar onde os países, uns mais outros menos, tem se afastado do neliberalismo e , com isso, mas não apenas devido a isso, vem obtendo bons resultados. 

O MAS ( Movimento ao Socialismo) da Bolívia é uma ótima referência  e pode servir de insumo.

Nessa estranha civilização decadente em que vivemos, onde todos devem ser iguais vivendo em guetos, o poder das grandes corporações de mídia atua de forma ordenada, mundialmente, construindo realidades delirantes, certezas impossíveis e saberes superficiais. 

Romper com a grande imprensa , seu aparato midiático de entretenimento e sua indústria cultural é indispensável para todo aquele que deseja construir um pensamento crítico.

Com um bom garimpo se pode encontrar entretenimento e informação de qualidade, fora do sistema mundo.
 

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