segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Quando O Informal é a Regra

 

Quando o Informal  é a Regra


Usos e abusos da informalidade

Por Alberto Dines em 31/12/2012 na edição 727

Se o clima é obrigatoriamente festeiro/festivo tratemos de festas/festinhas.
Foi-se o tempo em que o jornalista era compulsivamente ranzinza, irônico, implicante. Marca profissional/existencial, ou simples cacoete, o marketing do questionamento ou do ceticismo tornou-se obsoleto. Esta é a hora do marketing da informalidade e da descontração.
Sem dúvida, uma vitória das redes sociais sobre a rabugice institucional da imprensa clássica. Talvez caso de fadiga, não é fácil aguentar as dores de mundo doze horas por dia, seis dias por semana.
Jornalista não desliga, empregado ou desempregado, PF ou PJ.
De qualquer forma, se a pauta natalina impõe otimismo, risadas, compras e presentes, vamos ao otimismo, risadas, compras e presentes. Sobretudo quando o antigo cidadão-telespectador transformou-se em assinante, consumidor.
Ninguém quer comprar angústias e preocupações. O que antigamente denominava-se imprensa, hoje é espetáculo, entretenimento.
No quesito festinha a equipe responsável pelo programa Em Pauta, exibido na faixa das 20 horas da GloboNews, ofereceu um show inesquecível em seguida ao Natal – 26 e 27 de dezembro de 2012 (ver aqui e aqui).
Num horário em que grande parte da população brasileira embala-se na teledramaturgia adolescente das telenovelas, e a GloboNews tenta ir na direção contrária com uma programação adulta, assistimos por duas noites consecutivas alguns jornalistas qualificados e respeitados submetidos ao ridículo papel de participantes de uma festinha de amigo-oculto (ou “amigo secreto”).
Sem improvisação
Para começar: jornalista não ganha presentes – ganha medalhas, ganha prêmios e, infelizmente, ganha obituários. A simples idéia de que possa ser aliciado por uma prenda natalina, mesmo oferecida por um/uma camarada de trabalho, contraria a imagem corporativa de seriedade e inacessibilidade. Abre brechas num comportamento que, para o grande público, deveria ter conotação missionária.
Ponto dois: a vida pessoal do/da jornalista deve ser preservada ao máximo. Um programa de TV não é página do Facebook – mesmo em emissora fechada, por assinatura. Jornalista ri, dá risada, faz piada, seduz, conquista entrevistados e o público, mas jornalista não faz brincadeirinha – pelo menos em público. Na redação, no botequim, em happy hours ou em casa é outra coisa.
Não se brinca em serviço diante do cliente/assinante.
Ponto três: jornalista não é celebridade, ao contrário, jornalista é reservado, discreto, seu ambiente natural é a temperança. Os holofotes que maneja são para os outros, os/as bobocas que se imaginam em contos de fadas eternos e não em 15 minutinhos de glória.
Ponto quatro: num momento tão tenso e crucial na vida brasileira e mundial é acintoso e doloroso tal desperdício de tempo e recursos. A brincadeira envolveu transmissão ao vivo, por satélite, entre quatro praças, uma delas em outro hemisfério. Qual o custo/benefício dessas duas meias-horas de recreio?
De quem foi a infeliz ideia não se sabe nem interessa saber, mas a atração foi planejada, exigiu “sonoras” previamente gravadas. Na cadeia de comando de uma emissora tão disciplinada e eficiente, a farrinha do amigo-oculto a descoberto não poderia ser fruto de improvisação.
O lado positivo: ficou visível o desconforto e o constrangimento de um/uma ou alguns/algumas participações. Mais desconforto e constrangimentos sente este observador obrigado por ofício a fazer reparos a uma festinha íntima/pública tão inofensiva.



O Observador que Virou Suco

O texto acima, oriundo do Observatório da Imprensa, escrito pelo nobre observador jornalista Alberto Dines.
A cor escolhida tem a ver com o que significa a grande imprensa, principalmente as empresas globo e seu culto a própria imagem.
Vamos aos fatos:

Ponto 1 : O nobre jornalista, em um passado próximo, no Observatório da Imprensa, escreveu um artigo sobre um novo quadro que então surgia no jornal nacional da tv globo.
O quadro era jn na estrada, que depois virou jn no ar pois passou a ser feito de avião.
No ínício, o jn na estrada usava um ônibus que circularia por diversas cidades do país transmitindo, ao vivo, notícias da região. Uma das primeiras aparições, do jn na estrada, foi em uma cidade do sul do páis, em um dia de temperatura baixa.
No comando do quadro estava Willian Bonner, vestido com roupas de um inverno antártico, quando ao fundo as pessoas que circulavam usavam mesmo camisas de manga curta.
Bonner surgiu no vídeo com pesados casacos e luvas de couro, o que mereceu um comentário da âncora Fátima Bernardes, no comando do telejornal, sobre o o suposto frio no local e também sobre a "elegância" do apresentador.
Bonner ficou inchado com o elogio e sorriu encolhendo-se, supostamente por causa do "frio intenso". 
O nobre observador, no dia seguinte , em seu artigo no Observatório da Imprensa, ranzinza como de costume, criticou corretamente a babaquice do quadro do jn e ainda acrescentou que o culto ao jornalista era uma marca nas empresas globo desde longas datas. Ou seja, o jornalista valia mais do que a notícia.
Isso , atualmente, acontece em todas as emissoras de tv, e não se deve, como sugeriu o nobre observador, a informalidade das redes sociais, já que a cultura de aparecer a qualquer custo se intensificou , no país, a partir do final da década de 1980, quando as redes sociais ainda não existiam. Tanto é fato , que tal cultura mereceu uma crítica bem humorada e inteligente , com o lançamento da revista Bundas, um contraponto a revista Caras, onde todo e qualquer babaca e boboca, desfilava mediocridades sobre suas vidas pessoais.
Com o jornalismo e os jornalistas não foi diferente, e no caso das empresas globo ganhou uma dimensão ainda maior, pois já fazia parte da cultura organizacional das empresas globo.

Ponto 2 : Não é apenas a vida pessoal do jornalista que deve ser preservada , mas de toda e qualquer pessoa que não faça parte da cultura idiota dos holofotes.
Jornalista não é uma entidade extracorpórea intocável e também não está imune as críticas e aos modismos, mesmo que os grotescos atuais de aparecer a qualquer custo, onde até mesmo ministros da alta corte se inserem.
Se o nobre observador acredita que jornalista não deve dar risadas e fazer piadas, isto de fato deveria acontecer por ocasião de apresentação dos telejornais, onde os jornalistas usam e abusam de expressões não verbais para induzir o telespectador ao entendimento deesjado naquilo que é noticiado. No momento do programa sobre amigo oculto, os jornalistas  alí estavam, conscientes e desejosos da evasão de suas privacidades.
O nobre observador acertou na crítica, quanto as risadas e piadas, mas errou no alvo, pois elas são abusivamente utilizadas para conduzir o telespectador no momento dos telejornais
.
Ponto 3 : O jornalista não é celebridade.
O nobre observador parece que vive em mundo nostálgico e paralelo. Tudo , já há algum tempo, mais precisamente uns 22 anos, se tranformou em espetáculo e qualquer idiota, até mesmo um  jornalista, pode ser apresentado como celebridade e ter as luzes a iluminá-lo, desde que acrescente alguns pontos a mais na audiência.
O que são os apresentadores de programas de crônica policial ? Teatralizados , idiotas , mas com grande audiência para outros idiotas, que deveriam receber críticas por parte daqueles, idiotas ou não, que se arvoram em observar a imprensa
.
Ponto 4 : O desperdício de tempo, que o nobre observador cita ter acontecido por parte de um programa onde jornalistas se reunem para uma festinha de amigo oculto, não é nada para as manipulações e omissões diárias que a grande imprensa produz em sua sanha de se comportar como um partido político de oposição ao governo federal, conforme afirmou a presidente da Associação Nacional de Jornais, a jornalista, e talvez celebridade, e quem sabe idiota, que atende pelo nome de Judith Brito.
O nobre observador, como escrevi no início do texto, já tinha abordado esse assunto com a palhaçada do jn na estrada, e ao fazê-lo, mais uma vez, em um momento apropriado para festas, não só ignora, ou desconhece a realidade medíocre de espetáculo, ou , na pior das hipóteses, pelo conteúdo e fragilidade do comentário, é parte dela.

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