quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Danuza Vai ao Show de Vanuza

Danuza Vai ao Show de Vanuza



Danuza Leão, que foi esposa de Samuel Wainer, o criador do Última Hora -- principal veículo de resistência ao cerco udenista contra Vargas nos anos 50, lamenta a ascensão do consumo de massa no Brasil. Não por ter restrições ao consumo. Mas porque ficou difícil 'ser especial' nesses tempos em que 'todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais', explica na coluna que assina na Folha.

Musicais na Broadway perderam a graça, afirma, não pelo gosto duvidoso do que se oferece ali. "Por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir", lamenta-se.

"Enfrentar 12 horas de avião para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que dão 40% de desconto, com vendedoras falando português e onde você só encontra brasileiros - não é melhor ficar por aqui mesmo?", questiona desolada diante das cancelas decaídas.

As raízes desse desencanto com o Brasil, personificado na elite caricatural assumida por Danuza, encontram uma explicação resumida no relatório da consultoria Boston Consulting Group (BCG)', divulgado nesta 3ª feira.

O estudo compara meia centena de indicadores econômicos e sociais de 150 países , coletados junto ao Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE.

O Brasil emerge desse mosaico como a nação que melhor utilizou o crescimento econômico dos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar do seu povo.

O PIB brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011. Mas os ganhos sociais obtidos no período se equiparam aos de um país que tivesse registrado um crescimento explosivo de 13% ao ano, diz a análise. Ou seja, para efeito de redução da pobreza as coisas se passaram como se o Brasil tivesse crescido bem mais que a China nos últimos cinco anos.

O salto na qualidade de vida da população, segundo a consultoria, decorre basicamente da prioridade implementada à distribuição de renda no período. Algo que Danuza Leão intui em meio às dificuldades crescentes para se distinguir do porteiro de seu prédio.

As diferenças entre eles naturalmente continuam abissais. Mas registraram a queda mais rápida da história brasileira nos anos Lula, quando a pobreza recuou à metade e 97% da infância foi para a escola. É o que demonstram também os dados do IBGE divulgados nesta 4ª feira: o índice de Gini que mede a desigualdade encontra-se hoje no menor nível em 30 anos. Ainda assim os 40% mais pobres tem apenas 11% do total da riqueza do país. Mas o deslocamento da seta na década Lula é um fato: entre 2001 e 2011, a renda dos 20% mais ricos -- equivalente a 24 vezes a dos 20% mais pobres,em 2001-caiu para 16,5 vezes em 2011.

Nada disso é captado no visor histórico de quem está obcecado em preservar espaços de um privilégio socialmente patológico, incorporado à rotina da classe dominante como se fora a extensão da paisagem tropical.

O desencanto inconsolável com o Brasil deixado por Lula inclui outras versões igualmente elitistas, mas de apelo não tão exclusivista.

O porteiro do prédio neste caso é a 'corrupção de massa' que o PT teria promovido, segundo os críticos, num aparelho de Estado antes depenado com elegância pelos donos do país.

Assim como o porteiro de Danuza, a corrupção no aparelho público agora comandado pelo PT também é real.

Não é o caso do que se convencionou chamar de Ação Penal 470 - ainda que a prática do caixa 2 de campanha, é disso que se trata, tenha igualmente nivelado o partido aos adversários, que todavia desfrutam da tolerância obsequiosa nos circuitos escandalizados com os forasteiros.

A atual operação Porto Seguro, a exemplo de outras desencadeadas pela Polícia Federal desde 2003, desnuda com generosa difusão midiática isso que antes era encoberto, pouco investigado e raramente punido.


Não é necessário revisitar o personagem do 'engavetador geral da
República', de bons serviços prestados à causa tucana, para contrastar o silencio de gavetas que agora são reviradas em agudos decibéis e cortantes editoriais.

Porém há nuances que a esquerda não pode mais ignorar.

A virtude que se cobra do campo progressista não é um dote imanente a porteiros que conquistaram o legítimo direito de viajar a prestação, tampouco a qualidade intrínseca de governantes eleitos pelos pobres.

Virtuosas --educativas-- devem ser as instituições, ancoradas em leis justas e indutoras da convivência solidária; no serviço público digno e transparente; na escola capaz de preparar cidadãos para o livre discernimento; nos bens comuns valorizados e desfrutados coletivamente; na informação plural e isenta etc.

Para isso, o partido que pretende mudar a sociedade tem a obrigação de associar à luta econômica o combate por ideias emancipadoras que ampliem o horizonte subjetivo para além do consumismo individualista. Do contrário sobra o vale tudo por dinheiro.

Entenda-se por vale tudo aquilo que leva um jovem ao crime por um par de tênis de marca. Ou o funcionário público subalterno que concede 'favores' em troca de um cruzeiro à Ilha Grande, com direito ao show da dupla 'Bruno e Marrone'.

O mais difícil na luta pelo desenvolvimento é produzir valores que não aqueles negociados em Bolsas. Não apenas esse, mas sobretudo esse passo a esquerda deve ao Brasil. E não parece recomendável adiá-lo ainda mais.

(*) Atualizado com os dados do IBGE em 28-11, às 12h06.

Postado por Saul Leblon às 16:44


No comício pelas Diretas Já, em 1984 na cidade do Rio de Janeiro, quando a TV globo não podia mais esconder a grande mobilização popular e passou a noticiar como uma uma grande "festa" do povo, a maioria da população se movimentou para a Candelária, local do comício. Um milhão de pessoas, talvez mais, estiveram alí, na rua, acompanhando o comício.

Como se tratava de uma "festa', segundo a TV globo,  o engajamento político foi diluído com a presença de muitos sempre prontos para os grandes eventos festivos. Danuza Leão foi uma delas. Alugou um apartamento em um hotel bem próximo ao palco montado  na Av. Presidente Vargas para assistir e se emocionar ao ouvir o Hino Nacional Brasileiro sendo cantado pelo povo, como ela declarou a uma emissora de TV. Assim como Danuza, outros descendentes do Brasil Império também ocuparam os apartamentos do hotel, certamente com muita champagne, para ouvir o Hino Nacional  Brasileiro e , quem sabe, aparecer nas precisas reportagens da TV globo. 

Os remanescentes do Brasil Imperial são assim. Rejeitam o povo, a cultura popular mas não perdem uma oportunidade de se juntarem ao povo para aparecer nas telas de TV exibindo suas jóias.

Ainda é assim no carnaval por ocasião dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. " na tela da TV no meio desse povo, a gente vai se ver na globo" diz a vinheta da TV globo sobre o carnaval em uma clara mensagem  para seus pares de sangue especial. Danuza, hoje, sente-se desmotivada e sem vontade de viajar para Nova York já que não existem mais os bailes da Ilha Fiscal, negros e pardos ganham espaço nas universidades e a classe média brasileira tem um pouco mais da metade da população brasileira. Assim sendo, com mais e mais pessoas inseridas na sociedade as diferênças que antes saltavam aos olhos, hoje são menos alarmantes. As diferenças de classes , antes tão marcadas e evidenciadas pelas viagens para o exterior, por exemplo,  não mais se constituem em poder. Restou o quê ?

Pelo visto, o desencanto de Danuza, revela a superficialidade de uma elite econômica, pobre em cultura e conhecimento, mas ainda ávida pelos holofotes em função, apenas, de suas generosas contas bancárias. Para tanto vale se deslocar para assistir Brunos & Marrones, desde que as lentes de TV registrem as ilustres presenças na platéia, em camarotes, claro.

Infelizmente, uma grande parcela da população brasileira, alienada pelo poder midiático, acredita que tem sangue azul e , devido a isso, não mede esforços em aparecer nas mídias. Para tanto, vale participar de games shows, mesmo que respondam que a capital da Bolívia é Bogotá, ou conseguir um lugar como destaque em uma escola de samba. 

Decadence avec elegance é o título de uma canção de Lobão que retrata muito bem o desencanto de Danuza e de toda uma cultura escravocrata, racista, elitista que não viu, ou não quer ver, que a República já chegou no Brasil.
Para de uma vez por todas jogar essa cultura no lixo, se faz necessário e com urgência a democratização de todos os meios de comunicação no país, de maneira que o povo brasileiro possa se reconhecer nas mídias e todas as vozes e nossa riquíssima cultura tenham espaço.

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