quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Primavera Popular


Primavera Popular




A primavera começou cinzenta e os desequilíbrios no clima, pesado em nossas terras, indicam um cenário sem flores. A primavera que chega para todos talvez não seja a primavera desejada por todos. A predominância de cores escuras, por vezes obscuras, indica que as trevas  ainda sequestram as luzes do povo. Prefiro escrever sobre política porém o momento exige que falemos sobre a natureza. Um espetáculo sem flores, sem precedentes na história do país, rouba a cena na estação das flores.  Com uma dedicação, que tangencia a obsessão, a grande imprensa brasileira abre todos os jardins da noite para o julgamento da ação penal 470, que acontece no Supremo Tribunal Federal - STF - amplamente divulgada com o nome de mensalão. Apesar do noticiário diário, por meses, o povo pouco sabe, ou nada sabe, do que venha a ser, de fato, o chamado mensalão. No imaginário popular, nas esquinas cinzentas da primavera o povo fala de corrupção que ele sabe da existência desde longínquas primaveras .Na primavera cinzenta, de poucas cores, nomes de empresários e políticos desfilam diariamente nos grandes meios de comunicação. A ação em julgamento é fruto de um suposto esquema de compra de votos ocorrido em um dos governos populares, com início na primavera do povo em 2002,  do Partido dos Trabalhadores - PT - na época do então Presidente Lula, retirante nordestino, operário, líder sindical, deputado constituinte, presidente do PT. Nunca na história das primaveras brasileiras se viu tanto empenho, tanta  dedicação para que possíveis envolvidos em atos ilegais sejam exemplarmente julgados, punidos e privados do contato com as flores. O STF, e seus ministros membros, jamais desfrutaram de tanta visibilidade. O jargão do Direito, reproduzido dedicadamente pela grande imprensa todos os dias, dialoga em recintos fechados ,abertos ao povo pelas lentes e câmeras das mídias. O andamento do julgamento, mediado pela grande imprensa, é percebido pelo povo nos nomes e fotos de possíveis culpados, independentemente de quaisquer outras considerações sobre o processo ou mesmo sobre práticas semelhantes, mesmo que não julgadas e punidas , em outras primaveras próximas na história política do país. Na primavera cinzenta o povo se pergunta, nas esquinas ainda sem flores, se os acusados serão punidos como medida exemplar , ou se apenas pelo fato de serem de origem humilde, popular, como sempre ocorre no país.  Nos jardins e parques encharcados pela chuva, que é necessária para florir, o povo comenta fatos passados próximos e presentes, em que representantes das elites econômicas do país, como um banqueiro tido como brilhante por essas mesmas elites, chegou a ser detido pela polícia federal ,em operação legal, por crimes financeiros. Em uma abordagem discreta e de poucas cores, a grande imprensa pouco tempo dedicou ao banqueiro, que para espanto e surpresa do povo, foi contemplado com dois habeas corpus de soltura, em um período de três dias, por um dos juízes ,que hoje, na primavera chuvosa , julga a ação contra políticos do povo. Se não bastasse, o mesmo juiz é citado em outro processo , atualmente em CPI do Congresso Nacional em que elites econômicas e partidos da oposição, sem origem popular, estão envolvidos em esquema de corrupção onde até representantes do crime organizado se fazem presentes. Quanto a esse assunto, o povo, na esperança da primavera popular ainda sem cores, se pergunta e pergunta a quem de direito, ou a quem interessar possa, o motivo de tamanha timidez e economia de informação por parte da grande imprensa. No espetáculo midiático que se transformou o julgamento do mensalão, políticos que não estão em julgamento vem sendo julgados pela grande imprensa como se fizessem parte dos acusados e , para espanto do povo ,dos pássaros e recolhimento das flores, ministros do STF repercutem o julgamento proferido nos bancos dos parques noturnos da grande imprensa.  Cabe ainda lembrar, neste início de primavera, que um jornalista da revista Veja, flagrado em conversas criminosas,  é acusado de fazer parte de uma quadrilha para plantar, na mídia das noites sem flores, acusações falsas sobre o governo e políticos do povo. Nada disso é disponibilizado , pela grande imprensa, para o povo. No julgamento midiático, espetacular do mensalão, ministros do STF levaram um puxão de orelha, até mesmo pela presidenta Dilma, pelo fato de terem produzidas  informações falsas e sem conteúdo em suas teses de justificativas de voto que seriam para punir políticos do povo. Também afloram no plenário de togas sem cores, expressões de desequilíbrio e autoritarismo por parte ministros envolvidos no julgamento. Na primavera, o povo nas ruas já percebeu que querem culpá-lo, condená-lo por crimes as vezes confusos de serem provados. Mais uma vez o povo pergunta se será ele, o único culpado. E os outros, conhecidamente e historicamente corruptos, mesmo que não estejam no escopo do julgamento do mensalão, continuarão livres, roubando o dinheiro público e julgando e prendendo os pobres e de origem popular ? A primavera popular e das cores pode estar apenas começando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário