quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Perfil Infantil


Perfil Infantil




 Impressiona a quantidade de notícias diariamente veiculadas sobre violência contra crianças e adolescentes. Jornais impressos, emissoras de rádio e programas de tv abordam o tema diariamente, por alguns anos, e , ao que parece, o problema persiste e os crimes, que deveriam diminuir com as "denúncias" da grande mídia , vem aumentando.  O número de crianças desaparecidas vem crescendo, e a maioria jamais é encontrada. As motivações para o rapto de crianças não são discutidas na mídia, assim como a provável existência de quadrilhas que atuam no ramo, também são ignoradas pela imprensa. Raptadas para sofrerem violência sexual, para o trabalho escravo em locais distantes da cidade onde residem,  para a retirada de órgãos que irão salvar vidas de endinheirados, para o tráfico internacional de pessoas, para sacrifício em práticas de seitas religiosas e outros fins, as crianças são um alvo fácil para o crime organizado , para a propaganda midiática, para os conteúdos das emissoras de tv.
A grande mídia reproduz com sensacionalismo e superficialidade o desaparecimento de crianças, assim como também o faz sobre as práticas de pedofilia e abuso sexual que as crianças sofrem. A repetição , quase que diária do tema na mídia, sem que medidas para atacar o assunto sejam implementadas e apresentadas, acaba banalizando o assunto, que é grave, transformando-o em algo corriqueiro, inserido na violência social. Para o consumidor de informação fica a sensação que " é assim mesmo", " vida é assim mesmo", " a violência existe, fazer o quê ?, "o mundo é assim mesmo", tá tudo meio maluco", " é a falta de deus nas pessoas" e outras observações similares que atestam o fato como corriqueiro. A questão, porém, não se limita aos crimes e quadrilhas que atuam. Uma criança , ou adolescente, oriunda de uma família com recursos financeiros e que necessite passar por um transplante de um determinado órgão terá, que esperar na fila para um transplante, assim como uma criança de origem pobre. Aí entram as quadrilhas oferecendo órgãos para um transplante imediato, em clínicas médicas, com médicos prontos para o serviço. Tudo , claro, por um preço que as famílias endinheiradas podem pagar. Pouco, ou quase nada, se ouve ou lê de críticas a essas práticas, inclusive de Instituições religiosas, já sobre o aborto... O mesmo se aplica quando crianças e adolescentes são enviadas para trabalho forçado e escravo  em negócios agropecuários ou até mesmo em fábricas terceirizadas, em diferentes países,para produção de produtos de consumo de grande visibilidade. Esse assunto raramente, o trabalho escravo, é abordado na grande mídia com denúncias, investigações, cobranças e nomes de empresas de grande ou pequeno porte que se utilizam dessas práticas. Há , de forma clara e inequívoca, na grande mídia, principalmente nas grandes emissoras de tv, globo, band, rede tv, sbt, record, principalmente  mas não as únicas mídias, uma blindagem protetora para grandes empresas, para o grande capital, para o sistema financeiro, para os crimes da indústria médica e farmacêutica. O foco, nessas emissoras, de crimes recaí em pessoas pobres onde todo o rigor da lei deve ser aplicado. Assim sendo,  e assim se comporta a grande mídia, o público que se alimenta dessas mídias tem uma visão equivocada da realidade e, principalmente, um profundo sentimento de negação de seus iguais, pois os criminosos apresentados são pessoas idênticas a esse público, que ele, público, rejeita e se rejeita, desejando querer ser outra coisa que ele jamais será vivendo, dessa forma , em profundo desgaste com a própria estima. Uma matéria -prima perfeita para desvios de conduta futuros, para entrar no crime, para praticar atos de violência e selvageria. Um indicativo claro, e inequívoco, desse comportamento pode ser observado através das palavras que as pessoas deixam escapar, de forma verdadeira e sem manipulações, por vontade própria, reflexo de suas percepções, manifestações de seus sentimentos, opiniões assimiladas de um rebanho cognitivamente dilacerado: " esse país é assim mesmo", "aqui nada funciona", "nós somos tudo uma merda", " aqui ninguém faz nada certo", " bom é a europa e os eua", " aqui é tudo subdesenvolvido",  " povo atrasado",  " povinho que não é nada" e outros mais. Adicione-se a esse caldo outras matérias-primas oriundas da indústria do entretenimento é aí teremos a fórmula perfeita para criação de toda sorte de pessoas desajustadas e comprometidas com a barbárie, a crueldade,a violência, ou ainda como representou o personagem de Marlon Brando no filme Apocalipse Now, a expressão viva do horror. A estratégia não poderia ser mais diabólica. Acabar com os pobres, negros, índios, idosos, amputados, pessoas com necessidades especiais, loucos, opositores do sistema, e todos aqueles que não sejam ricos e enquadrados na lógica decadente mais ainda dominante no mundo. A criminalização e prisão , por qualquer delito, ou até mesmo por opinião contrária,  deve ser uma constante por parte dos órgãos governamentais.  Enquanto isso o mundo do entretenimento estimula nas pessoas , no público, os mesmos desejos que ele diariamente acusa como criminosos . Um exemplo que ilustra bem o tema é a tv globo, principal braço de desajuste, deseducação e desinformação  da sociedade brasileira. Alguns exemplos:
- durante décadas o principal programa voltado para crianças foi apresentado por apresentadora devidamente vestida, com pouca roupa, para estimular outros desejos, mesclando no inconsciente do público o universo infantil com a sexualidade;
- a novela voltada para adolescentes da emissora, usa e abusa de cenas picantes de relacionamento amoroso entre adolescentes, com os envolvidos , quase sempre com rosto de meninas em corpo de mulher;
- a vinheta que abre as transmissões do desfile das escolas de samba, apresenta uma mulher negra, com rosto de adolescente de 15 anos, totalmente nua,
- e ainda, para terminar mas sem esgotar os exemplos, a grande discussão por conta da escolha da personagem Gabriela, na novela da emissora. A atriz escolhida foi duramente criticada pelos executivos da emissora por não apresentar uma aparência de menina, que seria desejável para o papel, Segundo os executivos da emissora, a atriz escolhida tem aparência de mulher adulta, o que não é desejável para o publico.
Nas outras emissoras citadas, da mesma forma ou de outras formas  similares, a estratégia é sempre a mesma contribuindo para que o público adquira, incorpore, assimile e pratique perfis de crianças, que irão se manifestar em todas as dimensões da vida daquelas pessoas.

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