terça-feira, 14 de agosto de 2012

Rio Zona Norte - 4 Os Ariostos da Consolação


 Os Ariostos da Consolação





Ariosto Bonifácio Saraiva, ou apenas Ariosto para todos de sua rede de contatos, é um cidadão de classe média, confortável, morando no bairro da Consolação, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Funcionário público, casado com Angelina, vive em uma bela casa em uma tranquila rua daquele bairro. Pai de Ariosto Bonifácio Saraiva Filho, que é apenas conhecido carinhosamente como Ariostinho ,é tido por todos no bairro como um homem sério e dedicado a sua família. Assim como  a maioria dos moradores do local frequenta a missa de domingo, junto com Angelina e Ariostinho. Angelina, que com o tempo engordou bastante, é uma dona de casa e mãe exemplar, entretanto tem , vez por outra, crises de raiva, que acabam sobrando para Ariosto. Em algumas ocasiões a vizinhança viu Ariosto saindo correndo de casa para fugir da fúria de Angelina. Paciente e dedicado, Ariosto sempre evita qualquer assunto que possa irritar Angelina. Ariostinho, que já está com 17 anos, é um menino comportado, estudioso e obediente. Angelina não permite que Ariostinho brinque na rua com os meninos do bairro, de maneira que sua vida se resume a escola, os cursos de idioma, as aulas de música e ainda as aulas de judô, essa última por influência de Ariosto,  apesar das  negativas de Angelina , discussões e ameças de surras no pobre homem. Já próximo de conseguir sua aposentadoria, Ariosto faz um horário bem flexível na repartição onde trabalha, sobrando um bom tempo ao longo do dia para outras atividades, sem  o conhecimento de Angelina. Sai cedo de casa e retorna sempre ao entardecer, no mesmo horário, com seu terno impecável e pacotes e sacolas de mantimentos. Ao longo do dia, durante anos, Ariosto aproveita a flexibilidade do horário parta se distrair em cassinos clandestinos, pontos de jogo do bicho , e rodas de carteado em casas de aposentados. Preocupado com com blindagem que Angelina impõe a Ariostinho, Ariosto , em cumplicidade com filho, passou a levar o menino  para algumas rodas de jogo e outras coisas mais. Quando Ariostinho completou 16 anos, Ariosto levou o garoto para conhecer um bordel, e ser inciado por uma das meninas da casa, que Ariosto conhecia bem pois era assíduo frequentador do local. A cumplicidade dos dois é total. Ariosto compreende e concorda com a dedicação de Angelina no tocante a uma boa formação profissional para o filho, mas entende , também, que conhecer a vida real  é fundamental  para o menino. Ariostinho, por sua vez, gosta, e muito, das saidinhas que faz com o pai sem o conhecimento da mãe. Entretanto, num dia em que Ariosto participava de um jogo de roleta em um cassino clandestino sua sorte não o ajudou. Uma batida policial no local fechou o cassino e levou todos que estavam no local para a delegacia. Felizmente, naquele dia Ariosto não tinha a companhia do filho. Quando a polícia chegou o pobre homem tentou fugir pela janela e acabou se machucando feio na queda, fraturando a perna direita. Ariosto, por estar ferido, foi levado para um hospital público onde passou por uma cirurgia  e ficou internado, devendo, quando se recuperasse comparecer a delegacia para  para depoimentos . A polícia avisou  a família, no caso Angelina,  que em total descontrole se dirigiu para o hospital. Chegando lá ,mesmo vendo Ariosto deitado com a perna engessada e pendurada, Angelina não se conteve e passou um interrogatório no pobre homem, que, assustado, imobilizado, respondia a Angelina dizendo que apenas se distraia nas horas livres e que não tinha nada demais no que fazia. Angelina não suportou a conversa de Ariosto e partiu pra cima do homem com tapas  e socos  que só foram interrompidos com a chegada de uma enfermeira que passava pela porta do quarto no momento. Apesar de evitar uma tragédia, a enfermeira não pode evitar que a violência de Angelina caussase uma fratura no braço direito do pobre Ariosto. Agora, além da perna direita imobilizada, Ariosto tinha o braço também engessado. Até então Angelina nada sabia que Ariostinho também participava das jogatinas com Ariosto. Em casa, conversando com o filho, e com a astúcia natural de mãe, percebeu que Ariostinho também estava envolvido com o pai. Ariostinho não resistiu a pressão e confessou que apenas em algumas ocasiões, acompanhou o pai nas jogatinas das tardes.  Angelina se transformou em uma fera. No dia seguinte, quando foi a padaria, não se conteve e contou as histórias do marido. A notícia correu rápido e todos no bairro já comentavam as aventuras de Ariosto com o jogo. Até mesmo motoristas e trocadores da linha de ônibus 422, que fazia ponto final em uma rua paralela a que Ariosto morava comentavam o fato, já que Ariosto usava o coletivo diariamente para ir para o trabalho.
- estão dizendo que o Ariosto  aprontou crocodilagem, disse o trocador
- só porque joga no bicho, replicou o motorista.
- ihhh, rapaz, e ontem deu jacaré, disse o trocador.
- com quanto, perguntou o motorista
- 2457, disse o trocador
- bom milhar, replicou o motorista demonstrando conhecimento.
Como em todo bairro de classe média da zona norte carioca a notícia corria de porta em porta. Angelina, ainda furiosa , resolveu voltar ao hospital para questionar o pobre homem. Quando entrou no quarto abriu o verbo pra cima de Ariosto que com os olhos arregalados estava em pânico. Angelina partiu pra cima do marido desferindo socos e mais socos no rosto de Ariosto que gritava por socorro. Uma enfermeira chegou ao local e , com muito sacrifício, conseguiu imobilizar Angelina, que a partir daquele dia fora proibida de visitar o marido. Ariosto teve o nariz fraturado e agora além de perna e braço tinha dificuldade para falar. Entretanto, com o passar de dois dias já sentia mais tranquilo pois Angelina não podia mais visitá-lo, Apenas Ariostinho via o pai diariamente. Quando tudo caminhava para a tranquilidade, em uma dessas ironias do destino, Luciana, a dona do bordel que Ariosto frequentava foi agredida por um freguês e teve que se internar , por  apenas um dia para recuperação. E se internou no mesmo hospital em que estava Ariosto em um quarto bem a frente do seu. Luciana era muito querida pelas meninas do bordel que, em grupo, foram visitá-la no dia seguinte. No mesmo dia Ariostinho também foi visitar o pai e , para sua agradável surpresa, se deparou com seis meninas da casa de Luciana no corredor do hospital, bem em frente ao quarto em que estava o pai. Soube que ali estavam por conta de Luciana e informou que o pai estava no quarto em frente. Ariosto , que já estava mais calmo, entrou em pânico quando Ariostinho entrou no quarto com todas as meninas do bordel. Sem poder falar direito e movendo apenas o braço esquerdo pedia para que saíssem  todas dalí o mais rápido possível. Neste momento uma enfermeira, que passava pelo local achou estranho aquela movimentação de mulheres, com roupas bem justas, saias curtas, no quarto de Ariosto. Olhou da porta para Ariosto, que disfarçando um sorriso, fez um movimento com o braço e olhos indicando serem amigas de Ariostinho. A enfermeira deu uma olhada geral, com desconfiança, claro, e deixou o local. Ariosto , em pânico total pedia para que todos saíssem, enquanto as maõs de Ariostinho, que exibia uma expressão de felicidade, cresciam para cima de uma das meninas. Uma outra menina, percebendo a aflição do pobre homem, aproximou-se da cama  e disse em total cumplicidade:
- O meu nêgo, fica calmo. Você está precisando se acalmar e relaxar
- Quer que eu quebre teu galho, perguntou olhando para a genitália de Ariosto.
O pobre homem estava a ponto de enlouquecer. Com a mão esquerda protegeu sua genitália e pedia para que fosse embora. Enquanto isso, as meninas resolveram que o melhor seria deixar Ariosto em paz, entretanto Ariostinho já estava engatando uma entrada no banheiro do quarto junto com a menina. Ariosto viu a cena, mas nada pode fazer a não ser torcer para que não chegasse ninguém naquele momento. Alguns minutos depois Ariostinho e a menina deixavam o banheiro e o rapaz demonstrava imensa felicidade. O tempo passou, Ariosto se recuperou, voltou a vida normal com Angelina e Ariostinho. O bairro da Consolação, na zona norte carioca, pode ser compreendido como um microcosmo da opinião pública de uma cidade.  Até o acidente com o pobre homem, Angelina e Ariosto construíram imagens e conceitos que formaram a opinião das pessoas do bairro sobre Ariosto. Uma opinião pública que não refletia a realidade da vida daquele homem. Com o acidente de Ariosto a opinião se  modificou, fazendo daquele homem apenas mais um mortal, igual aos demais. Patife ou canalha para os puristas, anjo ou santo para os realistas, Ariosto é apenas mais um. A história de Ariosto tem paralelos com a história da grande imprensa brasileira, principalmente no tocante aos casos chamados de mensalão e cachoeira. Durante , mais ou menos seis anos, a grande imprensa do Brasil martela diariamente a tese de que os governos populares e progressistas de Lula e Dilma, assim como parlamentares e funcionários do partido dos trabalhadores, são os responsáveis pelo maior esquema criminoso da história do país. Jornais impressos, revistas semanais, telejornais, jornais radiofônicos, parlamentares da oposição ao governo acusam o governo  de criminosos e corruptos. Todos se apresentando como paladinos da moral, da ética e da justiça, com o intuito de esculpir uma opinião pública favorável aos interesses desses setores. Entretanto, assim como aconteceu com Ariosto, um jornalista da revista Veja que se apresenta como uma mídia defensora da ética e da justiça, foi indiscutivelmente flagrado como membro de uma quadrilha , no caso a cachoeira, que tinha por objetivos perseguir políticos, empresários e desestabilizar o governo federal. O jornalista produzia falsos dossiês para atacar o governo que se transformavam em matéria de capa da revista e que também eram reproduzidos, sem qualquer questionamento, por todos os veículos da grande imprensa. Indícios revelam que a estrutura da quadrilha vem desde os tempos do chamado mensalão, que agora está sendo julgado, e que a grande imprensa , ao que parece, é parte integrante da quadrilha. Insatisfeitos pela atuação das mídias alternativas, principalmente a blogosfera que denuncia a farsa montada para esculpir uma opinião pública distorcida da realidade, a grande imprensa, agora, ameça o STF, com pesquisas de opinião pública que revelam  que a maioria deseja a condenação dos réus. .No desespero da UTI em que se encontram, a grande imprensa e oposição querem transformar a justiça em paredão de  programa de reality show, onde, o que vale de fato, é a opinião pública, mesmo que fabricada mentirosamente. Ariosto continuou sua vida normal e sua família e sua rede de contatos do bairrro nada ficaram sabendo de suas travessuras com Ariostinho no bordel. A participação da imprensa brasileira como elemento indutor ativo na tentativa de um golpe de estado para derrubar um presidente eleito, que resultou naquilo que a imprensa chama de mensalão, veio a tona com os flagrantes inquestionáveis, e assim  a opinião pública começa a perceber a verdade, que assim como a vida de Ariosto é apenas a ponta de um iceberg que deverá revelar  outros criminosos e até mesmo interesses externos ao país envolvidos no crime. Ariosto a imprensa e a opinião pública são um bom roteiro de filme, principalmente para cineastas dublê de comentarista político.

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