quarta-feira, 6 de junho de 2012

Encontros Cariocas - 4 O Antigo, O Novo e O Velho


  O Antigo, O Novo e o Velho



Um final de semana na casa de Heitor é sempre muito mais do que um final de semana. A experiência de vivenciar o novo, sem eliminar o antigo saudável, é uma constante nesses encontros. Uma ilha a frente do tempo, em um tempo que o velho e ultrapassado ainda domina o tempo, transforma a realidade presente em presente do futuro próximo para todos que por alí circulam. Cravada em uma colina da serra do mar, na mata atlântica da cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, avista-se o mar da baía de Angra, a cidade, suas ilhas. Tendo como acesso o caminho da maioria da população da cidade, espremida em morros e encostas, Heitor  vivencia os contrastres. Cidade reduto de endinheirados, proprietários de ilhas , mansões, barcos e iates, as encostas de Angra , mostram as costas da inclusão social, o ocupamento desordenado que, ao mesmo tempo, proporciona a força de trabalho para cidade,  para os ricos. Cruzando ruas estreitas de terra batida onde casas penduradas equilibram vidas chega-se em uma parte alta, plana. Todo o local é um bairro residencial, de população pobre, que paga os impostos cobrados pelo poder público. Na parte alta as poucas residências existentes são de pessoas de classe média, funcionários públicos, assalariados, pequenos comerciantes da cidade. Do local avista-se, bem a distância, mas mesmo assim ameaçadora, o complexo nuclear de Angra dos Reis. As margens da baía de Angra, as duas usinas nucleares são um monumento vivo,  produtivo, da cultura atual, do velho tempo presente que ainda predomina, um aviso que o tempo pode ser curto, um legado de poluição para centenas de milhares de anos. Ilhas paradisíacas, mansões , iates, usina nuclear, pobreza, miséria, pessoas penduradas em barracos. Talvez Angra dos Reis seja um boa imagem do mundo atual. Diante desse cenário e próximo de pessoas que bebem água de esgoto, Heitor construiu uma ilha e, ao mesmo tempo uma compreensão própria da realidade. Em nossas conversas a questão nuclear inevitavelmente se fazia presente. Professor de Física, Heitor sabe, como poucos, que a produção de energia elétrica através de usinas nucleares é desnecessária, não apenas aqui no Brasil, mas em todo o mundo , inclusive em países onde a energia elétrica gerada por usinas nucleares, é predominante na matriz energética desses países. Paradoxalmente, somente poucos meses atrás, seus vizinhos tiveram energia elétrica fornecida pelo estado, o que acelerou a ocupação da parte alta da colina, que até então tinha apenas a residência de Heitor. Em sua residência a energia elétrica é produzida através de painés fotovoltaicos aproveitando a grande incidência de luz solar na região. Um pequeno compartimento, repleto de baterias, armazena energia necessária para consumo por cinco dias sem incidência de luz solar, o que garante um fornecimento constante e a independência energética para a residência. Toda a área da propriedade é abastecida pela energia gerada no local, incluindo todos os equipamentos elétricos, eletrônicos, condicionamento de ar frio e quente, chuveiro para banho e fogão para cozinha. Todos os equipamentos ganham em tempo de vida útil, pois não estão sujeitos a quedas de fases, apagões ou oscilações da rede elétrica das companhias de distribuição de energia. Além da energia produzida em casa, toda água consumida pela família, Heitor , a mulher e dois filhos, vem da chuva devido também ao razoável índice pluviométrico da região. A água é coletada por calhas, nos telhados das edificações e direcionada para um grande tanque de armazenamento, de onde sairá para diferentes utilidades e processos de tratamento. Toda água para vasos sanitários e uma parte destinada a pequena agricultura da propriedade é direcionada para um outro tanque, sem a necessidade de tratamento. A maior parte, usada para banho, preparação de alimentos e consumo recebe o mesmo tratamento. Uma terceira parte, destinada a lavagem é direcionada para um outro tanque e recebe um tratamento específico. Há ainda um outro tanque que recebe os rejeitos líquidos, principalmente águas de lavagem. Todo esse rejeito é tratado e reutilizado na agricultura. Os rejeitos sólidos são separados em recicláveis e não recicláveis; vidro, papel/papelão, ferro, alumínio, cobre, plásticos. O material é encaminhado separado para a empresa coletora de lixo doméstico. O lixo orgãnico é reaproveitado  e utilizado na fabricação de adubos. Independente em energia elétrica, água e sem a necessidade de utilizar gás para cozinha, Heitor ainda mantém uma pequena produção de alimentos para consumo próprio. A água tratada, por um processo  majoritáriamente orgâncio de filtros, ainda recebe substância para eliminar vermes e outros microorganismos. Todo o processo é analisado e comprova-se a potabilidade da água consumida. Além disso , Heitor adiciona sais minerais  na água tratada em função das necessidades das pessoas da casa. Trimestralmente, através da análise de fios de cabelos, feita em casa por Heitor com equipamento próprio, sabe-se se alguma pessoa tem algum tipo de deficiência no tocante a alguns minerais necessários ao organismo. Após as análises a água para consumo recebe um mix de sais minerais, de maneira a  atender a todos, pelos próximos três meses. Segundo o Heitor, a família é saudável e imune a doenças , principalmente devido aos controles ,e a alimentação saudável, o que se comprova pela simples aparência de todos. Na varanda da casa , diante do cenário, a conversa rolava:
- e aí, está fazendo campanha para fechar a usina, perguntei provocando.
- a questão é complexa. Se você me perguntar se gosto da vizinhança da usina , vou dizer que não. Entretanto não é devido a isso que vou fazer campanha para fechar a usina. A questão tem que ser analisada por dois lados, o da geração de energia e o da defesa nacional. No tocante a geração de energia elétrica, nenhum país, e muito menos nós, precisamos de centrais nucleares. No tocante a defesa nacional é importante um programa nuclear. Se grandes potências tem arsenais nucleares, outros países tem o direito de desenvolver. Na questão nuclear não existe flexibilização, como o tratado de não proliferação de armas nucleares, ou se elimina toda a tecnologia nuclear no mundo ou todo mundo entra na produção de armas nucleares. O que não pode são uma meia dúzia de países com arsenal nuclear  intimidando todo o mundo.
- mas eles dizem que tem esse arsenal para proteger o mundo e não intimidar outros países
- e você acredita nisso ?
- claro que não.
- num mundo de crescente escassez de recursos naturais, de aumento da população mundial as guerras por recursos naturais tendem a aumentar. Some-se a isso a decadência das principais potências nucleares, a decadência do capitalismo, a decadência do nosso atual pacto civilizacional. A História ensina que o final é sempre assim. É lamentável, mas essa é a realidade. Some-se a isso que a tecnologia nuclear produz lixo radioativo que pode se manter emitindo alta radioatividade por mais de 100 mil anos. Você sabe o que significam 100 mil anos ? Nossa História de civilização, digo a História oficial,  é de pouco mais 6 mil anos. Estamos falando de 100 mil anos. E aí eu te pergunto. Já se vão quase 70 anos de produção industrial nuclear no mundo. Imagine a quantidade de lixo  nuclear produzida nestes quase 70 anos em todo o mundo. Prá onde foi todo esse lixo ? Você acredita que todo esse lixo foi corretamanete armazenado e monitorado ? Claro que não. Uma boa parte foi concretada, blindada e enterrada em algum lugar. Outra parte foi jogada , concretada, em fossas  abissais.  E o que se investe  em estudos para o destino do lixo é uma fortuna absurda. Falam, agora, em enterrar em grandes profundidades, 400, 500 metros.  Quem garante que em 100 mil anos a terra , com toda sua vida geológica, seus movimentos, suas transformações não possa expor esse lixo para a atmosfera ? Ninguém garante. Estão trabalhando no escuro. Grandes acidentes naturais já enterraram ilhas e civilizações, abriram gigantescas e profundas fendas. Imagine o que pode acontecer em 100 mil anos. Logo , todo esse investimento, esse investimento absurdo, não é para ter uma modalidade de geração de energia elétrica, tendo em vista as inúmeras opções de geração de energia. Falo de opções limpas. Se você fala em energia elétrica solar , eles dizem que é cara. É uma piada. Cara, segundo que critérios ? Analisando o que é investido em estudos de como guardar lixo nuclear, eles ainda tem a cara de pau de dizer que a solar e eólica são caras.
- a imprensa diz isso.
- na grande imprensa só tem papagaio vendido, maria vai com as outras neoliberais. Aliás, você sabe, a grande imprensa não é para informar. Assim sendo, meu amigo, não posso ser contra se o pais desenvolve um programa nuclear para defesa, sou contra o programa para geração de energia. Se você fica sem a defesa, eles podem jogar essa radioatividade aqui em forma de ogivas. Se o risco existe que se desenvolva armas nucleares para defesa. É diferente, por exemplo de agrotóxicos na agricultura. Nós aqui podemos fazer campanha e até eliminar o uso de agrotóxicos na agricultura, mesmo que ele seja utilizado em outros países. Com a tecnologia nuclear não dá para flexibilizar. Então, ou se elimina todo o arsenal nuclear do mundo, toda a tecnologia nuclear, ou então todo mundo tem o direito de produzir.
- é uma questão complexa.
- complexa,onde nós que defendemos um ambiente limpo, temos que conviver com o contraditório. Imagine, agora, defender essas teses entre nucleocratas da energia e ambientalistas. Os dois lados foram contrários.
- se foram contrários é porque tem visão estreita.
- pode ser. Tudo é muito complicado e a imprensa defende apenas os interesses externos. Veja a questão da água.
- o que tem a água ?
- você sabe que aqui em casa a água é tratada por mim. É uma água de excelente qualidade. Entretanto tem muita gente que não bebe água potável. Veja, não tratada não significa que não seja potável. Água de nascentes, algumas de chuva, poços artesianos, não são tratadas mas são potáveis. Falo de pessoas que bem água misturada com esgoto, e são muitas, infelizmente, no Brasil e no mundo. E aí entra a imprensa, as globo da vida. Quando eles produzem alguma matéria sobre saneamento, fazem a maior  gritaria no tocante as águas de consumo humano. Dizem, com razão, que as pessoas estão bebendo água contaminada com esgoto e que isso pode levar a morte. Entretanto, para a grande imprensa, por esperteza e também por ignorância, água é água. Não é bem assim. Ao colocar todo tipo de água na mesma garrafa, a imprensa assusta a população que pensa, por exemplo, que a água fornecida no Rio de janeiro, pela CEDAE, é poluída. E não é. A água da CEDAE chega potável nas portas das residências e a imprensa nada diz sobre isso. Aliás, quando disse , e foi em um jornal local da Band, disse  como sendo algo surpreendente. O que há por trás disso ? A imprensa está preoccupada com a saúde das pessoas?
- pelo que eu saiba o negócio deles é vender remédio e outras porcarias.
- exatamente. O negócio deles é o negócio da água mineral.
- água mineral ??
- sim. Toda a gritaria sobre água poluída, sem informar corretamente sobre águas de uma maneira geral, está ligado ao lobby de grandes empresas transnacionais, em todo o mundo, para consumir somente água mineral. Nestlé, coca-cola são algumas que estão pesado no negócio da água. Todas são grandes anunciantes de globo, por exemplo.
- desinformar para empurrar.
- é isso aí. E o lobby pela água mineral é poderoso. Já há alguns anos eles vem tentando transformar o conceito de aǵua mineral junto a governos. Água mineral , segundo nossa legislação, é aquela obtida através da exploração, autorizada pelo governo, de fontes naturais. As águas dessas fontes são analisadas e classificadas de acordo com os sais minerais existentes, pH e outras características. As empresas querem transformar em água mineral, toda água que contenha sais minerais, como a minha que trato aqui em casa.
- tipo esse repositores de sais para atletas ?
- é por aí. Tudo isso por conta de um mercado que cresce no mundo, devido a desinformação das pessoas sobre águas e práticas simples e eficazes de tratamento doméstico.
- práticas que a imprensa não informa.
- é isso aí. O negócio é empurrar água mineral. E muitas marcas não são confiáveis. Até mesmo a embalagem desses garrafões é algo não lá muito higiênico. Não sei se você se lembra, mas esses garrafões de aǵua inicialmente eram de vidro. O consumidor, não só hoje mas como ontem, entrega um garrafão na compra de outro. O vidro, suporta lavagens indefinidamente, por isso é mais caro. Já o atual de plástico, tem um número limitado de lavagens. A lavagem, para envasamento  do produto, é um processo químico feito com desinfetantes, saneantes, água e sob determinada pressão. Tive conhecimento que alguns envasadores não seguem corretamente o processo com o objetivo de esticar o tempo de vida do garrafão do plástico, tendo assim mais lucro. Isso é um crime. Esses garrafões ficam armazenados em banheiros de bares , restaurantes, sujeitos a urina, ratos, baratas e outras sujeiras. Em testes de qualidade de  águas minerais já se encontrou asa de barata, pedaço de madeira e até coliformes fecais.
- água cagada ?
- exatamente. Todo cuidado com essas águas minerais ainda é pouco. Por trás tem o lucro das empresas e  as globos da vida ajudam na desinformação.
- e ainda chamam de água mineral..
- é meu amigo, vivemos tempos em que a democracia deu lugar para a plutocracia, a cultura é substituída pelo entretenimento, o conhecimento deu lugar ao consumo, o jornalismo se transformou em propaganda,  a saúde deu lugar para a doença e por aí vai. Quando vejo, lá distante aquela central nuclear, vejo tudo isso que lhe falei. A central de Angra simboliza muito mais que uma unidade de geração de energia elétrica. Simboliza uma cultura, valores, percepções e práticas que , ao meu ver já envelheceram. Aqui,na minha ilha, tenho o novo em tecnologia, sustentabilidade, conhecimento, saúde, nutrição e qualidade de vida. Tudo em perfeita harmonia com o antigo. Já o velho, precisa sair.



Nossa imprensa esportiva....


Nossos alegres, empolgados e animados jornalistas esportivos entram em delirio na época de jogos olímpicos. Um encontro que reune atletas de todo mundo, em uma cidade do mundo, é motivo de grande atenção. Assim sendo, nossa empolgada imprensa  não economiza na cobertura, principalmente por ocasião da abertura dos jogos, onde a ansiedade acumulada explode em análises e cometários. E assim aconteceu com um empolgado e animado jornalista de uma emissora de tv por ocasião da abertura dos jogos olímpicos de Sydnei, na Austrália em 2000. Demostrando seus conhecimentos geográficos e culturais  assim se manifestou endiabrado:
- estamos vivendo um momento histórico. Os jogos de Sidney tem início na virada de mais um milênio. Sidney, essa cidade belíssima, desse país, Austrália, com uma extensão continental, e com a localização mais astral do planeta. Austrália, que em um passado distante, era uma prisão do Imperio Britânico para onde viam marginais e criminosos e que aqui construiram um país.  Todos aqui são descedentes de bandidos, que se regeneraram e construiram esta grande nação.

Ainda bem que le parou por aí. astral, bandido, regenerar

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