segunda-feira, 18 de junho de 2012

Encontros Cariocas - 5 Crianças & Sábados

   Crianças & Sábados





Hoje não tem escola. Não tem aula nem bronca, não tem prova nem cola. Hoje é dia de brincadeiras com os amigos do bairro, do condomínio. Hoje é dia de diversão, andar de bicicleta, jogar futebol, virtual , de campo ou de salão. Hoje é o dia que as crianças esperam, por dias, cinco dias, para fazer o que mais gostam, durante todo o dia. Hoje é sábado. O sábado não é um dia qualquer, é o mais esperado, desejado, festejado. É um dia de encontros, com outros, com os próprios desejos, com o ideal que se deseja. As manhãs de sábado , aqui em Ipanema, ou em outros lugares como Saquarema, Itapema, Guararema, Diadema, são sempre manhãs de sábado. Manhãs estendidas até a metade do dia, afinal sábado não é apenas mais um dia. Inevitável não sair às ruas, enquanto as crianças brincam. Momento de rever os "amigos" do bairro, que nunca cumprimentamos, mas que conhecemos por décadas. Referências mútuas, insumos para assuntos de vidas enfadonhas. Em sociedades em que o trabalho  significa, apenas, uma forma de ganhar a vida, as manhãs de sábado são válvulas de escape. A maioria aguarda, por dias, cinco dias, pelo dia sem obrigações, sem bronca do chefe, sem cartão de ponto. Caminhando por Ipanema, mas poderia ser Diadema, Itapema,  Saquarema vou revendo os amigos. Alguns posso avistar ainda a distância, anunciando um cruzamento pelo passeio. Logo que sou identificado , a expressão do amigo muda. Olha em direção ao chão, como se estivesse verificando algo nos pés, quando na realidade busca referências internas sobre mim para que possa rearrumar o rosto, e ter a expressão correta para o cruzamento inevitável. Ao cruzar comigo, os rostos falam no cumprimento mudo, entre amigos de décadas que nunca se cumprimentaram mas que dizem tudo o que pesam um do outro, sem saber que a verdade foi dita pelo susto , expresso na face, ao avistar o amigo. Avisto um colega com quem trabalhei em uma empresa, há alguns anos. Estrangeiro, viveu dez anos na cidade, em Ipanema e voltou para seu país. Certamente estava de férias. Seu caminhar, pelo calçadão da praia,  demonstrava segurança, satisfação, revelando , para ele  e outros atentos, conhecimento da cidade, dos hábitos, das esquisitices das pessoas. Fazemos o mesmo quando visitamos cidades em que já conhecemos. Sábado é um dia fantástico,para as crianças e adultos. É no sábado, por exemplo, que se vai comprar aquilo que se viu em um amigo, ou amiga, no sábado anterior e que foi motivo de longas conversas na família, entre crianças, adultos. Na sociedade do consumo turbinado e insustentável, sábado é o dia do consumo. Consumo de bens, a maioria dispensável, consumo de referências, necessidade de pertencimento, do bairro , da cidade de ser igual entre os amigos que se conhecem há décadas. As crianças, entre amigos, brincam com seus brinquedos. Os adultos , homens na maioria, levam seus carros para lavagem em um posto de combustível. Sim, o sábado é o dia nacional da lavagem de carros. Muitos ficam horas nos postos de combustível aguardando pacientemente o momento em que seus carros  serão tocados por mãos estranhas, ameaçadoras, descuidadas, perigosas e, que por isso , devem ser observados atentamente até o momento final, quando o veículo, com um brilho diamantino, é devolvido para o êxtase de seus proprietários. No meu caminhar, na manhã de sábado em Ipanema, que poderia ser em Saquarema, Diadema, Itapema, avisto um grupo , umas quatro pessoas, todos homens, parados na calçada em descontraída conversa. Reconheço um dos participantes, com quem mantive contatos em situações profissionais. Ao me reconhecer, sua expressão de sorriso vai diminuindo, fora flagrado em descontração,  sua boca se contrai, necessário uma nova face para o encontro repentino, mesmo que mudo,  apenas um cumprimento com movimentos de rostos. Sábado é o dia do consumo. Consumo  que na sociedade de consumo se transformou em um valor em si. Consumo que é estimulado para adultos e crianças. Crianças que pedem aos pais e ganham seus brinquedos e, a medida que crescem, descartam alguns, e partem para outros. Adultos que tem no consumo  uma válvula para amenizar angústias, sofrimentos, vazios existenciais, que logo voltarão para mais consumo, pequenos momentos de felicidade, com a novidade. Na sociedade de consumo de crescimento ilimitado, de bens descartáveis que cada vez duram menos, onde o valor do conhecimento não é um valor, o vazio impera. No momento em que a conferência da ONU discute a sustentabilidade, o modelo de consumo é insustentável para o planeta, e o consumo como valor não sustenta as pessoas, não garante felicidade. A sustentabilidade, assim compreendida, é muito mais que a preservação dos recursos naturais do planeta. O sábado, também, é o dia da insustentabilidade. As crianças brincando, inevitavelmente, nos levam ao pensamento de Nietzsche; " Maturidade é quando atingimos a seriedade, o comprometimento, a dedicação, a transparência, a sinceridade  das crianças quando brincam" Hoje é sábado , aqui em Ipanema, em outra cidade grande ou pequena,ou em outra localidade agitada ou serena, que pensa em momento de reflexão sobre sustentabilidade, que a vida apenas pelo consumo  não vale a pena.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Onça Parda



Notícias da Semana



Uma onça parda, sim elas ainda existem, foi atropelada em uma rodovia do estado de SP. A onça, ou melhor a foto dela, permanece já pelo terceiro dia como notícia em um portal da internete.
Uma atriz da tv globo foi notícia ao apresentar uma foto de um dos pés, de seu filho que acabara de nascer.. O pé também foi notícia, e em foto ampliada.
Também é notícia a declaração, com direito a foto da declarante, que o beijo do Neymar, aquele melhor que o Messi segundo a globo, é muito bom.
O novo carrão do jogador Fred é notícia de primeira página.
É notícia, já pelo segundo dia, que um fã beijou as pernas da mulher melão.
Uma declaração bombástica do comandante em chefe do jornal nacional para ingênuos,da tv globo, em foto onde aparece vestido com uma camisa ( com patrocinador e tudo) do São Paulo F.C., revela sua preferência por uma novela, da emissora onde trabalha,claro, que o tem deixado perplexo.
O corpo ,tratado como um corpão pelo jornal, de uma participante do reality show da emissora do reino de Deus, é notícia em primeira página.
Também é notícia, com grande destaque nos jornais, a declaração da apresentadora  do programa Bem Estar, matinal da tv globo em crise de identidade e assombrado pela concorrência  interna que se avizinha, que deseja ser a nova apresentadora do Fantástico.
É notícia a antipatia do povo da cidade  de São Paulo pela apresentadora  do jornal Hoje da tv globo.
O craque Neto foi notícia, ontem, no jornal da Bandeirantes,emissora onde trabalha,  por ter dito que o Palmeiras, que jogava contra o Grêmio, poderia fazer um gol no contra ataque , caso não levasse um primeiro. Foi tratado pelo jornal como visionário e brilhante.
Uma caixa de isopor, contendo fragmentos de crânio, deixada em um avenida movimentada do Rio de Janeiro, certamente por estudantes de medicina, foi notícia nos telejornais locais com direito a grande destaque.
A Rio +20 tem sido notícia nos principais telejornais  e jornais da grande imprensa como sendo o momento de educar as criancinhas do Brasil na questão ambiental.
Em clima de Rio+20 a grande imprensa faz o jogo da torcida. O jornal o globo, de ontem trouxe em primeira página foto onde aparecem uma plataforma da Petrobrás e um navio ecológio do Greenpeace, com os seguintes dizeres: O verde e o fóssil.
Foi notícia de grande destaque, ontem, em emissora de rádio do Rio de Janeiro,a descoberta feita por uma professora de um revólver dentro da mochila de um menino de  2 anos.
O ônibus de transporte coletivo que subiu na calçada, atropelou e matou diversas pessoas no Rio de janeiro é notícia principal já por três dias na maioria dos jornais da cidade. Jornais que pedem o nome do motorista, talvez para "julgamento" e linchamento, mas se esquecem que esses fatos são corriqueiros assim como não mergulham na análise dos problemas da mobilidade urbana.
É notícia, apenas em um jornal da internete, a cruzada da prefeitura da cidade de São Paulo para fechar centros de cultura na cidade.
Os protestos por instalação de uma comissão da verdade na Universidade de São Paulo, não são notícia na grande mídia.
O jornal local da bandeirantes , do Rio de Janeiro, continua noticinado, quase que diariamente, o número de mortos pela dengue na cidade do Rio de Janeiro.
A CPI para investigar a privataria tucana, já aprovada no congresso nacional mas ainda não instalada, é ignorada pela grande imprensa.
O conflito na Síria é tratado na grande imprensa como obra de um genocida ditador que deseja permanecer no poder. Nada se diz, nada se escreve, que por trás dos conflitos está a  máquina de guerra da OTAN, fomentando rebeliões na tentativa de pavimentar o terreno para uma possível invasão.
A notícia sobre a cura do cancer de Lula, ou não apareceu na grande imprensa ou apareceu como se o presidente tivesse sido internado mais uma vez para tratar da doença.
Os ministros e funcionários do governo Dilma, demitidos por conta de denúncias falsas produzidas pela imprensa e a quadrilha cachoeira, foram considerados inocentes. A grande imprensa , para demití-los e atacar o governo Dilma, fez enorme estardalhaço, mantendo o assunto em notícia diariamente. Agora, comprovada a inocência da maioria, a imprensa apenas publica uma nota sobre o assunto, isso quando publica.
A grande imprensa aderiu , por conta da Rio +20, a defesa da chamada Economia Verde, sem explicar para seus ingênuos leitores o que isso significa, ou seja, a economia atual maquiada em verde.
Com exceção do site Observatório da Imprensa, nenhum veículo ou jornalista da grande imprensa se interessou em investigar e aprofundar nas denúncias contidas no livro Memória de Uma Guerra Suja.
Um ativista moçambicano foi impedido de entrar no Brasil para participar da Rio +20.  Ele iria participar de um painel onde apresentaria evidências sobre os crimes cometidos pela Cia Vale do Rio Doce, em Moçambique. O jornal Brasil de Fato deu destaque em primeira página.
Alguns portais na internete, da grande imprensa, dão destaque para a abertura de novas vagas de trabalho, como atendente, na rede de lanchonetes mc'donald's.  Na imprensa alternativa, a mesma rede é notícia por pagar aos funcionários salários inferiores ao salário mínimo, caracterizando como trabalho escravo.
O slogan da campanha pela regulamentação da imprensa " REGULAMENTA, DIlMA foi ignorado pela grande imprensa.
A maioria das mortes de soldados americanos no Afeganistão aconteceu por suicídio. A notícia teve destaque somente na imprensa alternativa.
Com tantos assuntos na pauta a grande imprensa nada informa. Envolvida na quadrilha de cachoeira, citada como colaboradora de uma guerra suja, defensora do ideário e do partido que resultou na privataria tucana, avessa a avanços na questão ambiental, obcecada em blindar toda tentativa de discussão de regulamentação dos meios de comunicação, o momento é realmente, desconfortável para a imprensa. Melhor é noticiar foto de um pézinho.



Nossa imprensa esportiva...



Nossa alegre, empolgada e animada imprensa esportiva vive dias de grande ansiedade. A proximidade dos jogos olímpicos e o acontecimento da Eurocopa, mobilizam nossos intrépidos jornalistas para que o público tenha todas as informações possíveis , e até mesmo impossíveis, sobre tudo que acontece nas competições. Com uma agenda lotada de eventos não faltam análises e comentários em profundidade. Na cobertura da Eurocopa, o narrador e o comentarista, apresentaram para os telespectadores os países vencedores da competição desde a primeira edição em 1960, vencida pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS. Com a Rússia participando da edição atual, tanto o comentarista como o narrador afirmaram que a Russia foi a campeã de 1960. Entretanto não atribuiram a Ucrania, também participante desta edição o título de 1960.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Rio de Janeiro - 13 Para Não Dizer Que Não Falei de Futebol

Rio de Janeiro - 13    Para Não Dizer Que Não Falei de Futebol




No início desta postagem, uma pressão atormenta o autor. Com o tempo bastante reduzido para tratar assuntos que exigem tempo  livre, o cursor do monitor , exigindo uma nova palavra a ser digitada, revela o tempo que passa, a palavra que ainda não veio, o texto que se faz necessário. O diálogo com o monitor, ao som das teclas sendo manuseadas, aprofunda o tempo, silencia a palavra, clama pelo texto. A criação se faz, pela dúvida, angústia, pelo tempo , pelo pulsar do cursor, pelo diálogo com a máquina, que nada mais é que um diálogo com o autor, com texto que não vem, com o tempo que vai. A angústia da palavra perfeita , pedida incesantemente pelo pulsar do cursor, é o sofrimento da criação. O marcador de tempo, ao lado direito no canto baixo, do monitor é implacável.  Nesses tempos, em que os olhos do mundo se voltam para o Rio de janeiro, o tempo é curto para as necessidades dos homens, do planeta , da vida. A conferência sobre o meio ambiente, a Rio +20, trata do nosso tempo, do tempo futuro, do tempo perdido, do tempo da terra, do tempo da vida. Certamente seria o assunto a ser abordado , com as mudanças climáticas que alteram o tempo nas cidades, o nível dos oceanos, os humores dos animais. Vinte anos se passaram da Rio 92, duas décadas, um bom tempo, para que medidas fossem tomadas, já naquela ocasião numa corrida contra o tempo, para aliviar o sofrimento da Terra, dos animais , dos vegetais. Agendas foram estabelecidas, protocolos foram firmados, medidas concretas, porém, não foram tomadas. Os vinte anos que se passaram, não foram anos em que se priorizassem a luz, a vida, os animais, as pessoas . A primeira década, e ao mesmo tempo a última do século XX, foi a década das trevas, do reinado neoliberal, da tortura a democracia, da homogeneização da ignorância, da exclusão de todas as formas de vida. Não foi um tempo, em que a Terra estivesse no centro de todas as preocupações, pelo contrário, o que se discutia, o que se via, o que se lamentava, era a obsessiva ocupação de todos os espaços, a exploração voraz de todos os recursos naturais, o exôdo cada vez maior de populações afetadas, um gigantesco contingente de pessoas sendo jogado na míseria. Tudo em nome em em privilégio de poucos, para poucos. As formas e métodos de extração e produção  não permitem que todos possam usufruir do tempo presente, construindo uma civilização para o tempo futuro, onde somente poucos, bem poucos, possam viver. O crescimento ilimitado, a generosidade infinita do planeta, já apresentam sinais inequívocos, desde o tempo da Rio 92, que o modelo atual é um fracasso total, talvez o maior de todos os tempos no contexto de um consenso civilizacional em escala global. Assim sendo, ainda na expectativa do meu tempo, para encontrar um assunto a ser abordado nesse artigo, torna-se inevitável a escancarada interdependência entre  todos os grandes temas  do momento na imprensa brasileira. O garimpo em busca da  verdade, em que memórias de uma guerra suja,  sobre o tenebroso período da ditadura militar, certamente irá clarear o comportamento sobre a violência no tempo presente. Também trará luz, sobre as cahoeiras de corrupção que inundam a vida do país. Corrupção que aflora pelas denúncias de livros sobre  privatarias, que ainda não foram investigadas. Privatarias, que nasceram no período das trevas, em que a terra não foi ouvida. Privatizações estranhas, que evoluiram para mesadas, que evoluiram para tentativas de golpes de estado, onde a imprensa , ainda no tempo presente, deseja ocupar o lugar da alta corte, e julgar e condenar seus adversários políticos. Política que agoniza com as atuais formas de representação da democracia, representativa, mas que , no tempo presente, não representa os interesses dos povos , da vida da terra. Política sequestrada por não políticos, para benefício de poucos apostadores, em uma economia irreal. Economia que não suporta os atuais meios de extração e produção de bens, beneficiando apostadores, corruptos, não políticos, torturadores que , de forma cínica e mentirosa, característica do tempo presente, dizem estar a serviço da humanidade do planeta. Planeta, que grita por um modelo sustentável, que é o assunto da Rio + 20, onde corruptos, torturadores, mentirosos, não políticos, exploradores, assassinos, estarão discutindo o presente, o futuro. Assim , nossa imprensa, em um cardápio variado de assuntos, no tempo presente, não demonstra clareza na abordagem dos temas. Ignora uma CPI  que já foi criada e que ainda não foi instalada. Não se sente a vontade com a comissão da verdade. Ignora as memórias de uma guerra suja. Apela para uma grande mesada  que não aconteceu, ou , se aconteceu, foi com seus parceiros políticos. Trata a questão ambinetal com sendo assunto para o futuro, assim como fez na Eco 92, em 1992. Prefere fofoca , onde ministro desiquilibrado está no foco. São inúmeros os assuntos, mas o tempo é curto. O cursor é implacável. O relógio um carrasco. Assim, teremos nos próximos dias, desse tempo de dúvidas, uma imprensa confundindo os leitores, acusando governos democratas em processo de reeleição, em ditadores. Ocultando os assuntos, fragmentando os contextos, infantilizando o noticiário ambiental. Como a pauta, repleta de assuntos, não atende aos interesses da grande imprensa, é bem provável, nestes tempos de mentira, que novos factóides apareçam para desviar a atenção dos desatentos leitores, telespectadores e ouvintes da grande imprensa. Entretanto nem tudo está perdido, o Vasco é líder do campeonato brasileiro de futebol.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Encontros Cariocas - 4 O Antigo, O Novo e O Velho


  O Antigo, O Novo e o Velho



Um final de semana na casa de Heitor é sempre muito mais do que um final de semana. A experiência de vivenciar o novo, sem eliminar o antigo saudável, é uma constante nesses encontros. Uma ilha a frente do tempo, em um tempo que o velho e ultrapassado ainda domina o tempo, transforma a realidade presente em presente do futuro próximo para todos que por alí circulam. Cravada em uma colina da serra do mar, na mata atlântica da cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, avista-se o mar da baía de Angra, a cidade, suas ilhas. Tendo como acesso o caminho da maioria da população da cidade, espremida em morros e encostas, Heitor  vivencia os contrastres. Cidade reduto de endinheirados, proprietários de ilhas , mansões, barcos e iates, as encostas de Angra , mostram as costas da inclusão social, o ocupamento desordenado que, ao mesmo tempo, proporciona a força de trabalho para cidade,  para os ricos. Cruzando ruas estreitas de terra batida onde casas penduradas equilibram vidas chega-se em uma parte alta, plana. Todo o local é um bairro residencial, de população pobre, que paga os impostos cobrados pelo poder público. Na parte alta as poucas residências existentes são de pessoas de classe média, funcionários públicos, assalariados, pequenos comerciantes da cidade. Do local avista-se, bem a distância, mas mesmo assim ameaçadora, o complexo nuclear de Angra dos Reis. As margens da baía de Angra, as duas usinas nucleares são um monumento vivo,  produtivo, da cultura atual, do velho tempo presente que ainda predomina, um aviso que o tempo pode ser curto, um legado de poluição para centenas de milhares de anos. Ilhas paradisíacas, mansões , iates, usina nuclear, pobreza, miséria, pessoas penduradas em barracos. Talvez Angra dos Reis seja um boa imagem do mundo atual. Diante desse cenário e próximo de pessoas que bebem água de esgoto, Heitor construiu uma ilha e, ao mesmo tempo uma compreensão própria da realidade. Em nossas conversas a questão nuclear inevitavelmente se fazia presente. Professor de Física, Heitor sabe, como poucos, que a produção de energia elétrica através de usinas nucleares é desnecessária, não apenas aqui no Brasil, mas em todo o mundo , inclusive em países onde a energia elétrica gerada por usinas nucleares, é predominante na matriz energética desses países. Paradoxalmente, somente poucos meses atrás, seus vizinhos tiveram energia elétrica fornecida pelo estado, o que acelerou a ocupação da parte alta da colina, que até então tinha apenas a residência de Heitor. Em sua residência a energia elétrica é produzida através de painés fotovoltaicos aproveitando a grande incidência de luz solar na região. Um pequeno compartimento, repleto de baterias, armazena energia necessária para consumo por cinco dias sem incidência de luz solar, o que garante um fornecimento constante e a independência energética para a residência. Toda a área da propriedade é abastecida pela energia gerada no local, incluindo todos os equipamentos elétricos, eletrônicos, condicionamento de ar frio e quente, chuveiro para banho e fogão para cozinha. Todos os equipamentos ganham em tempo de vida útil, pois não estão sujeitos a quedas de fases, apagões ou oscilações da rede elétrica das companhias de distribuição de energia. Além da energia produzida em casa, toda água consumida pela família, Heitor , a mulher e dois filhos, vem da chuva devido também ao razoável índice pluviométrico da região. A água é coletada por calhas, nos telhados das edificações e direcionada para um grande tanque de armazenamento, de onde sairá para diferentes utilidades e processos de tratamento. Toda água para vasos sanitários e uma parte destinada a pequena agricultura da propriedade é direcionada para um outro tanque, sem a necessidade de tratamento. A maior parte, usada para banho, preparação de alimentos e consumo recebe o mesmo tratamento. Uma terceira parte, destinada a lavagem é direcionada para um outro tanque e recebe um tratamento específico. Há ainda um outro tanque que recebe os rejeitos líquidos, principalmente águas de lavagem. Todo esse rejeito é tratado e reutilizado na agricultura. Os rejeitos sólidos são separados em recicláveis e não recicláveis; vidro, papel/papelão, ferro, alumínio, cobre, plásticos. O material é encaminhado separado para a empresa coletora de lixo doméstico. O lixo orgãnico é reaproveitado  e utilizado na fabricação de adubos. Independente em energia elétrica, água e sem a necessidade de utilizar gás para cozinha, Heitor ainda mantém uma pequena produção de alimentos para consumo próprio. A água tratada, por um processo  majoritáriamente orgâncio de filtros, ainda recebe substância para eliminar vermes e outros microorganismos. Todo o processo é analisado e comprova-se a potabilidade da água consumida. Além disso , Heitor adiciona sais minerais  na água tratada em função das necessidades das pessoas da casa. Trimestralmente, através da análise de fios de cabelos, feita em casa por Heitor com equipamento próprio, sabe-se se alguma pessoa tem algum tipo de deficiência no tocante a alguns minerais necessários ao organismo. Após as análises a água para consumo recebe um mix de sais minerais, de maneira a  atender a todos, pelos próximos três meses. Segundo o Heitor, a família é saudável e imune a doenças , principalmente devido aos controles ,e a alimentação saudável, o que se comprova pela simples aparência de todos. Na varanda da casa , diante do cenário, a conversa rolava:
- e aí, está fazendo campanha para fechar a usina, perguntei provocando.
- a questão é complexa. Se você me perguntar se gosto da vizinhança da usina , vou dizer que não. Entretanto não é devido a isso que vou fazer campanha para fechar a usina. A questão tem que ser analisada por dois lados, o da geração de energia e o da defesa nacional. No tocante a geração de energia elétrica, nenhum país, e muito menos nós, precisamos de centrais nucleares. No tocante a defesa nacional é importante um programa nuclear. Se grandes potências tem arsenais nucleares, outros países tem o direito de desenvolver. Na questão nuclear não existe flexibilização, como o tratado de não proliferação de armas nucleares, ou se elimina toda a tecnologia nuclear no mundo ou todo mundo entra na produção de armas nucleares. O que não pode são uma meia dúzia de países com arsenal nuclear  intimidando todo o mundo.
- mas eles dizem que tem esse arsenal para proteger o mundo e não intimidar outros países
- e você acredita nisso ?
- claro que não.
- num mundo de crescente escassez de recursos naturais, de aumento da população mundial as guerras por recursos naturais tendem a aumentar. Some-se a isso a decadência das principais potências nucleares, a decadência do capitalismo, a decadência do nosso atual pacto civilizacional. A História ensina que o final é sempre assim. É lamentável, mas essa é a realidade. Some-se a isso que a tecnologia nuclear produz lixo radioativo que pode se manter emitindo alta radioatividade por mais de 100 mil anos. Você sabe o que significam 100 mil anos ? Nossa História de civilização, digo a História oficial,  é de pouco mais 6 mil anos. Estamos falando de 100 mil anos. E aí eu te pergunto. Já se vão quase 70 anos de produção industrial nuclear no mundo. Imagine a quantidade de lixo  nuclear produzida nestes quase 70 anos em todo o mundo. Prá onde foi todo esse lixo ? Você acredita que todo esse lixo foi corretamanete armazenado e monitorado ? Claro que não. Uma boa parte foi concretada, blindada e enterrada em algum lugar. Outra parte foi jogada , concretada, em fossas  abissais.  E o que se investe  em estudos para o destino do lixo é uma fortuna absurda. Falam, agora, em enterrar em grandes profundidades, 400, 500 metros.  Quem garante que em 100 mil anos a terra , com toda sua vida geológica, seus movimentos, suas transformações não possa expor esse lixo para a atmosfera ? Ninguém garante. Estão trabalhando no escuro. Grandes acidentes naturais já enterraram ilhas e civilizações, abriram gigantescas e profundas fendas. Imagine o que pode acontecer em 100 mil anos. Logo , todo esse investimento, esse investimento absurdo, não é para ter uma modalidade de geração de energia elétrica, tendo em vista as inúmeras opções de geração de energia. Falo de opções limpas. Se você fala em energia elétrica solar , eles dizem que é cara. É uma piada. Cara, segundo que critérios ? Analisando o que é investido em estudos de como guardar lixo nuclear, eles ainda tem a cara de pau de dizer que a solar e eólica são caras.
- a imprensa diz isso.
- na grande imprensa só tem papagaio vendido, maria vai com as outras neoliberais. Aliás, você sabe, a grande imprensa não é para informar. Assim sendo, meu amigo, não posso ser contra se o pais desenvolve um programa nuclear para defesa, sou contra o programa para geração de energia. Se você fica sem a defesa, eles podem jogar essa radioatividade aqui em forma de ogivas. Se o risco existe que se desenvolva armas nucleares para defesa. É diferente, por exemplo de agrotóxicos na agricultura. Nós aqui podemos fazer campanha e até eliminar o uso de agrotóxicos na agricultura, mesmo que ele seja utilizado em outros países. Com a tecnologia nuclear não dá para flexibilizar. Então, ou se elimina todo o arsenal nuclear do mundo, toda a tecnologia nuclear, ou então todo mundo tem o direito de produzir.
- é uma questão complexa.
- complexa,onde nós que defendemos um ambiente limpo, temos que conviver com o contraditório. Imagine, agora, defender essas teses entre nucleocratas da energia e ambientalistas. Os dois lados foram contrários.
- se foram contrários é porque tem visão estreita.
- pode ser. Tudo é muito complicado e a imprensa defende apenas os interesses externos. Veja a questão da água.
- o que tem a água ?
- você sabe que aqui em casa a água é tratada por mim. É uma água de excelente qualidade. Entretanto tem muita gente que não bebe água potável. Veja, não tratada não significa que não seja potável. Água de nascentes, algumas de chuva, poços artesianos, não são tratadas mas são potáveis. Falo de pessoas que bem água misturada com esgoto, e são muitas, infelizmente, no Brasil e no mundo. E aí entra a imprensa, as globo da vida. Quando eles produzem alguma matéria sobre saneamento, fazem a maior  gritaria no tocante as águas de consumo humano. Dizem, com razão, que as pessoas estão bebendo água contaminada com esgoto e que isso pode levar a morte. Entretanto, para a grande imprensa, por esperteza e também por ignorância, água é água. Não é bem assim. Ao colocar todo tipo de água na mesma garrafa, a imprensa assusta a população que pensa, por exemplo, que a água fornecida no Rio de janeiro, pela CEDAE, é poluída. E não é. A água da CEDAE chega potável nas portas das residências e a imprensa nada diz sobre isso. Aliás, quando disse , e foi em um jornal local da Band, disse  como sendo algo surpreendente. O que há por trás disso ? A imprensa está preoccupada com a saúde das pessoas?
- pelo que eu saiba o negócio deles é vender remédio e outras porcarias.
- exatamente. O negócio deles é o negócio da água mineral.
- água mineral ??
- sim. Toda a gritaria sobre água poluída, sem informar corretamente sobre águas de uma maneira geral, está ligado ao lobby de grandes empresas transnacionais, em todo o mundo, para consumir somente água mineral. Nestlé, coca-cola são algumas que estão pesado no negócio da água. Todas são grandes anunciantes de globo, por exemplo.
- desinformar para empurrar.
- é isso aí. E o lobby pela água mineral é poderoso. Já há alguns anos eles vem tentando transformar o conceito de aǵua mineral junto a governos. Água mineral , segundo nossa legislação, é aquela obtida através da exploração, autorizada pelo governo, de fontes naturais. As águas dessas fontes são analisadas e classificadas de acordo com os sais minerais existentes, pH e outras características. As empresas querem transformar em água mineral, toda água que contenha sais minerais, como a minha que trato aqui em casa.
- tipo esse repositores de sais para atletas ?
- é por aí. Tudo isso por conta de um mercado que cresce no mundo, devido a desinformação das pessoas sobre águas e práticas simples e eficazes de tratamento doméstico.
- práticas que a imprensa não informa.
- é isso aí. O negócio é empurrar água mineral. E muitas marcas não são confiáveis. Até mesmo a embalagem desses garrafões é algo não lá muito higiênico. Não sei se você se lembra, mas esses garrafões de aǵua inicialmente eram de vidro. O consumidor, não só hoje mas como ontem, entrega um garrafão na compra de outro. O vidro, suporta lavagens indefinidamente, por isso é mais caro. Já o atual de plástico, tem um número limitado de lavagens. A lavagem, para envasamento  do produto, é um processo químico feito com desinfetantes, saneantes, água e sob determinada pressão. Tive conhecimento que alguns envasadores não seguem corretamente o processo com o objetivo de esticar o tempo de vida do garrafão do plástico, tendo assim mais lucro. Isso é um crime. Esses garrafões ficam armazenados em banheiros de bares , restaurantes, sujeitos a urina, ratos, baratas e outras sujeiras. Em testes de qualidade de  águas minerais já se encontrou asa de barata, pedaço de madeira e até coliformes fecais.
- água cagada ?
- exatamente. Todo cuidado com essas águas minerais ainda é pouco. Por trás tem o lucro das empresas e  as globos da vida ajudam na desinformação.
- e ainda chamam de água mineral..
- é meu amigo, vivemos tempos em que a democracia deu lugar para a plutocracia, a cultura é substituída pelo entretenimento, o conhecimento deu lugar ao consumo, o jornalismo se transformou em propaganda,  a saúde deu lugar para a doença e por aí vai. Quando vejo, lá distante aquela central nuclear, vejo tudo isso que lhe falei. A central de Angra simboliza muito mais que uma unidade de geração de energia elétrica. Simboliza uma cultura, valores, percepções e práticas que , ao meu ver já envelheceram. Aqui,na minha ilha, tenho o novo em tecnologia, sustentabilidade, conhecimento, saúde, nutrição e qualidade de vida. Tudo em perfeita harmonia com o antigo. Já o velho, precisa sair.



Nossa imprensa esportiva....


Nossos alegres, empolgados e animados jornalistas esportivos entram em delirio na época de jogos olímpicos. Um encontro que reune atletas de todo mundo, em uma cidade do mundo, é motivo de grande atenção. Assim sendo, nossa empolgada imprensa  não economiza na cobertura, principalmente por ocasião da abertura dos jogos, onde a ansiedade acumulada explode em análises e cometários. E assim aconteceu com um empolgado e animado jornalista de uma emissora de tv por ocasião da abertura dos jogos olímpicos de Sydnei, na Austrália em 2000. Demostrando seus conhecimentos geográficos e culturais  assim se manifestou endiabrado:
- estamos vivendo um momento histórico. Os jogos de Sidney tem início na virada de mais um milênio. Sidney, essa cidade belíssima, desse país, Austrália, com uma extensão continental, e com a localização mais astral do planeta. Austrália, que em um passado distante, era uma prisão do Imperio Britânico para onde viam marginais e criminosos e que aqui construiram um país.  Todos aqui são descedentes de bandidos, que se regeneraram e construiram esta grande nação.

Ainda bem que le parou por aí. astral, bandido, regenerar

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Encontros Cariocas - 3 A Matrix Criminosa

Encontros Cariocas - 3     A Matrix Criminosa



Chegava em um posto de atendimento do estado para renovar meu cartão de transporte coletivo. Acabara de almoçar e esperar algum tempo por alí não era uma má idéia. Retirei a senha para atendimento e levei um susto. Número 845.
Olhei ao redor e notei que o número de pessoas que aguardavam atendimento não era grande. Olhei no painel e a chamada indicava o número 73 para o próximo atendimento. Fui me informar com um atendente do posto sobre o tempo que levaria para chegar no meu número e, para minha felicidade, ele disse que o painel não estava funcionando e que a chamada era feita pelo atendente, não necessariamente em uma ordem crescente, logo deveria ficar atento pois não iria demorar. Fui me sentar. Sentei ao lado de uma mulher acompanhada de um menino, provavelmente seu filho, que deveria ter algo em torno de cinco anos. A criança estava impaciente e parecia brigar e discutir com a mãe. Logo inaugurou uma choradeira. Procurei me desligar e pensar no encontro com João e Maria. Resolvi que faria uma visita de surpresa aos dois em segu. Um comentarista ex-atleta, durante os últimos jogos pan americanos de Guaida. O menino chorava e brigava com a mãe que por sua vez não dava muita atenção, pois estava envolvida com a leitura de um jornal popular. Notei uma foto no jornal onde aparecia um cadáver sem cabeça. João e Maria são amigos de longa data e moram em um confortável mini-sítio em jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. João nasceu e cresceu no interior,  descendente de escravos e índios. Não chegou a fazer um curso superior , porém é dono de uma notável sabedoria, principalmente no tocante a plantas e raízes, além , claro, de toda a sabedoria de seus ancestrias. Já Maria é urbana, formada em Nutrição. O casamento foi perfeito, em todos os aspectos. O menino além de chorar começa a bater na mãe, que continua mergulhada no jornal.Com os filhos já adultos, vivendo em outras cidades, eles se dedicam ainda mais aos estudos e cursos de especialização, João como raízeiro e Maria como Nutricionista. Encontrá-los é sempre agradável e eles ficam felizes com as visitas dos amigos. O menino grita e chora tanto que chama atenção de todos. A mãe , que já demonstrara alguma impaciência solta um grito que movimenta todos os olhos em sua direção. Disse ela; " sai de minha beira, criatura. vê se pára quieto" No mesmo momento teve seu número chamado, e o menino, claro, depois dessa , abriu ainda mais o berreiro. Uma atendente, percebendo a cena, deu atenção ao menino para que a mãe pudesse ser atendida. Impressionou-me a atenção dos atendentes. O menino, agora tendo atenção, parecia mais calmo e conversava com a atendente. Desembaraçado, o garoto falava muito e apontava em direção a mãe, certamente se queixando de algo. Pelo menos os ânimos se acalmaram , a choradeira acabou, a mãe foi atendida com tranquilidade. Pegou o menino e foram embora. Logo em seguida fui também atendido.
O porteiro pede meu nome e avisa que vai entrar em contato com João. Autoriza minha entrada. Até a casa de joão é uma boa caminhada. O condomínio é grande, bem cuidado e arborizado. Ao me aproximar , vejo João no portão, esperando minha chegada. Vestido com um  macacão de jardineiro, suas inseparáveis sandálias e aquela inconfundível expressão de serenidade. Depois de um abraço fraterno, disse-me:
- sabia que hoje teríamos visita.
- alguma  faca caiu no chão, perguntei
- exatamente, disse com um largo sorriso
- venha, vamos entrar
Uma subida leve, entre jardins floridos por todos os lados, leva até a entrada principal. Na porta surge Maria que também inaugura um belo e sincero sorriso. A presença de ambos e o lugar criam uma atmosfra extremamente agradável.
- sabíamos que teríamos uma visita  surpresa e que seria agradável, disse Maria
- João me falou. foi a faca, não é ? Mas como vocês sabem que seria agradável?
- entre, disse João.
Nos acomodamos em sofás e poltronas na sala.
- então, disse Maria. Como você sabe a espada tem um simbolismo que nos remete a tempos remotos. Sempre esteve associada a defesa, a proteção e também a luta. Quando uma faca, que é a espada dos tempos remotos, cai no chão de sua casa, significa que você, de alguma forma perdeu uma proteção. Uma surpresa lhe aguarda, Se a faca não cair em você, não tocar em você, significa um visita agradável. Se tocar em você não será agradável.
- esse detalhamento eu desconhecia, disse olhando para João.
Depois de algumas conversas sobre a vida de cada um, os assuntos, como não poderia deixar de ser , evoluiram para as questões profissionais e a vida contemporânea. Antes, claro, Maria serviu um delicioso hambúrger de soja, pão integral, e suco de laranja.
- atualmente estamos dividindo  nosso tempo tempo entre a casa, cursos que ministramos e estudos, disse joão.
- os cursos são ministrados por vocês ?
- abordam as questões acadêmicas, práticas e a sabedoria popular. Os instrutures somos nós.  A receptividade tem sido excelente.
- mas devem surgir polêmicas, com as questões ditas não acadêmcias, , não ?
- muito pouco. quem procura os cursos já sabe de antemão o enfoque. Isso não exclui, de vez em quando, a presença de algum fundamentalista cartesiano, Sabe como é ?
- nesas ocasiões a discussão fica boa, disse Maria. Nossos cursos não são voltados , apenas, para consumidores. Nós exploramos hábitos e práticas, principalmente no que diz respeito a alimentação e cuidados com saúde. Como você sabe, toda a propaganda de alimentos e medicamentos induz a população ao que existe de pior.
- mas não é proposital, perguntei
- claro, continuou Maria. A propaganda de alimentos, principalmente na tv, que é a mídia de grande alcance,  é criminosa. Só se veicula alimentos industrializados, de baixíssimos valores nutricionais e altamente calóricos.
- daí a obesidade...
- com certeza. As pessoas não são culpadas se ficam obesas ou doentes. Elas não tem culpa se não são corretamente informadas sobre hábitos alimentares e de saúde. Nossa formação, inclusive a sua, favorece um conhecimento sobre essas questões. Já a maioria das pessoas não tem a mínima idéia  do que come, isso no tocante a que tipo de nutrientes estão ingerindo. Quem deveria informar, educar, faz o oposto, desinforma e deseduca. Certa ocasião, e eu guardei a data, foi em maio de 2003, Jô Soares, em seu programa, afirmou, com aquele ar de sabedoria para incautos, que a medicina preventiva é algo que não existe. Isso é um absurdo. Recentemente , no programa fantástico, aquele doutor midiático, o Drauzio Varela, apresentou uma matéria em que afirmava que a fitoterapia não funciona, não cura. Outro absurdo, já que grande parte de substâncias, que são princípios ativos de medicamentos, são extraídas de vegetais, raízes , frutas , etc.. Quando ele disse que as plantas não curam, certamente estava se referindo a algum vegetal, ou princípio ativo , que não tem interesse comercial para os laboratórios farmacêuticos, pois já existem medicamentos no mercado.
- em defesa dos lucros dos laboratórios farmacêuticos.
- Sempre. A campanha que a tv, principalmente a que a  tv globo faz, visa , sempre, proteger os interesses da indústria farmacêutica, omitindo, ocultando um conhecimento milenar e eficaz. Isso é desinformação ,em um campo sensível, onde a maioria da população não tem conhecimento e ainda sofre com a manipulação da mídia. Quem deveria atuar proibir tudo isso , nada faz, que é o governo. Essas propagandas são criminosas. Uma outra apresenta o Luciano Huck, ou seja uma pessoa de visibilidade, apresentando um suplemento de vitaminas. A propaganda mostra o apresentador, no caso o Huck, em uma mesa farta, tipo mesa de café da manhã de hotel, dizendo que mesmo se alimentando bem se faz necessário o uso de complementos vitamínicos. Isso é mentira. Se alimentando corretamente, e não precisa uma mesa exagerada como aquela, ninguém precisa de suplemento de vitaminas.
- é uma propaganda enganosa...
- quase toda propaganda de medicamentos é enganosa. E o pior, Utilizam pessoas com visibilidade, artistas, apresentadores de tv, celebridades, para empurrar os produtos. A maioria, alí, não tem a mínima idéia do que está vendendo. Estão apenas disponibilizando suas imagens, para favorecer marcas  e ,também, ganhar dinheiro com a propaganda. Alguns fazem isso porque são idiotas, deslumbrados, outros não, são espertos, focam apenas o que podem ganhar de cachê.
- e aí . Os conselhos de medicina e farmácia não fazem nada ?
- se fazem ninguém vê, ninguém sabe. Os conselhos são formados por médicos , farmacêuticos, dráuzios da vida.
- estariam também comprometidos com os laboratórios..
- com certeza. E com isso a população fica vendida, se entupindo de medicamentos sem necessidade e ficando doente.
- quem deveria contribuir para a saúde contribui para a doença.
- exatamente. Hoje, a quantidade de programas de tv com a presença de médicos é impressionante.
- tem mais médico que humorista.
- ha, ha. Eles não deixam de ser cômicos, se não estivessem ali para vender doenças e medicamentos. E as emissoras, parceiras da indústria farmacêutica, contribuem com desinformação e pânico sobre doenças.
- ou seja, doença é assunto diário nas emissoras de tv, já a saúde...
- não se trata de saúde nos programas ditos sobre saúde. Se fala sobre doenças, terapias e medicamentos. Isso é criminoso e ganhou um impulso assustador depois da década de 1990.
- as indústrias passaram a reinar livres, é isso ?
- exatamente. Laboratórios farmaceuticos precisam ter lucro. Precisam vender seus medicamentos. Logo as pessoas devem ser doentes, se achar doentes ou seram rotuladas de doentes pelos médicos associados a essas indústrias.
- nem Hitler faria melhor.
- e tudo isso com o apoio da mídia. Imagine o quão vendida está a população.
- isso explica porque o Jô disse que medicina preventiva não existe.
- isso também explica porque bloqueiam Cuba. Lá os médicos cuidam de pessoas, preventivamente, e não de doenças, disse João depois de um longo silêncio.
- e aí você entra na indústria alimentícia. continuou Maria. O que se come favorece as doenças.
- estão todos interligados, saúde, que na realidade é doença e alimentos, que na realidade pouco alimentam.
- exato. o foco está nos produtos industrializados. Toda a propaganda é voltada para produtos industrializados, de baixo valor nutricional, tendo como componentes básicos comodities. Biscoitos, massas, pães, refrigerantes, sucos industriaizados, farelos e farinhas, enlatados vegetais e animais, embutidos, óleos só para citar os mais comuns. Nessa amostra predominam, soja( óleos), açúcar ( cana-de-açúcar) , trigo ( pães, massas, farinhas), ovos ( giga granjas) carnes ( giga pastos).
- o agronegócio.
- exato. Há uma lógica de relação entre o tipo de alimentos que se empurra para a população, o agronegócio, a indústria médica, a indústria farmacêutica e a mídia.
- nem Hittler faria melhor.
- o que se vê é a agricultura familiar desprestigiada, assim como a reforma agrária. O que vai para a mesa das pessoas , de produto saudável, está sendo preterido pela comida industrializada, repleta de substâncias químicas nocivas ao organismo humano e, pior ainda, dito como alimentação de adulto, comentou João.
- esses alimentos, continuou Maria, muitos com ingredientes de origem transgência, repletos de  resíduos de defensivos agrícolas são a base da alimentação da maioria das pessoas.
- as doenças se explicam..
- exato, e se não bastasse isso, o rigor com a qualidade também caiu muito a partir da década de 1990. Atualmente se encontra com mais frequência corpos estranhos em alimentos industrializados. Cabelos, pedaços de madeira, asas de insetos, matéria orgânica em decomposição, apenas para citar os mais assíduos. Entretanto, não satisfeitos , a indústria alimentícia ainda consegue produzir barbaridades. Já se sabe que algumas indústrias de alimentos e também de bebidas, adicionam substâncias nos produtos para causar dependência química. Quando uma indústria tem um de seus produtos flagrados com asa de barata, cabelo e outras coisas , isso pode até ser considerado um erro pontual, uma política de qualidade pouco eficaz. Imediatamente a indústria disponibiliza uma outra embalabem com o mesmo produto do mesmo lote de fabricação, e verifica-se, na maioria das vezes um problema pontual, ou do mesmo lote, em caso de contaminação líquida, pois nesse caso ocorre a diluição por todo lote. A indústria emite uma nota reafirmando seus compromissos com a qualidade de seus produtos, e afirmando que tais fatos não se repetirão. A mídia lê a nota da indústria sempre ao final da notícia sobre a sujeira, reforçando a suposta credibilidade da indústria. Isso é um padrão. É sempre assim. A indústria sempre tem defesa, e no fechamento da notícia, que é o que fica para o telespectador. Mas o crime é muito pior. Quando a indústria adiciona, nos alimentos, a maioria para crianças, substâncias qua causam dependência química, ela o faz em alguns lotes. Não em em lotes seguidos. Por exemplo. Um enlatado tem na embalagem o número do lote e data de fabricação. É comum, encontrar na prateleira dos supermercados esse mesmo enlatado, o mesmo produto, do lote de fabricação seguinte. Se a indústria for flagrada com a contaminação do lote, ela vai argumentar que foi um erro de fabricação, pontual, pois os lotes seguintes, que ela disponibiliza para análise, não estão contaminados. Perecebeu. Joga-se substâncias que causam dependência de 5 em 5 lotes de fabricação, por exemplo, e a indústria sempre se sai bem, dizendo que foi um erro pontual do lote.
- nem Hittler faria melhor.
-  assim as crianças, as maiores vítimas, crescem com dependência de determinados alimentos. Os adultos, por ignorância, se alimentam mal, ingerindo produtos  gordurosos, calóricos que levam a inúmeros distúrbios de saúde. O intestino passa a não funconar regularmente e, o que se vê, são pessoas expulsando as fezes pelo rosto. Espinhas significam que o organismo quer expulsar as fezes, e acaba saindo pela cara. E para disfarçar, entra a indústria de cosmésticos.
- nem Hittler faria melhor.
- e nós, que defendemos alimentos orgânicos isentos de agrotóxicos, medicina preventiva, agricultura familiar, reforma agrária, educação alimentar nas escolas, proibição de comercias de medicamentos somos taxados de comunistas, ou que praticamos uma alimentação infantil. Chega a ser ridículo, pois a alimentação infantil é o leite materno. Leite que todo animal mamífero, não mais procura quando deixa de amamentar, com excessão, claro, do homem, que bebe leite até na velhice. E alimentação infantil, foi uma maneira usada pela indústria alimentícia, com intensa propaganda, para vender produtos para o público infantil, com apelos de presentes, embalagens com super-heróis e outras mentiras .
- nem Hittler faria melhor.
- é  a matrix, disse João. Querem controlar tudo o tempo todo em todos os lugares favorecendo o capital as indústrias e um modelo de vida delirante e suicida. Tudo com apoio da grande mídia e com intensa propaganda. Quem se opõe ou é perseguido ou taxado de louco.
- prefiro ser louca, disse Maria. Aliás de Matrix, a cena que o corpo de Neo está deitado em uma cama com seus amigos, enquanto uma parte dele luta em outro lugar e morre é demais. Ao perceber que ele morre, sua amiga o beija no corpo deitado e ele vive.
- comunicação a distância.
- exato.
- o corpo em um lugar e a imagem do corpo em outro lugar, em perfeita comunicação.
- assim como no Voddu ?
- exato. O Voddu é um conhecimento antiquíssimo e Matrix trata de conceitos da física moderna. Ambos são bem parecidos.
- tudo é pensamento, entrou João. O beijo é pensamento, o vodu é pensamento. O pensamento se projeta para aquilo que se pensa. Quando você decidiu que viria aqui nos visitar, pensou na gente.
- e a faca caiu.
- exato, se estivesse falando da gente, e ao falar você inevitavelmente pensa em nós você estaria projetando o pensamento em nossa direção. Sentiríamos uma leve ardência na orelha esquerda, caso estivesse falando bem, ou dores de cabeça se estivesse falando mal. Os antigos já sabiam com a prática do Voddu, e a física atual sugere que o pensamento se projeta em uma função do onda.
- uma onda quântica.
-exato. A sabedoria de nossos ancestrais  já conhecia essas formas de comunicação e sinais, que o tempo todo, todos os dias acontecem. Maria falou da espada, ao se referir a faca, assim com a viagem se associa aos pés. Os antepassados viajavam caminhando. Ardência nos pés, significa viagens a vista. Situações estariam ocorrendo para você, que resultariam em uma viagem. Ainda tem as mãos, associada ao dinheiro. Os antepassados ganhavam a vida, quase sempre com suas mãos, através da caça, lutas,e o que retiravam na natureza. Assim, coceira ou ardência na palma da mão significa o dinheiro, o ganhar a vida atual. Tudo isso é pensamento, que de alguma forma, se projeta e se manifesta naquilo em que se pensa,em partes de nosso corpo, para o bem ou para o mal. Daí a necessidade de se conhecer maneiras para se proteger. As pessoas de visibilidade são as que mais sofrem. Políticos, artistas, pessoas públicas, pessoal que trabalha em tv, etc, estão sujeitos a pensamentos diariamente, e é comum acidentes e ocorrências estranhas com essas pessoas. O que eles , e  a maioria das pessoas não sabe, é que a proteção é bem simples. Se tudo é pensamento, seus pensamentos também servem para sua proteção.
- mas por que a gente foi parar nessa conversa, perguntou Maria
- foi o João, que disse que é a Matrix que controla nossas vidas nossa alimentação e etc..
- ah! é verdade. E de fato controlam tudo. Entretanto, o número de pessoas que se desliga desse controle vem crescendo e com isso criando uma nova cultura, bem mais rica, saudável, solidária e ecológica. Bem mais evoluida, como comprova a nova física e o conhecimento milenar de nossos antepassados.
Se a cultura ainda dominante, nos próximos anos, não acabar com a vida na terra, o futuro será brilhante.
- com certeza.
Lembrei-me de Lucas e via João e Maria também como ancestrais do futuro.





Nossa imprensa esportiva....


Nossa alegre, empolgada e animada imprensa esportiva vive dias de glória durante encontros olímpicos. Sejam os jogos Pan americanos ou as olimpíadas. Procurando sempre o melhor da informação para ávidos telespectadores, nossa imprensa, em caso de encontros olímpicos, disponibiliza ex-atletas para comentários sobre  as diferentes modalidades esportivas. O expediente é excelente, uma vez que quem comenta já foi atleta, viveu em olimpíadas e conhece do assunto. Isso minimiza as fantásticas tiradas de nossos alegres, empolgados e animados jornalistas do esporte, porém não elimina alguns comentários , no mínimo engraçados, até mesmo por conta do conhecimento. Um comentarista ex-atleta, durante os últimos jogos pan americanos de Guadalajara em 2011 analisou da seguinte maneira as possibilidads de medalha de uma nadadora brasileira:
" as chances dela são reduzidas em quase todas as modalidades. Ela só e boa de peito"

 ele queria dizer no nado de peito