quinta-feira, 3 de maio de 2012

Incinerados com Açúcar e sem Afeto

Incinerados com Açúcar e sem Afeto



Já se vão alguns anos do lançamento do filme , O Que É Isso Companheiro ?, baseado em romance de mesmo nome. O filme contou com diversos atores  que ficaram marcados por participações em programas humorísticos da tv globo. Esses atores, no filme em questão, representavam papéis de jovens militantes que lutavam contra a ditadura militar dos anos de 1960 e 1970. Assisti ao filme, no cine Leblon, no Rio de Janeiro, na companhia de duas amigas. Sala lotada e para minha surpresa, uma parcela da platéia dava gargalhadas, onde não conseguia encontrar qualquer graça. Por outro lado, uma mulher na poltrona atrás da minha, chorava copiosamente, chamando a atenção das pessoas próximas. Minhas amigas, uma séria e atenta, e a outra comendo pipoca, produzia risadas  ao ponto de levantar as pernas. Naquela confusão de percepções , emoções e sentimentos opostos, me concentrei no filme, pois já tinha lido o livro, e também nas reações do público. Ao término da sessão as expressões do público variavam da alegria, predominante entre os mais jovens, a tristeza profunda no caso entre os mais velhos. Guardei aquelas vivências. Dias depois, lendo os críticos de cinema e os iniciados na sétima arte em alguns jornais reuni alguns elementos para entender o comportamento da platéia. Diziam os críticos e iniciados: " a escolha, pela direção, de atores com perfil humorístico, representando os militantes da luta armada, foi interessantísssimo para o bom andamento da trama. Estiveram perfeitos em seus papéis e, certamente devido ao excelente laboratório que fizeram, representaram muito bem os militantes daqueles anos " Como não sou crítico de cinema e muito menos iniciado na sétima arte, vi exatamente o oposto. Os atores da tv globo, em nenhum momento retrataram o perfil de um militante. Seus personagens, carregados com a marca humorística de seus atores, foram totalmente indequados para os papéis, já que alguns são , ao mesmo tempo, eles mesmos e os personagens que representam. Inclusive, retrataram os militantes como ingênuos, como é possível observar em várias passagens, Uma passagem do filme retrata um agente da ditadura em crise existencial por estar envolvido em trabalho sujo, com crimes e assassinatos. O torturador e assassino, ganhava uma aura de humanidade na trama. Tudo isso percebido por diferentes gerações, alguns que viveram a história, outros que desejavam conhecê-la e outros tantos que vivem com pipocas na frente de uma aparelho de tv. Os mais jovens, já engajados em novas lutas , como a questão ambiental, queriam conhecer um passado ainda oculto. Os mais velhos na esperança de ver a história passada a limpo e, uma geração internediária, perdida, alienada, dominada pela cultura de massa. Entendi as risadas, o choro profundo e a curiosidade por conhecer nossa história. Certamente se os risonhos conhecessem o que realmente se passou naquele período não estariam a sorrir e, compreenderiam por que nosso aparato policial, até hoje, continua violento e praticanto torturas e atos de barbárie contra a população. Entenderiam, também, por que o estado brasileiro é palco de falcatruas constantes com o envolvimento da iniciativa privada no comando de setores  sensíveis ao desenvolvimento da nação. Entenderiam ,ainda, por que essa parcela bloqueia a transparência e a participação popular.  São heranças do período que não foram ainda passadas a limpo e que agora explodem com denúncias de torturas similares as barbaries dos campos de concentração nazista da segunda guerra mundial. E pensar que alguns jornais rotularam a ditadura brasileira de branda. O momento para a instalação da comissão da verdade é agora. Aos humoristas espera-se que saibam  fazer humor.




Nossa imprensa esportiva...

Uma partida de futebol, sem muita importância, como é a maioria, rolava no maraca. Um Fluminense x Bangu de dar sono, a não ser pela participação do narrador e do comentarista da tv. O time do Fluminense estava em decadência e o Bangu, sequer estava em alguma coisa. Terminado o primeiro tempo e o placar apontava vitória de 2x0 para o tricolor. Poucos minutos antes do início do segundo tempo, um diálogo sério e compenetrado , sim o diálogo foi sério e compenetrado, entre o narrador e comentarista. Vamos lá:
narrador : E aí *****, como está o jogo?
comentarista: Tá uma moleza só, tá certo ? Alí no meio passa tudo, tá entendendo ? O meio do Fluminense tá metendo todas nas costas do Bangu. Só tem baranga naquela defesa, tá certo ? É só encostar, tranquilo, toca a bola, tá certo ?, que mete mais . Agora, tem que tocar. Tocando é mais fácil.
narrador: Quer dizer que tá de bom tamanho ou cabe mais ?
comentarista; Cabe, cabe. Cabe mais sim. Olha aqui, o que não pode é forçar. Tem que tocar, tá entendendo? Agora, por enquanto tá de bom tamanho, mas se se chegar junto, ali no meio, mete todas. Tem que trabalhar ali no meio e encostar, tá certo ?
narrador : Taí o que você queria. Bola rolando para o segundo tempo.

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