sexta-feira, 27 de abril de 2012

Rio Zona Norte - 3 O Maraca de Villa

O Maraca de Villa


Tudo estava dentro da ordem  quando , em um segundo, aparece uma confusão. Em uma rua, com apenas duas faixas de rodagem, um ônibus do transporte coletivo, repleto de passageiros, se movia lentamente causando um grande congestionamento com direito a buzinaço e irritação de todos os outros motoristas que não se conformavam com a lentidão. Quando me aproximo do coletivo entendo o motivo do tumulto. O motorista do ônibus, com o braço apoiado na janela e projetando o tronco para fora, exibia uma expressão de imensa felicidade. No passeio, uma mulher loira oxigenada e sarada, ao melhor estilo reality show, com um vestido curto e colado ao corpo, caminhava normalmente e, também, era o motivo das gracinhas que o motorista soltava prá ela.  Mais a frente , um guarda de trânsito, da Guarda Municipal, extremamente irritado com a lentidão do coletivo se aproximava do ônibus e reclamava, com gestos , do motorista pedindo para ele acelerasse. Ao se aproximar do ônibus e avistar a loira entendeu o motivo. Imediatamente sua atitude mudou. A irritação, a expressão furiosa se transformaram em um grande sorriso e , também em uma postura amigável. Entendendo que a causa do motorista era justa abriu os dois braços, inclinou a cabeça para o lado e, quase se desculpando, pediu para o motorista avançar. Em total cumplicidade masculina, os dois sorriram, trocaram acenos e o trânsito voltou a andar. Essa cena me trouxe a lembrança um amigo de outras épocas. Villa, cujo nome era Juan Yuapanqui Villanueva, um costariquenho que vivia aqui desde os 20 anos de idade. Villa dizia que viver no Rio de Janeiro é uma experiência fantástica, pois a cada dia algo novo acontece, de forma sempre surpreendente e inusitada. De fato. Villa , quando criança, sofreu experiências traumáticas em seu país. No vilarejo onde nasceu e cresceu, viu boa parte de sua família morrer, por conta de acidentes naturais. Com sete anos de idade , um vulcão próximo de sua cidade entrou em erupção e deixou ferimentos graves no menino, que conseguiu sobreviver. Com doze anos, outra erupção também levou enormes prejuízos,  Nesse tempo, terremotos , também sacudiram, marcando o menino. Com 18 anos uma grande erupção devastou a cidade, levando a morte de seus familiares. A partir dali resolveu sair do país para viver em algum lugar sem vulcões e terremotos. Desembarcou no Rio de janeiro. Conheci Villa no ano de 1972, quando ele tinha , na época, 55 anos. Estávamos no maraca em uma final da Taça Guanabara. Villa adorava futebol e se tornou torcedor do Fluminense pois gostou da combinação das cores  do clube e, principalmente, da camisa tricolor. Ia sempre ao maraca com seu rádio portátil. E nẫo era um rádio qualquer. Achava, inclusive, que por ser portátil era um equipamento muito grande e pesado. Para seu funcionamento eram necessárias doze pilhas. E das grandes. Villa sentava na arquibancada, na parte do anel onde ficava a torcida de seu time, mas sempre distante das torcidas organizadas, pois como ele dizia, não gostava dos fogos  que  as organizadas soltavam no estádio, o que era compreensível por conta de sua história de vida. Ligava seu rádio  e o som tinha grande alcance, cobrindo boa parte da arquibancada e também da geral. Durante o jogo, os comentários dos radialistas tinham sempre repercussão  pelo público ao alcance do rádio de Villa. Quando não aceitavam os comentários o público reagia vaiando, algumas vezes se levantando e apontando o dedo para o local de onde vinha o som. Até na geral, o público olhava para cima   xingava e fazia gestos obscenos em direção ao rádio. Em algumas ocasiões, alguns mais exaltados arremessavam copos de papel. Villa adorava aquilo tudo. Era um sujeito tranquilo, de estatura mediana, cabelos negros, forte  e de poucas palavaras. Casou-se com uma polonesa judia, que veio para o Barsil na época da segunda guerra mundial e tinham dois filhos. O iníco de Villa no Brasil foi difícil, mas conseguiu se firmar. Começou trabalhando como carvoeiro, em uma carvoaria em Santa Cruz , na zona oeste da cidade. Dez anos depois, com suas economias e também com as de Valeska, sua mulher, conseguiu comprar a pequena carvoaria e ser o dono do negócio. Apesar do tempo que vivia no Brasil falava uma mistura de português e espanhol, que em muitas ocasiões, utilizava palavras que não existiam em nenhum dos dois idiomas. Como disse o  ano era 1972 e o jogo uma final de Taça Guanabara entre Flamengo e Fluminense.  Final de jogo  e o placar exibia Flamengo 5 x 2 Fluminense. Uma tragédia para todos os tricolores. Durante o jogo, como de costume em estádios de futebol, trocamos algumas observações , pois estávamos sentados lado a lado. Ao final , obviamente sem disfarçar a tristeza  me despedi de Villa. Ele olhou prá mim e perguntou:
- como te chamas ?
- Ricardo
- Mira, Gicardo, disse ele. La intensidad de la tristeza que sientes ahora será la  misma intensidad de la alegria que sentirás quando ganarmos um campeonato.
Com um aperto de mão nos despedimos e marcamos encontro, no mesmo lugar da arquibancada para o próximo jogo. E assim aconteceu. Em todos os jogos seguintes estávamos sempre ali, conversando, rindo com o som do rádio e trocando idéias. Formou-se um grupo, com pessoas de diferentes idades. Até que no ano de 1973, em uma noite de quarta-feira, com frio e muita chuva, estavam, novamente, Fluminense e Flamengo decidindo um título, na ocasião de campeão carioca. E o resultado foi de 4 x 2 para o Fluminense, que sagrou-se campeão. Em meio a chuva e frio,ao final do jogo, na arquibancada, todos dançavam e cantavam, sem camisas, ao som de uma bateria, o samba do Salgueiro do ano de 1969.
- me gusta mucho este samba de Salguero, disse Villa
A essa altura, Villa, no meio da chuva, sempre segurando seu gigantesco rádio, na ocasião cuidadosamente protegido com um plástico por causa da chuva, dançava , cantava e brincava como um menino. Não era um extravasamento de alegria, porém algo brilhante, autêncio, próprio, verdadeiro. Aquilo ficou registrado em mim, e , também, em todos os demais frequentadores do pedaço. Ensopados pela chuva, repletos de alegria nos despedimos para o próximo encontro.  No domingo seguinte, como já tinha jogo, estávamos todos lá. Entre comentários sobre a o título, a festa, um dos participantes, que demonstrava em algumas ocasiões invejar  Villa fez o seguinte comentário:
- você parecia uma criança, um adolescente, um menino, na quarta-feira quando comemorava o título.
Villa, sempre muito esperto e antenado, sabia que alí tinha muito mais que um simples comentário, pois conhecia o outro com suas provocações. Pela primeira, desligou o rádio, olhou firme com seus olhos pretos como jaboticaba nos olhos do sujeito , e disse:
- cantar, bailar, brincar, sentir alegria ou tristeza no debe ser exclusividad de niños. Ni tambiem debe significarse imaturidade o cosa parecida. La maturidad no está em esconder ou sublimar las emociones o sentimientos. Ela consiste em connecer, perfectamente, toda  las emociones e todos los sentimentos que tenemos e, tambiem connecer quando estamos a externalos. Desta forma , la razion, o seja, la elaboracion de um pensamiento o una reflexion, gana mas consistência e perimte que nosotros conoocemos lo momento em que se puede constrúi-la. Esto significa que cada persona debe conecer o que siente e, em que condiciones puede o non , elaborar um pensamiento que acarrete uma accion. Debe saber que la razon se contamina com aquilo que sientes. Em la cultura ocidentale, los sentimientos e las emociones são tidos como cosas de mujeres, debendo los hombres sublimalos e escondelos. Esta es lo motivo de muchas doenças degenerativos , como lo cancer, por ejemplo e, tambiem de atitudes estapafúrdias, pois acreditam que se puede exercer la razion sem nenhuam forma de contaminacion sentimentale. En nuestra cultura, la cultura de nuestros ancestrales indigenas, los niños , desde mui pequenos, aprenden la importãncia de la vida e de la muerte. Connecem que la incertitumbre de la vida es la clave para se vivir bien. Para nosostros no hay la preparacion para la muerte, quando se tiene minha idad, como acontece en su cultura ocidentale. Desde pequenos aprendemos sobre la muerte e esto es la preparacion para la vida. Ningúm de los animales se prepara para la muerte. Los animales vivem su ciclo de vida e la muerte, acontece com un processo naturale de final desto ciclo, sem doenças, sem infecciones. Apenas um desligamiento,  un final de ciclo terreno. La cultura ocidentale, hegemônica, vê los otros povos, como los indigens e latinos,  como niños, imaturos. Los estadonidenses constumavam dicer que los italianos son como ninõs, acreditando de forma soberba e arrogante que sua cultura e comportamiento son las mas adequadas. Pura ilusion.  La cutura ocidentale acredita que sublimar ou esconder las emociones e sientimentos no le causa problemas. Na realdade já es un problema. O que se vé son personas que constroem aparências, códigos sociales , que de una hora para otra sacan una pistola dando tiros para todos os lados.Toda la cultura ocidentale guarda correlacion con la ordem espirituale católica, que incentiva, asi com los valores ocidentales, la idiotizacion de jueves, e la preparacion de los adultos para la muerte. Es una cultura fria, amorfa sem colores, baseada en una realidad muerta. Para nosotros la realidad es la naturaleza com toda  su fuerza, Una realidad caliente, acolhedora e , principalmente , com vida, Asi sendo, bailamos, cantamos, sentimos alegria, tristeza, por toda la vida, e non necessitamos representar personagens. Esto es , para nosotros la verdadera maturidad.
Villa ligou o seu rádio e um silêncio entre os presentes se fez presente.
Tudo isso explica porque me lembrei de Villa quando vi o motorista do ônibus e o guarda municipa agora pela manhã. Para Villa o Rio é uma surpresa diária, pela espontaneidade de seu povo e também pela mistura de raças e culturas. Ele também dizia que qualquer pessoa, de quaisquer  cultura, raça, religião, cor, encontra sempre alguma referência aqui no Rio de Janeiro. De fato. Isso me fez lembrar uma passagem que ocorreu na imprensa por ocasião do chamado mensalão. No auge das denúncias contra Lula ,em 2005, uma comentarista de política da rádio Band News FM, do grupo Bandeirantes dizia que Lula, que na ocasião fazia um comício público em uma cidade do interior do nordeste, deveria se preservar, pois ele ( Lula) estava demostrando muita raiva com o que acontecia, em referência a fala de Lula que, de fato, estava irritadíssimo. Dizia ainda a comentarista, que ele ( Lula ) estava fragilizado e que não era bom nem aceitável aquele comportamento, que, ainda segundo a comentarista, iria piorar ainda mais a situação de Lula. Lula, como sabemos, não dá ouvidos a imprensa. Seguiu largando raiva, justa a bem da verdade, pois foi vítima de uma grande armação com ajuda, inclusive, da imprensa, como aperece hoje nos noticiários sobre a cachoeira. Sua raiva em nada contribuiu para sua queda, tendo em vista que foi reeleito em 2006, fez um sucessor em 2010, e pesquisas atuais, indicam com amplo favoritismo para 2014. A imprensa segue a linha da cultura ocidental, a que Villa se referia, ignorando a realidade atual do Brasil e de alguns de seus políticos, principalmente Lula. Lula, assim com Cristina, Morales, Correa, Chaves, não vestem o figurino totalmente cínico e hipócrita, da cultura hegemônica. Valorizam suas ancestralidades, o que é percebido pelos povos de seus países,  e com isso deixam a grande imprensa ocidental falando , como sempre falaram , para muitas pessoas, porém com a novidade que somente pouquíssimas pessoas dão ouvidos , como pode ser compreendido por resultados de pesquisa de opinião. Essa tendência, que já não é mais uma tendência mas uma realidade, na América do Sul vem ganhando cada vez mais força. Alguns países já se tornaram estados plurinacionais, reconhecendo as diferentes culturas que felizmente, os colonizadores espanhóis não conseguiram exterminar. Tudo isso guarda uma correlação com o momento da globalização econômica que , felizmente, na América do Sul, valorizou as especificidades e não a homogeinização.  A globalização e as novas tecnologias  transformaram o mundo em um bairro, uma Madureira. Tudo ficou próximo, ao alcance. Madureira é o tamanho do planeta. Essa aproximação, por outro lado, também traz inúmeros problemas, pois através da cultura hegemônica tenta-se padronizar todas as manifestações. O resultado é o pior possível. A tentativa de homogeinização produz um efeito contrário, um mergulho nas raízes, que pode desembocar em xenofobia, fascismo, racismo e nacionalismos delirantres, como também pode reconhecer a existência da diversidade e promover formas de bem viver, como acontece na América do Sul. Na madureira global, o que as pessoas desejam não é  a homogeinização , mas sim o original, o específico de cada cultura. Aí reside um dos grandes conflitos contemporâneos, pois o poder hegemônico, apoiado por uma ordem religiosa em decadência,tentar impor a todos formas idiotizantes e infantis de valores e cultura. A sensação que tenho , é que o mundo está em surto, apoiado por uma ordem irracional repleta de certezas absolutas, em um momento em que a própria concepção científica da realidade sugere a incerteza como princípio.
Grande Villa . Já sabia de tudo isso em 1972. A última vez que vi Villa foi em 2002. Eu estava em um coletivo na Av. Brasil que na ocasião tinha um trânsito bem lento. Assim sendo pude avistar Villa caminhando pelo passeio, com 95 anos, ainda com o corpo ereto, forte e aparentando bem menos idade. Ele estava saindo de uma loja de materiais de prevenção e combate a incêndios.



Nossa imprensa esportiva....

Estávamos no ano de 1969, mais precisamente no dia em que o sol entrava no signo de cancer, que tem como planeta regente a Lua. Por uma dessas coincidências, naquele dia o homem pisaria pela primeira vez em solo lunar. O assunto dominava todas as rodas, assim como a possibilidade de assistir pela TV, ao vivo, a epopéia espacial. Em se tratando de anos da década de 1960, aqueles acontecimentos fantásticos do dia , seriam apenas alguns mais da década. Como o assunto dominava, nossa alegre, empolgada e eclética imprensa esportiva não poderia ficar de fora e resolveu mandar seus pitacos. O diálogo , que reproduzo abaixo, aconteceu entre um narrador e um comentarista,ambos empolgados, antes do início de uma partida de futebol no maraca;
narrador -  prezados ouvintes. Hoje a humanidade viverá um momento histórico. Pela primeira vez o homem pisará o solo da lua. Vejo que nosso comentarista, que acaba de entrar aqui na nossa cabine de transmissão, traz um pequeno aparelho de tv .

comentarista - De fato. mesmo não podendo assistir em  minha residência, não irei perder esse momento histórico. Um momento que irá inaugurar uma nova fase de conquistas e que , no futuro, fará da lua um local para o homem construir cidades e bases para novas explorações espaciais.

narrador . Você não acha que a conquista da lua vai acabar com o romantismo que existe em torno do satélite ?

comentarista- Veja bem. O romantismo não acabará nunca ,mesmo com o homem conquistando a Lua. Ela  ( a Lua ) que inspira poetas, apaixonados, que dá luz aos nossos imensos campos desse Brasil grande, que encanta a todos com sua beleza, continuará a ser a fonte inspiradora para os namorados. O que seria dos namorados sem a lua ? O romantismo não acabará nunca.

narrador . Muito bem !!! Muito Bem !!! Depois dessas sábias palavras lunáticas , vamos as escalações das duas equipes .

Eiiiiiiiiita !!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Imprensa Ludista

A Imprensa Ludista


E continua o barulho na grande mídia repercutindo a reestatização da empresa argentina YPF. Como é prática nessa imprensa, cada vez mais distante da realidade, os analistas dos grandes veículos de mídia atuam em bloco. Bloco barulhento, sempre com análises que distorcem a realidade. Não se pode dizer que tais cronistas e analistas não sejam pessoas de inteligência acima da média, entretanto, é importante que se diga que a inteligência , em si, não é uma virtude. A virtude se caracteriza pela maneira como a inteligência é utilizada. Grandes criminosos, pertencentes ou não  a grandes organizações do crime, carregam QI's bem elevados. Esse grupo de veículos de mídia, trava , diariamente, uma batalha contra os fatos,  contra a realidade que se impõe diante de seus narizes ( e que narizes grandes ) e , principalmente, contra uma agenda vitoriosa nas urnas desde  2002 e de amplo apoio da maioria da população brasileira. Amarrados em dogmas corroídos pelo tempo, atropelados pela dinâmica de um outro modelo de crescimento e desenvolvimento, insistem em ignorar o fracasso de suas teses.  Assim como os ludistas do século 19, a chamada grande imprensa, grande pelo porte assim como os dinossauros, mas não pelo uso da inteligência, se transforma, perigosamente, em um fator de desestabilização da ordem institucional, como já vem sendo demonstrado pelo caminhar das investigações no caso Cachoeira. Ainda assim, mesmo como a sua credibilidade cada dia mais desmoralizada, deitam tintas e falações cada vez mais agressivas e descontroladas onde o uso constante de rótulos de cunhos fascista e racista , borra e engasga seus conteúdos, promovendo uma dissonância informativa. A decisão do governo argentino, que teve o apoio da maioria da população daquele  país, como afirmam pesquisas de opinião, coloca o estado e a política, no controle estratégico do destino do país. Os mercados, com seus tentálucos da iniciativa privada, até então em sua cruzada anarquica e suicida, tem apresentados inúmeros exemplos de sua incapacidade de atender demandas sociais. A decisão do governo argentino é exemplar e, esperamos que tenha um efeito multiplicador em outros países do continente. No momento em que o governo da Presidenta Dilma lança o PAC da mobilidade urbana uma reflexão sobre as privatizações da triste noite do perído FHC merece um destaque. O programa, para o qual serão investidos bilhões de reais, contempla a construção de novas vias para o transporte público. Está previsto a aquisição de algo em torno de mil vagões para transporte sobre trilhos, o que implica a construção de caminhos de ferro.  Enquanto isso , a Cia Vale do Rio Doce, assim como amiga Repsol na Argentina, vai distribuindo lucros, sem se comprometer com as necessidades do país. Certamente a China vai gostar muito de fabricar mil vagões para o Brasil, garantindo emprego de milhares de chineses. Por quê a Vale não investiu em uma fábrica de trilhos ? E a  fabricação de  vagões e locomotivas que não mais existe no país ? Tudo isso veio no bojo do delírio das privatizações, que na época ainda não existia, com existe nos dias atuais, o grande poder da internete. E é exatamente esse novo poder das mídias sociais que confirma não só a expressão ludista das grandes mídias, como também, e principalmente, vai modulando novas formas de produção de conteúdos infromativos, fazendo das mídias tradicionais um porto seguro anacrônico, onde o atraso, o retrocesso e o crime reinam, ainda, impunes.



Nossa Imprensa Esportiva...

Uma partida de futebol acontecia normalmente. Como de costume, nossa briosa e animada imprensa radiofônica, disponibiliza profissionais no campo de jogo para informações mais precisas  e repleta  dos mais variados detalhes. Um repórter, daqueles que fica posicionado atrás dos gols, foi chamado pelo narrador para detalhar um lance. Ele começou bem a narrativa, seguiu com elegância mas o final foi uma tragédia.  Tudo aconteceu quando um jogador de um dos times cobrou uma falta, bem perto da área do time adversário. O jogador que cobrou a falta tinha um chute violentíssimo que acabou acertando um jogador que estava na barreira· Aí vai o diálogo:
narrador -  E aí fulano, o que vocẽ viu ?
repórter  - Um falta cobrada com extrema violência atingiu as partes baixas de uma atleta que caiu , imediatamente, e grita de dores. Felizmente todo o departamento médico do clube já se posicionou para o atendimento ao atleta. Ao que parece ele sofreu falta de ar mas já se recupera lentamente. O serviço médico está aplicando um spray para amenizar a dor e flexionando as pernas do atleta. Esse é o único momento que quando um jogador sofre uma pancada não são permitidas massagens. Bola com bola não é mole não. Informou Capemisa, as pessoas seguras são mais felizes.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A Tragédia no Futebol e na Imprensa

A Tragédia no Futebol e na Imprensa



O futebol, com todos os seus personagens, pode ser entendido como uma perfeita metáfora da vida. Em uma profissão curta o jogador de futebol, quando bem sucedido, vive momentos de glória e trágédia. Alegria , tristeza, euforia, depressão, medo, sofrimento, dor, extrema visibilidade, ostracismo, raiva. O futebol é trágico e patético. O que dizer de um jogador , de joelhos em campo, desculpando-se diante do árbitro pela infração cometida. A emoção domina a lógica dos atores em cena, já que com batimentos cardíacos acima de  100 por minuto, qualquer razão fica condicionada ao estado do atleta.  E foram muitos   os personagens da bola que escreveram essa história. No momento, com forte estratégia de marketing, nem sempre trilhando os caminhos da ética, foi lançado um filme sobre um ilustre artista da bola.  Heleno  de Freitas, o jogador talentoso, o galã, o pavio curto, o bem sucedido entre as mulheres. Com todos esses requisitos Heleno tinha tudo para ser uma celebridade, e de fato assim aconteceu. Em tempos de um capitalismo , onde a voracidade sequer se imaginava como a dos dias atuais, Heleno era notícia. Vendia, dava lucro. Se envolveu em brigas, glórias, mulheres, drogas e morreu novo, vítima de sífilis que o levou a loucura. Para os dias atuais, onde através da engenharia genética virus são produzidos em laboratórios e epidemias são fabricadas, a sífilis pode ser vista com saudades e romantismo. Bons tempos aqueles, diriam alguns com a idade avançada. Que saudades da gonorréia, diriam outros. Heleno não foi o único no futebol. Assim como ele muitos nas artes, na política seguiram o mesmo caminho. Alguns ocuparam cargos de grande importância, como presidentes de seus países, grandes artistas ainda pipocam no noticiário com morte prematura, mas Heleno, foi Heleno.Bem maior que Heleno, Garrincha teve o mesmo caminho, independente de subjetividades bipolares. O mundo do futebol não contempla a neutralidade, principalmente para os atletas. A imprensa, como de costume, se alimenta dos artistas para garantir seu pão. Cria ídolos, reis, imperadores, jóias, príncipes, monstros sagrados e depois, num passe magistral, joga todos na mesma vala do esquecimento, pois não produzem mais o encantamento e, principalmente, o lucro. Das luzes dos holofotes , dos prêmios  recebidos, dos abraços e lágrimas pelas conquistas,  restam apenas lembranças, guardadas cuidadosamente em fotos, medalhas, troféus. Tudo isso para atletas com menos de quarenta anos de idade. Como manter a mesma adrenalina proporcionada pelos tempos de atleta, é chave da questão, é o que leva para uma nova vida, na terra, no céu ou no inferno. O romântico éter usado por Heleno, hoje é substituído pelo álcool, cocaína, crack e heroína e, certamente, esses novos personagens, ainda vivos e atuantes, um dia serão tema de filme, após suas mortes, claro. Para a imprensa são apenas produtos que serão vendidos enquanto existirem compradores, mesmo que entrando em endereço trocado. A tragédia que o futebol  proporciona é bem menor do que a criada pela imprensa.


 Nossa Imprensa Esportiva...

O ano era 1972. Comemorava-se no país os 150 anos da independência do país. O sequiscentenário, palavra que criou alguns constrangimentos na imprensa esportiva. Para comemorar a data o Brasil sediou uma competição de futebol, chamada de Mini Copa do Mundo ou Copa Independência. Participaram do evento 16 seleções de futebol, divididas em quatro grupos, assim como acontecia na Copa do Mundo na época. Por uma ironia do destino, chegam a para disputar a grande finalíssima as seleções de Brasil e Portugal. No dia da grande final, com o  maraca lotado, tribuna de honra repleta de autoridades, no momento em que as  seleções entravam em campo, um empolgado repórter de uma emissora de rádio saiu com essa :
" Brasil e Portugal em campo. Chega o grande momento do Brasil reafirmar sua independência, esse país que tem o presidente gente como a gente"
Detalhe : O presidente era o general Médici.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Rio Zona Norte - 2 O Aparelho do Lins

O Aparelho do Lins

O abril continua vermelho,as cores da natureza sempre vivas, mas a história do Brasil continua a mesma. A hora para passar a limpo o passado é agora. Nas sangrentas batalhas travadas pela oposição conservadora e os movimentos sociais, o conhecimento sobre a verdadeira história do período da ditadura militar  parece que não mais aceita adiamentos. Em diferentes países a verdade foi passada a limpo, com punições ou não, a história seguiu. Na África do Sul, que viveu, talvez, o mais brutal e bestial regime de segregação racial, com milhares de mortos, a transição para a democracia não permitiu dissimulações ou falsas anistias. A Comissão da verdade, brilhantemente dirigida pelo nobelista Desmond Tutu, colocou frente a frente os dois lados da disputa. O processo foi doloroso, fazendo com que Tutu fosse às lágrimas por diversas vezes, diante das declarações. Assassinos e familiares dos mortos, independente das cores e do lado, falavam de suas angústias, tristezas e sofrimentos, por conta dos anos de luta. O processo foi fundamental, para que o país conhecesse sua história, valorizasse seu passado, e pudesse olhar com firmeza para o futuro. A África do Sul, independente dos sérios problemas ainda a resolver, ficou conhecida como o país de todas as cores, lugar onde a ignorância e estudipez,  tiveram como resposta a civilidade e o diálogo. Na América do Sul, que sofreu com a  barbárie de ditaduras, diversos países trouxeram a tona a verdade sobre os anos em que o sol não brilhou, exatamente na região do Império do Sol. Em alguns, os ditadores foram julgados, condenados e cumprem penas por seus crimes. Em outros, a verdade pode ser conhecida, com anistia para todos os lados. O importante, em todos os casos, foi a restauração da ordem democrácrita, a remoção do entulho autoritário dos poderes e, principalmente, a verdade, condições essenciais para evolução de uma nação. Nesse contexto, me veem lembranças do ano de 1973. Naqueles já distantes anos,  onde corujas e pirilampos bailavam entre sacis e fadas com os Secos& Molhados,  Raul Seixas não sentava no trono de seu apartamento com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar e os Novos Baianos enlouqueciam a ditadura e sua patética censura, conheci Lucas. De um dia para o outro Lucas, que fora amigo na faculdade, sumiu. Décadas depois nos reencontramos e pude conhecer um pouco de sua história. Lucas militava em uma organização contra o regime militar. Na faculdade era de poucas palavras, mesmo porque qualquer conversa com mais de três pessoas podia ser vista como conspiração comunista. Seu grupo de ação, alugou uma casa, que servia de encontro , no pacato bairro do Lins de Vasconcelos, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. O Lins era um bairro estratégico para o funcionamento de aparelhos. Sem ser um bairro de passagem, com pouco movimento, residencial com casas com cadeiras na calçada e na fachada escrito que é uma lar,  tinha saídas para o subúrbio pelo alto Meier, para o centro pelo Engenho Novo e para a zona oeste, pela estrada Grajaú - Jacarepaguá. O aparelho que Lucas frequentava ficava numa dessas ruas tranquilas, entretanto eles jamais poderiam imaginar, que na casa em frente morava um jornalista, que trabalhava para a ditadura como torturador. A rua, como em todo bairro da zona norte , tinha seus personagens. Seu Pinto era um deles. Aposentado, vivia com sua mulher, Dona Walquíria em uma casa próxima. Sujeito de pouca instrução, mas de grande austúcia e ótimo observador. Passava a maior parte dos dias  sentado em uma cadeira na porta de sua casa, ora lendo jornais, ora bebendo cachaça. Na casa em frente a de Lucas, vivia Silvério, o jornalista torturador, casado com Juliana. Tinham um filho, Pedro. Silvério não despertava suspeitas, menos para Seu Pinto, claro, por ser um sujeito familia que frequentava as missas aos domingos na igreja do bairro. Tinha uma rotina, que para Seu Pinto era estranha. Saía de casa as 5 horas da manhã, todos os dias,  voltava por volta das 10 horas, saía novamente por volta das 17 horas e voltava às 21 horas. As vezes ficava o dia todo fora de casa. Era um sujeito alto, de olhos claros, com uma aparência saturniana. No aparelho viviam diariamente, Paulo e Vera. Simulavam um casal recém casado, tinham em torno de 25 anos e para evitar fofocas , também frequentavam a missa aos domingos, mesmo sendo marxistas de carteirinha.  Tinham uma caminhonete DKW, um pouco surrada,  carro típico de aparelho. Não tinham uma rotina fixa, raramente recebiam visitas que pudessem ser vistas pelos vizinhos. Mesmo assim, Seu Pinto desconfiava deles.  Para os encontros e reuniões, que aconteciam com frequência, Paulo e Vera traziam as pessoas escondidas na caminhonete, sendo que muitos, ficavam , as vezes, semanas na casa, sem sair a rua ou aparecer para a vizinhança. Quando iam embora, também saim escondidos no carro.  Seu Pinto achava que Vera tinha uma expressão de medo constante, e achava que alí tinha coisa. Acontece , que em um determinado dia, Igor, um que vivia no aparelho e entrava escondido no carro, pelo vidro da janela avistou Silvério saindo de casa. Levou um susto tremendo, pois reconheceu Silvério como seu torturador. Certa vez, Igor que caminhava pela Avenida Rio Branco, onde estava estudando a rotina do Banco Irmãos Guimarães na esquna da Rua da Alfândega para uma ação de expropriação, foi agarrado e jogado em um carro. Foi levado para uma órgão de informação das forças armadas, nas  proximidades da Praça XV.  Ficou no local oito horas , onde foi interrogado, torturado e mandado embora, por atitude suspeita. No interrogatório estava presente Silvério, que além de trabalhar em um grande conglomerado de mídia carioca como jornalista, também colaborava como torturador para a regime, assim como os donos do conglomerado midiático. Igor levou vários choques elétricos nos  órgãos genitais, e diversos telefones, fazendo ficar sem audição por umas três semanas. Aguentou firme, não falou nada e  teve sorte de ter sido dispensado. Quando viu Silvério avisou rápido os demais companheiros do perigo que aquela figura representava. Depois de alguns dias de discussões, resolveram que o melhor seria assassinar Silvério, decisão que aumentou ainda mais o pânico de Vera. Vizinho ao aparelho tinha uma vila residencial, com saída para uma outra rua. Resolveram que iriam matar Silvério, tarefa destinada a Carlão, que simularia uma fuga pela vila mas pularia o muro para dentro do aparelho. E assim aconteceu. Em um dia, às cinco horas da manhã, Silvério levou um tiro certeiro na nuca e caiu. Carlão simulou a fuga e pulou para o aparelho, que naquele dia tinha apenas Paulo e Vera. O tumulto tomou conta da rua. Seu Pinto sabia que alí tinha coisa e grudou os olhos na polícia. Ninguém viu nada. No meio de perícia e de toda aquela gente, Paulo e Vera saíram de casa tranquilamente de carro, com Carlão escondido. Passados alguns meses , o tempo fechou. Em um tranquilo e melancólico domingo de zona norte, o aparelho foi cercado por "policiais" sem farda. O tiroteio foi intenso e os quatro que estavam dentro de casa resolveram se render. Paulo, Vera, Igor e Carlão. Lucas , por sorte escapou. Tido como romântico, pelos seus amigos de guerrilha, tinha se apaixonado por uma menina hippye, filha de um Almirante de linha dura membro da TFP e diretor do Lyons Club, e fora a um encontro com ela na Quinta da Boa Vista. Logo em seguida, quando soube que a casa estava crivada de balas e os amigos presos, Lucas saiu do país, pois sabia que estava na mira. Passadas quatro décadas, não se sabe o paradeiro de Paulo, Vera, Igor e Carlão. Seus familiares tentam , até hoje, saber a verdade sobre o que aconteceu, para que possam viver em paz e o país precisa dessa verdade para limpar seu entulho autoritário que persiste ainda. Lucas voltou depois do final da ditadura, mora na região serrana do Rio e é professor, foi salvo pela paixão. Juliana se agarrou a religião, frequentava a igreja todos os dias e acabou se apaixonando pelo padre, com quem casou e tiveram cinco filhos. Seu Pinto teve um fim trágico. Sentado na porta de sua casa viu duas pessoas na frente iniciar uma discussão que acabou em briga. Um dos envolvidos, viciado em corridas de cavalos, portava um grande binóculo que atirou no outro mas acabou acertando Seu Pinto. O impacto casou um ferimento na testa que evoluiu para uma sepitcemia, levando o aposentado a morte.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Rio Zona Norte - 1 O Aniversário e o Santo

   O Aniversário e o Santo


Ainda no Abril, vermelho e justo, inicio mais uma caminhada. A reestatização do setor de petróleo, na Argentina, ocupa minha pauta. Organizo o passo, a respiração e os assuntos. A harmonia é fundamental, pois do contrário, o pensamento toma conta, o passo acelera e a respiração fica curta. O dia é de uma beleza única. Um azul intenso que contrasta com o verde das  árvores. Cores e tonalidades que só a natureza produz. Quem sabe os vitrais da catedral de Chartres se aproximem, penso.  A polêmica do petróleo na Argentina colocou a imprensa rosnando e mordendo até poste. Já entrou no ridículo. Ontem, ouvindo uma comentarista da rádio band news FM,do grupo Bandeirantes, aqui do Rio, por pouco não fui mordido nas orelhas. A comentarista, tomada de raiva, dizia que a presidenta Cristina Kirchner, teria acordado de mau humor, por conta da pouca visibilidade que teve a proposta sobre a retomada das Malvinas na Cúpula das Américas, e devido a isso resolveu tomar a decisão de reestatizar  o setor de petróleo. Ora, isso  é prá lá de ridículo.  É o mesmo que dizer que se governa com o fígado, que não se tem planejamento, que decisões são tomadas por impulsos emocionais. A comentarista sequer mencionou a realidade de toda a América Latina, que nos últimos doze anos, vem, gradativamente, se descolando do projeto neoliberal, seja na aplicação de políticas sociais, no controle dos recursos naturais da região e até mesmo no controle pelo estado do setor financeiro. Aí se encontra o x do problema, como diz a música de Noel. A imprensa é , em sua maioria, alinhada com o ideário neoliberal e  não admite discutir outra alternativa, mesmo que tal realidade se imponha diante de seus olhos, como ocorre em nuestra América. O resultado é uma música desafinada, barulhenta e pesada, que coloca em risco , para muitos a correta compreensão dos fatos. A música barulhenta  não parou por aí. O jornal O Globo, hoje, em letras garrafais, apresenta em manchete a posssibilidade de um tribunal internacional para o caso argentino, esquecendo-se, propositalmente, do envolvimento de seus jornalistas com os crimes da enxurada do bicheiro. Chegou , inclusive, a afirmar que trata-se de uma decisão de caráter nacionalista populista, tal qual a do ditador Galtieri para seduzdir o povo argentino na aventura militar de 1982 nas Malvinas. Puro delírio do jornal dos Marinhos, que também ignora a realidade emergente da América Latina. Essa negação por parte da imprensa já chega nos limites da argumentaçao o que faz de seus conteúdos um ridículo disssonante. Esse comportamento escancara a fragilidade do setor no país e coloca em questão a necessidade de um novo marco regulatório para as comunicações. Defender um campo ideológico é normal, já ignorar a realidade produzindo-se versões estapafúrdias. pode sinalizar a existência de patologias, ou organizações criminosas, o que dá no mesmo. O descontrole foi tanto , que outros veículos de imprensa acusaram a presidenta de nazista, besta parda, e etc... Tudo isso por conta de um modelo que agoniza em todo o mundo, realidade que a música barulhenta e pesada da imprensa  se recusa a adimitir. Vamos aguardar os próximos capítulos, mas não tenho esperança que tenhamos música de qualidade. No meu passo sigo em frente. Vejo que me aproximo do Largo da Carioca e, certamente, encontrarei Tian. Tian, cujo nome é Sebastian, é um jovem de 22 anos que vive vendendo sua arte, canções, no centro da cidade. Conheci seus pais quando ainda era bem pequeno. Seu pai, Jurgen, um músico que tocava violino na orquestra sinfônica de Viena, veio ao Brasil em uma tournê da Osquestra, ficou por aqui mesmo e nunca mais voltou para Áustria. Conheceu Marlene, uma bela mulata com quem se casou. No início teve algumas dificuldades para viver, pois não conseguiu emprego como músico, mas logo depois abraçou a profissão de pescador. Conheci Jurgen  em um ensaio de bateria de nossa escola, que Marlene desfilava merecidamente como destaque. Tocávamos tamborim. Foi também através dele que passei a frequentar o terreiro de umbanda de Marlene, religião onde fora iniciado e tocava tambor nas celebrações. Infelizmente, quando Tian tinha doze anos, Jurgen veio a falecer. Antes , ainda me recordo algumas de suas palavras sobre Tian: " o menino é bom no música ". Faleceu não por suas aventuras em mar aberto, como temia Marlene, mas ironicamente devido a uma infecção intestinal, contraída por conta da ingestão de mexilhões estragados, oriundos de uma criação nas águas da baía da cidade de Angra dos Reis. " deis paçoca  um real, vai ?  Levo um susto, pois um rapaz magro, de bermuda e com uma camiseta surrada aparece na minha fente oferecendo seu produto, Ele são de uma agilidade impressionante, aparecem do nada. Se parecem com spams que se materializam em nossa frente. Driblo o rapaz e sigo em frente. A paçoca, porém me trouxe outra lembrança de Jurgen. No aniversário de dez anos de Tian, jurgen e Marlene fizeram uma grande festa. Tinha feijoada, churrasco e todos os demais complementos e, sim, muita cerveja, além de um samba de primeira. Como em toda festa de criança, sim era aniversário de dez anos de Tian, também tinham muitos doces e um bolos, Chamou a atenção de todos , fazendo sucesso entre adultos e crianças, uma paçoca gigantesca preparada por Marlene. No momento de cantar os parabéns, onde todos estavam reunidos, aconteceu o que já se previa. Um santo desceu, em uma mulher de pele bem clara, gordinha, de idade avançada, com um olhar vivo e uma alegria contagiante. Como era de se esperar, um santo de criança. A mulher, agora engatinhando pelo salão e falando como criança, sorria e brincava com todos, que também sorriam. Entretanto ela, resolver se enrolar em minha pernas.  Sente medo, perguntou com voz de criança. Não, sorri e respondi. Se não sente medo é porque não tem segredos, disse o santo. Sorri e disse que não sentia medo mas todos tem segredos. Ela disse que se não sentia medo não tinha segredo, tinha assuntos reservados, pois quem tem segredos tem medo de criança. Sorri e achei por bem não polemizar com o santo. Em seguida ela disse. Você é uma pessoa bem humorada, não é ? Disse que me achava bem humorado e que as pessoas que convivem comigo também achavam o mesmo. Você sente saudades de sua infância, perguntou. Disse que não sou chegado a saudades e nostalgias e, que os  períodos da minha vida, asssim como pessoas que convivi, me trazem boas lembranças , o que me deixa alegre e feliz.  É por isso que você é bem humorado, disse ela. Continuou. A saudade por aquilo que não pode voltar deixa as pessoas tristes, mal humoradas e melancólicas. A saudade constante mata a criança que existe nas pessoas, e matar a criança dentro de nós e matar a alegria de viver, disse engatinhando e se afastando de mim. Pensei nos orientais que não abandonam a criança de sua vidas, nos seus sorrisos de criança. Talvez a saudade, a nostalgia e a melancolia sejam oriundos de uma cultura cristã que valoriza a dor e o sofrimento, pensei. Resolvi deixar esse assunto para depois e fui provar a paçoca da Marlene, que já estava se esgotando. Chego no Largo da Carioca e avisto Tian. E aí , jovem , como vão as coisas ? Grande Che, como vai ? Tian sempre me chama de Che. Ele me vê como um revolucionário socialista, apesar de ter dito para ele que não conspiro revoluções, apenas defendo uma sociedade mais equlibrada, justa , econômicamente sustentável, onde todos tenham acesso a saúde , educação e desfrutem das mesmas oportunidades  e direitos. Mas parece que não convenci. Tian, por seu lado, não é adepto do socialismo, nem do capitalismo e menos ainda da democracia atual. Defende a ampla participação popular em todas as esferas de poder, a ecologia e direitos iguais para todos, Convergimos nos fins. Percebo em Tian um viés levemente anarquista e uma simpatia pelo movimento pirata europeu E aí, jovem Como vai a música ?
Naquela batalha que você conhece, as vezes tiro algum, outras nada. Vou vivendo. Um dia chego lá, citando um trecho da canção de Diogo Nogueira.
Ainda não começou a cantar, parguntei.
Ainda é cedo, são dez horas, começo lá pela hora do almoço quando o movimento aumenta. Por enquanto monto a barraca e vendo alguns cd's.
Não questionei, pois Tian tinha conhecimento de causa. E o público, é receptivo, perguntei. Parou um instante, me olhou e notei que vinha uma explicação mais detalhada. Veja, começou falando movimentando os braços e as mãos, com uma organização de assuntos , palavras e uma lógica características de músicos quando expressam suas idéias. As pessoas que por aqui transitam, não estão direcionadas em suas expectativas para a música. A movimentação urbana se caracteriza pela aflição e cumprimento de metas. A música produz um freio, um alerta, uma chamada para novas experiências em pessoas desconectadas .  Repare que as canções de grande sucesso, despertam a atenção dos transeuntes. Para chamar a atenção com arte, em aglomerações urbanas, se faz necessário uma arte impactante, nova ,inovadora, caso contrário todo mundo que por aqui passa só vai querer ouvir os grandes sucessos. Lembre-se , Che, essa pessoas estão no seu dia dia, não se permitem a descobertas ou experimentos, estã em horário de trabalho querem o conhecido, ou o fantástico. Ouvi Tian com atenção e não questionei, Sua tese carrega elementos de uma realidade que ele vive diariamente. Continuei a ouví-lo, ainda que o achasse algumas vezes prolixo. Minhas canções Che, não são para que as pessoas levantem os pés do chão e coloquem as mãos para cima. As letras não são absorvidas pelos ouvintes logo na primeira audição. As harmonias não são tão simples. Não é arte para a maioria das emissoras de tv e nem para as emissoras de rádio. Não tem jabá na minha arte. Sorrimos. Falei para Tian que tinha que ir, pois estava na movimentação urbana que falara.  Nos despedimos e a distância observei o jovem e talentoso Tian.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Hades Voltou

Rio de Janeiro - 4    Hades Voltou


Em mais um dia típico de abril, sempre vermelho como ocorre nos últimos anos, fazia minha caminhada matinal pelas ruas do centro da cidade.  Enquanto caminhava, e tentava adivinhar se teria chuva pelo caminho, pensava nos acontecimentos do momento e imaginava uma correlação entre os fatos. De repente sou tomado por um cidadão, com os olhos arregalados e olhando pra mim de forma intensa, que segura meu braço e diz de maneira definitiva: " Jesus voltou, Jesus voltou. Tomado de surpresa pela abordagem, olhei ao meu redor para ver se Ele estava por alí, porém logo retomei a consciência e descartei o fanático. A presença deles é comum na cidade. Continuando no passo retomei minhas preocupações. O caso cachoeira , com o senador Demóstenes e a imprensa nada tem em comum com Jesus, porém é emblemático. Um senador da república que durante anos se apresenta como defensor da ética, aparece como um dos principais membros de uma quadrilha que estraçalha a ética .As máscaras no regime plutocrático. Um vendedor de chips para celular grita no meu ouvido. Agora inventaram a moda de usar auto-falantes para vender suas tralhas. Fica dfícil manter o pensamento alinhado. Logo em seguida penso na imprensa. O quarto setor , que normalmente se espera que fiscalize o bom uso e andamento da coisa pública, é, para surpresa de todos, não minha, claro, também membro da quadrilha de cachoeira. Como relatar seus próprios crimes para a população, me pergunto. De que maneira a sociedade pode tomar conhecimento da verdade se seus representantes na política e o setor que informa, são os criminosos ? Penso no fanático e concluo. Jesus está longe voltar. Chego ao escritório e passo para a leitura diária. Para minha surpresa, o Rei da Espanha, que é presidente de honra de uma ong em defesa dos animais, sofre um acidente e quebra a bacia, em um safari para caçar elefantes. Defesa dos animais ? Logo os elefantes que estão em extinção. Em segundos sou tomado de perplexidade e me pergunto se o fanático de Jesus não seria o normal. Sigo na leitura e vejo o ex-primeiro ministro da Itália envolvido em escândalos sexuais, com máscaras de Ronaldinho nos rostos das meninas de seu harém. As máscaras da plutocracia sempre presentes, penso. O que teriam em comum Cachoeira, Demóstenes, a imprensa brasileira, O Rei da Espanha , o ex -premier da Itália, pergunto. As trevas, talvez, o  oposto da luz. Luz que o fanático tanto deseja. Seguindo na leitura, vejo uma colunista da tv globo, irada, transtornada, assim como o fanático, pelo fato da Presidenta Argentina ter  recuperado parte da soberania daquele país, ao reestatizar o setor petrolífero, já que a iniciativa privada que dominava o setor, ou o governo da plutocracia, não correspondia as necessidades de desenvolvimento do país. A soberania não é admitida pelo governo das trevas, pela plutocracia das máscaras. As vozes contrárias devem ser caladas, o surrealismo existe, e não é pelos fanáticos de Jesus.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Deu Zebra

Deu Zebra

Demóstenes, Cachoeira, Policarpo.
Parlamentar, Bicheiro , Jornalista.
Senador, Contraventor, Vigarista.
Legislativo, Crime Organizado, Imprensa.
Democracia, Plutocracia, Lucro.
Bandido, Bandido, Bandido.
Uma trinca foi flagrada, fazendo aquilo que o povo já desconfiava.
Os três são muitos, em poderes corroídos, beneficiando poucos através de eleitores iludidos. Os poderes envolvidos , cada dia mais poderosos, podres, fortes, mentirosos.
Bandido, Bandido, Bandido.
O crime organizado tudo sequestra, os parlamentares não representam o povo, pelas tintas, o  crime se  orquestra.
Jogo feito, banca forte, tudo armado.
Mas deu zebra, símbolo do imprevisto, do inesperado.
As peças se movem, os bichos correm, o circo está montado.
Apurar as responsabilidades, identificar os culpados, punir os desinformados.
Na lona, o povo assite ao espetáculo. Respeitável público !!! Grita um jornal, nem tão respeitável, sequer confiável, menos ainda amável, certamente lustrosamente maleável.
Bandido, Bandido, bandido.
O jogo continua rolando solto, a democracia foi tomada de assalto, e a imprensa continua informando os incautos.
A próxima atração do circo serão as CPI's. Cuidadosamente instaladas em função das eleições municipais, para possíveis ganhos, cercando todos os lados, garantindo a eleição de apadrinhados. A imprensa aproveita e faz um cínico escarcel. Tudo na base é dando que se recebe, no jogo, na política, no bordel.
Bandido, Bandido, Bandido.
Eu quero democracia participativa, grita o povo.
Eu quero continuar na minha boquinha ativa, diz o parlamentar.
Eu quero apenas legalizar mais uma modalidade de jogo, diz o bicheiro
Eu quero continuar enganado povo com as tintas e minha saliva, diz a imprensa.
O espetáculo segue radiante. Engolem-se sapos, tiram-se bichos de cartolas, todos com uma desenvoltura invejável. O público vai ao delírio. Bravo!!, Bravo !! Inacreditável !
Um circo do presente , sem memória, sem passado, sem idade. Alí se encontra o Brasil, com todos os seus personagens, a espera de uma resgate da verdade.
Bandido, Bandido, Bandido.