sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Algumas coisas não mudam

 Um automóvel marca Gordini se envolveu em um acidente. Bateu em um poste , na calçada em frente a uma quitanda. Um homem que passava pelo local ficou levemente ferido. O dono do botequim, que fica ao lado da quitanda, resolveu telefonar e chamar uma assistência. Pessoas que estavam no entorno observavam o ocorrido. Formou-se uma aglomeração, ao som do rádio do botequim que tocava uma música de Rita Pavone. O homem ferido carregava um saco de compras, que caiu de sua mão , espalhando na calçada uma caixa de goiabada, uma garrafa de crush e outra de sustincal. Com a queda, mais devida ao susto do que ao impacto do Gordini, a japona que o homem vestia rasgou na altura do cotovelo. O choffer do Gordini, um senhor de meia idade, estava assustado mas foi logo socorrer o homem ferido. Ficou aliviado ao ver que não era nada grave e ainda se prontificou a dar uma ajuda financeira ao homem atingido, como uma forma de indenização pelo acidente. Pegou um talão de cheques, uma caneta e acertou uma quantia com a vítima . Ao começar a preencher o cheque sua caneta não tinha tinta. O dono da Quitanda, que tudo observava da  porta do estabelecimento apoiando um braço em um saco de feijão, logo providenciou um tinteiro para colocar tinta na caneta. Foi quando uma rádio patrulha que passava no local resolveu parar para averiguar. O choffer do Gordini interrompeu o preenchimento do cheque e junto com a vítima  e pessoas que ali estavam prestaram esclarecimentos aos dois policiais da joaninha. As mercadorias da vítima não foram danificadas e o dono da Quitanda logo providenciou um saco para acondicioná-las.

Naquele momento o rádio do botequim tocava uma música de Alternar Dutra. Um lotação que passava no local parou para observar, e as pessoas gritavam para seguir em frente. Foi quando o choffer do Gordini e os policiais da joaninha se afastaram e entraram em uma vila , do outro lado da rua, longe dos olhares de todos. A essa altura, a vítima sentou em uma mesa do botequim, pediu um leite batido e um ovo cozido. Minutos depois o choffer do Gordini e os policiais saíram da vila , todos os três sorrindo. Os policiais entraram na joaninha e saíram rápido do local. O mesmo fez o homem e seu automóvel  Gordini.

O tempo passa mas algumas coisas não mudam.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020


VOCÊ ASSISTE OU ESPIA ?


Você assiste ao Big Brother Brasil - BBB ? Se disse que assiste, você não assiste, você espia. Assistir e espiar produzem comportamentos diferentes em todos nós. Você não espia um telejornal, uma novela, um filme. São produtos, jornalístico e artísticos, em que você espera conteúdos com a participação de profissionais da imprensa e das artes cênicas, assim sendo você se organiza internamente para assistir. No caso do BBB são pessoas comuns, como você, em convívio por meses e isoladas dentro de uma casa, fazendo as mesmas coisas que você faz em sua casa, ainda que a produção crie gincanas e jogos para turbinar o ambiente. Pessoa em seu dia-a-dia, em uma casa com outros, disponibilizadas para que se possa espiá-las, em seus hábitos, opiniões, comportamentos e outros. Para muitas pessoas, poder espiar o outro sem ser visto ou incomodado é algo tentador, que pode ser excitante. Cabe ressaltar que as pessoas na casa não são profissionais em um programa, como são os profissionais de jornalismo, novelas e filmes. Dito isto, você espia a casa, você não assiste. Tanto é verdade que a produção nas chamadas o convida  a dar uma espiadinha. Você já foi convidado para dar uma espiadinha em um telejornal, ou novela, ou filme ? Certamente que não, se o fizesse iria descobrir coisas interessantes.  Você também sabe que para que uma atração, programa, seja exibido em uma emissora de TV privada é necessário que existam patrocinadores, empresas, que pagam a emissora de TV cotas para veicular suas marcas. Você deve conhecer os patrocinadores do BBB. Pois bem, com as cotas a emissora de TV paga prêmios aos participantes, cobre os custos de produção e ainda tem lucros generosos. No entanto, ao buscar os patrocinadores no mercado a emissora de TV, naturalmente, apresenta o produto, que pode ser uma novela, um campeonato de futebol, um telejornal, ou o BBB. E o que é o produto BBB ? É algo que se assista ? Não, não se assiste, se espia. Então o produto não são aquelas pessoas na casa, o produto a ser vendido é o ato de espiar. E quem espia é você. A razão reversa que domina atualmente o Brasil e o mundo, no caso de emissora de TV, vende o seu olhar e seus comentários aos patrocinadores, esse é o produto. E ainda todos ganham, a emissora de TV, as pessoas na casa, os patrocinadores. Já você, é vendido, é o programa, e não ganha nada. Não é  muito diferente dos entregadores por aplicativo, guardadas as devidas proporções, já que os entregadores ainda ganham um mínimo, enquanto estiverem com vida no trânsito das grandes cidades. Tudo isso é o capitalismo tardio que, de alguma forma, é retratado no filme vencedor do Oscar, Parasita. A razão reversa, que comercializa o olhar das pessoas e enaltece como empreendedores o trabalho precário e indigente, domina o Brasil em todas as áreas e Poderes. Está presente no conteúdo do jornalismo, nas decisões do Judiciário, nas votações do legislativo, nas ações do executivo, em algumas correntes religiosas e na área do entretenimento. Não por acaso o Brasil aparece no vergonhoso 2° lugar no ranking de países em que a população vive fora da realidade. E então, você assiste ou espia ?

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O Paraíso é Aqui e Agora

Motivo do golpe:
A Bolívia estava bem, crescendo e dando certo. 
O neoliberalismo não admite experiências, modelos que não estejam revelados nas escrituras sagradas do capital fundamentalista. Assim compreendido, todas as modalidades de golpe são empregadas nos países da América Latina, dependendo, claro, das especificidades de cada país. Em comum, o alinhamento visceral dos grandes meios de comunicação com o credo neoliberal. Redações e jornalistas são templos e pastores encarregados de conduzir o rebanho ao raso pasto, de sofrimento infinito, porém necessário para alcançar o sucesso, ou um julgamento justo em outro endereço cósmico. Não produzindo os milagres desejados, o dispositivo midiático recebe o apoio do Poder Judiciário que então apresenta interpretação das escrituras segundo a vontade do Criador, que permanentemente comunica-se com alguns escolhidos. Ainda assim, os hereges e infiéis resistem e por vezes derrotam os Deuses .Quando isso acontece, o Criador, enfurecido com a audácia dos insignificantes, autoriza a força bruta, a violência extrema para restaurar o credo neoliberal e punir, como forma de castigo, os felizes e determinados infiéis que insistem em acreditar que o paraíso é para todas as pessoas e todas formas de vida. É exatamente o que acontece agora na Bolívia, a fúria incontida do Criador. Por outro lado, os povos da tão sofrida e violentada América Latina, em maioria, não mais aceitam o credo neoliberal, a Democracia Liberal, e resolvem lutar, com todas as forças e armas disponíveis, pelas urnas na Argentina e Colômbia, ou nas ruas do Chile, Equador, Venezuela. O Criador não tem o apoio da maioria das pessoas, e deixa claro, transparente, inequívoco que irá usar da força para impor seu credo. No entanto, as pessoas, gentes, negros, indígenas, humildes, pobres, explorados vão continuar lutando, resistindo, pois sabem que o paraíso é na Terra, aqui e agora.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A Ditadura Escancarada

Impossível que a ficha ainda não tenha caído para a maioria.
Não se trata de gostar ou não de Lula .
Não se trata de gostar ou não do PT.
Nem mesmo em defender a Democracia, já que a maioria do brasileiro tolera regimes autoritários.
Um dia a ficha cairá, porque erros, absurdos, acertos não duram para sempre, e o pêndulo está sempre em movimento. Talvez quando chegar esse dia o preço a pagar seja alto, porém, ao mesmo tempo, minimizado por euforia da mudança, diluído por renovadas esperanças, saudado como nova era de bonança. Na esperança do novo, são raros os avanços e abundantes os retrocessos. Os dez anos de ouro do Brasil, 2003-2013, talvez tenham sido exceção. Tantos acertos e avanços que o brasileiro não suportou, escolheu o arbítrio, a seletividade, a prisão. O encarceramento de Lula ainda é saudado, aprovado, elogiado pela maioria do brasileiro que não suporta a idéia de ser livre, arquiteto de seu destino, construtor de futuros. É muita responsabilidade para um povo que necessita de tutor, de um chefe autoritário. O brasileiro não gosta de líderes, e também aceita passivamente a flexibilização da aplicação das leis e da justiça. Um dia, em algum momento do futuro, a ficha cairá .

sábado, 22 de dezembro de 2018